A lembrança das quatro décadas do lançamento do primeiro carro de produção em série movido a etanol é especial não apenas para a Fiat. Os 40 anos do 147 com motor a etanol representam também um marco importante para a engenharia automotiva brasileira, que em 1979 engatou uma marcha na direção do desenvolvimento de tecnologias em prol de veículos mais eficientes e menos poluentes.
Por causa do então novo combustível derivado da cana-de-açúcar, diversos componentes dos automóveis precisaram evoluir de forma rápida e constante, o que motivou os fabricantes a desenvolver soluções inéditas e vislumbrar outras fontes de alimentação para os carros. “Se analisarmos os dias atuais, em que já nos acostumamos com motores flexíveis, biocombustíveis e até com alternativas híbridas e elétricas, veremos que o passo decisivo para esse cenário foi dado lá atrás com o primeiro carro a álcool”, afirma o engenheiro Everton Lopes, da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade).
“Na época do 147, o sistema de injeção de combustível era o carburador, que de início não tinha um tratamento tão eficaz para conter a corrosão do etanol. Passamos, claro, a adotar materiais que protegessem o componente, mas ao mesmo tempo trabalhamos para atingir um outro nível tecnológico, que passaria pelo carburador duplo até chegar à injeção eletrônica”, lembra o supervisor de Engenharia de Produto da FCA, Ronaldo Ávila. Foi justamente a tecnologia do carburador duplo que, no início dos anos 1990 trouxe mais um feito histórico para a marca: o carro 1.0 mais rápido e veloz do mundo, o Uno Mille Brio.
A evolução do sistema de injeção melhorou a mistura de ar e combustível nos motores. Com isso, houve ganhos significativos de desempenho e, ao mesmo tempo, redução de consumo.
“Com as pesquisas, descobrimos o elevado poder do etanol como aditivo à gasolina. Tanto é que a gasolina comercializada hoje no Brasil não é pura, traz um porcentual de etanol para, entre outros motivos, aumentar sua resistência à detonação e melhorar o desempenho”, explica Everton Lopes.
Toda a bagagem da engenharia brasileira com os motores a etanol foi extremamente benéfica para a era dos bicombustíveis, nos anos 2000, mas ainda assim houve desafios a serem vencidos. “Os automóveis flex precisavam funcionar bem tanto com gasolina quanto com etanol e encontrar o equilíbrio não foi fácil, por causa das taxas de compressão diferentes, por exemplo”, comenta Renato Romio, chefe da divisão de motores e veículos do Instituto Mauá de Tecnologia.
A Fiat, neste período, inovou ao lançar motores 1.0 flex para o Mille Fire, Palio Fire e Siena Fire. “Foi em 2005, época em que os concorrentes somente tinham opções bicombustíveis nos propulsores de maior cilindrada. Fomos os primeiros a atuar na faixa de entrada do mercado”, recorda-se Ronaldo Ávila.
O necessário ajuste fino dos motores flex veio com o tempo e, além dele, surgiram novas alternativas para o mercado com o tradicional pioneirismo da Fiat. Prova disso é o Grand Siena preparado de fábrica para receber GNV. “O GNV merece uma atenção maior por parte de outros fabricantes, pois é um combustível tão limpo e eficaz como o etanol”, ressalta o engenheiro Everton Lopes, da SAE Brasil.
Para Ronaldo Ávila, os carros atuais do grupo FCA são a fonte certa para quem deseja observar os avanços de tecnologia alcançados em 40 anos desde a estreia do Fiat 147 a etanol. “Eles são sinônimo de eficiência energética e contam com recursos extremamente modernos. O Fiat Toro e o Jeep Renegade, por exemplo, dispensam o tanquinho de partida a frio graças ao sistema de pré-aquecimento dos bicos injetores”.
Diretor de assuntos regulatórios e compliance da FCA, João Irineu confirma a elevada importância do etanol para os futuros lançamentos da Fiat no Brasil. “O etanol foi, é e sempre será importante para nós. Ele é um dos elementos de um dos pilares de pontos estratégicos da marca e tem um papel muito importante na redução do efeito estufa. Começamos há 40 anos com um sistema de carburador e hoje trabalhamos no desenvolvimento de sistema turbo, injeção direta e uma série de outras alternativas que serão incorporadas ao motor a etanol para melhorar o desempenho em relação ao motor a gasolina”.
Vale lembrar também que o etanol continua sendo um combustível de enorme importância para o mercado brasileiro, que almeja com o Rota 2030 (programa que define regras para a fabricação dos automóveis produzidos e comercializados no Brasil nos próximos 15 anos) aprimorar ainda mais as metas de eficiência energética e redução dos poluentes. “O etanol degrada menos o veículo, além da contribuição significativa para a redução do efeito estufa. Não à toa o Rota 2030 vai beneficiar as marcas que conseguirem aumentar a eficiência de seus carros com álcool [melhor desempenho e menor consumo], algo que será vantajoso para o meio ambiente e para os consumidores”, destaca Everton Lopes.
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