por Tiago Ribeiro
Quando me perguntam se vale realmente a pena trabalhar fora, tenho sempre a mesma resposta: Vale sim! O aprendizado em outro país é grande. Mas esteja pronto para, como eu, recomeçar do zero ao voltar para o Brasil. É a parte mais difícil, mas deixo para falar disso em outra ocasião.
Nasci no ano em que a banda inglesa Depeche Mode quebrava todas as barreiras e se estabelecia como um dos grupos mais influentes da época. Com uma sonoridade pós-punk, a canção Strangelove, lançada no ano do meu nascimento, se espalhou logo pelo mundo e embalou uma geração. Venho de uma família simples do interior do país e jamais tinha desejado conhecer a terra da rainha, tampouco morar fora, mas a crise econômica de 2014 me levou a percorrer outros caminhos.
Depois de trabalhar em diferentes agências no Brasil, tive a oportunidade de fazer um freela na Pong Dynasty (uma das empresas do grupo FLAG.CX), última empresa pela qual passei no Brasil. Lá, conheci um ambiente de trabalho completamente sedutor e inovador na época. Porém era somente um freela em um ano de crise. Lamentavelmente, as chances de continuar eram poucas e foi aí que comecei a pensar em novas possibilidades. Depois desse período, olhava para o cenário nacional de agências de marketing digital e sentia falta do frescor criativo que encontrei na FLAG.CX e isso foi um fator determinante para tomar a decisão de arrumar as malas e buscar trabalho fora.
Com pouco mais de mil dólares não dava para ir muito longe. Ao analisar o mercado global, percebi que a América Latina oferecia muitas oportunidades para um jovem com as minhas pretensões. Queria (e ainda quero) me tomar um líder relevante e auxiliar marcas na construção de projetos inovadores. E a América Latina parecia o cenário ideal para começar essa mudança de rumo na minha carreira.
Naquele ano, o PIB do Peru chegava na casa dos 6%, enquanto o brasileiro despencava para -0,2%. A economia peruana brilhava e Lima era uma cidade bastante atrativa. Não tive dúvidas!
Mandei muitos currículos e comprei uma passagem de ônibus. Foram cinco dias de viagem, nos quais fui lendo o livro que meu querido amigo, também publicitário, Jader Rossetto me emprestou: Sonho Grande, de Cristiane Correa.
Logo depois de minha chegada, consegui uma oportunidade como Head of Social Media and Director of Digital Strategy na agência de publicidade Y&R Peru. Trabalhar nessa empresa foi a realização de um sonho e uma experiência maravilhosa. Guardo dentro do meu coração toda a equipe, em especial, o CEO Eduardo Grisolle, que me ajudou muito na fase de adaptação.
Nessa época, percebi o quão fantástica é a cultura latina e como a indústria está carente de profissionais especializados no mercado latino americano. Depois do Peru, passei por muitos países, entre eles o Uruguai, onde trabalhei na Wild Fi, empresa que pertencia ao grupo The Electric Factory, e o México. Além disso, estive na Europa, o que, no fim, acabou me convertendo em um nômade digital: onde tiver uma oportunidade de trabalho eu vou. E aconselho quem está pensando em trabalhar fora a ter isso em mente:
Às vezes, será preciso se mudar várias vezes até conseguir encontrar o seu lugar
Resumidamente, sou a prova de que é possível ter uma experiência internacional sem muito dinheiro e que vale muito a pena conhecer outras culturas e se tornar um profissional mais completo. Porém, antes de arrumar as malas, é preciso ter cuidado para não se dar mal.
Abaixo listo algumas dicas para quem está pensando em procurar oportunidades fora do Brasil:
1) Destino
Tenha muita sabedoria na hora de escolher seu destino. Hoje a Europa, por exemplo, passa por um forte momento de ressignificação. Os salários por lá estão muito baixos, em especial em países como Portugal e Espanha (para se ter ideia, um publicitário por lá ganha na faixa de 800 euros). O mundo sofre uma pressão muito grande por conta dos refugiados e, cada vez mais, países como Estados Unidos e Inglaterra tendem a dificultar a entrada de estrangeiros. Existe mais oportunidades em economias emergentes como Oriente Médio, alguns países da Ásia, África e América Latina.
E principalmente, esqueça a ideia de ir para fora e voltar rico. Com muita sorte, você conseguirá se sustentar.
Também esteja preparado para trabalhar duro, sofrer muita pressão e ver muita gente fazer careta, simplesmente pelo fato de você ser de fora do país.
