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Ele transformou sua sobremesa favorita em uma versão para comer sem culpa. Conheça os sorvetes da Lowko

Alex Xavier - 29 jan 2019 Rodrigo e a sócia Luiza Weaver. Eles trabalharam juntos na BRMalls e se reencontraram nos Estados Unidos, quando ambos pensavam em empreender.
Rodrigo e a sócia Luiza Weaver. Eles trabalharam juntos na BRMalls e se reencontraram nos Estados Unidos, quando ambos pensavam em empreender.
Alex Xavier - 29 jan 2019
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Há dois anos, quando o engenheiro Rodrigo Studart, 32, contou para a família seus planos como empreendedor, a mãe achou que ele havia enlouquecido. “Você foi fazer MBA nos Estados Unidos para virar sorveteiro?”, questionou a princípio, lembrando dos anos nos quais ela e o marido suaram atrás do balcão de uma pequena sorveteria do interior fluminense. A ideia dele, porém, era muito mais ousada: vender um produto que fosse, ao mesmo tempo, saboroso e saudável. Lançada neste verão, a Lowko tem conseguido convencer as pessoas a se deliciarem com um gelado todos os dias sem medo de calorias a mais. O CEO fala a respeito:

“Não se trata de um sorvete fitness, de um produto de nicho, mas algo que pode ser consumido por todo mundo”

Ainda que seja menos calórico, Rodrigo diz que o grande diferencial do produto é ser gostoso: “Sou o consumidor perfeito para esse produto, porque até tento ser mais saudável, faço algum exercício, procuro me controlar mais durante a semana, mas quero comer meu doce sem culpa”. O site mostra os ingredientes do produto, feito à base de água, creme de leite e leite desnatado em pó, fazendo uso de espessantes e dos edulcorantes (que dão o sabor doce, mas não são açúcar) xilitol, eritritol e taumatina.

O empreendedor nasceu em Valença, uma cidadezinha de 71 mil habitantes no interior do Rio de Janeiro, perto de Minas Gerais. Na sua infância, os pais mantinham uma sorveteria bem simples na pracinha central. “Sorvete sempre foi minha sobremesa favorita”, afirma. Saiu de lá para estudar Engenharia de Produção na PUC-Rio, onde chegou à vice-presidência da empresa júnior.

Ao se formar em 2009, esses contatos valeram uma vaga de estagiário na BRMalls, maior empresa de shopping centers da América Latina. Saiu de lá seis anos depois, como gerente. “É uma empresa com um modelo bem agressivo de gestão, cresceu rápido e eu fui junto.” Acabou se adaptando à área de novos projetos de centros comerciais pelo Brasil. Com apenas 22 anos, mudou-se para Belo Horizonte para tocar do zero uma obra de 200 milhões de reais. “Eu não tinha experiência nenhuma, foi muita pressão”, conta. “Nem gostava da parte técnica, mas me deu um aprendizado incrível gerenciar aquele time enorme.”

DURANTE UM MBA NOS EUA, A IDEIA SE SOLIDIFICOU EM NEGÓCIO

Com o êxito, vários projetos viriam para o seu colo simultaneamente e ele se mudou para São Paulo. Aos 25 anos e com uma posição bastante confortável na empresa, sentiu vontade de mudar o rumo de sua carreira e correu atrás de um conceituado MBA na Escola de Negócios Booth, da Universidade de Chicago. Ele conta:

“Sair do país foi o momento para pensar no que queria fazer, descobrir algo que fizesse sentido para mim e que não fosse apenas para ganhar dinheiro”

E prossegue: “Lá, em dois anos de imersão total, os alunos têm acesso a tudo que está acontecendo de mais legal dentro de negócios e aproveitam a rede da universidade, visitando todas as empresas que se possa imaginar”.

No final do primeiro ano, passou três meses em Nova York estagiando em uma startup especializada em roupas de luxo. “Queria fazer a transição para alguma coisa relacionada a varejo, pois sempre gostei de ver a reação do consumidor”, diz. Ele já sentia os impulsos de um empreendedor e a inspiração veio no auge do verão americano com o fenômeno Halo Top (sorvetes de baixa caloria, adoçados com eritritol e stevia).

