Certa vez, um cliente mostrou uma referência de conteúdo de treinamento para Daniel Leal e Marcelo Cortazio, fundadores da Carbon.
Era uma animação com um “bonequinho” praticamente estático, apenas abrindo e fechando a boca, dando instruções para a equipe de vendas. Um vídeo longo, com muitos números e porcentagens.
O que os dois profissionais apresentaram de volta, como sugestão, foi algo bem diferente. Uma série de vídeos curtos, em uma plataforma parecida com a de um streaming, com atores utilizando do humor para transmitir todas as informações que a empresa precisava passar. Na tela e nos bastidores, uma equipe diversa daria vida ao projeto, desde o roteiro até a produção e a edição.
A ideia não só foi aprovada, como a dupla desenvolveu mais um projeto com a marca. Afinal, como Marcelo explica:
“Essa abordagem gera uma identificação: você consegue fazer com que as pessoas assimilem mais aqueles números, aquela estratégia que a empresa precisa passar”
Propostas como essa traduzem a essência da Carbon, startup que busca transformar o aprendizado dentro das empresas a partir da combinação de três elementos: o humor, a diversidade e o audiovisual.
Uma fórmula que foge das entregas tradicionais do mercado e que tem feito sucesso nas telas corporativas. Com direito a premiação no maior festival de webséries do mundo: o troféu de Melhor Webserie Educacional no palco do Rio Webfest, em novembro de 2022.
Antes da consagração, Daniel e Marcelo precisaram trilhar uma jornada. Não exatamente aquela do herói, descrita por Joseph Campbell. Mas digamos que, assim como a estrutura narrativa detalhada pelo escritor estadunidense, a jornada dos dois respondia a um chamado à aventura em busca de um novo mundo.
Traduzindo: eles partiram de uma série de incômodos com relação ao meio que atuavam e passaram por percalços para, então, desenvolverem uma forma de transformar a realidade.
Uma transformação que, nas palavras de Daniel, envolve muito diálogo:
“Acreditamos no poder do diálogo, é um meio de abrir portas e de conquistar mais avanços. Usamos a nossa posição de privilégio e a nossa responsabilidade para iniciar diálogos. Não é a única forma de transformar o mundo, mas foi o caminho que escolhemos”
Um dos incômodos que deu origem ao projeto da Carbon foi a falta de diversidade no ambiente em que os dois trabalhavam.
Formados em Publicidade e Propaganda (em anos e instituições de ensino diferentes), eles compartilhavam da mesma percepção: é urgente a inclusão de profissionais diferentes no meio da comunicação e do audiovisual.
“As pessoas eram sempre as mesmas, a mesma panela e aquilo me incomodava”, diz Marcelo.
Cada qual lidava com sua frustração em um canto até que, em 2017, eles se conheceram por conta do trabalho. Foi aí que começaram a trocar impressões sobre o mercado de atuação e as mudanças pelas quais achavam que o ramo deveria passar.
“Uma vez, chamei o Daniel para conversar no Starbucks e começamos a falar que precisávamos trazer mais gente para esse mercado, pessoas fora da bolha em que vivemos”, relembra Marcelo:
“Eu trabalhava na área há anos e nada mudava. As pessoas eram as mesmas e regurgitavam as mesmas ideias, eu não aguentava mais”
Conversa vai, conversa vem, até que pairou no ar a questão: e o que é que eles poderiam fazer com toda essa insatisfação? Eis que começou a jornada.
A resposta para todas aquelas angústias, claro, não veio pronta de uma vez. O que Daniel e Marcelo sabiam, porém, é que a base dessa transformação deveria ser sustentada por três pilares: diversidade, humor e audiovisual.
Era uma forma de renovar as referências e as criações no meio, de utilizar uma linguagem mais leve para os conteúdos corporativos e de informar usando um formato que as pessoas consomem no dia a dia.
Segundo o Google, todo mês mais de 120 milhões de brasileiros a partir de 18 anos assistem à plataforma em todos os devices. Outro dado impressionante é sobre o tempo na plataforma: uma pessoa online gasta, em média, mais de 20 minutos diários assistindo ao YouTube.
