“Em que parte do CV eu escrevo tudo o que aprendi sobre foco, gerenciamento e resiliência com a maternidade?”

Bia Siqueira - 22 fev 2018Bia Siqueira conta como foi criar uma vida inteira baseada em seu propósito, depois ser surpreendida pelo fim de muitos dos seus sonhos, até reencontrar sua própria força e escolher seguir caminhando.
Bia Siqueira conta como foi criar uma vida inteira baseada em seu propósito, depois ser surpreendida pelo fim de muitos dos seus sonhos, até reencontrar sua própria força e escolher seguir caminhando.
Bia Siqueira - 22 fev 2018
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por Bia Siqueira

Há alguns meses, fui almoçar com uma amiga de uma amiga. Não nos conhecíamos ainda. Cheguei, sentei e naqueles minutos esperando por ela fiquei imaginando como eu contaria a minha “história que os currículos não contam” em um breve almoço de uma hora.

Ela chegou e trazia junto sua gravidez de sete meses do segundo filho. Ela, trabalhando há alguns bons anos em uma mesma empresa. Eu, há alguns meses decidida a voltar para uma.

“Você jura que é isso mesmo que você quer? Voltar pra essa rotina estressante de empresa?”, Ela me perguntou, lá pelas tantas. Eu, diante da imensidão em que a resposta se encontrava, sorri levemente, balancei a cabeça que sim e respondi: “Nunca tive tanta certeza disso na vida”.

Afirmar isso com aquela certeza grande me custou caro, muito caro. Embora pudesse parecer, não era uma decisão simples e exigiu de mim uma reflexão profunda de tudo o que eu havia construído, passo a passo, nos últimos 11 anos.

Ela se tornou simples quando eu finalmente percebi o que a vida estava tentando me mostrar: era a única a ser tomada.

O que me motivou a escrever esse relato, além da pergunta feita por ela naquele almoço, é a quantidade de pessoas que eu vejo atualmente falando sobre perseguir seus sonhos, ter uma vida autônoma, ser dono do seu tempo e viver com propósito.

Pois bem.

Esta é a história de uma pessoa que nunca teve tanta certeza na vida sobre a sua verdadeira vocação e paixão. Que perseguiu isso com todas as células do corpo. E que viveu por alguns anos plenamente alinhada com essa missão.

Para entender a origem da certeza da minha resposta, preciso voltar alguns anos.

Logo no começo da minha segunda graduação, dei um vídeo de presente a um casal de grandes amigos que iria se casar. Eu nada entendia de edição, mas tendo sido testemunha ocular da história do casal, precisei apenas de três coisas: “papel, caneta e coração” (obrigada, Emicida).
Desse vídeo veio a ideia de, quem sabe um dia, trabalhar contando a história de vida das pessoas. Eu, que sempre tive toda minha vida registrada em vídeo pela minha mãe, sabia por experiência o quão vital é podermos acessar nossas memórias.

Naquele momento, eu estava recém contratada numa multinacional onde eu sempre sonhei trabalhar. À noite, saía do escritório, ia para faculdade e nos intervalos me sentava na sala da biblioteca para ter aula particular de edição. Os próximos anos de faculdade foram todos dedicados a estudar e desenhar uma ideia do que viria a ser um dia, a minha empresa. A partir dali, não consigo me lembrar de nenhum dia da minha vida que não tenha sido consumido pela vontade incontrolável de contar a história das pessoas.

Há dois anos, fiz o Caminho de Santiago e se diz que o Caminho começa quando você pensa nele pela primeira vez. Penso que empreender também.

Eu não havia sido picada pelo bicho do empreendedorismo. Eu estava gestando o empreendedorismo dentro da minha barriga, ele consumia tudo, alterava o funcionamento de todos os meus órgãos.

Quem já empreendeu ou já engravidou sabe exatamente do que estou falando.

Depois da multinacional onde sempre sonhei trabalhar, passei no processo para outra. Achei que seria um aprendizado importante conhecer o marketing da empresa de uma das marcas mais importantes do mundo. E foi.

Em meio à faculdade, projeto final, preparacão de casamento, obra no apartamento, trabalho e uma hérpes zósterzinha básica, recebi uma ligação de um amigo: “Bia, meu pai vai fazer 60 anos. A gente queria muito fazer o video da história da vida dele. Topa?”.

Algumas ligações podem mudar nossas vidas.

