Ovos orgânicos, provenientes de galinhas criadas soltas, bem alimentadas e sem o uso de antibióticos, são indiscutivelmente mais saudáveis. O preço desta escolha, porém, não deixa de ser salgado – o que acaba levando este produto para a mesa de poucas pessoas. A Fazenda da Toca, maior produtora de ovos orgânicos do Brasil, quer mudar esta realidade e, para isso, vem apostando em uma estratégia simples: escalar a produção em 30% até 2024 para reduzir custos e assim baixar o preço.
“Nossa missão é democratizar cada vez mais o ovo orgânico no país e, embora substituir o ovo comum ainda seja um sonho, estamos cada vez mais perto do caipira”, diz João Marcelo da Silva, gerente nacional de vendas da Fazenda da Toca.
Os passos ainda são pequenos, mas estão na direção certa. O estojo com 10 ovos orgânicos que, no ano passado, custava R$ 22, hoje já está abaixo de R$ 19,90. O valor fica próximo dos R$ 17,90 a que costumam ser vendidos os caipiras. A diferença é que os custos de produção dos orgânicos são mais altos: as aves têm área externa para pastejar, alimentação à base de milho e soja orgânicos, são tratadas apenas com vacinas obrigatórias por lei e mais de 60 tipos de homeopatia ao longo de seus pouco mais de dois anos de postura, sem antibióticos e hormônios. Já os ovos caipiras vêm de galinhas soltas no aviário, também com área externa para pastejar, mas com alimentação convencional, inclusive com transgênicos.
Os ventos favoráveis, que inclusive trouxeram em poucos meses a positivação do EBITDA (indicador usado para medir a saúde financeira das empresas), são fruto da aquisição da Fazenda da Toca pelo Grupo Mantiqueira – maior produtor de ovos convencionais da América Latina, que dobrou seu negócio em pouco mais de três anos –, há seis meses. Além de mais equilíbrio e governança, apoiados pelo poder de negociação do grupo com fornecedores, a Fazenda da Toca também tem recebido investimentos importantes. Embora não cite valores, a marca já modernizou e aumentou o maquinário para tratamento e higienização dos ovos, permitindo que se rodasse em seis horas um turno inteiro de produção, algo que antes levava um dia.
Parte fundamental da nova estratégia é a conversão da produção de uma segunda marca da empresa, a Libertas, de caipira para orgânica. “Com ela, vamos com um preço mais agressivo para o mercado para conseguir capturar mais espaço e ganhar mais market share”, reforça Silva, que cita dados do ano passado, da última pesquisa da entidade sem fins lucrativos Organis (Associação de Promoção dos Orgânicos), responsável por divulgar conceitos e práticas orgânicas, para mostrar o momento favorável. Hoje, 31% dos brasileiros já compram algum item orgânico com frequência semanal, sendo o setor de FLV (Frutas, Legumes e Verduras), o mais vendido e, dentro dele, os ovos (37%).
DIRETO DA FAMÍLIA DINIZ
A Fazenda da Toca fica na propriedade de 2,3 mil hectares de mesmo nome (hoje arrendada para o Grupo Mantiqueira), em Itirapina, a 220 quilômetros de São Paulo, que pertence à família Diniz, fundadora do Grupo Pão de Açúcar.
Com 35% de mata nativa e uma considerável população de aves (que, inclusive, retornaram após anos de afastamento por conta de pesticidas e herbicidas), foi totalmente convertida a partir de 2009 para um modelo de produção orgânica, por Pedro Paulo Diniz, filho de Abilio Diniz, impactado por um filme sobre a degradação do planeta.
Os primeiros produtos foram sucos, molhos e iogurtes desenvolvidos especialmente a partir dos pomares de Citrus para a marca Taeq, vendida no então supermercado da família. Mas, em 2017, chegou a hora e a vez dos ovos, que se tornaram a principal aposta. Embora fossem produzidos em pequeno volume e estivessem entre os itens menos valorizados do portfólio – o “patinho feio do negócio”, como diz Silva –, eram também a linha mais rentável e simples a ser escalada.
INVESTIMENTO SUSTENTÁVEL
Além de seguir firme no modelo de produção orgânico, a Fazenda da Toca, por apelos dos consumidores, sentiu a necessidade de ampliar ações de sustentabilidade. Os estojos de ovos feitos de plástico foram um dos primeiros do mercado a se tornarem biodegradáveis e reciclados, capazes de se degradar com a chuva.
Também há um convênio com a organização Eu Reciclo, que trabalha com logística reversa, por meio do qual a empresa garante que 100% do peso que coloca no mercado é reciclado. Além do apelo ambiental, atua na frente social, gerando renda para catadores de papelão associados.
E, por fim, a Fazenda da Toca conta com as certificações do Sistema B e Carbon Free – depois de medida a pegada de carbono, desde o plantio de grãos para alimentar as galinhas até a chegada do produto final nas lojas, a empresa plantou 40 mil árvores do bioma da região para poder capturar o oxigênio e zerar o efeito de emissão de gás carbônico.
“Crescendo nosso negócio, puxamos toda a cadeia, aumentando o impacto positivo no mercado, no planeta, nos animais e em todas as pessoas envolvidas. Quando escalamos a produção, demandamos, por exemplo, mais áreas para a produção de grãos orgânicos, que respondem por 70% do custo dos ovos. O produtor consegue ganhar mais, com benefícios para sua saúde, já que não utilizará agrotóxicos. Também garantimos o bem-estar dos animais: no mesmo espaço onde vivem nossas 12 mil aves, são colocadas quase 100 mil em um aviário convencional, dentro de gaiolas verticalizadas. A Fazenda da Toca representa o sonho de um planeta melhor, com viabilidade econômica.”
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