A produção de microalgas é apontada como uma solução para diversos desafios ambientais e industriais. Aqui no Brasil, uma startup fundada em setembro de 2024 tem a proposta de transformar essa tecnologia em um modelo de negócios viável, já que a escalabilidade sempre foi o maior entrave.
A Algae+ busca explorar a versatilidade das microalgas em mercados como o de cosméticos, biocombustíveis e bioinsumos. “A ideia de criar a Algae+ surgiu de uma lacuna clara no mercado: a necessidade de soluções sustentáveis que fossem escaláveis e rentáveis”, afirma Cyro Calixto, engenheiro ambiental com MBA em ESG e mestrando em engenharia mecânica pela UFPR, com foco em microalgas e fotobiorreatores.
Com dez anos de experiência na indústria e um histórico de inovação em economia circular, Cyro fundou a Algae+ ao lado de Dhyogo Taher, doutor em engenharia e ciência dos materiais e especialista com 14 anos em pesquisa tecnológica. Posteriormente, André Mariano, doutor em Bioquímica e referência em energias renováveis, completou o trio fundador, trazendo sua expertise em escalabilidade e desenvolvimento de tecnologias inovadoras.
“A entrada do André foi um divisor de águas, pois ele trouxe uma visão aprofundada sobre o potencial de crescimento e ampliou nossa rede de inovação dentro da universidade”, diz Cyro.
O PODER DAS MICROALGAS
As microalgas são organismos unicelulares encontrados em diversos ambientes aquáticos, como rios e lagos, que têm a capacidade de realizar fotossíntese, transformando luz solar e dióxido de carbono em biomassa rica em nutrientes.
“As microalgas são incrivelmente eficientes em comparação com outras plantas”, afirma André. E explica:
“Enquanto uma planta tradicional tem raízes, caules e flores que consomem energia, as microalgas concentram tudo em uma única célula, o que permite um crescimento exponencial e uma produção uniforme de proteínas, gorduras, carboidratos e vitaminas”
Essa eficiência torna as microalgas uma alternativa promissora para a produção de biocombustíveis, que podem substituir combustíveis de origem fóssil, alimentos funcionais e insumos para a indústria, além de contribuírem para a captura de carbono e a mitigação de impactos ambientais.
A biomassa, subproduto das microalgas, é o material orgânico resultante do crescimento desses organismos unicelulares, composta por proteínas, carboidratos, lipídios e compostos bioativos de alto valor. Essa mistura é especialmente valorizada por sua versatilidade e aplicabilidade em diversos setores.
O AMBIENTE DE CULTIVO
O funcionamento da Algae+ é baseado em fotobiorreatores fechados, uma tecnologia que permite o cultivo controlado de microalgas. Esses sistemas são projetados para receber CO₂ proveniente de emissões industriais, como de refinarias ou cimenteiras, que seria normalmente liberado na atmosfera.
“O CO₂ é borbulhado em colunas de fixação dentro dos reatores, onde é dissolvido na água e, em seguida, metabolizado pelas microalgas”, diz Cyro. O gás funciona como um dos principais insumos para o crescimento das microalgas, que utilizam o CO₂ durante a fotossíntese para se multiplicar rapidamente.
Porém, criar um ambiente ideal para o cultivo dessas microalgas foi um processo desafiador. Segundo André:
“A escalabilidade é o principal obstáculo no uso de microalgas. Muitos projetos falham porque não conseguem atender à demanda de mercado”
A equipe da Algae+ projetou um modelo de reator que utiliza menos espaço e captura quantidades significativas de carbono, tornando mais eficiente e menos custoso. O uso de economia circular também é um pilar da operação.
“Não se trata apenas de mitigar impacto ambiental, mas de criar um ciclo onde todos os subprodutos são aproveitados”, afirma Cyro.
DO LABORATÓRIO AO MERCADO
A Algae+ foi concebida como uma spin-off acadêmica no ecossistema de inovação da UFPR.
“O projeto surgiu em um grupo de pesquisa que desenvolveu tecnologias para tratar efluentes e produzir biocombustíveis. Queríamos levar essas inovações para o mercado de forma viável”, explica André.
A startup espera captar 5 milhões de reais em uma futura rodada seed. “Os investidores estão atentos a soluções que combinem sustentabilidade e viabilidade econômica, e foi isso que apresentamos”, diz Cyro. Os recursos deverão ser utilizados para expandir a infraestrutura e aprimorar suas tecnologias.
Hoje, a empresa busca parceiros estratégicos para escalar a produção e implementar novas aplicações, como bioquerosene de aviação e ração animal enriquecida com microalgas, que já demonstraram melhora na flora intestinal de animais e na proteção contra danos ao DNA, por exemplo.
A adoção da tecnologia baseada em microalgas ainda enfrenta barreiras financeiras significativas para muitas empresas, especialmente devido à necessidade de infraestrutura avançada e mão de obra especializada. Cyro afirma:
“Muitas soluções no mercado dependem de sensores caros e equipes altamente qualificadas, o que assusta potenciais adotantes”
Segundo os fundadores, seu sistema reduz os custos de implementação sem comprometer a eficiência. Além disso, a biomassa de microalgas pode ser integrada a processos industriais existentes, como o de extração de óleo de soja, eliminando a necessidade de altos investimentos em novos equipamentos.
“Estamos propondo algo que se encaixa na realidade das indústrias brasileiras, oferecendo uma solução viável tanto para grandes players quanto para pequenas operações”, diz Cyro.
CONCORRÊNCIA INTERNACIONAL
Apesar do otimismo, os desafios para operar neste setor são significativos. André aponta que a falta de mão de obra especializada é um entrave.
“Muitos ainda não entendem a complexidade de trabalhar com microalgas. Para ter sucesso, é necessário capacitar profissionais e adaptar soluções à realidade brasileira”, afirma. A startup tem planos de criar cursos para formar talentos e preparar a indústria nacional para essas tecnologias específicas.
Cyro acrescenta que a concorrência internacional também é um fator de pressão:
“Países como China e Estados Unidos têm uma infraestrutura muito mais desenvolvida. Precisamos ser criativos para competir e mostrar que nossas soluções funcionam tanto em grandes quanto em pequenas escalas”
A Algae+ enxerga um potencial enorme para as microalgas em diversas frentes. A startup estuda aplicações em biomateriais, biocombustíveis e bioinsumos vegetais que aumentam a produtividade agrícola sem necessidade de desmatamento.
“As microalgas podem ser a chave para resolver problemas críticos como emissões de carbono e segurança alimentar”, diz André.
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