Eu e Gui, até então meu namorado, embarcamos (nos jogamos) na vida paralela do empreendedorismo, às vésperas do nosso casamento. Cada um com seu trabalho oficial, à noite e nos finais de semana nos dedicávamos exclusivamente às gravações.

O vídeo foi transmitido no dia da festa de 60 anos do pai do meu amigo e nós estávamos lá, presenciando o momento em que o filme da vida dele passava no telão e todos os amigos e parentes assistiam reunidos. Naquele dia percebi, sem margem para dúvida, que era aquilo que eu sabia fazer melhor na vida.

Seis meses depois, decidi colocar de pé algo que naquele momento até já tinha saído do papel, mas sem um objetivo claro. Casamos e quando voltamos da lua-de-mel, eu me tornei dona da empresa do eu sozinha. O Gui trabalhava em outra multinacional e o nosso plano era claro: eu fazia a empresa acontecer e ele segurava as contas.

Começou ali uma jornada intensa. Mesmo que eu quisesse, seria impossível descrevê-la aqui.
Foram muitas histórias contadas, mais de 2000 entrevistados, segredos revelados, sentimentos que estão registrados pra sempre na vida dessas pessoas. Costumo brincar que eu trabalhava assistindo e editando a vida de camarote. Pouco tempo depois, comecei a atender grandes empresas e foi quando o Gui se juntou oficialmente.

Decidimos sair de casa, alugamos uma sala, contratamos pessoas, criamos, editamos, viajamos, conversamos sobre trabalho na cama (era tudo uma coisa só), aprendemos no dia a dia, prospectamos, vendemos, fizemos relacionamento, conhecemos muitas pessoas. E o principal: erramos, erramos muito, sempre tentando acertar.

Tínhamos nas mãos e no coração algo que poucas pessoas têm: SENTIDO. Havia muito sentido naquilo que estávamos fazendo. Fazíamos tudo com muita paixão. E quando se tem isso, os dias e as noites se misturam, os problemas são pedras que contornamos e algumas vezes nos isolamos numa bolha, porque a voz interna fala tão alto que emudece as outras. A famosa miopia. É um perigo.

Ao empreender, aprendi rápido que ninguém vai resolver seu problema. É o seu nome que está ali. O tempo todo. Decisões difíceis precisam ser tomadas, pessoas vão te julgar e quase ninguém vai te entender

Empreender é uma jornada muito solitária. Diariamente é preciso uma dose cavalar de energia e reafirmar para você mesmo, no espelho, por que diabos você está fazendo tudo aquilo, afinal, há sempre outras opções. No meu caso, não havia. Ou eu fazia aquilo ou eu fazia aquilo. Nós ainda tínhamos a vantagem de estarmos percorrendo juntos a estrada solitária do empreendedorismo.

Até que chegou a hora. Engravidei. Planejadamente.

Agora éramos sócios em três grandes projetos: casamento, empresa e gravidez.

Como boa ariana, mergulhei fundo na maternidade, sempre com o Gui me apoiando.
Fui apresentada de uma maneira não muito agradável ao fantástico mundo da imprevisibilidade: a gravidez me isolou muito mais do que eu havia desejado e a frequência diária dos vômitos me obrigou a parar de trabalhar antes dos cinco meses de gestação.

Quando Bel nasceu, comecei a usufruir do benefício pelo qual eu tanto havia batalhado: poder me dedicar a ela. Havia chegado a hora de finalmente viver o momento tão esperado da vida de uma mulher. Eu não ia abrir mão disso justo agora.

Durante 11 meses éramos apenas eu e Bel, fiquei dedicada exclusiva e exaustivamente às loucuras e às delícias da maternidade. Amamentação, introdução alimentar, prisões de ventre, isolamento social, fraldas de pano (uma das melhores decisões que tomamos) e todas as infinitas horas sem dormir (quem passa por isso ganha 7 vidas no jogo).

Contratamos uma babá duas vezes por semana quando Bel completou 11 meses e comecei aos poucos a voltar a trabalhar. Comecei a ler e estudar por conta própria sobre essa coisa de ser mãe e profissional no mundo contemporâneo, o tema me inquietava tanto que começou a se transformar num documentário. Quase um mês depois, quando eu sequer havia me acostumado a me vestir pra ir trabalhar, a tal hora chegou.

De novo: grávida. E dessa vez, sem planejamento.

