Gerir e acompanhar o desempenho e desenvolvimento de seus colaboradores sempre foi um desafio para as empresas, especialmente em meio a equipes numerosas e com focos diversos.
Com a pandemia e a disseminação do home office, somou-se a isso uma dificuldade extra: como gerir times que muitas vezes estão espalhados pelo Brasil ou pelo mundo, sem a possibilidade de fazer reuniões físicas e acompanhar de perto o dia a dia das equipes?
É aí que entra a plataforma da Feedz. A proposta é oferecer uma solução completa, que integre e engaje os membros da equipe, acompanhe o grau de satisfação dos colaboradores, estimule a geração de feedbacks contínuos e acompanhe de perto os projetos, garantindo que os objetivos estejam sempre alinhados.
Bruno Machado, 33, e Gabriel Leite, 36, são os cofundadores da startup catarinense (que hoje tem também Rafaela Cechinel como sócia). Bruno, o CEO, afirma:
“A gente estudou durante muito tempo os motivos por que as pessoas não eram felizes, não se sentiam realizadas no ambiente de trabalho… Normalmente está ligado a um desalinhamento de propósitos, em que a pessoa trabalha unicamente pelo salário, mas não quer de fato estar ali”
Entre outros fatores que a dupla encontrou para explicar essa insatisfação estão a desconexão e desconhecimento dos objetivos da empresa, além da má gestão das equipes por parte de muitos líderes.
Bruno diz que, em conversas com sociólogos, antropólogos – e com funcionários das gigantes Netflix, Google e Amazon –, os sócios entenderam que os melhores gestores respondiam a um padrão muito bem definido de comportamento estratégico.
A plataforma surgiu dessas descobertas, com ferramentas que fazem desde a organização de reuniões individuais regulares até a avaliação contínua e o disparo de elogios por bom desempenho, aprimorando a comunicação interna da empresa.
“Se já era uma preocupação melhorar a experiência dos colaboradores, isso ficou ainda mais importante [no mundo pós-pandemia]”, diz Bruno. “Durante anos se falava em ter um bom processo de seleção, mas não adianta nada os talentos virem, ficarem três meses e depois saírem.”
ELE CAMINHAVA PARA UMA CARREIRA EXECUTIVA, MAS RESOLVEU PRIORIZAR O SONHO DE EMPREENDER
Bruno atuava há uma década na área de tecnologia, com desenvolvimento de software, produtos e projetos. Parecia estar caminhando para uma trajetória mais tradicional, uma carreira executiva no mercado… Mas ainda acalentava o sonho de empreender:
“Eu já vinha com essa ideia de melhorar a gestão de pessoas dentro do ambiente corporativo, onde vivi por pelo menos dez anos”
Em 2018, papeando com seu amigo Gabriel (que na época liderava uma agência de marketing digital, a Mentes Digitais), os dois decidiram combinar suas expertises em tecnologia, negócios e comunicação para criar uma plataforma que, segundo Bruno, “ajudasse as empresas a de fato colocar seus colaboradores em primeiro lugar”.
Logo em seguida, Bruno pediu demissão da Ahgora, HRTech onde era gerente de operações, e Gabriel fechou sua agência. Formalizaram a nova empresa em maio de 2018, com o primeiro como CEO e o segundo comandando o marketing, como CMO.
O investimento inicial na Feedz foi de 50 mil reais, que saiu do bolso dos sócios. O primeiro ano, no entanto, acabou sendo o mais difícil para os dois, que eram empreendedores de primeira viagem nesse ramo.
Bruno lembra:
“A gente estava sem dinheiro, desempregado, na cara e na coragem. E tínhamos coisas para fazer que eram completamente diferentes do que estávamos acostumados, como estruturar o canal de vendas, o RH… Era um mundo que a gente não conhecia”
Em meio às dificuldades, naquele primeiro ano a receita ficou em apenas 40 mil reais em ARR, o faturamento recorrente anual. Por outro lado, os 365 dias de estreia também foram marcados por participações em programas de aceleração, como InovAtiva Brasil e ACE.
Um dos mais importantes foi o da aceleradora americana Y Combinator. A Feedz chegou até a etapa final, no Vale do Silício.
“Acabamos não recebendo o investimento, mas a experiência foi fantástica”, diz o CEO. “O feedback que nos deram motivou muitas tomadas de decisão bem importantes.”
No ano seguinte, 2019, a Feedz foi em busca de investimento. Foram duas rodadas. A primeira logo em janeiro, quando a empresa captou 200 mil reais; a segunda, em julho, gerou um aporte de 500 mil reais de investidores-anjo.
“Por mais que, nos patamares de hoje, seja pouco, foi o suficiente para trazer os primeiros grandes talentos”, diz Bruno. Entre as contratações, chegaram um desenvolvedor sênior e uma vendedora com experiência para a área comercial, Rafaela Cechinel, que mais tarde se tornou sócia e líder da área de vendas.
Atrair talentos da tecnologia foi um dos grandes desafios da Feedz no início da operação:
“A guerra por talentos em tecnologia está um absurdo. Tem algumas empresas muito capitalizadas, com fundos que levantam 50 milhões de dólares, e que pagam ‘o que for’… Se a pessoa estava ganhando 8 mil reais um ano atrás, hoje está levando 15 mil reais, facilmente. Para a gente que é pequeno, é muito mais difícil”
Mesmo com essa barreira, a Feedz finalmente explodiu, crescendo cerca de 1 000% em 2019 (uma performance que, segundo o CEO, a posiciona entre as startups de maior crescimento no mundo).
