Associar felicidade ao trabalho ainda parece distante para muitos de nós, como se a felicidade não fizesse parte dessa área da nossa vida.
No Brasil, temos os piores indicadores do mundo em doenças mentais como burnout, ansiedade e depressão.
Banalizamos a ansiedade, o estresse e a falta de segurança psicológica, normalizando ambientes tóxicos e infelizes
Porém, com a expansão do home office — e o aumento das horas trabalhadas –, ocorreu uma mistura da vida profissional com a pessoal. E ficou mais difícil sermos felizes sem que haja felicidade no trabalho.
Nas empresas em que tenho atuado, vejo que há uma preocupação latente com a saúde mental e bem-estar dos colaboradores. Porém, na prática, esse tema acaba sendo preterido ao planejamento estratégico, metas e outros resultados. Além disso, falta clareza sobre o que fazer e como seguir para, finalmente, realizar e atingir a felicidade corporativa.
Sabendo disso, será que é possível falar de felicidade no trabalho? Ou é algo utópico?
NÃO SE TRATA DE UMA SALA DE JOGOS, SNACKS À VONTADE E UM AMBIENTE DESCOLADO
Em primeiro lugar, é necessário entender o mundo atual e saber que não adianta esperar os desafios passarem ou o ritmo diminuir para só então priorizar o tema da felicidade dos colaboradores.
Trata-se de algo urgente e essencial. E que provavelmente não acontecerá em um “cenário ideal”, pois o mundo continuará desafiador e os índices continuarão a piorar cada vez mais.
Também é importante entender e desmistificar a felicidade corporativa. A felicidade no trabalho é como as pessoas se sentem. Ou seja, é sair da cultura de dar algo tangível para fazer os colaboradores sentirem, deixando que sejam quem são.
Não adianta as empresas acharem que os colaboradores serão felizes apenas com o aumento de seus salários, bônus e benefícios… As pessoas são mais felizes no trabalho quando sentem que fazem algo significativo e desafiador, quando se sentem empoderadas, valorizadas, reconhecidas e têm relações positivas
Por exemplo, um ambiente legal e colorido, programas de bem-estar, festas, brindes e um kit de onboarding podem ser ótimos… Mas são fatores que geram satisfação e não felicidade.
As pessoas podem até reclamar a falta desses benefícios (ambiente colorido, festas etc.); mas contar com eles, apenas, não garante a felicidade. É preciso então focar no trabalho de cada indivíduo e também em suas relações. São esses dois fatores que atuam na felicidade corporativa.
A IMPORTÂNCIA DE SE FALAR SOBRE FELICIDADE CORPORATIVA
“Por que precisamos falar de felicidade no trabalho?”
Primeiro, porque é certo e imprescindível tratar o tema. Não dá para acharmos normal os altos índices da síndrome de burnout, depressão e ansiedade.
E segundo, porque trabalhar a felicidade dos colaboradores gera resultados.
Pesquisa da Harvard Business Review mostra que funcionários infelizes têm 18% menos produtividade, geram 16% menos lucro, provocam um aumento de 49% nos acidentes no trabalho e aumentam em 37% os índices de absenteísmo
Portanto, investir na felicidade dos colaboradores não apenas é o correto a se fazer. É, também, o que vai gerar a sustentabilidade do negócio a longo prazo.
Colaboradores felizes geram resultados positivos e marcas mais valiosas no mercado, tanto para os consumidores quanto para os profissionais.
JÁ OUVIU FALAR EM “CHEFE DA FELICIDADE”? CONHEÇA O CHIEF HAPPINESS OFFICER
Diante deste cenário, surgiu no Brasil o cargo de Chief Happiness Officer (CHO), ou Chefe da Felicidade.
O CHO é o responsável por diagnosticar e planejar ações para a felicidade dos colaboradores, conscientizando equipes e lideranças a criarem ambientes mais saudáveis e com significado.
O papel do Chief Happiness Officer não é deixar as pessoas alegres e sorrindo o tempo todo, nem realizar festas… E sim ajudar a liderança a criar um ambiente que tenha segurança psicológica
Além de conscientizar a equipe sobre a autorresponsabilidade na construção de uma carreira com mais desafios e significado, o CHO deve ajudar a empresa a definir e esclarecer seu propósito, trazer temas de diversidade e inclusão e planejar ações de salário emocional.
O primeiro passo do CHO é sempre entender o cenário, ou seja, diagnosticar o índice de felicidade da empresa. E para chegar ao diagnóstico, este profissional deve realizar uma pesquisa quantitativa, seguida de uma qualitativa.
O objetivo do diagnóstico é entender como, de fato, as pessoas se sentem na empresa.
É POSSÍVEL MEDIR A FELICIDADE?
A felicidade é subjetiva e pessoal, claro. Mesmo assim, há caminhos para mensurar o bem-estar através de um modelo conhecido como PERMA — criado por Martin Seligman, um dos pais da Psicologia Positiva.
Segundo Seligman, o PERMA indica cinco pilares que devem ser buscados para obter uma vida com mais felicidade e mais significado. São eles: emoções positivas, engajamento, relações positivas, significado e realizações.
Não existe uma “fórmula mágica de felicidade”, mas certamente há um caminho a percorrer.
Para sermos mais felizes, é necessário alinhar uma vida hedônica (de prazeres e emoções positivas) com a eudaimonia, uma vida de virtudes, autorrealização e significado.
Nas empresas é a mesma coisa. Não adianta ter um ótimo salário, bônus e benefícios, se eu sinto que o meu trabalho não tem significado ou que ele não me desafia e não me traz realização
Isso é o que vem ocorrendo com muitas pessoas ao redor do mundo. E vem sendo cada vez mais questionado, principalmente pelos millennials e pela geração Z.
COMO MUDAR O MINDSET DE LÍDERES E COLABORADORES?
Antes de propor um plano de ação, o CHO começa pela pesquisa quantitativa pensando nesses cinco pilares PERMA para entender quais são os desafios e como as pessoas estão em cada um desses pontos.
Com essa análise em mãos, é necessário então ouvir as pessoas e aprofundar o diagnóstico com uma pesquisa qualitativa.
Assim, o CHO vai entendendo quais os pontos com os piores indicadores e qual o melhor caminho para se trabalhar a felicidade corporativa na empresa, conscientizando as pessoas sobre a importância do tema e do engajamento de todos na construção de uma empresa mais saudável e feliz.
Grande parte do seu trabalho é mudar o mindset de todos os colaboradores e líderes. Não adiantam ações para melhorar a empresa se não há autogestão e envolvimento de todos
É preciso educar, conscientizar, falar sobre a felicidade… E assim, aos poucos, construir ambientes com segurança psicológica e relações de confiança, além de resgatar o sentido do trabalho em cada um.
A mudança não acontece da noite para o dia. A cultura positiva, o ambiente que traz segurança psicológica e as relações positivas dependem de muito esforço e dedicação.
O primeiro passo, certamente, é abrir espaço para se discutir esse tema e entender que cuidar dos colaboradores é urgente e essencial para a sustentabilidade de qualquer negócio.
Renata Rivetti é formada em Administração pela FGV-EAESP, com pós-graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização pela PUC-RS e especialização em Estudos da Felicidade na Happiness Studies Academy. Atua como diretora e consultora da Reconnect | Happiness at Work, além de palestrante e professora do MBA Isec Lisboa de Felicidade Organizacional. É também TEDx Speaker (confira a palestra dela no TEDxFAAP).
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