A notícia teve o mesmo efeito de uma bomba. Bel não tinha 1 ano ainda. Eu estava no banheiro em casa, olhando meu rosto no espelho e tudo o que passava pela minha cabeça era: por quê? A empresa estava crescendo, ganhando novos rumos e parceiros, Gui tocava o dia a dia da empresa sem mim, era pai e de vez em quando, tentava respirar (a gente esquece de respirar).

Hoje, quando olho pra trás, aquele ano é como um grande blur na minha memória. As coisas se confundem, não me lembro bem da rotina e sei que talvez eu tenha tido uma leve DPP  (depressão pós parto).

Havia muito mais sobre ser mãe no mundo contemporâneo do que eu havia imaginado há dois anos atrás. Era bem óbvio que seria impossível dar conta dos três projetos e um deles foi deixado à deriva: o casamento. Pilar fundamental.

Culpa? Por muito tempo eu procurei a culpa de tudo. Não há culpados.

Gui sempre soube que o casamento era o pilar que sustentava os outros dois projetos. Mas eu, mãe e mulher, estava submersa a muitos metros de profundidade, nadando pelos hormônios ocitocínicos de um segundo puerpério difícil. Naquela rotina não parecia haver espaço para o casal.

Eu não conseguia voltar à rotina da produtora. Maria, nossa segunda filha, era um bebê e na prática eu estava num verdadeiro e invisível limbo. Diante das circunstâncias e da vida, decidimos dar fim à empresa. Gui aceitou um convite e voltou pro mercado corporativo.

Fim.

Fim daquele projeto.

Fim da empresa.

Fim de muitos anos investidos.

A empresa não era um CNPJ. Era o lugar onde eu podia exercer integralmente tudo aquilo em que acreditava. Em um ano, nossos dois projetos haviam praticamente morrido: casamento e empresa.

E a maternidade, por sua vez, deixava um buraco enorme dentro de mim (isso é outro assunto).

Resumo: eu não era uma mãe realizada, minha empresa havia afundado e meu casamento respirava com ajuda de aparelhos

Em meio a um verdadeiro caos emocional, eu só tinha certeza de uma coisa: estava completamente perdida. Perdida entre hormônios, rotina exaustiva e falta de desejo. Eu estava aprendendo, na pele, o verdadeiro significado da frase dita por Mario Sergio Cortella em sua entrevista pro documentário: “A gente precisa cuidar do cuidador pra que ele possa cuidar melhor”.

Sem saber mais quais eram as minhas metas agora, entendi que só havia uma forma de me reciclar: ficando sozinha. A qualquer custo.

Deixei tudo e fui caminhar muito longe. Eu, Deus e muitos peregrinos.

Eu não sabia, mas meu corpo estava me levando para um encontro com a Fé. Precisava ficar completamente sozinha. Por mais cliché que possa soar, precisava me perder pra me encontrar. Com Deus.

Precisava redescobrir os pequenos prazeres. As coisas básicas da vida. Redescobrir minhas vontades, minhas metas. Aprender a cuidar de mim.

Voltei de Santiago dia 7 de novembro de 2015 e comecei minha nova vida. Uma que em momento algum em 35 anos eu havia sequer por um segundo vislumbrado viver um dia.
Separada, sem minha empresa e com duas filhas pequenas.

Minha vida tinha sido jogada num buraco negro, diga-se de passagem, com um belo de um empurrão meu, e eu não tinha energia pra absolutamente nada além de tentar manter a casa em funcionamento.

Senti na pele a importância da família, experimentei sem sal a humildade em aceitar ajuda e me dei o tempo necessário pra toda aquela culpa sair de mim.

Apesar de uma separação ser talvez um dos processos mais difíceis em uma vida, Gui e eu sempre fizemos tudo colocando as meninas em primeiro lugar, fosse como fosse.

Amigos indo embora. Amigos tentando ajudar. Solidão. Muita solidão. Silêncio no jantar. Foram incontáveis as noites em que eu pensei qual seria a melhor forma de morrer, mas esse pensamento não ia adiante única e exclusivamente por conta das meninas.

Descobri no amargo do dia a dia o que é resiliência, palavra que pra mim até então vivia no dicionário. A Resiliência passou a dormir comigo diariamente, do meu lado.

Para quem estava conscientemente perdida, ficar sozinha era de fato uma maneira bastante irônica que a vida estava me ofertando de me encontrar.

