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Ela superou o fracasso de dois negócios e o ambiente tóxico no emprego para fundar uma marca que hoje tem 50 franqueados

Brunna Farizel - 16 abr 2021
Brunna Farizel, sócia-fundadora da Splash Bebidas Urbanas.
Brunna Farizel - 16 abr 2021
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Nasci e fui criada em Vila Velha, Espírito Santo. Meus pais, uma professora e um advogado, sempre batalharam para dar à nossa família, além de diversos valores que carrego até hoje, o acesso à educação.

Com uma boa base e formação, eu teria bagagem suficiente para lidar com todas as expectativas, frustrações e percalços que a vida me proporcionaria.

Sou comunicóloga por formação e, já na faculdade, me dei conta de que meu lado criativo era mais forte do que eu imaginava. Na graduação aprendi, “na raça”, a lidar com diversos imprevistos que surgem quando você se dispõe a assumir riscos.

EMPREENDI DOIS NEGÓCIOS QUE NÃO DECOLARAM, MAS NÃO FICO ME LAMENTANDO

Tenho certeza de que todo mundo, ao menos uma vez na vida, se viu diante de alguma situação em que não sabia se seguia seu coração ou seus ouvidos.

Eu e o Lucas, meu esposo, nunca nos importamos em enfrentar os riscos de frente. Logo nos primeiros seis meses de namoro, abrimos nossa primeira empresa, em 2008. Juntos, ainda tivemos outro empreendimento que não prosperou.

O primeiro negócio foi uma empresa de comunicação integrada, com toda vontade e garra de jovens empreendedores… Mas também com todo amadorismo de quem não se prepara para tal.

Depois, abrimos uma loja de roupas que funcionava no mesmo espaço. Não sabíamos nem mesmo o que significava capital de giro… Em dois anos, a loja fechou e as dívidas ficaram. No entanto, não nos arrependemos de ter tentado.

A maior das punições é o autoflagelo. Como diria meu pai: não há tempo para se lamentar

É interessante olhar para trás e reviver cada um desses passos. Foram essas experiências frustradas que proporcionaram a nós dois a grande mudança que ainda estava por vir.

VIREI A PÁGINA PARA TRABALHAR NO MERCADO DE LUXO

Era outubro de 2010. Dois meses antes, Lucas e eu nos mudamos para São Paulo em busca de oportunidades de trabalho, com 13 mil reais de dívidas por conta dessas primeiras experiências ruins no empreendedorismo.

A grande guinada não acontece por acaso: somos nós que a provocamos e perseguimos. Recebi uma ligação confirmando minha aprovação em um extenso processo seletivo de uma das maiores empresas do segmento de luxo nacional.

A alegria tomou meu coração a ponto de faltar fôlego… Tive a certeza de que essa era uma oportunidade essencial para virarmos a página e começarmos a escrever uma nova história

Iniciei minha jornada na área comercial e, logo no primeiro ano, figurei entre as três líderes de venda. Vivia um amor, misturado com um poder de realização profissional, que a cada dia me proporcionava mais e mais foco.

A COMPETIÇÃO ENTRE AS VENDEDORAS CRIAVA UM AMBIENTE TÓXICO

A competitividade naquele ambiente era gigantesca e ser forte era fundamental.

Ao mesmo tempo, a insegurança pairava como uma nuvem entre todos ali.

Me lembro bem do dia em que atendi um cliente para uma colega que estava em horário de almoço. Quando ela chegou, me chamou no canto do corredor da sala das vendedoras e, com toda agressividade, me coagiu, com medo de perder aquele pedido.

Momentos como esses eram comuns. E o choro passou a ser um companheiro quase diário de jornada

Após quatro anos, fui promovida a subgerente dentro da minha própria equipe. Quer um conselho? Se uma oportunidade como esta aparecer para você, pense, avalie — e repense.

Hoje, tenho plena consciência de que aceitar aquele cargo não me fez bem. Com a promoção, muitos conflitos apareceram.

Em um dia, fazemos parte do grupo que busca flexibilizar as regras; no outro, começamos a ditá-las. Suas amizades passam a te ver com outros olhos e a duvidar da sua confiança. É preciso muita resiliência para seguir em frente.

AS CRISES DE CHORO E O BURNOUT ME MOSTRARAM QUE EU PRECISAVA MUDAR

Aquele sonho que eu havia conquistado até ali foi se transformando em anos bem difíceis. Passei por um burnout e inúmeras crises de choro.

Me lembro bem que, ao chegar do trabalho e abrir a porta de casa, a choradeira já vinha automaticamente.

Passei por esse processo tentando entender e ouvir meu coração. Busquei forças onde não imaginava para mudar dentro daquela mesma estrutura. No final, sempre pesava para mim a crença da “estabilidade”

Mudei de cargo, de unidade, desenvolvi um grande trabalho junto à nova equipe.

Mas eu já não era mais a mesma. E os meus objetivos já não estavam mais alinhados com a cultura da empresa.

A MATERNIDADE TROUXE A CERTEZA DE QUE ERA HORA DE EMPREENDER MAIS UMA VEZ

Isso tudo se clareou com a descoberta da gravidez da Helena, minha primeira filha. E se validou ainda mais na gravidez da Sophia, minha caçula.

Encontrei a certeza que precisava para colocar em prática, com meu marido, a voz do meu incômodo.

Durante a primeira gravidez, queríamos muito ter um espaço para passar datas especiais junto das nossas famílias, que continuam morando no Espírito Santo. Mas isso ficou inviável por anos, pois nessas datas Lucas trabalhava ainda mais. Na época, ele era gestor comercial na maior empresa de chocolates finos do país.

