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Ela deixou a carreira de advogada para empreender e hoje ajuda outras mulheres a adotar hábitos saudáveis por meio de um aplicativo

Juliana Afonso - 6 ago 2024
A empreendedora Marina Amaral, fundadora do Lia Bem-Estar (foto: Guilherme Trog).
Juliana Afonso - 6 ago 2024
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Ao mergulhar em um processo de aprimoramento pessoal, Marina Amaral, 40, percebeu que as soluções disponíveis no mercado não contemplavam os dilemas das mulheres. Foi assim que ela resolveu criar a Lia Bem-Estar, um aplicativo que ajuda o público feminino a fortalecer sua saúde mental e adotar hábitos saudáveis. 

O primeiro passo para quem começa a usar o aplicativo é uma avaliação sobre o que deve ser trabalhado para resgatar o bem-estar. Em seguida, a usuária é direcionada para uma jornada. “A maior parte das jornadas são de sete dias, com ferramentas práticas de aplicação imediata”, diz Marina. Ao final é feita uma nova avaliação para que a usuária possa refletir sobre si mesma e aplicar o que aprendeu no seu dia a dia.

Segundo a fundadora, todos os exercícios da Lia estão fundamentados em três pilares: Psicologia Positiva como base para a autopercepção, Health Coaching como estrutura de ação e autocompaixão. 

“A gente não consegue propor mudança de comportamento sem ajudar as pessoas a entenderem que elas têm limites, que elas vão errar. Por isso a autocompaixão atravessa todos os nossos conteúdos”

Advogada de formação, Marina se encontrou no empreendedorismo. Em 2014 fundou sua primeira empresa, a Auraclara, clínica de terapias integrativas com foco em saúde integral. Da Auraclara nasceu a Anjos do Wod, startup voltada para profissionais da saúde que cuidam de atletas de alta performance, e o Health Squad, projeto que trabalha o bem-estar físico e emocional dentro de empresas.

A ideia de desenvolver um trabalho de bem-estar para o público feminino surgiu com o nascimento do primeiro filho, em setembro de 2019, quando precisou fazer escolhas importantes a fim de equilibrar a vida profissional, os cuidados com o neném e consigo mesma. 

“Eu também tinha que ser contemplada, porque eu tinha que estar bem para transmitir uma educação positiva”, diz. O desejo se transformou em realidade em 2022, quando Marina foi uma das selecionadas pelo programa de aceleração de startups Natura Innovation Challenge Bem-Estar.

Hoje disponível no modelo B2C, o aplicativo da Lia oferece às usuárias acesso às jornadas e a um grupo de mulheres que compartilham experiências por meio de encontros virtuais. Em fase inicial, a plataforma conta com 270 participantes ativas; Marina busca parceiros que atuem com o público feminino para implementar um modelo B2B2C e potencializar o alcance.

Leia a seguir a conversa de Marina Amaral com o Draft:


Saúde mental é um tema que tem ganhado cada vez mais relevância. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de um bilhão de pessoas vivem com algum tipo de transtorno psicológico. A Lia Bem-Estar é fruto desse momento?
Ela é fruto desse momento e também da abertura para falarmos sobre as questões que cercam a vida das mulheres. 

Hoje estamos cada vez mais abertas a conversar sobre menopausa, depressão pós-parto, problemas familiares, pressão no trabalho. 

Entendemos que era um momento oportuno para trazer uma solução, mas uma solução que coubesse na agenda das mulheres, porque hoje elas têm menos de uma hora por dia para se cuidar.

Você também vive essa realidade? Houve alguma situação particular que reforçou o desejo em oferecer uma solução para as mulheres?
O gatilho foi uma experiência pessoal. Eu trabalhava com saúde e bem-estar desde 2013,  já tinha profundidade sobre o assunto e uma empresa que vinha caminhando super bem. 

Alguns anos depois, em 2018, eu engravidei. Até então, o trabalho era minha prioridade. 

