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Ela tem a missão de garantir que a IBM está cumprindo a meta de treinar milhões de pessoas para atuar com inteligência artificial

Aline Scherer - 10 out 2024
Flávia Freitas, líder da área de Responsabilidade Social Corporativa da IBM para a América Latina.
Aline Scherer - 10 out 2024
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Formada em ciências da computação em Santos, no litoral de São Paulo, onde reside hoje, Flávia Freitas construiu sua carreira na gigante de tecnologia IBM, na qual começou a trabalhar há 26 anos. Passou pelas áreas de tecnologia, finanças, recursos naturais, inovação, e há quatro anos se tornou líder da área de Responsabilidade Social Corporativa da IBM para a América Latina. 

Ao longo do tempo, ela se especializou em administração e negócios na Fundação Getulio Vargas, na Fundação Dom Cabral e na Universidade de Harvard. Em paralelo, se dedicava ao trabalho voluntário – Flávia participou da criação do primeiro programa da IBM para mulheres negras em tecnologia –  até perceber que isso poderia se tornar seu trabalho principal e remunerado. 

Sua maior missão atualmente é garantir que a IBM está cumprindo a meta de treinar 2 milhões de pessoas para atuar com Inteligência Artificial (IA), com foco em comunidades sub-representadas, até o fim de 2026, para ajudar a preencher a lacuna global de colaboradores especialistas em IA.

A empresa possui uma plataforma gratuita de cursos e recursos para alunos e educadores do ensino médio e de universidades, e direcionados a indivíduos que estejam buscando emprego e organizações que desejem se tornar parceiras. Outra plataforma oferece, também de forma gratuita, consultoria e ferramentas da IBM para acelerar projetos ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas. 

Diferentemente dos cursos gratuitos de tecnologia, que podem ser acessados por qualquer pessoa, os projetos de sustentabilidade para aceleração gratuita precisam ser inscritos e passam por uma seleção anual. Os selecionados da edição atual serão divulgados em janeiro, contou Flávia Freitas ao Draft. Saiba mais na entrevista* a seguir: 

 
Você começou sua carreira em tecnologia e depois migrou para a área de responsabilidade social corporativa. Como foi essa transição e como você enxerga a intersecção entre esses temas?
Sempre gostei muito de exatas, números, minha formação é tecnologia, comecei na área depois migrei para finanças e acho que essa foi a primeira aproximação que eu tive com a questão de protocolos para a empresa seguir e fui entendendo a relação com o mercado. 

Migrei para o laboratório de pesquisa em recursos naturais da IBM, de projetos na indústria de óleo e gás e aquilo foi me despertando interesse sobre como a tecnologia pode ser ferramenta viabilizadora para o mundo funcionar melhor. 

Um dos objetivos desse projeto era justamente evitar desperdícios e encontrar formas de exploração mais conscientes. Esse foi meu despertar para as questões ambientais. 

Os aspectos sociais eu trago da vida. Minha mãe é assistente social e aos 60 e tantos anos foi fazer uma nova faculdade; hoje, é também psicóloga. Então eu tenho essa referência de que a gente precisa se manter ativo, conectado, sempre aprendendo 

Ela foi muito persistente na nossa educação e formação, me estimulou a atuar em colaboração com o próximo, a estar disposta e disponível. 

Inspirada nesse ambiente em que cresci, quando entrei na IBM eu procurei o programa de voluntariado e rapidamente me engajei nos grupos de diversidade. Óbvio, o primeiro que eu me engajei foi na comunidade negra. 

Como voluntária, fui parte da equipe que elaborou o primeiro programa da IBM para mulheres negras na tecnologia, o Black in Tech, 15 anos atrás. Depois, entendi que os temas de voluntariado que eu fazia podiam se tornar meu trabalho principal, e fui me especializando.

Muitas empresas criam um instituto, com um CNPJ diferente para cuidar de Responsabilidade Social Corporativa, mas a IBM tem essa área dentro da empresa. Como é o seu trabalho hoje? Abrange outros aspectos ESG?
A nossa governança de ESG está no time global, tem uma pessoa que cuida de como estão os compromissos e responsabilidades muito bem estabelecidos que a gente tem em cada um dos três pilares. Nas regiões, a gente tem tudo bem segmentado. 

Eu cuido do time de responsabilidade social e do compromisso da IBM de treinar 30 milhões de pessoas até 2030 não só na tecnologia, propriamente dita, mas também nas suas formas de aplicação 

Temos, por exemplo, trilhas de ética aplicadas em inteligência artificial. Ensinamos estudantes de ensino médio, e os adultos que estão fora do sistema educacional, sobre IA e ética no uso de IA. 

E eu cuido deste trabalho de formação e educação com viés ético e responsável. O RH cuida da diversidade e inclusão na empresa. O departamento de Real Estate da IBM cuida das certificações do meio ambiente.

Quais os critérios dos projetos de responsabilidade social corporativa da IBM?
O nosso foco é a população em situação de vulnerabilidade. Com o programa IBM Sustainability Accelerator, a ideia é tirar pessoas que estejam em vulnerabilidade climática dessa situação. 

Todo ano lançamos uma seleção aberta para o mercado submeter projetos em um tema que esteja mais incipiente, conectado com os ODSs [Objetivos do Desenvolvimento Sustentável]. No ano passado, o tema foi acesso à água potável, o ODS 6. 