Depois de alguns meses (alguns apenas aprendendo a respirar de novo), alguns trabalhos apareceram e aos poucos comecei a ganhar alguma energia novamente.

Eu me perguntava quem eu era e qual era o valor da minha experiência profissional.

Do que tudo aquilo tinha adiantado? Todo aquele sacrifício? No currículo, duas graduações, língua estrangeira fluente, cursos, uma empresa, projetos realizados, ótimos contatos e infinitos aprendizados. Meu CV me parecia apenas mais um em meio a muitos com MBAs, Mestrados, Doutorados, cursos em Harvard, Iale, sbrubbles.

Em que parte do CV eu escrevo o tamanho da minha força de vontade? Em que parte do CV eu escrevo o quão resistente sou? Em que parte do CV eu escrevo o quanto aprendi de marketing e de gente com a maternidade?

Em que parte do CV eu escrevo o quanto sobre tomada de decisão aprendi com a separação?

Em que parte do CV eu escrevo o quanto sobre gerenciamento de pessoas aprendi com minhas duas pessoinhas?

Em que parte do CV eu escrevo como sou boa ouvinte?

Em que parte do CV eu escrevo como aprendi sobre foco com a maternidade?

Em que parte do CV eu escrevo como a minha sensibilidade ajudava diariamente em todos os processos?

Em que parte do CV eu escrevo sobre o quão forte e resistente sou, ainda mais agora?

Será que eu deveria acrescentar:

  • Masters in Maternity (since 2012)
  • Doctor in Maternity and Surviving without Sleeping (since 2014)
  • PhD in Keep Walking (2015, 2016, 2017)

Aos poucos, e aos socos, fui percebendo que a vida havia mudado completamente.

Eu era agora uma mulher separada e com duas filhas pequenas. Eu não conseguia re-conhecer aquela nova realidade.

Eu precisava voltar a ter opções de escolha. O acúmulo do excesso de privações pode levar a finais bastante perigosos. A saída para aquele momento era uma só: eu precisava voltar a ter uma receita fixa constante.

Tive então algumas conversas com alguns conhecidos, contatos pessoais e profissionais.

“Bia, e sua empresa?” “Bia, e seus projetos?” “Você quer voltar pro mundo corporativo? Como assim? Tanta gente buscando um propósito na vida e você querendo abrir mão do seu?”

Engraçado como as pessoas são experts em dar coach para a vida alheia.

Minha vocação parecia estar me aprisionando e minha criatividade parecia estar me condenando. Tudo aquilo que eu tanto havia lido e ouvido sobre ser mãe e mulher e profissional, agora de fato estava entranhado em mim. A vida estava me trazendo a oportunidade de vivenciar de outras perspectivas os dilemas que eu tanto havia estudado e escutado nas entrevistas do documentário. As teorias estavam saindo do papel e inundando a minha casa.

Pro-pó-si-to.

O que fazer quando você sabe o seu propósito mas a vida te coloca em outro Caminho?

Foi quando percebi que só havia uma decisão a ser tomada: voltar para o sistema. E voltar para o sistema, depois de tê-lo observado à distância, é uma decisão e tanto. Mas eu estava decidida. E se tenho alguma coisa de ariana, é a minha persistência irrefreável quando quero.

“É, você parou um tempo… é muito difícil mesmo voltar pro mercado.” Foi o que eu ouvi algumas vezes. Eu, parei?

Bom, talvez eu tenha me afastado um tempo dos relatórios, do que aconteceu no mercado de bens de consumo, dos cursos novos da Perestroika (não fiz ainda, tô doida para fazer), da super onda de cursos sobre Mindfulness, dos canais no YouTube, das métricas do Instagram e do Facebook, dos novos modelos de CV, do Twitter, de novos termos e conceitos que certamente foram inventados nos últimos 15 minutos, dos novos produtos lançados e talvez de um ou outro livro bestseller desses que todos os brand lovers precisam ter lido (me incluo nessa lista e aceito dicas).

Mas olha, se eu te contar o quanto me movimentei… daria um livro. Até pari dois seres humanos em menos de dois anos, sem anestesia. Falo isso não para você me aplaudir, mas para eu lembrar do que sou capaz.

E então, de repente não mais que de repente, eu voltei.

