Draft Eleições 2014 | Por que vou votar no Aécio | Joel Pinheiro da Fonseca

Joel Pinheiro da Fonseca - 24 out 2014Joel Pinheiro,29, é economista, mestre em Filosofia pela USP e escreve no spotniks.com
Joel Pinheiro,29, é economista, mestre em Filosofia pela USP e escreve no spotniks.com
Joel Pinheiro da Fonseca - 24 out 2014
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Entre quinta e sexta, véspera de uma das eleições presidenciais mais acirradas da história brasileira, convidamos dois articulistas para defender o voto em Dilma Rousseff, dois para defender o voto em Aécio Neves, dois para defender o voto nulo e um para defender o não-voto. Com você, teses bem defendidas, que tentam escapar às desinteligências e à desinformação que tomaram conta dos ânimos nesse final de campanha. Para que você termine de formar a sua opinião.

 

Por Joel Pinheiro da Fonseca

Para mim, políticos são, no fundo, muito parecidos. Os dois candidatos atuais não diferem muito em suas propostas ou no tipo de governo que farão; mas há três pontos que definem meu voto em Aécio.

O primeiro deles é a política econômica. Dilma apostou fundo na “nova matriz econômica”, que de nova não tinha nada. Era um plano para atravessar um período de crise – de ajustes necessários à economia – por meio do estímulo ao consumo via crédito. Os bancos estatais emprestaram como nunca, o povo e as empresas compraram muito, se endividaram. Só que a conta chegou. Estamos em recessão, o custo de vida está mais alto, a inflação não para de subir – e seria maior se os preços controlados pelo governo fossem reajustados corretamente. Os setores xodó – automóveis, construção civil, varejo – ameaçam contrair. O índice de emprego só não piorou ainda por causa do aumento dos inativos. Poupança e investimento, baixíssimos. As contas do Estado, que eram superavitárias, viraram déficit (por enquanto maquiado pela contabilidade “criativa”). Isso significa que a dívida do Estado aumentará no futuro.

Nessa aposta louca no consumo, nem sequer tocamos os grandes obstáculos à produção: reforma tributária, reforma trabalhista, simplificação regulatória, fechamento ao mercado exterior, infraestrutra, etc. O momento não é bom e exige uma mudança de curso para melhorar.

No campo econômico, Aécio vai capitanear a restauração da herança bendita de FHC, que foi mantida com sucesso por Lula: política monetária visando inflação baixa e política fiscal garantindo o superávit primário. Esse é o regime que permite que o país atraia mais investimentos e enriqueça sustentavelmente. É o contexto que permite reformas posteriores. O governo Dilma representou um passo atrás, precisamos agora de dois para frente.

O segundo motivo é a profissionalização do Estado. Dilma nos acostumou a um péssimo hábito: medir o sucesso do Estado pelo tamanho do gasto, pelo número de programas, pelo tamanho da lista de inscritos. Dilma adora falar do social, mas quando olhamos os resultados (índices, comparações internacionais), mesmo o social está parado: nossa posição no IDH caiu de 73 para 79.

Aécio parte da lógica oposta. Se o Estado existe, é para dar resultado. O funcionário público deve servir ao público, e não ser servido por uma máquina que lhe dá remuneração artificialmente alta, plena segurança e baixa exigência. Quem realiza mais deve receber mais sim.

Aécio é um bom gestor; sua política de profissionalização trouxe resultados a Minas, especialmente na educação. Sim, alguns professores reclamaram, mas as notas dos alunos melhoraram, que é o que importa. O Estado todo precisa adotar essa mentalidade: parar de tratar nosso dinheiro como se fosse um direito; ver nele, antes, a obrigação de prestar serviços com a maior eficiência possível.

Fazer mais com menos; é nisso que se traduz a profissionalização do Estado, a temível “meritocracia” de Aécio. Ou podemos continuar com a generosa política de Dilma: gastar cada vez mais para ganhos cada vez menores. Ela torra R$ 3 bi no Ciências sem Fronteira, cujo resultado é zero, enquanto 38% dos alunos do ensino superior são analfabetos funcionais. Promete mais vagas de concurso como se contratar funcionário público fosse, em si, programa social. Tá na hora de parar com essa lógica equivocada.

Meu terceiro motivo é cortar o domínio do PT sobre o Estado e a sociedade. Não: o PT não é a encarnação de todo o mal, não é uma organização satânica e nem nos ameaça com o comunismo. Mas é um partido bastante profissional na arte do poder, que ocupa as esferas mais altas de nosso Estado há 12 anos, período no qual foi capaz de dominar e aparelhar muita coisa.

