Não esqueça a minha Caloi era o slogan de uma campanha publicitária fofa que ganhou a mídia brasileira entre os anos 1970 e 1980. Cativando a molecada e os pais, por tabela, as peças impressas e os comerciais na tevê partiam de uma premissa quase irrefutável: uma bicicleta era o presente mais legal que poderia existir no mundo. Era. Corta para o século 21. Em meio à guerra nada surda do trânsito paulistano, outro dia uma moça relatou no Facebook que pedalava pela ciclovia quando um carro emparelhou e o motorista soltou a gentileza: “vai pra Cuba, vagabunda!”
Grosseria criminosa à parte, o idiota poderia ter sugerido que ela fosse para a Holanda. O país lidera o ranking mundial de bicicletas per capita: há cerca de 16 milhões, uma para cada habitante. De ciclovias, são 20 mil km, o equivalente a metade da circunferência da Terra! Bicicletas são utilizadas em aproximadamente 25% de todos os deslocamentos na Holanda, e são o meio preferido para distâncias de até 7,5 km.
A Holanda é um país inusitado, onde a insistência e a inteligência transformam o improvável em realidade – como nas gravuras de Escher que entortam a mente ilustrando intrincados paradoxos lógicos. Antes de mais nada, é um lugar que só existe por puro engenho humano, pela teimosia em criar terra onde deveria haver água (“Países Baixos” não é um eufemismo: o país só é possível por causa dos diques). Até as bicicletas conquistaram seu espaço na marra, à custa de muito ativismo, após um pico de acidentes de trânsito com vítimas fatais: foram 3 300 mortes em 1971 (12% das vítimas eram crianças).
Mesmo com enorme densidade populacional (400 habitantes por km²), o país consegue ser dono do quinto maior IDH do planeta. O senso arraigado de igualdade e tolerância criam um ambiente onde criatividade e coletividade jogam juntas, se alimentam – como na mítica seleção laranja vice-campeã de 1974, alcunhada de “Carrossel Holandês” pelas trocas constantes de posição entre os jogadores.
Pensar “fora da caixa” é quase um mantra. Na Holanda, a polícia treina águias para caçar drones ilegais. Na Holanda, uma ONG oferece pílulas pela internet para mulheres que buscam o aborto devido ao vírus da zika. Temas espinhosos como maconha, prostituição, eutanásia e casamento gay são debatidos de frente, de forma esclarecida – como deve ser em uma sociedade adulta.
De Niteroi a Nijmegen
Algo que me impressiona nos Países Baixos não é a arquitetura exuberante, a qualidade dos museus ou as delícias culinárias. É a interessante política social que existe por aqui. Por ter uma sociedade com uma baixa diferença social, o tratamento para todos é rigorosamente igual. Ademais, não se vê por aqui qualquer tipo de ostentação de riqueza ou status. Todos se tratam da mesma forma. Nós, brasileiros, temos muito que aprender com os holandeses nesse ponto.
O depoimento do advogado Júlio Furtado (a íntegra pode ser conferida aqui) ecoa uma percepção frequente entre os brasileiros radicados na Holanda – como mostra este outro link. Bacharel pela Universidade Federal Fluminense, em Niteroi, Furtado vive desde 2014 em Nijmegen, a 1h30 de trem de Amsterdam, onde cursa o mestrado por uma universidade local. O plano de estudar no exterior começou a tomar forma dois anos antes, numa visita a um estande do Nuffic Neso Brazil, escritório encarregado de promover o meio-de-campo entre estudantes daqui interessados em fazer graduação ou pós na Holanda e as instituições de lá interessadas em recebê-los.
Com 12 universidades entre as 200 melhores do mundo no ranking Times Higher Education, o país fica atrás apenas de Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha em número de instituições na lista. Para atrair talentos e fomentar a saudável multiculturalidade, o ensino superior holandês adota uma estratégia de feroz internacionalização. Há nada menos que 2 100 cursos de graduação e pós ministrados em inglês (o idioma é tão difundido e bem-falado no país que chega a ser ridículo…) e várias opções de bolsas de estudo para estrangeiros – algumas chegam a financiar até 100% dos estudos.
Hoje existe inclusive uma bolsa exclusiva para brasileiros, a Orange Tulip Scholarship, criada em 2013 pelo Nuffic Neso Brazil (Furtado, o advogado que trocou Niteroi por Nijmegen, é um desses bolsistas). No ano letivo 2014/2015, havia cerca de mil brasileiros estudando na Holanda, contra 150 em 2006/2007. O número considera apenas inscritos para cursos com duração superior a três meses – e não leva em conta brasileiros com passaporte europeu.
“Ficamos orgulhosos de ver não só o aumento de número de brasileiros, mas também o entusiasmo dos holandeses com o Brasil. Cada vez mais ajudamos universidades dos dois países a descobrir novas áreas em comum para construir projetos em conjunto”, diz Ellen Bijlsma, holandesa que há dois anos dirige o Nuffic Neso Brazil, com sede em Brasília. “O mais gratificante é ver o amadurecimento dos estudantes e o quanto o intercâmbio pode te ajudar a descobrir no que você realmente acredita.”
Encontre seu curso
Manter uma atitude receptiva ao outro (apesar das limitações geográficas) faz parte da cultura holandesa. O país acolhe quase 90 mil estudantes estrangeiros – o equivalente a 12% de seus alunos de ensino superior. O processo de admissão varia conforme a faculdade e pode incluir entrevistas por Skype, redação de artigos e cartas de recomendação (excelência acadêmica é um fator essencial).
Uma recomendação aos candidatos é ser absolutamente franco na hora de escrever sobre si e suas ambições:
A cultura holandesa valoriza a franqueza. Quando for escrever a sua declaração pessoal e o seu currículo, use a linguagem que melhor transmita as suas conquistas e ambições, sem exagerar ou mentir. A sociedade holandesa é igualitária por natureza – candidatos que se demonstrarem egocêntricos podem ser desaprovados. Iniciativa e inovação também são muito valorizadas no país, não tenho receio de declarar seus objetivos e ideias.
No site do Nuffic Neso Brazil, uma ferramenta ajuda a escolher o curso que condiz com seu perfil. Atualmente, a Orange Tulip Scholarship oferece 70 bolsas – integrais ou parciais – em 23 universidades para bacharelado, MBA, mestrado e “short-degree” (em que só o último ano da graduação é realizada no exterior).
E aí? Se interessou? Então fique ligado: as inscrições para se candidatar a uma bolsa da Orange Tulip Scholarship vão até 1º de abril!