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Do pedido à oficina, a peça chega em menos de uma hora: conheça a startup que usa IA para agilizar o conserto do seu carro

Italo Rufino - 15 out 2024
Ian Faria (à esq.) e André Simões, os cofundadores da Mecanizou.
Italo Rufino - 15 out 2024
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O ano era 2012. O paulistano Ian Faria participava do Evernote Hackathon, maratona em que equipes competiam com o objetivo de desenvolver APIs para a empresa de organização baseada em notas.

Na época, aos 18 anos, Ian ainda estava aprendendo a criar códigos. Com seu time, montou uma solução que recompensava, com medalhas e pontos, os usuários que mais utilizavam o software da Evernote — e assim a equipe venceu aquele hackathon.

Corta para 2024. Hoje, Ian está à frente da sua própria empresa de tecnologia. Ele é o cofundador e CEO da Mecanizou, startup que vem digitalizando a relação entre mecânicos e fornecedores de peças automotivas.

“O propósito da Mecanizou é facilitar a vida do mecânico. Antes, ele tinha que consultar catálogos e fazer orçamentos, um a um, e ainda corria o risco de comprar uma peça que não resolvia o problema de seu cliente. Agora, o processo de compra é inteligente e ágil”

Fundada em 2021, a empresa desenvolveu uma plataforma que, com base na placa do veículo que está dentro da oficina, reconhece o modelo, o ano e as peças e lista diferentes fornecedores e preços.

Após o mecânico finalizar o pedido dentro do marketplace, a peça chega na oficina em até 45 minutos, segundo Ian.

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL É USADA PARA FACILITAR A VIDA DO MECÂNICO

A plataforma da Mecanizou reúne mais de 1 milhão de produtos, de 150 fornecedores. Dotada de machine learning, é alimentada com catálogos de fabricantes e manuais dos automóveis.

Conforme os mecânicos utilizam a plataforma, o sistema aprende quais peças são as mais adequadas de acordo com cada necessidade de manutenção do veículo.

Dessa forma, é criada uma inteligência coletiva que confere precisão na compatibilidade das peças.

Na prática, a startup ameniza a relação, muitas vezes morosa, entre os fornecedores, mecânicos e donos dos automóveis, o que valoriza o trabalho dos profissionais.

COMO A MECANIZOU GANHA DINHEIRO

A startup é um marketplace, gera receita ao reter um percentual das compras. O valor varia entre 15% e 25%, a depender da categoria, marca e preço do produto.

Não há cobrança das oficinas mecânicas. Hoje, são cerca de 2 500 estabelecimentos, espalhados em toda a cidade de São Paulo e Guarulhos. A maioria das oficinas possuem de dois a três elevadores, são generalistas e multimarcas.

“Essa é a realidade de 60% do mercado brasileiro. São oficinas formadas pelo mecânico empreendedor; a sua esposa, responsável pela administração; e uma pequena equipe de auxiliares”

De acordo com o empreendedor, a Mecanizou oferece preços até 40% mais baratos do que a média do mercado. Isso se dá pelo alto volume de pedidos para os fornecedores (varejistas, redes de varejo e distribuidores locais e regionais).

Conforme o volume e a frequência de compra, os mecânicos mais fiéis recebem benefícios, como participação em campanhas de marketing e acesso a crédito.

IAN FEZ PARTE DO TIME QUE FUNDOU A CLICKBUS E TRABALHOU NUM UNICÓRNIO MEXICANO

Ao ser questionado sobre o que o motivou a empreender a startup, Ian diz que o processo até a fundação do negócio foi longo, e incluiu experiências que seriam valiosas para a Mecanizou.

Aos 20 anos, ele fez parte do time que fundou a ClickBus, plataforma de comparação de preços e reservas de passagens de ônibus de longa distância. Na época, foi diretor de operações, responsável pelo Brasil, México e Colômbia.

“Eu era muito jovem e não estava totalmente preparado para tamanha responsabilidade. Errei muito, mas aprendi muito também”

Depois, entre 2016 e 2019, Ian trabalhou na mexicana iVoy, startup de entregas similar à Loggi. O maior aprendizado foi compreender os processos e desafios de logística.

Ainda no México, ele foi trabalhar na Kavak, startup de compra e venda de carros usados que, em 2021, se tornou o primeiro unicórnio mexicano. Ian participou da abertura do mercado brasileiro da empresa.

“É uma organização com muito talento humano. Trabalhei com pessoas incríveis.”

