“O etanol e a frota flex são fatores estratégicos para a FCA e o Brasil”, defendeu João Irineu Medeiros, Diretor de Assuntos Regulatórios e Compliance da FCA para a América Latina, no Ethanol Summit 2019, fórum para discussão do biocombustível e de outras energias renováveis. Trata-se de um dos principais eventos sobre o assunto no mundo, lançado em 2007 pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e que acontece a cada dois anos.
No fórum, autoridades governamentais, pesquisadores, investidores, fornecedores e empresários do Brasil e do mundo compartilham informações e pesquisas sobre os temas e buscam as melhores soluções para o futuro. Este ano, foram 150 palestrantes e moderadores, com 20 painéis temáticos e quatro plenárias, para um total de 1.200 participantes que acompanharam em São Paulo os debates sobre biocombustíveis, bioeletricidade, mobilidade, políticas públicas, infraestrutura, açúcar e comércio internacional.
Representante da FCA no evento, João Irineu mostrou em sua apresentação por que o etanol é decisivo para o Brasil conseguir não apenas se enquadrar nos rigorosos padrões internacionais de emissões de CO2, mas também aproveitar a vocação do país e todo o investimento realizado nesta tecnologia nos últimos 40 anos.
“O etanol é um combustível estratégico para a evolução tecnológica de uma mobilidade com menos impacto sobre o meio ambiente”.
Fala-se muito na eletrificação como solução para o problema das emissões dos automóveis, mas é importante lembrar que a eletricidade também gera emissões para ser produzida. Países com matrizes energéticas limpas podem realmente se beneficiar, mas outros nem tanto. Afinal, de que adianta transferir as emissões dos veículos para usinas de carvão ou óleo, por exemplo?
É neste ponto que o etanol apresenta sua principal vantagem, segundo João Irineu. “Quando considerado pelo conceito well-to-wheel (no caso, ‘do campo à roda’), o uso do etanol é altamente eficiente do ponto de vista de emissões. Isto porque a cana-de-açúcar em seu ciclo de desenvolvimento vegetal absorve de 70% a 80% do CO2 liberado na queima do etanol combustível”, explica.
E essa porcentagem tende a melhorar, pois já estão em desenvolvimento novas tecnologias para aumentar o valor energético do biocombustível e também a eficiência dos motores, dentre outras. “A cadeia da agroenergia está focada em produzir combustíveis de modo mais eficiente e com oferta estável e previsível. O setor automotivo, e a FCA em particular, estão empenhados em aumentar a eficiência energética da combustão do etanol”, declarou. O gap energético entre etanol e gasolina atualmente é cerca de 30%. Ou seja, a gasolina consegue oferecer 30% mais energia do que o etanol combustível. “Estamos trabalhando para reduzir essa lacuna, empregando novos conceitos e novas tecnologias, algumas com patente própria”, diz João.
Dentre as características que estão sendo aprimoradas, estão calibração, partida a frio, razão ar-combustível, injeção direta, turboalimentação e melhoria termodinâmica. Com esses avanços, o etanol vai ganhar ainda mais relevância do que já tem e se firmar como combustível estratégico para a evolução tecnológica de uma mobilidade com menos impacto sobre o meio ambiente.
Mas ainda há muito trabalho a ser feito, em conjunto. A especificação do combustível precisa ser aprimorada, com redução do conteúdo de água, por exemplo. Está em desenvolvimento ainda a segunda geração do etanol. Com o avanço de trabalhos como esses, a utilização do etanol na matriz energética da mobilidade poderá ser ampliada, gerando melhorias em cadeia do consumo dos veículos e reduzindo, em consequência o nível de emissões de CO2.
No evento, o secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria do Ministério da Economia brasileiro, Alexandre Manoel da Silva, declarou que o governo não vai interferir no preço do etanol e que pretende retirar as restrições regulatórias do setor. “A produção de bioenergia é um exemplo de eficiência, com poucas perdas”, disse. Em 2020 deve entrar em vigor no país o programa RenovaBio, que prevê R$ 13 bilhões em investimentos anuais no setor. Outro programa, o Rota 2030, definiu as regras para fabricação dos automóveis produzidos ou comercializados no mercado brasileiro para incentivar a melhoria da eficiência energética e redução dos poluentes. Os fabricantes que aumentarem a eficiência dos carros movidos a etanol terão vantagens. Para João, cabe ao Brasil continuar liderando o desenvolvimento do etanol:
“O Brasil tem quatro décadas de acúmulo de tecnologia na produção do etanol combustível e de veículos que o utilizam. Intensificar a opção pelo etanol é uma decisão inteligente, que leva em conta a imensa plataforma produtiva, logística e de distribuição já implantada no país”.
De fato, o Brasil possui diversas vantagens nesse desenvolvimento, como a disponibilidade de área para plantio da cana-de-açúcar, domínio da tecnologia de produção do etanol da cana, cadeia de distribuição consolidada, motorização flex em mais de 85% dos veículos leves produzidos no país e assim por diante.
Em 2018, um terço do volume total de combustíveis comercializados no Brasil foi etanol. Com o aprimoramento da tecnologia, essa porcentagem tem tudo para aumentar. “Temos que investir tempo, dinheiro e inteligência nisto. E só o Brasil pode fazer isto. Nenhum outro país tem um ativo desta importância e magnitude”, argumentou João. “Para isto nós precisamos de uma agenda estratégica compartilhada entre governo, empresas, universidades e sociedade”, defendeu. “O etanol será viável mesmo nos níveis rigorosos de regulamentação previstos para 2022, será um combustível competitivo para veículos híbridos e pode se tornar a base de células de combustível eficientes”, concluiu.
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