Ipea demitiu bons economistas por motivos políticos, depois foi regido por mediocridades petistas e agora é coagido a não publicar estudo que atrapalharia a reeleição. IBGE recebe corte no orçamento. Economista que discorda do Banco Central é processado em sigilo. Bancário que faz análise contrária ao governo é demitido pelo banco que, embora privado, não quer se queimar. Propõe-se abertamente o controle estatal da mídia.

As estatais têm servido ao governo e não à sociedade. Banco do Brasil e Caixa empurraram o crédito fácil aos consumidores; BNDES fez o mesmo com os grandes empresários. Os Correios, de estatal quase obsoleta, viraram parte do mecanismo eleitoral. As elétricas e a Petrobrás serviram para controlar preços (política que, somada a investimentos também políticos, destruiu 60% do valor da empresa), isso para não falar do esquema monstruoso de corrupção no coração de nossa maior estatal. Notem: a própria corrupção petista é em prol da causa, isto é, do próprio PT. Mensalão, Petrolão; o objetivo é ajudar o partido, não enriquecer o político.

Já o controle da sociedade se dá via políticas de auxílio. Ao criar mecanismos de transferência que podem ser tirados a seu bel prazer, o PT colocou cabrestos na sociedade inteira. A mídia depende de publicidade de estatal; os bancos e outros investimentos dependem de fundos de pensão estatais. Os empresário dependem dos empréstimos do BNDES. Para a classe média, Minha Casa Minha Vida; para os pobres, Bolsa-Família. Esses dois últimos, obviamente, não podem ser tirados; mas a ameaça de que acabarão se a oposição ganhar é o suficiente para manter o cabresto bem apertado.

A escolha de empresas campeãs do BNDES ou de obras federais megalomaníacas obedece ao imperativo da imagem e do projeto de poder; nunca ao da utilidade técnica. Belo Monte, Rio São Francisco (que agora periga de secar), Copa do Mundo. A festa da Copa produziu injustiças, foi palco de um uso bastante repressivo da polícia (que Dilma quer tornar permanente) e, para completar, o que era para ser uma ajuda ao PIB virou uma desculpa para explicar a recessão. Isso é mérito de uma equipe econômica sofrível, mestra do improviso, que faz chutes ao léu sem nenhuma ideia do que se passa, e quer no fundo servir ao governo e ponto final.

Por trás desses três pontos, vejo duas diferentes concepções do que é a sociedade e de qual deve ser o papel do Estado.

Para Dilma, o povo é uma massa inerte que depende de forças vindas de cima para progredir. Os pobres são necessitados eternos, que aguardam de mãos estendidas. Quanto mais inscritos no Bolsa-Família, melhor. Por isso a insistência em que todos reconheçam que qualquer melhora de vida é obra do PT. Em troca, o partido exige a gratidão eterna. Votar na oposição é ser ingrato.

Para Aécio, a política social do Estado é um auxílio, uma rede de proteção, que ajuda a pessoa a ganhar autonomia e a produzir por conta própria. Uma rede que não gera dependência – posto que há oportunidades fora dela – e com a qual não se faz chantagem, por ser política de Estado, e não benesse de um partido abençoado.

Nesse sentido, Aécio representa a filosofia espontânea da maioria dos brasileiros: querem receber ajuda sim, mas encaram o próprio esforço e iniciativa como os reais motores do progresso pessoal e social. Por isso ele recebe o apoio maciço de todos os esportistas: futebol, vôlei, MMA. São pessoas que suaram muito, deram tudo de si, e chegaram lá. Quem encara a vida nesses termos vota Aécio.

Claro que não dá pra esperar de todos nós a garra dos craques do esporte. Mas o ímpeto primário é esse: uma política que colabore com a iniciativa humana, que ajude o sujeito a caminhar com as próprias pernas, ao invés de mantê-lo deitado eternamente, não em berço esplêndido, mas em cama de hospital.

O Estado sob o PT gangrenou. As instituições todas ou estão tomadas ou chantageadas; a corrupção é geral. O que era para ser rede de proteção virou teia de aranha, que prende todos (pobres, ricos e classe média) na armadilha da dependência. Está na hora de abrir as janelas do palácio, deixar a luz entrar, tirar o mofo. Aécio tem potencial de fazer um bom trabalho; na política econômica e na profissionalização do Estado, trará progressos. Quando gangrenar, o tiraremos de lá também.

Joel Pinheiro é economista, mestre em Filosofia pela USP e escreve no spotniks.com

Leia aqui a análise dos outros articulistas a favor de Dilma, de Aécio, do voto nulo e do não-voto.

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