“Pequeno por fora e grande por dentro”. Talvez nem a Fiat pudesse imaginar que essa definição dada ao Uno em 1984, ano do lançamento no Brasil, fosse servir de inspiração não só para os futuros lançamentos da marca, mas também para o segmento automotivo como um todo, que se transformou graças ao charmoso compacto italiano adaptado ao gosto brasileiro.
Desenhado por Giorgetto Giugiaro e adaptado no Brasil, o Uno protagonizou diversas revoluções em seus 35 anos de história. Foi ele o responsável por popularizar no país o veículo de quatro portas e recursos como ar-condicionado, antes exclusivos de modelos mais caros. O Uno foi ainda o primeiro carro de passeio a sair de fábrica com turbo compressor. Com inúmeras versões, séries especiais, derivações de carroceria e duas gerações, fica fácil compreender seu enorme sucesso de vendas, com quase quatro milhões de unidades produzidas no Polo Automotivo Fiat (Betim, MG) e a crescente legião de fãs. “O Uno pode ser chamado de ‘carro da família brasileira’, pois todo mundo tem uma boa história pra contar sobre ele”, garante o presidente do Fiat Club MG, Luigi Kevin Gonçalves.
“Eu cresci num Uno, pois meu pai comprou um zero quilômetro em 1988, que tem até hoje. Ele não desapega. Trabalha diariamente com o carro e não deixa ninguém dirigir. Roda perfeitamente sem problemas. Aliás, é um veículo que nunca ficou parado por qualquer tipo de pane”, conta Luigi, que também é responsável pela criação do Grupo do Uno na cidade de Belo Horizonte.
“Criei o grupo para reunir admiradores, pessoas com boas histórias para contar sobre o Uno. Começamos os encontros mensais em 2018 e atualmente somos 288 integrantes”, conta Gonçalves, que já foi dono de um Uno Turbo. “Fiquei sete anos com ele e só vendi para me dedicar ao projeto de restauração de um outro modelo, o Oggi. Mas me arrependo muito de ter me desfeito dele, um carro que me encantava por ser, além de um esportivo da Fiat, um carro que minha família já teve. Eu queria um carro baseado nessa história”, recorda.
A paixão pelo Uno também faz parte do passado e presente do professor Daniel Gustavo de Oliveira. “A família da minha esposa tinha um Uno CS 1985 parado em um sítio e eu, que já tive um Uno 1.6R, resolvi restaurá-lo para se tornar placa preta, colecionável”, ressalta. “Coloquei o motor para funcionar, toda a fiação foi refeita, levei num especialista para recuperar os vidros, deixei o Uninho com tudo que ele tinha de original da época, incluindo o estofamento de fábrica. Hoje ele está com 308 mil km rodados, recebeu placa preta e não me dá despesas. Só troco o óleo a cada mil quilômetros e nada mais. Ele apenas sai para exposição. No restante do tempo, fica em casa coberto com capa”, detalha Oliveira, que até hoje se impressiona com a extensa lista de itens de série do modelo de mais de 30 anos.
“O Uno CS já oferecia na década de 1980 abertura interna do porta-malas, vidros elétricos, reloginho de teto, limpador e desembaçador traseiro; um carro completinho para a época. E repleto de qualidades: é muito econômico, tem manutenção simples, é um carrinho versátil, vai bem no trabalho, no transporte de carga e também para uso com a família. A Fiat fez um acerto muito grande com o Uno. Quando se fala Fiat, se pensa no Uno”, diz.
Há dois anos ostentando placas pretas, o Uno de Oliveira recebe inúmeras propostas de compra, mas o professor garante que o carro já tem um próximo dono. “Ele vai ficar para o meu filho, atualmente com nove anos, que já me acompanha nos eventos. A paixão vai passando de pai para filho. Por isso, esse carro não tem preço.”
Quem também não se vê sem o seu Fiat Uno é Sérgio Toshihide, que comprou o modelo Fire 2002 do próprio pai. “Estou com ele desde 2014 e o uso diariamente para trabalhar e me divertir. Meu Uninho nunca me deixou na mão e me leva para onde eu quiser ir”, afirma o técnico de processos, que desde adolescente nutre amor pelo Fiat Uno. “Meu pai já teve outros Uno e toda vez que o carro estacionava na garagem, eu estava dentro dele. Eu inclusive aprendi a dirigir com um Uno, por isso o valor sentimental é enorme”, destaca.
Cuidadoso, Toshihide anota em um caderno tudo o que é feito em seu Uno, desde as manutenções periódicas às alterações de estética ou mecânicas. “Revesti os bancos com couro, coloquei um spoiler na traseira dele e tenho alguns projetos para os próximos anos, que envolvem a instalação de molas esportivas e preparação do motor. E quero fazer dele um carro apenas para passeio, comprando outro Uno para usar no dia a dia.”
Gerente de Engenharia Experimental da FCA, Robson Cotta viveu de perto o nascimento do Uno. “Eu comecei a trabalhar na Fiat pouco antes de seu lançamento e o vi inclusive em fase final de testes. Meses após a estreia, eu comprei o primeiro dos seis Uno que tive”, afirma. “Era um CS prata, que fazia sucesso por onde passava. Certa vez o estacionei numa praça e quando voltei o carro estava rodeado de pessoas admiradas por seu estilo diferenciado da época.”
Como todo fã do Uno, Cotta coleciona boas e divertidas histórias com o modelo. “O carro ficava com minha mulher e ela não tinha se atentado que havia porta-malas. Usou o veículo por seis meses assim. Por ser compacto, com traseira retinha, ela simplesmente achava que ele não tinha porta-malas e levava as compras no banco de trás”, diverte-se.
Para Cotta, o sucesso da primeira geração do Uno – que foi comercializada até o fim de 2013 – deixou um grande desafio para o novo Uno e também para o Mobi, atual modelo de entrada da Fiat. “Ele se tornou uma referência de vendas, de inovações e de carisma. Quando foi lançado, há 35 anos, era um carro muito diferente e avançado para o seu tempo. O Uno é e sempre será um nome importantíssimo para a história da Fiat.”
“O Uno é um carro que ‘carregou’ o Brasil, tanto para o uso no trabalho como no transporte de famílias”, acrescenta Toshihide. “Olha por quanto tempo o seu design durou e como ele ainda é cativante. Sem dúvida, é um veículo que merece uma grande homenagem”, reconhece.
Veja no infográfico abaixo os marcos do modelo nesses 35 anos de sucesso.
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