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Eles criaram um aplicativo que paga contas no WhatsApp e já transacionou mais de R$ 300 milhões

Marcela Marcos - 5 fev 2025
Pedro Gomes (à esq.) e Felipe Castro, fundadores e co-CEOs da Friday.
Marcela Marcos - 5 fev 2025
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Um sistema de pagamentos que integra IA ao Whatsapp e é capaz de avisar aos usuários sobre suas contas e, nos dias de vencimento, pergunta se pode efetuar os pagamentos. A partir do comando “sim”, o Fred (nome do assistente financeiro digital) não só paga, de fato, como detecta gastos excessivos dos usuários.

Esta é a descrição da Friday, fintech fundada em 2019 e que hoje é parceira no desenvolvimento de tecnologias de pagamento para o PicPay. Segundo a empresa, o aplicativo “organiza os gastos com relatórios em tempo real com categorização inteligente”, simplificando assim a gestão da vida financeira.

À frente da empreitada, que atua no B2B e no B2C, estão os fundadores e co-CEOs Felipe Castro, 44, e Pedro Gomes, 42. Ex-colegas de faculdade, os dois se conheceram nos anos 2000, enquanto cursavam Engenharia da Computação na PUC-Rio. 

“CRESCEMOS COM AS CICATRIZES DO QUE DEU ERRADO”: ANTES DA FINTECH ELES EMPREENDERAM OUTROS NEGÓCIOS

Pedro e Felipe começaram a trabalhar juntos nos laboratórios de software da PUC-Rio; em paralelo, participaram da criação da M4U (Mobile for You) – o primeiro projeto que empreenderam. 

Na M4U, a dupla desenvolveu tecnologias de pagamento e sistemas de recarga digital para celulares pré-pagos. Em 2010, metade da companhia foi comprada pela Cielo.

Na sequência, a Bemobi nasceu como uma spin-off da M4U, e com Felipe no time fundador; Pedro se juntou logo no início da jornada, em 2005, e sob a sua liderança tecnológica a startup desenvolveu o Apps Club, um serviço de assinatura de aplicativos e jogos, que a projetou internacionalmente, atraindo atenção da holding norueguesa Ópera.

Os primeiros passos concretos para a criação da Friday ocorreram em 2019, quando as empreitadas anteriores já tinham sido vendidas. 

Ou melhor: aquelas que deram certo. Isso porque algumas empresas que a dupla fundou antes não evoluíram. Felipe afirma:

“Crescemos, na verdade, com cicatrizes do que deu errado. Hoje é como se empreender fosse fashion, as pessoas veem os holofotes — mas, no mundo real, é muito complicado”

Com as experiências acumuladas no setor financeiro, era o momento de desenhar uma proposta de valor a fim de solucionar alguma questão desse mercado. 

“SENSAÇÃO DE SEXTA-FEIRA”: A FRIDAY SURGIU COM A PROPOSTA DE TRAZER UM ALÍVIO NA RELAÇÃO COM AS CONTAS

Para Felipe, pessoalmente, o que o incomodava na época era o fato de frequentemente se esquecer de pagar alguma conta – e os juros, claro, não perdoavam. 

“Eu ficava pensando que num cenário em que as pessoas recebem contas de diversas fontes e precisam lembrar de cada pagamento, digitar ou escanear códigos de barras, qualquer falha nesse processo resulta em multas por esquecimento, muitas vezes exorbitantes…”

Para manter tudo organizado, acabava-se recorrendo a planilhas e anotações. Enquanto isso, as alternativas oferecidas pelos bancos (como débito automático e, mais recentemente, Pix recorrente) se voltavam, segundo os sócios, mais para a facilidade de pagar sem encarar a fila do banco do que para lembrar o usuário de concluir as transações – ou ajudá-lo a controlar para onde está indo o seu dinheiro.

“As instituições financeiras se concentravam em oferecer um scanner de boletos e formas de fazer transferência”, diz Pedro. “Quando muito, ofereciam uma lista de boletos via DDA absolutamente incompreensível.”

Ele e Felipe, então, desenvolveram um sistema para centralizar contas, lembrar datas de vencimento, realizar pagamentos com um simples comando de mensagem e enviar os comprovantes automaticamente. 

