Fomentar mobilidade e cultura de segurança no trânsito: a missão do Instituto PARAR

Bruno Leuzinger - 23 nov 2016
Flávio Tavares, do Instituto PARAR: conteúdos que alcançam 9 mil executivos, responsáveis por um milhão de veículos
Bruno Leuzinger - 23 nov 2016
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“Como estou dirigindo?” Acompanhada de um número de telefone, a frase costuma estampar a traseira de carros e caminhões a serviço de empresas – e pode soar profundamente irônica diante das “barbeiragens” cometidas por alguns motoristas. O Brasil é o quarto país das Américas em número de mortes no trânsito (são 23,4 vítimas para cada 100 mil habitantes, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde em maio de 2016), e o advento da tecnologia ajudou a potencializar os riscos da direção perigosa. “O uso de celular é hoje a principal causa de acidentes fatais de trânsito no mundo”, diz Flávio Tavares, fundador do Instituto PARAR. “No caso do Brasil, 93% dos acidentes acontecem por negligência humana, e não por conta da infraestrutura da estrada ou de outros fatores.”

Tavares tem 39 anos e é formado em propaganda. Em 2008, assumiu a área comercial e de marketing da GolSat, uma startup paranaense de tecnologias de rastreamento de veículos. “Era então uma empresa pequena, e eu precisava criar um projeto para posicioná-la em nível nacional”, diz. Na época, o mercado girava em torno de recuperação de carros roubados. “Pouco se falava em telemetria, em rastreamento com foco no comportamento do condutor.” Ele ajudou a GolSat a direcionar sua estratégia para o segmento corporativo, de forma que a inteligência da telemetria fosse usada para racionalizar a gestão de frotas, reduzindo custos, emissão de CO2 e o número de acidentes. Hoje, a empresa é uma das maiores do setor, com 35 mil veículos na base.

O insight para a criação do Instituto PARAR surgiu a bordo de um avião, durante um voo entre São Paulo e Rio de Janeiro, em 2012. “Eu estava lendo uma matéria sobre a resolução da ONU que tinha como meta reduzir 50% dos acidentes fatais no mundo. Aí, pensei: a gente tem uma base grande de carros na GolSat, a gente vem acompanhando como as empresas nem sempre investem na melhoria do comportamento do condutor… Tem muito colaborador morrendo porque dirige mal e a empresa não se preocupa com isso.” Esse descaso, Tavares especulou depois, traduzia-se também em valores que o funcionário acabava transmitindo em casa, aos filhos, alimentando um ciclo perverso.

CEOs ao volante

Naquele mesmo ano de 2012, com essas ideias na cabeça, ele viajou a Brasília para conversar com um representante da Organização Mundial de Saúde (OMS). “Todas as campanhas de trânsito têm foco na pessoa física. E a provocação que eu fiz foi que quem forma o cidadão são as empresas.” A OMS concordou em dar apoio informal a um projeto para incitar um olhar mais sensível para a gestão de frotas, convocando as companhias a repensarem conceitos e a colocarem a vida como valor principal. E assim, em novembro daquele ano, com um primeiro evento em Porto Alegre, o Instituto PARAR saía do papel.

“O PARAR nasceu com o propósito muito definido de promover mudança em um setor em que ninguém promovia absolutamente nada. Eu conversava com montadoras, seguradoras, locadoras, todos os grandes players, e todo mundo estava sentado reclamando que o mercado era difícil, que os gestores de frota não eram qualificados, que os acidentes eram muitos… O que a gente fez foi colocar o dedo na ferida das empresas e empoderar esses gestores para que eles tivessem mais capacidade de promover mudanças dentro da companhia.”

Esse empoderamento se dá por meio de muito conteúdo, veiculado na forma de uma revista e de uma série de iniciativas presenciais ou com transmissão online. Nos últimos quatro anos, o Instituto PARAR promoveu 350 eventos. O calendário inclui o PARAR On the Road, uma turnê de palestras de um dia inteiro por algumas capitais, cerca de vinte a trinta workshops de meio período oferecidos por ano em diversas cidades do país e a conferência global, com palestrantes dos Estados Unidos e da Europa – a última foi realizada nos dias 9 e 10 de novembro, em São Paulo.

No PARAR CEO, presidentes de companhias são levados a uma pista de automobilismo, passam por um treinamento e conduzem o mesmo modelo de carro usado por seus funcionários para realizar manobras como uma freada brusca ou uma curva a 80 quilômetros por hora – o objetivo não é brincar de piloto de corrida, e sim fazer os executivos sentirem na pele os riscos e as dificuldades do trabalho do colaborador. Outras iniciativas são o PARAR University, que estimula estudantes de propaganda e marketing a criar campanhas em prol da segurança no trânsito, e o PARAR Kids, que desperta a consciência nos filhos dos funcionários para que as crianças eduquem os pais a não usar o celular enquanto dirigem e a respeitar os limites de velocidade.

Certificado internacional

Baseado na sede da Golsat, em Londrina, o Instituto criou em 2014 o Programa para Gestores de Frotas (PGF). Inteiramente online, o curso de formação é oferecido semestralmente e se compõe de sete módulos e uma prova final, totalizando 70 horas distribuídas ao longo de quatro meses e meio; para obter o diploma de Certified Fleet Manager, o participante precisa tirar acima de 7,0 na avaliação. “Esse certificado hoje é reconhecido pelas empresas e tornou-se superconcorrido. A partir do ano que vem, o curso passará a ser aplicado também nos Estados Unidos e no Canadá.”

Ao todo, sete mil empresas e mais de nove mil executivos – que respondem por cerca de um milhão de veículos – participam de alguma ação do Instituto. “Noventa por cento do conteúdo que a gente gera é gratuito”, diz Tavares. “Para se profissionalizar, a pessoa pode baixar arquivos, ver vídeos, assistir a palestras, participar de eventos, tudo sem custo. Isso é possível porque conseguimos formar um grupo de patrocinadores. São montadoras, locadoras, seguradoras, players do setor automotivo.”

A lista de empresas que fizeram do propósito do Instituto o seu propósito contempla grandes fabricantes de carros, incluindo GM e Audi, e companhias ligadas ao segmento, como Itaú Seguro Auto, ALD Automotive (que oferece serviços de gestão e terceirização de frotas) e a Alelo, que tem entre seus produtos o Alelo Auto, uma ferramenta para gerenciamento de despesas com veículos corporativos. “Mais do que gerar negócios, essas empresas investem para mostrar que estão preocupadas com a mobilidade e a cultura de segurança. É importante que elas entendam que vivemos um cenário de guerra em relação a indicadores de acidentes de trânsito.”

Mobilidade e cultura de segurança no trânsito eram assuntos estranhos a Tavares antes de chegar à Golsat. Hoje, “olhando pelo retrovisor”, ele vê que valeu a pena lançar a iniciativa do Instituto, lá atrás, em 2012. “Acredito que as pessoas não fazem mais porque não são convocadas a fazer, e o PARAR mostrou isso. Podemos criar grandes mobilizações no Brasil e no mundo despertando as pessoas a fazer algo relevante com suas vidas.”

 

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