Ao oferecer sorvetes que eram, ao mesmo tempo, gostosos e pouco calóricos, a marca foi deixando para trás gigantes como Haagen Dazs e Ben & Jerry’s, a ponto de estes também criarem versões similares. O sucesso foi tanto que os supermercados passaram a ter uma prateleira só para essa nova categoria. “Eles mudaram a percepção do produto, de uma sobremesa ocasional, para algo cotidiano”, conta Rodrigo. “Pensei que seria fantástico lançar um produto assim no Brasil.”

O slogan da Lowko é o impossível (a começar pelo número de calorias dentro de um pote), por isso as ilustrações da embalagem remetem a figuras lúdicas.

Mesmo se arriscando a não ser levado a sério, por não representar uma empresa, ele entrou em contato com a Halo Top em 2017. Da conversa, moldou a ideia de levar o conceito na bagagem de volta para casa, mas começando do zero. Serviu-se, então, de um conhecimento adquirido antes mesmo de sua viagem.

Depois que saiu da BRMalls, ele trabalhou por um curto período na IMC, empresa do ramo alimentício que conta com redes como Viena e Frango Assado. Na época, entrevistou confeiteiros e conheceu um pouco do mercado de sorvetes no país. Sabia que haveria muito espaço para os gelados de baixa caloria. Também visitou fábricas e percebeu que muitas delas tinham capacidade ociosa. Ou seja, não haveria necessidade de construir a própria linha de produção, exigindo um investimento bem menor.

O segundo ano de seu MBA em Chicago foi dedicado a viabilizar essa ideia. “Achei uma baita oportunidade, já que o brasileiro se importa muito mais em ser saudável do que o americano.” Para ajudá-lo, convidou uma ex-colega de BRMalls que havia reencontrado por acaso em sua chegada aos Estados Unidos.

Formada em Administração pela Getúlio Vargas, a carioca Luiza Weaver, 30, também tinha feito um MBA na Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, e estagiava na área comercial da Mattel. Porém, não conseguiu o visto de trabalho e foi transferida para a sede brasileira da fabricante de brinquedos. Como já haviam conversado sobre empreender, convidou-a para ser sua sócia.

O investimento inicial dos sócios foi de 30 mil reais. Rodrigo fala desse momento:

“Mesmo que oficialmente a empresa exista desde fevereiro de 2018, considero que o projeto começou quatro meses antes, porque gastar o primeiro real, tirar o dinheiro do bolso, é emblemático”

Um dos primeiros custos dos empreendedores foi a remuneração de um especialista, incumbido de desenvolver a receita. O responsável por criar os sabores foi o chef glacier Francisco Sant’Ana, fundador da Escola Sorvete, em São Paulo. “Ele é um gênio químico, um cara realmente muito bom. Expliquei o conceito e ele falou que nem precisaria provar o americano, pois ia fazer um produto nosso”, conta o CEO da Lowko.

MENTORIA E PROFISSIONAIS CONTRATADOS AJUDARAM A MARCA A NÃO ERRAR

Durante cinco meses, ficaram testando as invenções até chegarem à fórmula ideal, com ingredientes naturais, sem adição de adoçantes artificiais e com o teor de gordura reduzido. “Provei todo tipo de sorvete que você pode imaginar. A gente aprovou apenas os que ficaram extremamente saborosos.” Os vencedores são avelã com chocolate, pistache, cheesecake de goiabada, brigadeiro e baunilha. Os sabores são para dar água na boca mesmo, gulodices que qualquer um pensaria serem muito calóricas: mas os potes de 455 mililitros têm entre 242 e 396 calorias. Outras marcas, como mostra o site da empresa, podem ter quase o triplo das calorias. O preço sugerido pela empresa aos revendedores é de 12,90 reais para o pote de 100 ml e de 33,90 reais para o de 455 ml.

