Em março de 2010, uma semana antes da cerimônia do Oscar, o radialista Daniel Zukerman chegou a Los Angeles com uma ideia na cabeça: invadir a maior festa do cinema mundial. Membro do elenco do programa Pânico na TV, exibido então pela RedeTV!, ele era conhecido como o “Impostor” e tinha como especialidade passar-se por outra pessoa ou, despercebido, entrar em grandes eventos sem autorização, como a entrega da estatueta, na qual chegou, inclusive, a entrevistar Queen Latifah e outras artistas.
Quando a atração saiu do ar, em 2017, Daniel permaneceu como repórter do programa de entrevistas na rádio Jovem Pan. Até hoje, é na emissora (onde começou sua carreira, como estagiário) que ele passa suas tardes. As manhãs e as noites, no entanto, são dedicadas a um negócio que ajudou a criar: o Power Bullet, e-commerce de um “superalimento”.
Também chamados de “superfoods”, esses produtos, que fazem sucesso nos Estados Unidos e vêm ganhando espaço nas gôndolas brasileiras, englobam alimentos que, em pequenas porções, contêm muitos nutrientes, poucas calorias e trazem benefícios ao organismo.
O Power Bullet é uma espécie de café turbinado, um energético em pó que deve ser misturado com água para ser consumido. O produto leva quatro ingredientes: café, leite de coco em pó, triglicérides de cadeia média (a gordura presente no óleo de coco, que é menos propensa a ser estocada e é absorvida de forma mais veloz) e sal rosa do Himalaia. Daniel afirma:
“Juntos, esses ingredientes promovem aumento da performance mental, alta concentração e a energia é rapidamente absorvida pelo organismo”
A fórmula, desenvolvida por ele e seus sócios, é inspirada no Bulletproof Coffee, produto criado pelo empreendedor Dave Asprey, autor de Bulletproof – A dieta à prova de bala (editora Bicicleta Amarela). Depois de uma caminhada no Tibete, em 2004, num local de muita altitude e temperaturas negativas, Dave começou a passar mal e tomou uma xícara de chá cremoso de manteiga de leite de iaque, oferecido por um morador – e espantou-se ao ver suas energias voltarem imediatamente.
Após anos de pesquisa, Dave substituiu o chá por café, trocou a manteiga de leite de iaque por outra à base de leite de vaca, e adicionou óleo de coco ao preparado. A receita fez sucesso e “café bulletproof” virou um sinônimo para esse tipo de bebida turbinada com gordura boa – além de inspiração para outros produtos do gênero, como o Power Bullet.
UM ERRO PARA NÃO SER REPETIDO
A ideia de trabalhar com café não era exatamente um projeto de Daniel Zukerman. Ele havia prometido para si mesmo nunca mais ter um negócio que envolvesse alimento depois de uma experiência negativa. Em fevereiro de 2017, abriu o Sushibol Lounge, restaurante japonês localizado no Itaim Bibi, em São Paulo.
“Não sabia nada do negócio. Não entendia o que era capital de giro, fluxo de caixa, markup, nada. Resolvi ter um restaurante só porque gostava de sushi. Não fiz plano de negócios”
Daniel diz que só percebeu tarde demais o quanto era complexo, precisando lidar com diversos fornecedores e com o fato de os alimentos serem, é claro, perecíveis. Aprendeu algumas lições: “Uma: não tenha um negócio para satisfazer seu ego. Outra: faça apenas o que você sabe fazer. Se você não sabe alguma coisa, chame pessoas capacitadas para trabalhar com você”.
Tempos depois, um amigo de infância, o empresário Sergio D’Urso Junior, manifestou vontade de abrir um negócio com Daniel. Dono de uma confecção que usa algodão orgânico, a Seal Brasil, e de um lifestyle ligado à natureza, o empresário sugeriu que trabalhassem com cafés orgânicos.
O impulso inicial de Daniel foi recusar a ideia. “Mas fiquei com aquilo na cabeça”, conta. “Depois de algumas viagens para a Europa e Estados Unidos, vi que realmente os orgânicos eram um caminho sem volta.” Depois de algum estudo, nasceu em 2018 o Café do Mês, um clube de assinatura do produto.
A ideia era fazer algo que tivesse um “propósito”. Eles foram atrás de pequenos e médios produtores preocupados com o tema da sustentabilidade. “O investimento inicial foi algo em torno de 60 mil reais, mas consegui tudo com sistema de parceria”, diz Daniel.