Este ano, o tema é cidades resilientes, com base no ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis. Quando a gente olha para as enchentes que aconteceram no Rio Grande do Sul, faltou resiliência da cidade, as pessoas não precisavam ter sofrido tanto com os alagamentos 

A IBM tem um comitê que trabalha em parceria com organizações conectadas à ONU, que entendem quais são as maiores necessidades no momento do mundo e determinam o tema do ano. 

No mundo todo, organizações sem fins lucrativos e governos submetem projetos que, obviamente, têm que envolver algum componente de tecnologia que dialogue com o tema. Essa é uma concorrência global na qual são selecionados cinco projetos por ano. 

Ano passado, um projeto do Brasil foi selecionado, do Instituto Iguá, para promover saneamento básico para pessoas em situação de vulnerabilidade que ainda não têm acesso. 

Estamos construindo esse projeto muito com dados, inteligência artificial e geolocalização. Uma plataforma para colaborar na tomada de decisão e implantação do sistema de saneamento

Outra frente é em Educação, temos o compromisso de formar 30 milhões de pessoas até 2030, sendo 2 milhões até 2026, especificamente em inteligência artificial, e o meu maior foco é buscar pessoas em situação de vulnerabilidade para inseri-las no mercado de trabalho. 

Sabemos que há um problema iminente de continuarmos fazendo do mesmo jeito de sempre, procurando essas pessoas nas universidades. Executamos esses projetos com os nossos especialistas, da mesma forma que fazemos com os nossos clientes, com a mesma qualidade. 

A IBM está investindo 45 milhões de dólares nos próximos cinco anos tanto em horas das pessoas que estão se disponibilizando para executar esse programa, quanto em tecnologias necessárias para executar esses projetos 

Muitas pessoas ainda pensam em sustentabilidade exclusivamente conectada com o meio ambiente, por isso é preciso cuidarmos da Educação e levar informação para quem está entrando e para quem já está há mais tempo no mercado de trabalho, mas não conhece os conceitos. Os tomadores de decisão precisam entender que sustentabilidade e inovação têm de ser parte do negócio.

E temos também a seleção de projetos de incentivo, que está aberta, e por meio da qual apoiamos projetos como o Museu do Amanhã e o Instituto da Oportunidade Social, que gera impacto social positivo por meio da educação e tecnologia.

Você mencionou antes sobre ética e IA. Tem uma forma de garantir, ou de verificar que decisões em IA não estão sendo tomadas de forma ética?
A IBM já tomou decisões desafiadoras como tirar do mercado uma plataforma de reconhecimento facial muito rentável, porque ela poderia ser usada de uma forma não ética, levando em consideração questões raciais. 

A IBM tem um produto, o Watson X Governance, que tem a missão de entender o gerenciamento e definir as melhores práticas para o uso responsável da inteligência artificial, justamente para o corporativo conseguir validar os dados e garantir que estão livres de vieses 

Temos uma linha de produtos para a sustentabilidade, com inteligência artificial, geolocalização e outras tecnologias para apurar o controle de ativos, para ajudar a entender quais são as métricas e o que precisa ser medido para promover escolhas mais assertivas do que é preciso fazer para tornar o negócio mais sustentável. E de uma maneira mais permeável por toda a companhia, em vez de só um programa de sustentabilidade. 

Uma pesquisa com 5 mil C-levels mostra que 75% entende a sustentabilidade como necessidade básica da operação, mas metade diz que enfrenta dificuldades em como buscar fundos para fazer os projetos de sustentabilidade 

Ter dados e métricas traz argumentos para mudar esse cenário.

Na maioria dos eventos de tecnologia, é raro ver muitas mulheres e mais raro ainda ver pessoas negras, o que é um reflexo deste mercado de trabalho. Desde que você ajudou a fundar o Black in Tech, percebeu evoluções nesta questão?
Eu concordo, nos eventos eu costumo ser uma em cinco pessoas negras, talvez. Mas antigamente não existia nenhuma. Muito menos ocupando o espaço do palco num evento de tecnologia e recebendo premiações. Isso não existia, então eu vejo um progresso. 

Temos um grupo muito fortalecido de mulheres pretas na tecnologia, a gente se fala, se conecta. Ainda estamos distantes fisicamente porque é uma, duas em cada empresa. Mas eu percebo que a gente está facilitando, abrindo caminhos para as que vêm depois, e isso tem muito a ver com a nossa história de ancestralidade. 

A gente olha para toda a dificuldade que nossos ancestrais tiveram para abrir caminhos, e agora a gente se coloca nesse papel de ser viabilizadora, e seguir firme, ainda talvez como “as poucas”, mas cada vez mais isso vai se expandindo 

Os nossos executivos estão incentivados a promover diversidade de todas as formas, é algo que faz parte da nossa cultura há muito tempo. Na época de apartheid nos Estados Unidos [as leis de segregação racial no país perduraram até os anos 1960], a IBM contratou o primeiro vendedor negro. 

Há muito trabalho ainda para fazer, mas eu já vejo no mercado um pouco mais de flexibilidade, abertura e reconhecimento. Fazer a mudança acontecer depende da intenção de ser inclusivo. 

 

* Entrevista realizada durante o IT Forum Praia do Forte 2024. A repórter viajou a convite da organização do evento.

 

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