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Filantropia e lucro não se misturam? Fazer doações a ONGs pode ajudar a sua marca a vender mais. Essa é a aposta do Polen

Juliana Afonso - 21 jun 2022
Renata Chemin e Fernando Ott, os fundadores do Polen (foto: divulgação).
Juliana Afonso - 21 jun 2022
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Oferecer, ao mesmo tempo, um mecanismo de captação financeira recorrente para organizações sociais e uma forma de alavancar a conversão em vendas do comércio eletrônico. É isso que o Polen propõe.

Pilotada pelo casal Fernando Ott, 33, e Renata Chemin, 32, a fintech curitibana desenvolve tecnologias para facilitar doações de empresas a ONGs; de quebra, as marcas engajam e cativam seus consumidores. Segundo Renata:

“Três anos atrás, uma empresa que não fazia nada em termos de responsabilidade social era ‘ok’. Hoje elas têm a obrigação de pensar nisso”

O Polen opera desde 2014. No mês passado, atingiu o patamar de 2 milhões de reais em doações. 

Esse dinheiro, dizem os sócios, beneficiou mais de 200 organizações. A lista inclui Instituto do Câncer Infantil, SOS Amazônia, Banco de Alimentos, Fala Mulher, Ampara Animal e a Central Única das Favelas (leia nossa entrevista com Celso Athayde, fundador da Cufa).

ANTES DE EMPREENDER ELA FOI ATRIZ E SE DEDICOU A VIABILIZAR APRESENTAÇÕES PARA CRIANÇAS CARENTES

A ideia do Polen foi sendo elaborada a partir das experiências pessoais e profissionais dos fundadores. Entre elas, uma passagem pelo teatro.

Renata vem do universo das artes cênicas. Atriz desde os 8 anos, entrou no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) por pressão dos pais. Apesar disso, nunca deixou de atuar e, em 2009, abriu uma companhia de teatro com dois amigos. 

O grupo enfrentou dificuldades para vender seus espetáculos para os teatros da cidade. Foi quando elaboraram a seguinte proposta: apresentar o espetáculo nos finais de semana e, nos dias de semana, encenar uma peça para crianças carentes. 

“Foi a primeira vez que eu usei ‘responsabilidade social’ como diferencial em uma negociação”

Não demorou muito para o grupo se encantar com as sessões infantis. 

“Se apresentar para crianças que nunca tinham ido ao teatro e, ao mesmo tempo, ver essa ação gerar retorno de público e mídia, foi incrível”, lembra Renata.

Mais tarde, a companhia acabou encerrando suas atividades – mas aquela experiência ficou na memória.

AO ESBOÇAR UM PROJETO DE STARTUP PARA AJUDAR ONGS, ELE ENTENDEU QUE O MAIOR PROBLEMA DELAS É FALTA DE GRANA

Fernando, por sua vez, veio de outro universo, o da tecnologia. Formado em Ciência da Computação pela UFPR, em 2011, trilhou uma carreira como desenvolvedor de plataformas de e-commerces em empresas como Buscapé, Walmart e Submarino. 

Anos mais tarde, ele se inscreveu em um curso do Sebrae, no qual integrou um grupo que buscava desenvolver uma startup com a missão de ajudar ONGs a atrair voluntários. Conversando com o pessoal do terceiro setor, porém, ele entendeu que a maior dificuldade não era falta de gente, e sim falta de grana.

No seu trabalho, Fernando já tinha visto como a operação de um e-commerce envolvia taxas que muitas vezes nem sequer eram conhecidas pelos clientes. Aí, fez o link: e se parte desse dinheiro pudesse ser transferido para as ONGs, sem ônus para o consumidor?

Ele e Renata já namoravam quando Fernando começou a bolar uma solução para que as organizações sociais pudessem ter uma captação financeira recorrente. Ela lembra:

“A gente conversava muito sobre esse processo por causa da experiência com responsabilidade social que eu tive com o teatro. Comecei a ajudar com contatos e a pensar em formas de abordar as organizações”

Dois programas de filantropia corporativa tocados por gigantes do comércio eletrônico serviram de referência para o casal: AmazonSmile e eBay for Charity.

A VIRADA DE CHAVE FOI ENTENDER QUE AS EMPRESAS PRECISAVAM ASSUMIR A RESPONSABILIDADE PELA DOAÇÃO

No fim de 2014, Fernando foi aceito em uma aceleradora de startups, a Start You Up, em Vitória (ES). No ano seguinte, a proposta passou em dois programas de aceleração fora do país: o Startup Chile e o Dot Forge, na Inglaterra. 

Nesse momento, Fernando convidou Renata a entrar como fundadora da empresa. “Aí começou minha história com o Polen”, conta Renata. 

Os dois decidiram se dividir para participar das ações: Renata foi para a Inglaterra e Fernando para o Chile. Alguns meses depois, Fernando se juntou a Renata na Europa, onde passaram dois anos desenvolvendo seu modelo de negócio. 

Os primeiros experimentos colocavam a responsabilidade do processo de doação na mão do cliente. Uma das propostas, por exemplo, era que o consumidor instalasse uma extensão no próprio computador para conseguir transformar parte da sua compra em doação.

A proposta não se mostrou sustentável e o casal decidiu transferir essa responsabilidade para as empresas. “Foi a virada mais importante que a gente teve”, conta Renata. 

