O caos de um canteiro de obras pode ir muito além do vaivém de pedreiros e materiais de construção que a vista alcança. Equívocos de orçamento e acompanhamento ineficaz têm o potencial de comprometer seriamente o controle financeiro, o tempo estimado e o custo final do projeto.
Os irmãos Marcelo, 33, e Fábio Chaar, 40, criaram a Vigha de olho nesse problema. Fundada em 2015, a startup paraense é residente do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá), em Belém, que se anuncia como o “primeiro parque tecnológico da Amazônia”. Segundo Marcelo, CEO da empresa:
“A área da construção civil, apesar de movimentar milhões, ainda tem uma pequena aversão ao uso de tecnologias”
A solução da Vigha contempla um software modular que é comercializado de acordo com a necessidade do cliente — e pretende integrar, em uma única plataforma, todas as informações da obra, municiando os usuários em suas tomadas de decisão.
O aplicativo já foi utilizado em mais de 4 500 obras, totalizando R$ 42 milhões administrados por meio da plataforma (e R$ 1 bilhão em orçamentos gerados).
A PRIMEIRA EMPREITADA NÃO DEU CERTO, MAS SERVIU DE APRENDIZADO
Bacharéis em Ciência da Computação, os irmãos têm bagagem em TI trabalhando para o mercado financeiro. Marcelo atuou mais de dez anos no ramo para empresas como Banpará e Banco da Amazônia; Fábio tem, no currículo, desenvolvimento de sistemas bancários para Banese (Banco do Estado de Sergipe) e Banco da Amazônia, e também no mercado de telecomunicações, com serviços prestados à ANEEL.
Antes da Vigha, os irmãos já tinham empreendido a Avisaí, investindo R$ 120 mil de capital próprio. A proposta da empresa, criada em 2014, era interligar, por meio de um aplicativo, consumidores e fornecedores em demandas de consumo do dia-a-dia, como serviços de alimentação e manutenção doméstica.
O plano não saiu como o esperado. “Nosso erro foi fazer um produto que o mercado não precisava”, diz Marcelo. “Na época, não conhecíamos o processo de validação e não tínhamos experiência na área de prestação de serviços.”
Enquanto ainda tentavam salvar o negócio, os irmãos participaram de uma aceleração pela Startup Farm, em São Paulo. Segundo Fábio:
“Essa experiência abriu a nossa cabeça. Aprendemos o que é empreender, o que é vender, fazer marketing, fechar parcerias… E decidimos jogar fora todo o investimento de um ano na Avisaí. Ligamos para nossos fornecedores para informar que a ‘máquina’ seria desligada”
Foi a partir da aceleração que eles decidiram encerrar (em maio de 2015) a Avisaí, arcando com o prejuízo e apurando o olhar numa nova direção: o mercado da construção civil.
ELES PASSARAM SEIS MESES CONHECENDO OS GARGALOS DO SETOR
Decididos a sacudir a poeira e investigar o setor, a dupla passou seis meses conhecendo de perto a cadeia de construção civil, entendendo seus gargalos e ouvindo os seus diversos integrantes — dos ajudantes de pedreiro aos sócios das construtoras. Fábio lembra:
“Isso tirou a gente de trás do computador. Tivemos de sair para bater de porta em porta. Foi tudo muito novo e desafiador”
Batendo perna, conheceram empresas que faziam todo o controle no papel e apresentavam margens de erros enormes pela imprecisão de dados no cálculo do custo final da obra. Os irmãos diagnosticaram essa vulnerabilidade em obras orçadas ao custo de mais de R$ 2 milhões.
A partir da experiência no canteiro, os irmãos prototiparam uma nova ferramenta e validaram o aplicativo durante mais seis meses, junto à Secretaria de Saneamento “de um município próximo a Belém”, o que funcionou como um laboratório de testes do software.
Nélio Chaar, 65, pai de ambos (e hoje diretor financeiro da empresa) bancou um aporte inicial de R$ 100 mil para custear um ano de atividades da Vigha.
O PRIMEIRO CLIENTE FOI UM LABORATÓRIO NO SUL DO PARÁ
O primeiro cliente da Vigha foi a Mix Construtora e Incorporadora, de Belém. Os sócios gastaram sola e saliva durante dez meses. “Batemos em mais de 50 portas até uma se abrir”, diz Marcelo.
O contrato foi fechado em abril de 2016 para o acompanhamento da construção de um laboratório de análises clínicas, no sul do Pará. A obra durou cerca de 24 meses — e o cliente contratou a solução por mais de três anos.
A ferramenta foi desenhada por módulos: Planejamento, para empresas de projeto e orçamentistas; Financeiro, para empresas que acompanham a margem de lucro ou prejuízo de cada serviço planejado; Engenharia, para as empresas administradoras de obras ou que acompanham a execução do cronograma em tempo real; e Gestão, módulo que integra as áreas de Engenharia e administrativa por meio de computadores ou aplicativos.
O uso depende da necessidade de cada cliente – os contratos atualmente em vigor vão de seis meses a três anos. Como se trata de uma solução modular, é possível contratar um único módulo, se for o caso.
O APLICATIVO TAMBÉM SERVE PARA “APOSENTAR A PRANCHETA”
Por meio da ferramenta, clientes podem ter acesso a funcionalidades como planejamento, orçamentação, controle financeiro e controle em tempo real do custo da obra. É possível anexar imagens do canteiro no sistema, permitindo uma visualização “em tempo real” do andamento do trabalho.
Uma das vantagens do uso do aplicativo é que o engenheiro pode fazer diretamente do celular o seu “diário de obra”, aposentando a velha prancheta e o uso do papel. Marcelo afirma:
“Antes, o engenheiro fazia as anotações no papel e voltava para atualizá-las no escritório. Agora, ele já pode sair do canteiro com o trabalho pronto. É o fim do retrabalho”
Segundo os irmãos, a interface intuitiva da Vigha, a projeção de gráficos e fácil usabilidade é um dos grandes diferenciais do sistema em relação a outras soluções que existem no mercado, mais complexas e difíceis de operar.
A mensalidade do Vigha varia de R$ 150 a R$ 1 000, conforme as funcionalidades e os acessos. A solução comporta o uso simultâneo de até dez usuários — o número de obras em acompanhamento é ilimitado.
A PLATAFORMA JÁ É USADA EM TODO O BRASIL E EM ANGOLA
Em quatro anos, a startup paraense soma 200 empresas atendidas. A maior parte da clientela é formada por pequenas e microempresas da construção civil. Além do Pará, o aplicativo já ajudou a gerenciar obras em todos os demais estados brasileiros e também em Luanda, capital de Angola.
Os irmãos agora sonham em escalar. A expectativa de Marcelo e Fábio é crescer e abranger as construtoras médias. A ampliação para novos mercados também está no alvo para o segundo semestre de 2020.
Para isso, eles contam não apenas com os aprendizados acumulados à frente da Vigha, mas também com a “casca dura” e a resiliência adquiridas com o empreendimento que não deu certo.
“Após a Avisaí, tentamos outras ideias que não passaram na validação”, diz Fábio. “Nesse momento de redescoberta, passamos a olhar mais ao nosso redor. E vimos que a construção civil tinha muitos problemas. O ‘não’ a gente já tinha. Então fomos atrás do ‘sim’.”
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