Prensas moldam chapas de aço, compondo as peças que darão forma aos automóveis produzidos no Polo Automotivo da Jeep, localizado em Goiana (PE). Enquanto a potente linha industrial, projetada para fabricar até 45 veículos por hora, opera em um ritmo vertiginoso, as mudas de ingá, maracujá do mato, visgueiros e pau-de-jangada desabrocham suavemente, respeitando o compasso particular da natureza.
Esses e outros exemplares de plantas compõem o acervo de 250 espécies, sendo 25 em extinção, nativas da Mata Atlântica na fábrica de mudas da Jeep. O espaço, dedicado ao resgate e à preservação de um dos biomas mais ameaçados do país é capaz de produzir 22 mil novas plantas a cada três meses. No primeiro ano do projeto, 38 mil foram plantadas. Hoje, são 40 mil no viveiro.
Essa verdadeira “fábrica” verde tem a missão de possibilitar o plantio de mais de 200 mil mudas no entorno do Polo Automotivo – área onde antes predominava a tradicional cultura da cana-de-açúcar, principal vetor de degradação da biodiversidade na Zona da Mata Norte pernambucana.
Recompor parte da vegetação original, extinta há séculos, era um desafio mais audacioso do que um simples replantio para paisagismo. A decisão demandou um levantamento botânico inédito na região, que foi encomendado pela FCA e conduzido em parceria com pesquisadores das universidades Federal (UFPE) e a Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
“Iniciamos a pesquisa em 2014 com coletas no remanescente de Floresta Atlântica, próximo aos limites da fábrica, onde há inclusive um córrego, além de relatos históricos do período de 1930 a 2013”, detalhou Tássia de Sousa Pinheiro, pesquisadora e doutoranda em botânica da UFRPE. Há mais de 7 mil hectares de Mata Atlântica em Goiana, atualmente. Para se ter ideia, essa área equivale a 404 vezes o tamanho do estádio do Maracanã. Para o trabalho da UFRPE, foram tomadas como referências também as coberturas vegetais de municípios próximos, na Região Metropolitana do Recife, como Abreu e Lima, Igarassu, Itamaracá e Paulista.
Ao todo, o levantamento registrou 618 espécies pertencentes a 332 gêneros e 104 famílias botânicas, entre elas o visgueiro e o pau-de-jangada (este, ameaçado de extinção). A pesquisa ainda catalogou 446 espécies da fauna local. Entre os achados mais significativos estão 35 espécies em extinção, como o pica-pau anão dourado e o bico virado liso, o peixe-boi-marinho e o tamanduá mirim.
A partir da coleta do material botânico, os pesquisadores selecionaram as espécies para o a “fábrica de mudas”, respeitando a compatibilidade ecológica. Os exemplares já estão sendo plantados em locais estratégicos, com o envolvimento de funcionários e visitantes, e crescem acompanhando o desenvolvimento do Polo Automotivo. Em um futuro próximo, as áreas reflorestadas também serão espaços para pesquisadores, estudantes e moradores do entorno terem contato com as riquezas da Mata Atlântica.
“A intenção é criar corredores ecológicos que se conectem aos remanescentes de floresta, servindo de abrigo para o restabelecimento da flora e fauna local”, ressaltou o gerente de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho da Fiat para a América Latina, Cristiano Félix, acrescentando que a pesquisa poderá ainda subsidiar iniciativas de preservação do poder público e da iniciativa privada.
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