2) Documentação
Relaxe um pouco quanto à documentação. Hoje existem muitos acordos econômicos entre o Brasil e outras nações. Se a empresa realmente estiver interessada no seu perfil, ela cuidará de toda papelada necessária. Mas isso vem com outra dica importante: antes de arrumar a mala, arrume, primeiro, um emprego! Hoje, com o Skype, é possível realizar reuniões à distância e muitas empresas fazem todo o processo seletivo de forma virtual.
3) Idioma
Você vai aprender, por bem ou por mal! Escolhi começar pela América Latina pela minha facilidade com o espanhol, mas tenha consciência que hoje o idioma não é mais uma barreira. Existe muitos aplicativos que podem ajudar na comunicação. Lembro que no hostel que vivi em Lisboa tinha um colega de quarto ilustrador que era japonês e conversava com todo mundo com a ajuda de um app. Muitas empresas globais incentivam a troca de experiências desse tipo.
4) Planejamento, a palavra de ordem
Converse com pessoas sobre a cultura do país e faça planos considerando inúmeras variáveis. Afinal, você vai chegar em um lugar diferente e, logicamente, vai encontrar muitas pessoas boas, mas é provável que também esbarre com outras que ajam de má fé, então, todo cuidado é pouco. Além disso, tenha um plano de saúde, afinal, ficar doente fora não é fácil. Dificuldades na adaptação podem aparecer também, mas tome cuidado para não passar por dificuldades financeiras.
Morar fora é um grande desafio, por isso, se planeje e tenha sempre em mãos o dinheiro para voltar para casa, caso aconteça uma “merda”
5) Não acredite em tudo, nem em todos
Sempre vai acontecer de você conhecer alguém que irá “dourar” uma situação, então, seja bem realista. Eu sofri muito com isso algumas vezes. Da primeira, estava no Peru completamente estável e feliz no emprego e recebia inúmeros convites de outra companhia do país, com propostas atrativas e a promessa de maiores salários.
Numa dessas ocasiões, acreditei e acabei trocando o certo pelo duvidoso. Foi uma experiência horrível, pois a companhia em que comecei a trabalhar era bem machista e preconceituosa. As promessas, em poucos dias, se tornaram uma farsa e percebi a furada em que tinha me metido. O presidente da agência é certamente a pessoa mais desprezível que conheci em toda a minha vida (do tipo explorador total) e, para minha má sorte, acabei reencontrando-o no México, logo na minha primeira reunião em outra empresa, pois tínhamos um cliente em comum.
A segunda vez em que também troquei o certo pelo duvidoso foi no Uruguai. Aconteceu a mesma coisa: eu estava estável em uma empresa e recebia propostas “douradas” de outras companhias. Até que decidi aceitar uma delas e acabei me dando mal, de novo. Então, se você quiser trocar de emprego fora do Brasil, estude bastante a empresa que está te oferecendo uma oportunidade e, principalmente, pesquise o caráter das pessoas para as quais vai trabalhar.
6) Seja fiel ao seu propósito
Em todos os momentos, acredito que o mais importante é você estar de bem consigo mesmo. Então, se você não está feliz, não vá em frente. Pare, observe o que for preciso. Peça demissão, agradeça a oportunidade e vá em busca de seus sonhos, dos seus propósitos. Mesmo que depois você tenha que escrever um e-mail falando que errou e pedindo para voltar. Errar faz parte da vida, nunca tenha medo de errar.
7) Família
Vai fazer muita falta, muita mesmo.
Você vai sentir saudades dos seus amigos e parentes , chorar e querer voltar toda semana. Isso vai fazer parte do processo durante os três primeiros meses. Se você sobreviver a esse período, congratulations!
Usar a tecnologia para matar a saudades ajuda nesse período. Afinal, é preciso ser forte. Provavelmente, você vai morar em um hostel e dividir o quarto com milhares de pessoas desconhecidas, mas lembre-se: tudo é aprendizado, então, não tenha medo e arrume as malas ouvindo Depeche Mode, se preparando para quebrar todas as barreiras, assim como a banda inglesa o fez em 1987, ano do meu nascimento!
Tiago Ribeiro, 31, é publicitário, com experiência em Mídias Sociais e Inovação. Tem passagem por agências como DIFERi, ZOOPPA, AG2 Publicis Modem, Pong Dynasty (FLAGCX), Y&R Peru e Wild Fi. Trabalhou em projetos globais para marcas como Coca-Cola, Nestlé, COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e Anistia Internacional.
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