Se uma mulher teve coragem de fazer algo difícil, ouvimos que ela “foi muito macho”, associando seu bom desempenho ao comportamento masculino – como se os homens fossem mais aptos a obter sucesso.
Durante o período de escravidão, crianças nascidas quando os patrões abusavam sexualmente das mulheres escravizadas passaram a ser chamadas por uma palavra que fazia referência à mula, animal resultante do cruzamento entre burro e égua: mulatas.
Quando não se consegue realizar determinada tarefa ou atividade, muita gente diz que “não tem braço/perna” para fazer aquilo.
Termos como esses três, apesar de serem ofensivos respectivamente a mulheres, negros e pessoas com deficiência, estão ainda muito presentes no nosso dia a dia. As palavras têm, sim, poder – inclusive o de ferir.
“Essas expressões estão na ponta da língua, mas muitas vezes não conhecemos os seus reais significados”, afirma Marcelo Gandur, Head de Sustentabilidade da 3M no Brasil.
Justamente para informar, educar, promover a reflexão e engajar as pessoas a replicar esse conhecimento, a organização lançou o Dicionário 3Mpático – lê-se “empático”.
O livro é publicado em duas versões: a física vai ser distribuída a todos os colaboradores da 3M. Já o e-book é voltado para toda a sociedade, e pode ser baixado gratuitamente clicando aqui.
Ele traz pontos para serem refletidos e sugestões de trocas em nosso vocabulário. No primeiro exemplo citado nesta reportagem, a expressão “mulato” deve ser substituída por “negro”, “preto” ou “pardo” – o conselho é perguntar às pessoas como se definem. No segundo exemplo, basta um “não consigo fazer isso”. No terceiro, um simples “ela foi muito competente” resolve a questão.
Já que tratamos aqui de um dicionário, recorramos a um de língua portuguesa para reforçar a definição de “empatia”: “Experiência pela qual uma pessoa se identifica com outra, tendendo a compreender o que ela pensa e a sentir o que ela sente, ainda que nenhum dos dois o expressem de modo explícito ou objetivo”.
O Dicionário 3Mpático é resultado de um compromisso da empresa.
“Na 3M, estamos comprometidos com a construção de uma cultura onde a diversidade é valorizada e todos se sentem à vontade para se expressar e serem autênticos no ambiente de trabalho”, diz Gandur.
Um dos principais pilares da cultura da 3M é a Diversidade, Equidade & Inclusão. Em 2014 começaram a ser criados os grupos de afinidade na empresa, que hoje são quatro, formados por 300 colaboradores voluntários: Liderança Feminina, LGBTQIA+, Etnia & Raça e Pessoas com Deficiência.
Os grupos de afinidade realizam ações diversas com foco na educação, sensibilização e engajamento – como o Dicionário 3Mpático – e na busca de transformações concretas na organização.
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A campanha Dicionário 3Mpático levou aos públicos interno e externo, semanalmente durante o quarto semestre de 2021, mensagens educativas sobre expressões inadequadas, com referências machistas, capacitistas, racistas ou homofóbicas.
Essas mensagens foram distribuídas pela TV nos refeitórios da 3M, pelo Yammer (a rede social interna) e pelo Instagram da 3M Brasil.
“Um dos elementos da nossa cultura é ‘empoderados pela inclusão’”, explica Gandur. “Acreditamos na inclusão como a principal via para promoção da Diversidade. O vocabulário mais empático promove a inclusão, respeita e valoriza as pessoas, como elas são.”
Líder do grupo Etnia & Raça da 3M, a especialista de Desenvolvimento de Aplicação Gabrielle Frizzo conta que, desde sua criação em 2018, os voluntários discutiam muito sobre o uso de termos de origem racista.
“Vejo o Dicionário 3Mpático como uma iniciativa muito bacana para materializarmos o que já vínhamos conversando, pelo menos dentro do grupo”, conta.
Ela participou do projeto ajudando a definir os verbetes relacionados à temática racial e na criação de substituições mais empáticas.
“A gente trabalha muito a questão de diversidade e inclusão na companhia, e acho que esse tema tem que ser levado para nossos demais círculos sociais: familiares, amigos, para além do ambiente corporativo”, acredita.
“O jeito que a gente se expressa demonstra exatamente como enxergamos o outro – e, consequentemente, como a gente enxerga a diversidade de forma geral. Usar uma expressão de origem preconceituosa, seja machista, racista, LGBTfóbica ou capacitista, por mais que seja muito utilizada, mostra que temos vieses e preconceitos sobre os quais não paramos para refletir.”
Gerente Regional de Vendas da 3M, Thiago Dantas também participou da elaboração dos verbetes, mas relacionados a termos voltados ao universo LGBTQIA+.
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“Foi um processo interessante. Quando você começa a ler, entender e buscar informação sobre esses termos, começa a compreender mais o que representa cada um deles, o real significado”, afirma.
“Vivemos em uma sociedade cheia de preconceitos, principalmente com grupos minorizados, e muitas vezes não nos damos conta de que estamos trazendo em nossa própria fala um preconceito que vem lá de trás”, diz Thiago.
“Quando o assunto é comunicação, o emissor da mensagem deve se preocupar com o que está sendo compreendido – e, nesse contexto, é fundamental buscar conhecimento e entender quais preconceitos trazemos dentro de nós de forma inconsciente. É uma questão de empatia.”
Para Marcelo Gandur, a perpetuação do uso de palavras e expressões que carregam preconceito em nosso vocabulário através de gerações é um sinal negativo. “Nosso esforço de conscientização e engajamento nesta campanha contribui para frearmos a perpetuação destas expressões”, diz.
As empresas têm, sim, papel fundamental nisso. “Nós somos a empresa”, ele afirma. “Passamos boa parte das nossas vidas nos relacionando com os companheiros de trabalho. Nos relacionamos com pessoas de outras empresas, fornecedores e clientes”, explica.
“Acreditamos que nossas ações de Diversidade, Equidade e Inclusão impulsionam o nosso crescimento, facilitam a inovação, atraem e retêm talentos, promovendo um mundo melhor e socialmente mais justo hoje e para as futuras gerações. Este propósito nos energiza.”
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