“Na Friday, os usuários recebem lembretes de vencimento por WhatsApp e só precisam responder se querem seguir com os pagamentos” 

Sabe aquele alívio que bate quando a semana chega ao fim? O nome Friday veio daí. A dupla queria “dar uma sensação de sexta-feira” para a gestão financeira.

NUM FUTURO PRÓXIMO, A IDEIA É QUE TODA A VIDA FINANCEIRA POSSA SER RESOLVIDA COM UM “SIM” POR WHATSAPP

Com sua “categorização inteligente”, o aplicativo organiza os gastos por meio de relatórios e antecipa as preferências de acordo com tendências pessoais de uso. 

A Friday não informa o número de usuários, mas sim o número de instalações: mais de 170 mil downloads, segundo a empresa, que ganha dinheiro cobrando uma assinatura mensal (R$ 14,90) ou anual (R$ 118,90).

Para tirar a solução do papel, o investimento inicial foi de 10 milhões de reais. O grande objetivo do negócio, diz Felipe, vai além da simplificação de pagamentos: 

“Mais do que isso, a gente quer libertar as pessoas da constante preocupação com suas finanças em um mundo cada vez mais integrado à inteligência artificial”

Em um futuro próximo, a ideia é que toda a vida financeira possa ser resolvida com um “sim” pelo WhatsApp. Ainda não chegamos lá, mas a evolução do mercado deixa os empreendedores otimistas. 

Felipe lembra que, da criação da M4U ao lançamento da Friday, o setor de pagamentos passou por diversas transformações marcadas pelo avanço da tecnologia e mudanças no comportamento do consumidor. 

Por volta de 2010, houve a ascensão dos bancos digitais, que trouxeram uma nova forma de se relacionar com os serviços financeiros. Uma década depois veio mais um salto:

“A partir de 2020, o surgimento de tecnologias como Open Finance e a própria IA começaram a redefinir a experiência de pagamentos e organização financeira. Essas inovações trouxeram para o setor maior personalização, integração entre plataformas e a possibilidade de se ter experiências adaptadas às necessidades individuais”

Porém, mesmo com o Open Finance (que viabiliza a permissão, pelo cliente, do compartilhamento de informações entre instituições bancárias), os usuários da Friday precisa criar uma conta no Banco Arbi.

Segundo a startup, a conta não tem taxas, é aberta no momento do cadastro da Friday e encerrada automaticamente em caso de cancelamento do serviço. Ainda assim, é o tipo de amolação que pode desencorajar a adesão.

“Muitas pessoas ficam inseguras quanto a isso, porque são avessas sobre abrir uma nova conta. Então, tem um tempo de adaptação”, diz Felipe. “A maior dificuldade é conseguirmos nos explicar de forma fácil.”

UM PERÍODO DE TESTES ENTRE PARENTES E AMIGOS AJUDOU A AFINAR A PERCEPÇÃO SOBRE O PRODUTO

A equipe da Friday é formada por 40 pessoas. Felipe fica responsável por produto e crescimento B2C, enquanto Pedro cuida da gestão de parcerias B2B. 

A startup tem escritório fixo no Rio de Janeiro, mas todos trabalham em formato remoto, baseados em diferentes cidades. A empresa começou com uma jornada de experimentação para família e amigos dos fundadores, o que ajudou a reunir percepções sobre o negócio. 

Hoje, o valor total transacionado pelos usuários já ultrapassou 300 milhões de reais (sendo por volta de 8 mil reais por pessoa). O crescimento anual de downloads, segundo eles, é de 500%.

“Construímos um produto muito completo ao longo dos anos, mas é legal ver que tem outros players no mercado explorando algumas direções dele. Por exemplo, tem gente explorando pagamento no Whatsapp, ou a parte da organização financeira, mas ainda não vimos uma solução que entregue tudo junto”

O break-even, segundo os sócios, foi atingido em 2022. O faturamento por enquanto é mantido em sigilo, mas eles afirmam que 80% vem do B2B e 20%, do B2C. A ideia é explorar cada vez mais os dois modelos de receita.

Por falar em porcentagens, Felipe reflete: “Quando me perguntam o que é preciso para empreender, eu costumo dizer que é 80% sorte”. E o resto? “O resto é estar preparado para quando a sorte bater.”

 

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