Reorganizei todo o funcionamento da minha vida pessoal. Filhas, casa, mercado, van da escola, empregada e acima de tudo, confiança. Chorei alguns dias voltando para casa na primeira semana, quando eu chegava e encontrava as duas já de pijaminha vendo TV. Com o tempo (bem pouco tempo, diga-se de passagem), estava claro para mim como a minha “saída de casa” estava fazendo bem a todas nós.

Eu havia cumprido com muito louvor a minha maior meta de mãe: dar segurança emocional a elas. Eu podia jogar as mãos para o céu e agradecer por não ter visto minhas filhas crescer na horizontal, ou seja, dormindo. E isso havia sido um trabalho em equipe: eu, Gui e uma família que sempre nos deu total suporte.

Agora era chegada a hora de resgatar a minha individualidade.

É preciso falar quão distante as empresas ainda estão de enxergar o real valor de uma mulher quando ela se torna mãe

Acabei de ler o livro Plano B, da Sheryl Sandberg, onde ela relata como ela sobre-viveu aos últimos dois anos, depois da morte súbita do marido. Ela fala muito sobre a importância da sociedade apoiar as mães, acima de tudo, aquelas que vivem em situações adversas, separadas, solteiras, viúvas ou com filhos que necessitam de cuidados especiais. Conta como foi fundamental o apoio do Facebook como empresa e como ela agora, como líder e gestora, tem uma visão e uma compreensão muito mais sensível e ampliada.

Nós já vemos mudanças acontecendo, licença-paternidade aumentada por exemplo, mas a meu ver é preciso flexibilizar e reduzir a carga horária de mães e pais quando voltam da licença, até o bebê completar 1 ano (pelo menos). Nada mais justo que mãe e pai tenham o mínimo de flexibilidade para a adaptação e para os cuidados reais do bebê. Além disso, creches funcionam em horário “normal” de humanos e muitas pessoas levam uma, duas ou mais horas para ir e voltar do trabalho. Te pergunto: quem busca o bebê na creche?

É uma cadeia imensa onde cada um de nós é responsável por um elo.

Se você não tem filhos, saiba que também é responsável. Quantas mulheres passam pela constrangedora situação de sair mais cedo do trabalho e ouvir a pergunta do coleguinha com cara de quem não está entendendo: “Já vai?”. (Pode conversar com sua amiga que tem filhos aí do lado.) Hoje eu mesma alimento essa cadeia, contratando uma mãe de três filhos (já grandes) para dormir a semana toda na minha casa. Se você tiver alguma outra solução, pode me ligar.

Percebo hoje, com clareza, como todos esses anos “fora” me trouxeram uma capacidade de mapear conflitos no ambiente de trabalho, mediar relações, compreender com profundidade a importância dos processos, dar valor a cada conquista, entender os limites de cada um, saber exatamente a elasticidade dos meus valores, ou seja, até onde vai cada um deles e mantenho, como sempre fiz, a compaixão e a empatia como princípios básicos diariamente, a atenção em cada detalhe, e acima de tudo, enxergo meu lugar e meu valor.

Por ironia da vida, voltei para o mercado por meio de uma empresa de curadoria e produção de conteúdo digital, a Take4 Content.

Uau. A vida parece estar me oferecendo a chance de me atualizar e rápido. Conteúdo é feito por e para pessoas, independentemente de ser entregue pelo jornal, pela revista, pela TV, pelo celular, pelo computador ou por uma conversa na calçada.

A forma muda, mas conteúdo sempre será conteúdo. É disso que eu gosto.

Continuo uma apaixonada por histórias e continuo conhecendo muitas, mas depois de encostar o pé no “meu fundo do poço”, meu propósito maior passou a ser um só: apenas continuar escrevendo a minha.

Sei que ainda vai levar algum tempo para tudo voltar aos eixos, poder fazer escolhas, finalizar projetos e retomar as rédeas da minha vida, mas eu não trocaria nenhum dos aprendizados que vivi nos últimos anos.

Aos quase 37, aceitar as surpresas do Caminho é uma liberdade muito saborosa.

Aos quase 37, sigo com novos propósitos e trabalhando como as formigas para que o óbvio seja descortinado: o mundo precisa de mulheres no poder.

Continuo fazendo a minha parte. Todo dia.

Bia Siqueira, 36, é formada em arquitetura e marketing. Fundou a produtora de documentários umpraum em 2009. Atualmente, é coordenadora de relacionamento na Take4Content.

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