“Se já tivéssemos 20 milhões de reais ‘nas costas’, talvez fosse o [crescimento] esperado pelo mercado”, diz Bruno. “Mas estávamos em bootstrapping, apenas com alguns anjos que aportaram um pouco de dinheiro no negócio.”
O cliente paga, pelo uso do software da Feedz, uma mensalidade que varia com o número de colaboradores ativos na plataforma durante aquele mês. Há módulos diferentes, com mais ou menos funcionalidades disponíveis, conforme o valor pago.
A plataforma permite que os colaboradores interajam virtualmente entre si, com os gestores e o RH. Essas interações incluem a possibilidade de enviar feedbacks (positivos ou negativos) sobre eventos pontuais e que podem ser compartilhados com toda a equipe.
Um dos “mandamentos inegociáveis” da Feedz, diz Bruno, é garantir que os gestores façam ao menos uma reunião individual por mês com cada colaborador – esse calendário é controlado na própria plataforma.
O software viabiliza ainda que o RH dispare pesquisas para medir o clima da empresa a todo momento, o que facilita na hora de propor os ajustes necessários.
“Em dez minutos na plataforma, o gestor consegue descobrir quais os objetivos do seu time, dar feedback, pode elogiar alguém… Tudo isso gera informações para o RH: quais pessoas e setores estão mais ou menos felizes, engajados, satisfeitos – e quais gestões estão sendo melhor avaliadas”
Entre os mais de 750 clientes que a Feedz atende hoje estão marcas como Tok&Stok, Reclame Aqui, Enjoei, Farm, Animale e Lacoste.
Em 2021, a Beleaf, empresa de marmitas congeladas à base de plantas (que foi pauta aqui no Draft), contou com a plataforma da Feedz para automatizar processos de gestão e retenção de pessoas, antes feitos manualmente, numa fase de estruturação do seu RH.
Com a Feedz, muitas tarefas ganharam agilidade. As pesquisas internas da Beleaf, que eram realizadas pelo Google Forms, passaram a ser realizadas de forma automática. A plataforma também automatizou o envio de feedbacks 360º, a organização de metas da empresa em planilhas e a elaboração de apresentações com dados.
Outro case é o da Adove, primeiro cliente da Feedz. A agência de marketing já trabalhava em home office mesmo antes da pandemia, o que dificultava medir o clima entre os colaboradores, entender seu grau de satisfação e estabelecer um contato mais próximo. A CEO da Adove, Karine Sabino, afirma:
“A Feedz veio para otimizar o tempo na gestão de pessoas, altamente alicerçada na nossa cultura de transparência, feedback e de ter um relacionamento próximo com o colaborador”
As pesquisas, segundo ela, deram uma mão ainda para a tomada de decisões internas. No segundo semestre de 2021, a agência, com 25 colaboradores, enviou cerca de 312 feedbacks pela plataforma.
A Covid-19 acabou acelerando os negócios da Feedz. Segundo Bruno, a necessidade de home office abriu os olhos de empresas mais tradicionais para estratégias online de gestão. “Crescemos muito. O primeiro semestre de 2020 foi muito bom para a gente.”
Em 2021, o faturamento ficou em 10 milhões de reais. Dos 15 colaboradores pré-pandemia, a startup saltou para os atuais 102 funcionários, que se dividem entre atendimento ao cliente, comercial, tecnologia, marketing, administrativo, financeiro e RH.
O escritório, em Florianópolis, passou a funcionar mais como “coworking”, já que toda a equipe está em home office (e espalhada pelo Brasil).
“Ninguém é obrigado a ir presencialmente, vai quem quer. É um regime flexível e híbrido, e a ideia é que continue assim”
Com a chegada de tanta gente em tão pouco tempo, e ainda por cima à distância, uma das preocupações é a manutenção da cultura interna da empresa.
“Temos um propósito bem definido. Ontem entraram dois colaboradores. Se perguntar para eles hoje, vão saber de cabeça qual é: criar ambientes de trabalho mais felizes”, afirma Bruno.
VEM AÍ UMA NOVA FERRAMENTA: UM CENSO DE DIVERSIDADE VAI AJUDAR A TORNAR EMPRESAS MAIS INCLUSIVAS
A mentalidade dos gestores, que geralmente não passam por uma capacitação para assumir esse posto, ainda é uma das principais barreiras para o trabalho da Feedz no Brasil, afirma o CEO.
“Temos um desafio com gestores e empresários que olham para as pessoas da empresa simplesmente como recursos”
Muitos relutam em usar a Feedz porque consideram o investimento em colaboradores “supérfluo” – ou dizem que, devido à rotina de trabalho, não teriam tempo para ficar elogiando os colaboradores.
Para o futuro, Bruno reafirma a posição de manter o foco em RH estratégico, voltado para engajamento, desempenho e people analytics, sem entrar em áreas como seleção e recrutamento.
Com o lançamento de novos produtos, a estimativa é dobrar a empresa de tamanho em 2022. O CEO ainda não pode divulgar todos os novos projetos e funcionalidades, mas adianta que um deles será a inclusão na plataforma de um censo de diversidade.
“A ferramenta deve facilitar que os gestores do RH saibam como está a distribuição de vários tipos de diversidade na empresa: étnica, de gênero, região, idade… Vai ser tudo anônimo, para incentivar empresas no processo de implantação de diversidade e inclusão.”
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