Depois que meu filho nasceu e se tornou minha prioridade, entendi que eu também tinha que ser contemplada, porque eu tinha que estar bem para transmitir uma educação positiva, dentro da linha que eu acreditava. Pra isso, eu tive que fazer uma série de novos combinados comigo mesma

Ao mergulhar nessa questão, percebi que as soluções disponíveis no mercado não contemplavam os dilemas das mulheres. Então eu tive vontade de fazer uma tradução desses recursos para o contexto feminino, considerando as nossas questões e as nossas necessidades.

O que você fazia antes dessa virada?
Eu sou advogada e trabalhei como advogada tributarista na Nestlé até 2013. Mas para começar do começo, é importante dizer que aos 11 anos eu tive um diagnóstico de hipotireoidismo. 

Foi uma situação muito delicada porque nessa idade a gente está em pleno desenvolvimento, tanto na parte física quanto na parte cognitiva, e o hipotireoidismo desacelera o metabolismo

Na época eu fazia parte de um grupo de dança e comecei a perder performance, ganhar peso, ficar triste e isolada. Quando o médico me deu o diagnóstico de hipotireoidismo e falou “você vai ter que se ajudar”, fiquei com muita vontade de me salvar.

Eu queria muito poder voltar a me sentir pertencente. Mudei radicalmente a minha alimentação e passei a levar muito a sério atividade física. 

Estamos falando de 30 anos atrás, quando ninguém falava de bem-estar. Tive que me aprofundar sozinha e desenvolver habilidades de autocuidado, autopreservação e autonomia

Também desenvolvi a capacidade de manter meus hábitos, porque o mais difícil em um processo de mudança de comportamento é lidar com o entorno.

Por conta dessa história toda, fui entendendo que eu era empreendedora. Sempre fui muito líder na gestão do meu cuidado. Então comecei a consultar uma psicóloga coach e entrei no curso de Administração no Senac. 

Foi durante o meu trabalho de conclusão de curso que nasceu a Auraclara, minha primeira empresa.

Tudo isso estava borbulhando quando engravidei. E seis meses depois que o meu primeiro filho nasceu, em setembro de 2019, veio a pandemia. 

Eu tinha 250 pessoas no meu ecossistema e tive que começar a digitalizar os processos e a fazer escolhas. Esse exercício de escolher o que não fazer mais e o que priorizar foi me inspirando a criar a Lia

Então um grande amigo me ligou e falou do Natura Innovation Challenge Bem-Estar, um programa de aceleração de startups da Natura para apoiar iniciativas de bem-estar físico e mental para as mulheres. 

Fui uma das selecionadas dentre 351 candidatos. Fizemos o MVP com investimento da Natura e agora estamos prontas para dar os próximos passos. 

O site afirma que a Lia está ancorada em fundamentos científicos. Quais são as bases científicas utilizadas para desenvolver esse trajeto?
Utilizamos três bases principais. Uma delas é um modelo integral chamado SPIRE. Ele foi desenvolvido pelo Tal Ben-Shahar, um dos grandes expoentes da Psicologia Positiva, e a palavra é um acrônimo para as cinco dimensões do bem-estar integral: espiritual, física, intelectual, relacional e emocional.

O Tal Ben-Shahar afirma que todo mundo tem uma área em que precisa focar. Quando focamos na área que faz mais sentido, melhoramos as outras porque todas estão integradas. 

Então, a Lia traz essa pergunta: qual é a área do seu bem-estar integral que está precisando de mais cuidado? Através dessa resposta você define qual é a dimensão que precisa cuidar.

A outra base é a autocompaixão. Nos baseamos nos conteúdos da Kristin Neff, cientista que estuda o tema há mais de vinte anos e desenvolve um trabalho incrível com mulheres

Ela é um modelo muito eficiente pois a gente não consegue propor mudança de comportamento sem ajudar as pessoas a entenderem que elas têm limites, que elas vão errar. Por isso a autocompaixão atravessa todos os nossos conteúdos, inclusive a nossa linguagem.

