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“Feminismo não é uma modinha e não vai passar. Ele é um mecanismo de libertação”

Phydia de Athayde - 20 jun 2016 Grupo reunido para ouvir o que Brenda Fucuta (no centro, de vermelho) tinha a dizer sobre feminismo.
Grupo reunido para ouvir o que Brenda Fucuta (no centro, de vermelho) tinha a dizer sobre feminismo.
Phydia de Athayde - 20 jun 2016
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Novamente a ProjectHub recebeu, numa fria noite paulistana, uma aula provocadora da Academia Draft. Dessa vez, Brenda Fucuta trouxe o seu Guia Rápido para não ser Imbecil com as Mulheres. Mas sua aula era sobre muito mais que isso. Era um passeio pela história do feminismo, mesclando-o com dados brasileiros sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho. Era, também, um olhar para as manifestações recentíssimas do “novo feminismo” (que floresceu graças ao poder da internet e das redes sociais) a que Brenda chama de “Feminismo Y”, por sua ligação com a geração Y.

“O que eu trouxe para vocês hoje é o compartilhamento do que, em outros tempos, seria uma reportagem de capa de uma revista. É também o resultado de um trabalho de três anos investigando o feminismo”, conta ela, antes de iniciar a apresentação.

Brenda tem um jeito peculiar de apresentar o que sabe. Em vez de proferir frases feitas, de efeito, ela prefere expor (e o faz da maneira mais didática possível) uma longa sucessão de informações que formam, de repente, ao final da aula, um quadro riquíssimo de conhecimento.

Também de maneira bem intimista e sincera, Brenda se coloca, pessoalmente, nessa história. Diz que o que a motivou para essa pesquisa foi perceber que havia um estranhamento em algo que ela julgava conhecer a fundo:

“Durante 20 anos trabalhei com mulheres e tudo era muito diferente do que se vê hoje. O mundo mudou e isso gera muitas dúvidas”

Para eliminá-las, nada melhor do que mergulhar nas referências históricas, livros, citações e dados. É assim que Brenda disserta sobre termos como equidade de gêneros (“Não é eliminar as diferenças entre homens e mulheres”) e vai tecendo a sua interpretação da história do movimento feminista, dividido em “ondas” que às vezes se intercalam, mas que servem para orientar as lutas das mulheres.

A “primeira onda” surge entre o fim do século 19 e início do século passado. A principal batalha, a grande causa, das mulheres é pelo direito de votar.

A “segunda onda” acontece nos anos 1950 a 1980, época em que as mulheres questionam o seu papel social. A luta é contra o patriarcado. Nos anos 1970 e 1980 observa-se também a globalização do movimento feminista. É quando diversas conquistas se refletem na legislação de muitos países. A ONU declara 1975 o Ano Internacional da Mulher.

A “terceira onda” tem lugar nos anos 1990 e é o feminismo das diferenças. A partir da ideia de que gênero não é sexo, e que portanto a sexualidade é muito mais ampla, abre-se espaço para transgêneros, cisgêneros e diversas outras definições. Nessa fase, Brenda destaca as Guerrilla Girls e as Riot Girls como referências do que já seria um “novo feminismo”. Mais pop — e precursor do que viria a seguir.

Assim chegamos à “quarta onda”, a que vivemos hoje, na qual a grande novidade é o poder da internet e das redes sociais, que permite que mulheres não apenas se organizem como passem a ter voz e a influenciar o debate — a campanha #primeiroassedio, da ONG Think Olga, e as muitas reações contra a cultura do estupro são exemplos deste momento.

O retrato do feminismo estaria pronto, estaria correto, se parasse por aí. Mas Brenda acrescenta outro elemento ao quadro: o papel das mulheres nas grandes empresas e no mercado de trabalho. Lançada em 2012, a campanha “O Terceiro Bilhão” é uma iniciativa global que busca trazer emancipação (ou empoderamento, se você preferir) para mulheres inserindo-as no mercado. É uma lógica essencialmente capitalista, baseada no impacto que a ascensão de mulheres hoje economicamente alijadas teria na sociedade global, e cujas consequências fariam diminuir a histórica opressão das mulheres.

“Hoje, há uma conjunção positiva para que o feminismo Y aconteça”

Brenda prossegue, e menciona também a campanha da ONU He for She, que tem como embaixadora a atriz Emma Watson e busca aproximar homens e mulheres a iniciativas que contribuam para diminuir a desigualdade de gênero na sociedade.

 

A aula prossegue, saindo da teoria e mergulhando um tiquinho a mais na prática. É quando Brenda lista algumas coisas que as “mulheres não aguentam mais”. Prepare-se, porque é uma lista óbvia, mas cheia de pegadinhas, daqueles comportamentos que às vezes repetimos sem nem perceber:

– cantadas grosseiras;

– frases do orgulho machista (“Isso é trabalho de homem”);

– frases do machista em negação (todas que começam com “Eu não sou machista mas…”);

– frases machistas inconscientes (“Lá em casa, as mulheres é que mandam em mim”);

– frases que as próprias mulheres ainda repetem (“Gosto de igualdade mas não sou feminista”).

 

Cada item acima dá margem a divertidas reações, tanto de Brenda como de quem participa da aula. Depois, numa dinâmica final, ela pede que cada um dos presentes abra um envelope (que estava junto ao material que acompanha sempre as aulas da Academia Draft) e leia para os demais. São frases inspiradoras de mulheres sobre o mundo, a vida, o feminismo. Antes de encerrar, Brenda fala mais um pouquinho do que aprendeu, do que está aprendendo: “O que mais me encantou foi redescobrir a palavra feminismo. Ele não é uma modinha. É, de fato, um exercício de libertação”.

Ela prossegue: “O feminismo nada mais é do que um instrumento e um convite para questionar privilégios e você leva isso para outros grupos”. Sua frase final é um convite, quem sabe, para uma outra aula. Ou, na verdade, para que o nosso aprendizado seja contínuo.

“Do que eu preciso abrir mão para que o outro, que também é oprimido, possa viver melhor?”

Valeu, Brenda.

 

 

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