O DESEJO DE ESTAR PERTO DA FAMÍLIA MOTIVOU A CRIAÇÃO DA STARTUP

Em 2021, durante a pandemia de Covid 19, Ian perdeu o seu avô. O patriarca deixou de herança para o neto uma Fiat 147 Pick-up, de 1986. Carros eram uma das paixões que eles compartilhavam.

A experiência profissional, o desejo de ficar perto  da família (residente no bairro da Penha, na zona leste de São Paulo) e a intenção de trabalhar com economia real, aquela que lida com a criação de valor e impacto direto na sociedade, despertou em Ian o interesse por oficinas mecânicas.

Ele, então, acionou o amigo André Simões, analista de sistema com larga experiência em desenvolvimento de produtos, com passagens por Enjoei e Quero Educação.

O BOM DESEMPENHO DA MECANIZOU ATRAIU INVESTIMENTOS MILIONÁRIOS

Para entender as demandas e oportunidades do mercado, Ian e André visitaram mais de 70 oficinas mecânicas. Com investimento próprio na busca por um negócio, eles testaram sete soluções, entre elas um software de gestão (ERP).

“O ERP não foi para frente. Precisávamos de uma solução para uma dor comum, que permitisse a digitalização de um processo essencial, com simplicidade. Foi aí que chegamos em compra de peças”

Com a descoberta do negócio, a Mecanizou recebeu investimento de mais de dez anjos, entre eles gente experiente como João Barbosa (GymPass), Ariel Lambrecht (99) e João Costa (Jovi). O valor foi usado para desenvolver algoritmos, como o de reconhecimento automático de peças.

Em 2022, foi a vez do Seed. Foram 4 milhões de dólares, liderado pela Monashees. Houve aperfeiçoamento na plataforma e a operação foi expandida da zona norte de São Paulo, onde fica a sede, para outras regiões da cidade. O faturamento da empresa, segundo Ian, cresceu 10 vezes ao longo daquele ano.

O bom desempenho atraiu o investimento série A, no início de 2023. Liderando novamente pela Monashees, o aporte de 14 milhões de dólares (76 milhões de reais, na época) teve participação da Alexia Ventures, FJ Labs e Dalus Capital.

Porém, para tornar o negócio escalável, a startup precisou ajustar a tecnologia, principalmente a integração dos fornecedores e a experiência do usuário. A intenção era conseguir atender oficinas de diferentes portes e demandas e evitar erros nas entregas.

Uma das novidades é o acompanhamento da entrega em tempo real, num modelo parecido com o do iFood. A “arrumação da casa” consumiu cerca de 30% do valor do último investimento. Em 2023, ainda segundo Ian, a startup cresceu 45%.

Para este ano, a expectativa é dobrar as receitas. No momento, a empresa tem absorvido as oficinas que estavam na fila de espera — com a meta de atingir um total de 3 mil até dezembro.

A STARTUP VISLUMBRA UM CENÁRIO FAVORÁVEL E POTENCIAL PARA CRESCER MAIS 

Ian afirma que ainda há muito campo para crescer, uma vez que existem mais de 30 mil oficinas na região metropolitana de São Paulo, onde a Mecanizou pretende atuar em 2025.

De acordo com o Sindipeças, sindicato da indústria de componentes automotivos, o mercado deve movimentar mais de R$ 249,5 bilhões ao longo de 2024.

Outro ponto positivo é o aquecido mercado de carros usados, modelos com mais chances de demandar manutenção.

De acordo com a Fenauto, entidade que representa lojas de veículos seminovos, são estimadas vendas de 15,5 milhões de unidades em 2024, um crescimento de 18% em relação ao ano passado.

COM 40% DE MULHERES NA EQUIPE, A MECANIZOU DIVERSIFICA O PORTFÓLIO PARA ATENDER DIFERENTES ELOS DA CADEIA

Para dar conta do mercado, a Mecanizou conta com 125 funcionários, que operam em formato híbrido e presencial, num escritório super estilizado em Santana, zona norte da capital paulista.

No time, 40% são de engenharia e 40% são mulheres; a idade média fica entre 25 e 30 anos. Essa equipe está engajada no desenvolvimento contínuo de novas soluções. Segundo Ian:

“O produto está em constante mudança. A depender dos recursos, são lançados e descontinuados. O grande lance é construir um negócio que, de fato, ajude os clientes

O exemplo mais recente dessa mentalidade é o Mecanizou Select, um serviço exclusivo para grandes contas, como locadoras, frotistas e seguradoras. A proposta para essa nova carteira de clientes, que já conta com 25 empresas, é ter a rede da startup para todas as demandas de reparo automotivo.

Assim, a Mecanizou vai seguindo em frente em sua missão — diversificando o seu portfólio e resolvendo dores de diferentes elos de uma mesma cadeia.

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