Por fim, usamos o Health Coaching como estrutura. O Health Coaching é um processo centrado na mudança de comportamento com o objetivo de melhorar o bem-estar. Ele estrutura tudo que a gente vai fazer, tem esse começo meio e fim com base no Health Coaching.

Você poderia trazer um passo a passo de como a Lia funciona para uma pessoa que nunca usou o aplicativo?
Você inicia a jornada com uma avaliação para entender qual é a dimensão do seu bem-estar integral que precisa de cuidado naquele momento. A partir dessa avaliação, você é direcionado para uma jornada. 

A maior parte das jornadas são de sete dias, com ferramentas práticas de aplicação imediata. Depois de concluir a jornada, você faz uma nova avaliação para se autoperceber e refletir sobre como integrar o que aprendeu no seu dia a dia.

Outro ponto alto da Lia é poder contar com uma comunidade de mulheres. Todo mês a gente faz um encontro para essas mulheres trocarem percepções sobre quais foram os maiores desafios e como elas avançaram 

Isso é muito encorajador. Às vezes a gente está empacada com alguma coisa e pensa “é só comigo, eu não consigo, eu sou pior que todo mundo”, mas está todo mundo nessa jornada. 

Atualmente são 270 participantes ativas. O que as usuárias têm relatado a partir do uso?
A gente tem feedbacks de mulheres que conseguiram tomar decisões difíceis a partir das jornadas. 

Uma delas relatou que estava prestes a desistir da loja que ela proprietária, mas se fortaleceu, se empoderou, e foi adiante

Temos também muitos relatos de mulheres que conseguiram melhorar o sono, se entregar mais ao descanso, melhorar o senso geral de bem-estar.

O próximo passo é o lançamento na Play Store e na App Store. Quando isso deve acontecer?
Ainda não temos uma data. Hoje temos um web app em que as mulheres compram o acesso individualmente. O B2C é um mercado super importante pra gente, inclusive para a geração de awareness [consciência], mas o nosso próximo passo é encontrar um parceiro que já dialogue com o público feminino para iniciar o B2B2C. 

E qual é o maior desafio para chegar nesse lugar?
É encontrar esse parceiro de business. A Lia tem dificuldade de penetração porque a grande massa não tem acesso a tecnologia a pacote de dados para navegar na internet. 

Nossa ideia é fazer uma parceria com uma empresa que já tenha mulheres como público core e esteja interessada em oferecer uma experiência expandida, uma solução que vá além do produto físico. 

Com esse parceiro, a gente consegue distribuir o produto e atingir mais mulheres.

Vocês têm uma projeção de quantas mulheres querem impactar?
A gente tem uma projeção de longo prazo. Nos próximos cinco anos esperamos poder falar com pelo menos 100 mil mulheres. 

A gente também quer levar a Lia para outros países de língua portuguesa e já temos alguns caminhos para expandir para a América Latina.

O que a Lia Bem-Estar apresenta de inovador no mercado?
A principal disrupção que ela traz é a linguagem. Falamos sobre dilemas femininos, em um contexto feminino, com uma comunidade de mulheres. É uma solução que dialoga diretamente com as mulheres para propor uma mudança de comportamento. 

Outro diferencial que a gente apresenta é um olhar para a autopercepção. 

As mulheres não têm nem uma hora semanal para fazer uma terapia, então demos um jeito de possibilitar essa autopercepção em 10 minutos diários, como se fosse uma terapia mesmo

Na medida em que a usuária faz isso, ela cria autoconsciência e aumenta sua motivação intrínseca para uma mudança de comportamento.

Hoje, como você se enxerga neste negócio? Como sua vida mudou com a empresa?
A Lia é um processo de cura pessoal; hoje eu sinto que tenho muito mais recursos para lidar com os desafios diários. 

A gente sabe que o mundo vai continuar exigente. A Lia não propõe resolver o que está fora, o que a gente faz é oferecer recursos e ferramentas para as mulheres lidarem com isso. 

Então, a gente também amplia muito o nosso repertório.

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