Começamos, então, a pensar em montar um negócio que fosse prático, inovador, e nos permitisse ser donos da própria agenda. Com a vivência do Lucas no mercado de franchising, muito planejamento e estudo, desenhamos o nosso negócio. Desde o primeiro dia, a ideia era ser algo replicável

Não queríamos uma cafeteria convencional. O conceito de bebidas urbanas veio do posicionamento de uma marca democrática, que atende a todos os públicos, horários e estações. Que leva para cidades do interior, por exemplo, o que é tendência nos grandes centros urbanos. Assim, em 2018, nascia a Splash Bebidas Urbanas.

A frase que mais ouvia quando dizia que tinha largado o emprego para empreender era: “Nossa, mas o mercado aí fora não está fácil…” Hoje entendo que isso ressoa como música aos ouvidos de quem é inseguro.

Seguimos em frente, cientes da vulnerabilidade. Mas eu, pelo menos, não via outra forma. A possibilidade de uma existência sem propósito me angustiava ainda mais.

FOI PRECISO ABRAÇAR A INSTABILIDADE E ASSUMIR A MENTALIDADE EMPREENDEDORA

Abrimos a primeira unidade com capital 100% próprio. Era a nossa reserva.

Por anos, o mês de dezembro era de alegrias, pois recebíamos o 13º salário. Ao empreender, mudamos de lado, e passamos a pagar o 13º dos colaboradores. No primeiro ano da empresa, em 2018, tivemos de vender o carro para cumprir com essa obrigação.

Dar alguns passos atrás faz parte da jornada do empreendedor. Serve de impulso para alcançar algo maior.

Aquele ano foi cruel e puxado, o caixa estava bem apertado. Não conseguimos fazer grandes movimentos, pois tudo impactava bastante. Em janeiro de 2019, com a equipe já formada e operando a loja, recebemos o pedido de demissão de três colaboradores ao mesmo tempo

O mundo desabava sobre nós. Naquele dia, choramos como duas crianças que tinham ido dormir na casa de algum parente e que no meio da madrugada pediam pela mãe.

Foi nesse momento que conversei com Deus. Pedi que nos guiasse para o que fosse da sua vontade. Disse que iríamos aceitar o que determinasse, mas queria um sinal. Se fosse para nós continuarmos na construção do que seria a Splash, eu pedia que Ele me mostrasse.

No céu escuro, Deus me respondeu através do brilho de uma estrela. Um único brilho, que me fez crer que aquele era o caminho certo. E assim seguimos em frente! Nos adaptamos, nos flexibilizamos, mas sempre na certeza de que continuar era o que deveria ser feito.

CONSEGUIMOS UM NOVO SÓCIO E INVESTIMENTO PARA SEGUIR CRESCENDO

Passaram-se três meses — uma vida, uma eternidade. E uma situação improvável aconteceu.

Certo dia, no Instagram, vi a foto de uma colega de faculdade, com quem há anos não tinha contato, junto de outro colega que havia trabalhado comigo em Vitória.

A foto me chamou a atenção; fui ler do que se tratava. Estavam falando de um movimento criado no Espírito Santo para fomentar o empreendedorismo local. Achei fantástico, pensei se poderíamos contribuir de alguma maneira.

Entrei em contato com essa colega contando sobre o que estávamos fazendo e nos colocando à disposição para ajudar no projeto, mas não tive sucesso. Voltei na foto e observei que nela estava também o Rogério Salume, sócio-fundador da Wine.

Coloquei na minha cabeça que iria chegar até ele, com o objetivo de contribuir com o projeto de fomento ao empreendedorismo capixaba. Mandei mensagem pelo Instagram, o caminho mais óbvio. Creio que até hoje o Rogério nunca chegou a ler.

Certo dia, duas amigas dos tempos de Vitória vieram me visitar. Conversamos sobre tudo e perguntei a uma delas se tinha contato do Rogério. No mesmo dia, enviei um e-mail. Ele respondeu rápido, com uma energia incrível, e combinou de conhecer uma unidade da Splash

Doze dias depois, ele visitou nossa loja no bairro Paraíso, conversamos muito sobre o negócio… E ele se tornou sócio, contribuindo com todo seu know-how para termos uma marca de relevância, responsabilidade e avançarmos como companhia.

Tudo isso não é sorte. Chamamos de serendipidade.

MINHA VIDA ERA MAIS SEGURA E CONFORTÁVEL. MESMO ASSIM, HOJE SOU MAIS FELIZ

Abri mão da estabilidade para empreender e transformar a vida de pessoas que também buscam um caminho para se libertar das insatisfações em sua vida profissional.

Não foi fácil, e ainda não é. Mas, hoje após três anos da fundação da empresa, chegamos à marca de 50 franqueados, parceiros que se inspiraram em nossa busca pela qualidade de tempo e estão fazendo, em suas operações, as transformações em que acreditamos

Hoje, trabalho muito mais. Porém, sou dona da minha agenda, e o meu processo criativo é reconhecido.

Eu tinha uma vida mais confortável e com menos responsabilidades. Mesmo assim, posso dizer que hoje sou, infinitamente, mais feliz e realizada.

 

Brunna Farizel, 35, é sócia-fundadora da Splash Bebidas Urbanas. Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Gestão de Marketing pela FGV, é também coautora do livro Pra Cima!, escrito em 7 dias de 2020, no início da pandemia.

 

 

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