Há uns quatro anos, André Luiz Araújo da Silva, 35, era mais um daqueles sujeitos com um diploma na mão e um milhão de insatisfações na cabeça. Formado em Direito, passou a faculdade colecionando excelentes notas. Trabalhou um ano e meio na área até chegar a uma dolorosa conclusão: “Era tudo muito bonito. Gostava da teoria, mas a prática não me agradou”, diz o, hoje, sócio da marca Orgonitelux, que confecciona orgonites, peças feitas de metal, resina e cristal, “que atuam como transformadores de bioenergia, transmutando energias densas e negativas em positiva”.
No entanto, deixar a carreira jurídica para enveredar pelo universo das “energias sutis” não foi simples. Houve uma distância longa para se percorrer. Ainda mais para quem guardava em si um certo ceticismo. Quando se deparou com a oportunidade de empreender, André buscava, na verdade, organização interna, equilíbrio, clareza de ideias e energia para recomeçar.
“Estava estudando para concurso, mas também sentia uma necessidade de investigar minha sensibilidade, lendo muito sobre energias, espiritualidade. Vi um vídeo no YouTube sobre um pessoal que distribuía orgonites na África. Fiquei curioso e fui saber um pouco mais”, conta.
UM POUCO DA HISTÓRIA DOS ORGONITES
Quem primeiro falou sobre orgonites foi o médico e psicanalista Wilhelm Reich, ex-discípulo de Sigmund Freud, que enveredou pelos estudos da biologia, física, química, sexualidade, entre outras áreas da ciência. É dele o conceito de Orgone.
Para ele, se trata de uma energia essencial que, uma vez em equilíbrio, tem o poder de aliviar dores, melhorar o sono, aliviar tensões, equilibrar um ambiente, neutralizar os efeitos da radiação eletromagnética, presente em computadores e celulares, por exemplo. Na medicina chinesa, essa energia recebe o nome de Chi, já para o Hinduísmo, é Prana.
Nos anos 40, Reich criou o primeiro experimento para acumular a tal energia, uma caixa com camadas alternadas entre materiais orgânicos (para atrair energia) e metálicos (para irradiar energia ao centro da caixa). Os pacientes entravam na estrutura para absorver Orgone através da pele e dos pulmões.
As ideias revolucionárias de Reich passaram a incomodar. Ele acabou preso e morreu na prisão em 1957. Décadas depois, Karl Welz retomou as ideias do cientista. À resina e ao metal, adicionou o cristal, que tem a função de concentrar a energia. Deu o nome de orgonite.
DE CONSUMIDOR A PRODUTOR
Há quatro anos, não era comum encontrar um orgonite no Brasil. Curioso sobre os efeitos benéficos e terapêuticos atribuídos aos objetos, André importou alguns dos Estados Unidos. Queria experimentar e presentear pessoas da família. Ele conta qual foi sua primeira impressão:
“Em uma semana, percebi mudanças, sobretudo, no meu sono. Senti um bem estar muito grande. Queria compartilhar essa descoberta com as pessoas”.
André perguntou, então, ao seu companheiro, Márcio Zanon, 52, o que achava de confeccionarem orgonites. Márcio foi bailarino durante muitos anos. Sempre ligado à espiritualidade, ele chegou a morar em um mosteiro por dois anos e acredita que “tudo é energia e está conectado”.
Também ligado às artes, Márcio ainda faz trabalhos esporádicos com fotografia, mas pretende, até o ano que vem, dedicar-se exclusivamente ao trabalho com orgonites, além de contratar dois funcionários para ampliar a produção. Ele fala sobre seu envolvimento com as peças:
“Esse trabalho me proporcionou uma clareza mental e uma disposição que me fizeram muito bem”
Os sócios investiram 1.500 reais em moldes e matérias-primas para iniciar o negócio. Montaram um ateliê em um galpão da casa de Márcio, em Curitiba. Começaram criando peças em formato de pirâmides. Além da resina e do metal, usam cristais da família do quartzo e da turmalina, que, segundo André, apresentam um melhor efeito energético.
COMO LIDAR COM A DESCRENÇA NO PRODUTO
No boca a boca, surgiram as primeiras encomendas. Há dois anos, a empresa foi formalizada e, há seis meses, foi lançado o site, que facilitou os processos de compra e de pagamento. As peças ganharam novos formatos e mais beleza, diz André: “Fiz um curso para criar nossos próprios moldes. Passamos a unir a funcionalidade dos orgonites à parte estética, com opções como pingentes e chaveiros, além das pirâmides”.
Com preços que variam entre 60 reais e 600 reais, a depender do tamanho, os orgonites atuam como um campo de energia individual ou do ambiente. Quanto maior a peça, maior o alcance. Apesar de acreditar e defender o grande potencial terapêutico dos orgonites, os sócios precisam muitas vezes lidar com a descrença alheia. Segundo André, algumas pessoas encaram o negócio como místico, mas já foi pior:
“Hoje, quem procura a gente já tem ideia do que é energia sutil, que isso é um conhecimento muito antigo. Os relatos que recebemos reafirmam nossa certeza”
Clientes falam, por exemplo, sobre melhora do sono, mais harmonia e leveza nos ambientes. A respeito de comentários negativos em redes sociais, André permanece tranquilo: “É difícil desconstruir algo que as pessoas têm como verdade. Elas podem não compreender agora, mas no tempo delas vão perceber que a explicação sobre os orgonites é até simples”.
QUANTO MAIS CONCORRENTES, MELHOR
Atualmente, está mais fácil achar pessoas que confeccionam orgonites no Brasil, mas a concorrência está longe de incomodar. “Embora tenha aumentado a oferta, isso não reflete de modo negativo para nós. Na verdade, quanto mais pessoas se dedicam à sua criação, melhor é para todos”, diz Márcio. A Orgonitelux fatura hoje entre 5 mil e 6 mil por mês.
Os sócios acreditam que a divulgação e a popularização desses dispositivos podem aumentar o uso, acarretando um bem estar coletivo. Para eles, a mudança de vida já foi benéfica.
“Se me falassem que eu sairia do Direito para produzir orgonites, eu mesmo não acreditaria. Era totalmente cético. Passei por tanta coisa, mudei minha concepção de vida. Hoje, sou realizado com o que faço e acredito no meu negócio”, encerra André, cheio de energia para continuar seu negócio.
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