Diante disso, Marcelo levanta um questionamento:
“Todo mundo tem uma indicação de vídeo no YouTube ou no streaming. Então, por que não trazer esse formato e linguagem, que as pessoas já estão acostumadas, para dentro do ambiente corporativo?”
Movidos pela vontade de inovar, os sócios da “edutainment” — neologismo que combina “education” com “entertainment” — produziram em 2019 uma esquete de quase três minutos sobre inclusão de profissionais PCDs com base naquele tripé.
Foram batendo de porta em porta e escutando as mais diversas desculpas, como Daniel relembra:
“Já ouvimos aquilo de ‘o tom está muito agressivo’, ‘a comunicação está um degrau acima, vamos fazer um abaixo’ e até que a organização não precisava de um vídeo assim porque ela, na verdade, estava bem naquele aspecto…”
Foi assim até que o Ipiranga assistiu, gostou e comprou uma trilha de conteúdo baseada naquele esquete de demonstração, que você pode conferir abaixo:
Como, no entanto, nem a jornada do herói nem a do empreendedor é atravessada sem barreiras, surgiu no meio do caminho a pandemia.
“Todos os projetos que estavam em andamento foram paralisados, inclusive o do Ipiranga”, diz Daniel. “Retomamos os contratos aproximadamente um ano depois.”
Se o período foi difícil, claro, por outro lado essa pausa forçada levou os dois empreendedores a estudarem mais sobre processos de aprendizagem, métodos de ensino e produção de conteúdo audiovisual.
Disso, surgiram novas ideias, como a metodologia na qual a Carbon se baseia atualmente para desenvolver seus projetos.
Na hora de se debruçar sobre as demandas de conhecimento dos seus clientes, a equipe da Carbon passa pelas seguintes etapas:
1. Escuta: na sala de listening, são colhidos depoimentos de pessoas com vivências nas situações abordadas;
2. Sala de roteiro: inspirado na produção de séries, o ritual inclui profissionais diversos para desenvolver a narrativa do conteúdo;
3. Checagem: o roteiro passa por pessoas diversas e empresas parceiras para uma avaliação do conteúdo;
4. Produção: profissionais especializados e outros em fase de desenvolvimento participam da execução, permitindo, assim, que o conhecimento seja levado para outros jovens que desejam trabalhar na área, mas não tem a oportunidade;
5. Entrega: os vídeos finalizados são disponibilizados para divulgação nos canais da empresa;
6. Análise de dados: é realizada uma pesquisa com os colaboradores para entender o impacto dos vídeos no processo de conscientização, além de uma análise das métricas do conteúdo para que a Carbon estude seu desempenho.
Hoje, a fase da sala de listening é oferecida também como um serviço em si, já que, por meio dessa escuta, as empresas conseguem captar percepções extremamente ricas sobre assuntos variados.
Além dessa solução, a Carbon dispõe de um serviço de consultoria baseado na dinâmica da sala de roteiristas para destravar a inovação dentro das corporações.
Com essa cartela de soluções e conteúdos, que vão das esquetes prontas que podem ser customizadas com a logo da empresa e uma mensagem final até os vídeos 100% feitos sob medida para o cliente, a Carbon tem no currículo marcas como Coca-Cola, Ipiranga, Grupo Zap e Disney. Esta última, inclusive, foi a que rendeu o prêmio no Rio Webfest.
O projeto reconhecido no festival consiste em uma websérie de quatro episódios estrelada por professores e estudantes LGBTQIA+ para conversarem sobre como a escola pode ser um lugar mais inclusivo.
Batizada de “Conversas que inspiram”, a produção também contou com profissionais LGBTQIA+ nos bastidores.
https://www.youtube.com/watch?v=fZqxvDcSoxE
Apesar de terem vídeos focados na temática da diversidade em seu portfólio, a Carbon não quer tratar do assunto só dentro do calendário das datas marcantes, como o Dia das Mulheres, do Orgulho LGBTQIA+ e da Consciência Negra. A ideia é ter a diversidade e inclusão em todas as etapas da metodologia da startup.
“Queremos levar a diversidade para além do tema ‘diversidade’ e incluir profissionais diversos no processo de produção para chegarmos a resultados diferentes”, diz Daniel. “Se as pessoas entendessem que a diversidade gera coisas fora do padrão e do óbvio, que ela traz variedade, a pauta andaria mais rapidamente.”
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