Davidson Lima, 30, faz origamis (dobradura japonesa que dá forma ao papel sem usar cola) com cerca de seis centímetros de altura, coloca dentro de potinhos de vidro e vende pelo Instagram. Foi com esse modelo de negócio da Oru Origamis que ele conseguiu deixar de fazer bicos em bares e restaurantes de Belo Horizonte para ter uma renda mais estável e uma empresa para chamar de sua. O negócio é pequeno e ele é o faz tudo, mas diz que não se arrepende de ter dado esse passo. Está feliz em poder trabalhar com arte, ganhar dinheiro e não precisar gastar seu tempo com algo que não via sentido. Ele conta:
“Não queria mais sair de casa cedo, encarar trânsito, trabalhar e voltar insatisfeito por não fazer o que realmente gosto”
A Oru surgiu em 2014, como uma empresa que fazia luminárias usando a técnica do origami. Depois de ser demitido de uma agência de viagens em que trabalhava, em 2013, Davidson passou um ano mandando currículo e procurando emprego na expectativa de conseguir trabalho em alguma agência ou na área de hotelaria. Não conseguiu… Para ter renda e pagar as contas, ele passou a fazer trabalhos freelancers em restaurantes e bares de Belo Horizonte. “Tudo que tinha para fazer, eu fazia. Podia ser como garçom ou na limpeza.”
Como gostava de, nas horas vagas, fazer origamis de tsurus (uma ave sagrada para os japoneses que tem entre os seus significados a sorte), sua namorada sugeriu que ele transformasse esse gosto pela dobradura em negócio. Ela mostrou a Davidson referência de uma empresa holandesa que usava a técnica do origami para fazer luminárias pendentes de papel.
O namorado gostou da ideia, investiu 100 reais para comprar papel, desenvolveu o próprio modelo e saiu para vender o produto ao preço de 100 reais. Não deu certo. “As pessoas não aceitaram como eu estava esperando. Ficaram com o medo pelo fato de ser papel. Achavam que poderia pegar fogo, mesmo eu explicando que com lâmpadas de LED não havia risco”, diz.
Apesar de poucas vendas, ele continuou a fabricar o produto por um ano, até que resolveu mudar o foco do negócio porque, afinal, uma empresa precisa ter renda para sobreviver. Ele diz: “Acho que meu maior erro até hoje foi ter insistido nas luminárias. Poderia ter mudado antes”.
O DRAMA DE PRECIFICAR QUANDO SE BUSCA UM PRODUTO ACESSÍVEL
Davidson continuava fazendo trabalhos freelancer em bares e restaurantes de Belo Horizonte enquanto pensava em produtos que fossem mais acessíveis e fáceis de vender. “Foi quando tive a ideia de fazer miniaturas de origamis e colocá-las dentro de potinhos de vidro”, conta.
Com mais 50 reais, ele comprou alguns frasquinhos e colocou dentro deles modelos tradicionais de origamis como tsurus, gatos, flores e corações. Começou a oferecer o produto por 5 reais. “Eu não tinha noção de quanto cobrar e tinha medo do que as pessoas iriam achar do preço.” Hoje, os produtos continuam com valores bem razoáveis: custam de 10 a 70 reais. Davidson afirma que é trabalhoso produzir as miniaturas (usa até pinça para dobrá-las), mas se considera satisfeito com o retorno e pretende manter as peças com um valor mais baixo para que possam chegar longe:
“A arte e o artesanato, em geral, são muito caros e não é qualquer pessoa que consegue comprar. Quis fazer algo para mudar isso”
Por mês, ele vende cerca de 200 peças. Este ano, Davidson resolveu criar um novo produto para diversificar o portfólio. Sob encomenda, ele reproduz fotografias dentro dos potinhos. Geralmente, os pedidos são feitos por quem quer presentar alguém.
É um produto mais trabalhoso, que exige a criação de mais peças e extrapola os origamis. Nestes trabalhos, ele também usa pintura e colagem, se necessário. “Eu estava em busca de um produto diferente, porque a maioria das peças que faço não são novidades. São dobras tradicionais que remodelei para fazer em miniatura.”
A Oru não tem estoque e Davidson faz tudo sob encomenda. Para os origamis mais tradicionais, ele leva cerca de dez minutos na produção. Já a reprodução de fotos depende muito do que a pessoa pede e, por isso, ele sempre estipula o prazo de um mês para atender a encomenda.
Sua maior plataforma de vendas é o Instagram, mas ele tem uma loja parceira em Belo Horizonte, que faz pedidos de suas peças de três em três meses. Neste ano, o faturamento previsto é de 30 mil reais.
SE NÃO FOSSE DEMITIDO, A EMPRESA NÃO EXISTIRIA
Davidson começou a trabalhar como office boy aos 15 anos. Achava que sua vida seria sempre como funcionário de alguma empresa. Na agência de viagens, começou como boy e foi subindo de cargo, ganhando confiança. Depois da demissão, ele insistiu na procura de um emprego, porque nunca havia pensado em ter o próprio negócio. Foi mesmo a necessidade que deu o pontapé inicial para a vida de empreendedor. Ele diz:
“Se ainda tivesse um emprego, não desenvolveria nada do que tenho hoje. Não ter algo fixo me ajudou a focar mais no negócio”
Durante dois anos, ele conduziu a Oru juntamente com os freelas em bares e restaurante. E conta que sempre separou o que era dinheiro da empresa do que era dos outros trabalhos. Nesse período, ele reinvestia na Oru tudo que entrava com a venda das peças e usava a renda dos freelas para as despesas pessoais.
DEPOIS DE SE DESDOBRAR EM DOIS TRABALHOS, ENFIM, TEMPO SÓ PARA A ARTE
Somente quando uma loja de Belo Horizonte fez uma encomenda um pouco maior de produtos, ele resolveu se dedicar integralmente aos origamis. Um belo de um empurrão para que ele fizesse o negócio, de fato, tomar forma. Foi, também, o momento em que mais teve medo, afinal, estava apostando todas as fichas no negócio. O entendimento da gestão financeira foi outro desafio:
“Demorei um pouco para entender quando eu poderia tirar algum dinheiro para mim sem prejudicar a empresa”
Hoje, sozinho, ele atende os clientes, produz as peças, fotografa, posta nas redes sociais, embala, leva para o correio e, em alguns casos, até entrega direto para o cliente. No entanto, com todos esses afazeres, ele já sente necessidade de ter um funcionário para que possa aumentar a produção.
Todas as peças da Oru Origamis são criadas na varanda de sua casa — com tranquilidade, mas também com foco. O mesmo que teve quando decidiu que poderia viver de dobraduras. Porque não basta a sorte dos tsurus para um negócio prosperar. É preciso, também, trabalho!
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