Meses depois, para aumentar o portfólio do clube, que tem planos a partir de 19,90 reais, os sócios quiseram oferecer algo “à la bulletproof”, mas para o assinante preparar em casa: além do café em pó, a caixa trazia óleo de coco e manteiga ghee, produto tradicional da Índia que, no processo de clarificação, tem toxinas e açúcares retirados.
“Só que um dia o Daniel voltou dos Estados Unidos com um bulletproof em pó. Isso deu a ideia de desenvolvermos também uma fórmula solúvel. Estudamos muito até que chegamos aos ingredientes finais do Power Bullet”, conta Sergio. “O Café do Mês ainda existe e vai bem, mas o Power Bullet virou a menina dos olhos.”
CADA UM FAZ O QUE SABE: ASSIM AS COISAS FUNCIONAM BEM
O terceiro sócio, Jaques Weltman, entrou na história na época em que Daniel e Sergio resolveram criar o clube de assinaturas. Amigo de infância dos dois e egresso da Fundação Getúlio Vargas, onde estudou Administração, com passagens pela Endeavor e como consultor de empresas de tecnologia, Jaques é “o louco do Vale do Silício” (nas palavras de Daniel), com 13 anos de experiência em startups.
Na época, Jaques prestava consultoria para a Grand Cru, cadeia de lojas de vinhos importados que tem um clube de assinatura. “Fui consultá-lo sobre o clube de café. Ele me falou que o storytelling era lindo, que tinha adorado a ideia, mas que a gente não ia ganhar dinheiro com isso”, conta o radialista que virou empreendedor.
Mas as coisas tomaram outro rumo depois de uma visita de Jaques à casa de Daniel: “Vi o Bulletproof que ele tinha trazido do exterior e lembrei que, quando morei em São Francisco, aquilo era uma febre e eu adorava. Ele me falou: ‘Estou pensando em fazer isso. Vamos?’. Topei na hora”, diz Jaques, que entrou como investidor do negócio e trouxe uma colega de trabalho, Priscila Mouawad Khouri, que recebeu uma porcentagem em ações.
No desenvolvimento do produto, o trio buscou uma fórmula ainda mais potente e com um gosto mais abrasileirado. Os sócios trabalham com parceiros, como o Luciano Bruno, nutricionista, que dá o endosso técnico e acadêmico. E o fornecedor também atua como consultor.
RETORNO SURPREENDENTE EM POUCO TEMPO
O investimento inicial foi, segundo Jaques, de cerca de 300 mil reais. O crescimento do e-commerce tem sido “assustador” – a surpresa se deve à ausência de investimento em marketing. “O produto foi lançado em novembro do ano passado e, em quatro meses de operação, já quase se pagou. Em fevereiro, chegamos a 75 mil reais em vendas.”
No site, o kit com dois sachês de 20 gramas cada custa 25,80 reais. O ticket médio hoje é de 250 reais. “Aprendi sobre o mercado de superfood nos Estados Unidos. A carência aqui no país ainda é muito grande. Não estamos falando de um produto industrializado. O Power Bullet é uma junção química de produtos orgânicos. Aliás, é mais do que orgânico – é inteligente”, afirma Daniel. Ele continua:
“Há um mercado gigante a ser explorado porque o consumidor ainda não entendeu exatamente a mudança que a alimentação pode trazer para sua vida. É uma alteração de mindset“
Daniel divulga o Power Bullet em suas redes sociais, que recentemente ajudaram a atrair um investidor: Claudio Gora, que tem em seu currículo a fundação do Locaweb, líder em hospedagens de site no país. O empresário conta que conheceu o energético pelo Instagram do amigo. “Vi que não era um produto comum. Ele tem a ver com uma mudança de hábito, que é a onda do ‘clean’, da energia limpa, das coisas sustentáveis, do plant-based.”
O aumento de pessoas que se declaram vegetarianas e veganas no país é outro ponto a favor indicado por Claudio. “Percebi, então, que estava diante de algo promissor e novo. Fui conversar com o Daniel e acabei virando sócio”. Além da injeção de capital (quantia que não revela), o empresário deve ajudar em áreas em que tem know how, como no fortalecimento da marca e no lançamento de novos produtos.
Claudio trouxe também o empreendedor Evandro Soares para trabalhar na parte de planejamento, posicionamento, comunicação e marketing. “Estou entrando de cabeça. Nossa ideia é viajar para diversos países e entender como diferentes culturas consomem esses superalimentos que fornecem energia e que são sustentáveis, e fazer misturas baseadas nisso.” Daniel Zukerman faz coro: “Estamos falando de uma outra maneira de se alimentar. Não é modinha, é uma mudança de cultura.”
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