Os sorvetes da Lowko são vendidos no St. Marche, lojas de produtos naturais e restaurantes.

Com o produto em mãos, eles precisavam de um suporte maior. E ele veio do próprio curso que Rodrigo estava terminando. A Universidade de Chicago costuma promover uma competição de startups entre os alunos. Além de escolher quais serão acelerados, a seleção coloca os envolvidos em contato com executivos que acabam fazendo uma mentoria durante o processo.

“Eram 67 startups no início do programa, de health care a tecnologia, durante dez semanas, em contato com 27 investidores”, diz. Rodrigo convidou amigos do curso, montou um time, conseguiu passar pela alfândega com uma bolsa térmica com vários potes de sorvete no gelo seco e conquistou o quarto lugar, com um aporte de 69 mil dólares.

A decisão de como usar esse dinheiro também saiu do programa de aceleração. Na época, a marca ainda se chamava MUU. Foi uma investidora que chamou a atenção do empresário para a importância de colocar seus esforços no fortalecimento da identidade do produto, já que uma produção de qualidade ele já tinha.

Em julho do ano passado, com o diploma em mãos, Rodrigo voltou ao Brasil, uniu-se de fato à Luiza na empreitada e a marca voltou para a prancheta, desta vez, com um especialista em branding por trás. “Foram vários rascunhos, uma montanha-russa, porque a gente também queria aproveitar o timing do verão para lançar e o prazo era curto”, diz Rodrigo.

Dali surgiu o conceito do Lowko, de “um mundo no qual o impossível acontece e até um doce delicioso pode ser saudável”. Isso está presente desde as personagens que ilustram os potes até itens de apoio criados com a marca, como uma mochila impermeável feita de papel e um carrinho de degustação em pontos de venda, cuja roda é quadrada. “A ideia é derivar a marca para além de apenas um sorvete”, fala o empreendedor. Segundo Rodrigo, a transição da marca resultou em um grande aprendizado. “Por pouco a gente não lançou como MUU mesmo, por pressa, porque estava muito em cima, precisando produzir os potes e todo o material, e as ideias não apareciam”, fala o CEO. E continua:

“Startups têm esse caráter ágil, tudo muito dinâmico, as decisões precisam ser rápidas, mas é preciso dosar para não trocar os pés pelas mãos”

A mesma reflexão vale agora, com o produto no mercado. Rodrigo conta que já apareceram propostas tentadoras de expansão, mas que preferiu seguir o planejamento inicial, concentrando o negócio em São Paulo, pois viu que se arriscaria muito ao tentar dar um salto muito grande de uma vez só. Desde o início de dezembro, eles marcam presença nas 20 lojas do grupo St. Marche, além de alguns restaurantes, lojas de produtos naturais e varejões. Também levam seu carrinho de degustação para ações específicas em parceria com outros comércios.

Em fevereiro, dois novos sabores serão lançados. Um ainda “misterioso” e outro de bolo de cenoura com chocolate. Sobre outras possíveis versões do produto, Rodrigo afirma: “Muita gente nos procura perguntando se não tem a versão vegana, mas, por enquanto, não vamos fazer, para não sermos vistos como uma marca de nicho”.

O que está nos planos é chegar a outras partes do Brasil, tanto com loja própria como franquia. “Outra coisa é a expansão de categoria, algo que estudei muito, levar esse conceito saudável e gostoso para outros produtos”. A previsão de faturamento para este primeiro ano é de cinco a sete milhões de reais e, em cinco anos, chegar aos 100 milhões de reais. Provavelmente, a mãe de Rodrigo não duvida mais que o filho tenha escolhido o caminho certo ao decidir seguir a tradição sorveteira da família.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Lowko
  • O que faz: Vende sorvetes de baixa caloria
  • Sócio(s): Rodrigo Studart e Luiza Weaver
  • Funcionários: 7 no escritório e 3 vendedores
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: Fevereiro de 2018
  • Investimento inicial: R$ 30.000
  • Faturamento: R$ 7 milhões (previsão para 2019)
  • Contato: [email protected]
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