Eles remodelaram a ferramenta, mantendo o propósito: ajudar empresas a mudar a realidade das organizações sociais através de ações de filantropia corporativa. 

Fernando e Renata voltaram para o Brasil em 2016, prontos para colocar o conhecimento em prática. O modelo B2C foi substituído pelo B2B e uma nova empresa foi aberta.

A FILANTROPIA COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR O RELACIONAMENTO COM O CLIENTE E CONVERTER MAIS VENDAS

Entre os clientes do Polen há marcas como Animale (moda), Beyoung (skincare), Madesa (mobiliário) e Sidewalk (calçados e acessórios).

Ao navegar pela loja online de uma dessas marcas (ou de outro cliente do Polen), o consumidor pode escolher, na hora de finalizar a compra, qual organização quer apoiar – e isso sem gastar nem um centavo a mais.

Quem faz a doação é a loja; a quantia fica a critério de cada empresa. Em média, segundo os empreendedores, os clientes do Polen costumam doar 1 real por transação ou até 1% do valor da compra; em alguns casos, esse percentual chega a 5%.

Mas além de contribuir para organizações que batalham por um mundo melhor, o que a empresa ganha ao ser cliente do Polen? Renata afirma:

“A gente não entrega só uma forma de fazer doação… Entregamos uma forma de melhorar a relação com o consumidor, de aumentar a retenção de clientes, de crescer as vendas”

Às empresas clientes, o Polen apresenta métricas de sua plataforma, como conversão em vendas, retenção de clientes, número de compras com doação e valor total doado. Assim, consegue comprovar o retorno financeiro desse tipo de ação. 

Segundo o Polen, quando o consumidor tem a opção de escolher uma causa na hora de finalizar uma compra, a conversão em venda chega a ser 15% maior do que quando essa possibilidade não existe.

HOJE O POLEN OFERECE PRODUTOS PARA LOJAS ONLINE E TAMBÉM PARA O VAREJO FÍSICO

O Polen oferece dois produtos no ambiente digital. Um deles é o 1 compra = 1 doação: toda vez que o consumidor faz uma compra, ele pode escolher uma causa a ser apoiada pela empresa, responsável por doar um valor a uma organização social. 

Parcerias da startup com plataformas de e-commerce como VTEX, Shopify e Nuvemshop) viabilizam a disponibilidade do produto aos comércios eletrônicos interessados em oferecê-lo a seus clientes. 

Além disso, o Polen também possibilita que funcionários de empresas possam fazer doações recorrentes a uma organização, escolhendo quanto, como e para quem querem doar.

Para dar visibilidade ao tema filantropia, a fintech criou o Movimento Quem Transforma, que segundo os sócios já reúne 300 marcas:

“Toda empresa que usa a plataforma do Polen faz parte do Movimento Quem Transforma. A maioria delas também usa o selo Quem Transforma, como uma forma de mostrar que aquela organização tem um processo transparente”

Neste ano, a fintech também lançou novidades de olho no varejo físico. Um dos novos produtos é uma versão do 1 compra = 1 doação, nos mesmos moldes do formato online. 

O consumidor ainda pode realizar uma doação arredondando para cima o valor da sua compra – a mesma proposta do Arredondar, que já foi pauta no Draft (confira aqui e aqui). Na hora, o lojista informa para quais ONGs aqueles centavos extras podem ser direcionados.

NO COMEÇO, A COVID-19 GEROU UMA ONDA DE SOLIDARIEDADE E IMPULSIONOU OS NEGÓCIOS

O Polen monetiza cobrando uma taxa ou uma porcentagem de cada doação (nunca superior a 10%). Segundo o casal de sócios do Polen, a maioria das opta pela taxa fixa – nesse caso, 100% da doação é destinada à ONG beneficiária.

Renata conta que eles tiveram de superar desconfianças quanto ao modelo de negócio. “A gente sempre foi desacreditado por trabalhar com filantropia. Diziam: ‘isso aí não vai dar dinheiro nunca’.”

A startup não abre o faturamento, mas informa que atingiu o break even em 2021. A Covid-19 ajudou a dar um empurrãozinho no negócio.

“Nós crescemos no início da pandemia, já que muitas empresas buscaram formas de apoiar a população. Depois, entramos em um período mais estável e tentamos apoiar as pequenas empresas para que elas continuassem vivas e gerando impacto”

Hoje, o time do Polen tem dez pessoas, entre comercial, tecnologia e atendimento ao cliente. O desafio, daqui para frente, é seguir crescendo e convencendo as marcas sobre a importância da filantropia – inclusive como diferencial competitivo.

“A gente mostra o quanto essa questão é silenciosa”, diz Renata. “O cliente não vem gritando ‘você tem que fazer uma doação’…, mas se o concorrente ali na frente faz, então o cliente vai buscar a outra marca.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Polen
  • O que faz: Desenvolve tecnologias para a realização de doações entre empresas e organizações sociais de forma transparente.
  • Sócio(s): Renata Chemin e Fernando Ott
  • Funcionários: 10
  • Sede: Curitiba
  • Início das atividades: 2014
  • Investimento inicial: R$ 35 mil (via Start You Up)
  • Contato: [email protected]
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