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Iniciativa da Softplan, o Construtech Ventures é pioneiro em apoiar startups no setor de construção civil

Marina Audi - 20 set 2018
Bruno Loreto fala do projeto, que tem planos de se tornar uma empresa independente, ajudando a fomentar o setor. Já há mais de 350 startups do tipo no país.
Marina Audi - 20 set 2018
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É razoável pensar que o ecossistema de startups coloque em destaque um setor da economia que representa 10% da força de trabalho de um país e tenha entre 6 e 10% de participação no PIB. Mas não era o que ocorria com Construção ou Atividade Imobiliária — nem no Brasil, nem no resto do mundo. Menos de 3% das startups olhavam para esse setor. Quem atua nesse mercado há mais de dez anos, como Bruno Loreto, 29, não se conformava com essa estatística. Foi dele, então, a ideia de levar adiante o Construtech Ventures, primeiro venture builder do mundo focado nos mercados imobiliário e da construção. O projeto tem como objetivo descobrir e apoiar construtechs — startups dedicadas a solucionar problemas do setor de infraestrutura.

Empolgado com o MBA executivo que fez no Insper e por tudo que viu durante o Startup Weekend do qual participou em 2015, ele deixou o trabalho de gerente regional de vendas da Softplan (empresa especializada em sistemas de gestão sediada em Florianópolis, que atende as áreas de Justiça, Governo e Construção, com faturamento anual de 300 milhões de reais) para iniciar um projeto de corporate venture dentro da diretoria de inovação e novos negócios da Unidade de Construção da empresa. “Essa unidade representa 25% do negócio, mas é a única que sempre foi voltada ao setor privado, então isso exigiu que olhássemos muito o mercado, a concorrência.”

Hoje, o Construtech Ventures funciona de forma autônoma com 12 pessoas: o ecosystem squad, time que busca oportunidades e está em contato permanente com startups e empreendedores; e a equipe de tecnologia, que ajuda as startups do portfólio a desenvolverem protótipos e dá mentoria aos fundadores em termos de arquitetura de sistema e visão de produto.

Essa estrutura opera em um modelo misto de venture capital (semelhante a um fundo de investimento focado em startups que buscam smart money, como se diz quando há investimento de conhecimento, além do financeiro) e de venture building (em tradução livre: construção de iniciativas de risco) “pelo qual se concebe negócios do zero, a partir da busca de um empreendedor disposto a atacar um problema específico, em um ambiente de alta colaboração, mão na massa, no qual se apoia o empreendedor até ele conseguir caminhar sozinho”, como define Bruno, o Head de Operações.

Atualmente, há dez startups no Construtech Ventures. O objetivo é ter 20 até o final de 2019 para formar um portfólio cuja missão é chegar ao final de 2020 faturando 25 milhões de reais. Bruno não abre os detalhes dos números. Afirma, apenas, que não há um orçamento fixado para a iniciativa, mas que o investimento inicial em cada startup vai de 500 mil a 2 milhões de reais.

Em 2018, o faturamento do atual portfólio (todas as startups têm, pelo menos, um cliente) representará 2% do faturamento da Unidade de Construção da Softplan. “Todas as startups já provaram que tem alguém disposto a pagar pelo serviço ou produto delas. Então, entraram em um novo ciclo que é provar como tornar os negócios escaláveis. O importante é termos uma métrica que nos mostre se o portfolio está se desenvolvendo”, diz. Ainda segundo o executivo, o planejamento estratégico da Softplan prevê ter 25% da receita da empresa oriundo de novos negócios.

MAPEANDO O ECOSSISTEMA

Bruno conta que o nascimento do projeto aconteceu um ano antes de existir o branding do Construtech Ventures e foi marcado pelo momento em que ele passou a se dedicar integralmente à proposta, em abril de 2016: “Foi quando entendi que não dá para querer construir o futuro, ao mesmo tempo em que se tem de vender o almoço para pagar a janta. São contextos, estímulos e formas de medir sucesso diferentes”. Em setembro daquele ano, ele foi para o Vale do Silício e por lá ficou dois meses a fim de adquirir mais entendimento sobre o contexto do mundo das startups e, acima de tudo, captar o aspecto de cultura, de mindset da mecânica de investimento e do método em si.

Quando Bruno começou a mapear o mercado local de construtechs eram apenas 250. Hoje são mais de 350.

Quando voltou, Bruno enxergava duas formas bem diferentes de atuar. Para ele, startups em estágio bem inicial precisam, mais do que de dinheiro, de conhecimento, apoio, acesso a mercado e mentoria. Então, na base da pirâmide, o intuito do projeto deveria ser fomentar e começar a chamar mais a atenção para os desafios do setor de infraestrutura. Startups em estágios mais maduros precisam de capital para crescer. A elas, a Softplan poderia agregar com a sinergia de negócio, mercado e base de clientes. Começou, então, a busca por startups com esse perfil. Ele fala mais a respeito:

“As construtechs não tinham uma identidade, como têm as fintechs. Até isso faltava! Tivemos de reforçar a questão da identidade, que também é importante”

Dia após dia, ficava evidente que, no Brasil, havia muito poucas startups que atendessem aos requisitos. Bruno foi procurar fora do país e analisou cerca de 1 600 startups dos principais ecossistemas do mundo, com exceção de Ásia. Notou um crescimento significativo em todos os mercados. Daí, decidiu mapear o mercado local. Encontrou apenas 250 startups. “Para mim nunca fez sentido sentar e esperar surgir bons negócios. Percebi que precisávamos fazer um trabalho ativo para gerar novas startups”.

HORA DE CRIAR STARTUPS PARA RESOLVER OS PROBLEMAS DO SETOR

Era hora de evoluir o plano inicial. Além de investir em bons negócios que surgiam no mercado, demonstravam tração e conseguiam clientes, como um venture capital faz, o Construtech Ventures passou a criar negócios em torno de problemas para os quais não encontrava boas startups e que demonstravam bom potencial de mercado.

“Temos uma atuação desde o processo inicial de very early stage até uma atuação em seed stage, com quem já deu os primeiros passos. Com a vantagem de que não precisamos de um empreendedor que já tenha uma ideia ou um produto. Preciso de alguém que saiba tocar um negócio e, juntos, a gente cocria.” Essa nova visão exigiu ainda uma assimilação de atitude diferente por parte da liderança da Softplan. Bruno fala:

“As startups não estão ali para serem comandadas, mas para receberem investimento. Isso implica em parar de pensar como dono e agir como sócio minoritário”

Felizmente, de acordo com o executivo, isso não foi um problema na Softplan. Mas ele alerta que no modelo de venture building é preciso deixar as decisões a cargo do empreendedor que está na linha de frente. “Isso tem para o empreendedor um efeito psicológico muito forte. Não se pode tratá-lo como um funcionário, simplesmente porque o trouxemos e convidamos a cocriar um negócio”, afirma.

O FUTURO COMO SPIN-OFF

Este ano, o Construtech Ventures já mapeou no país mais de 350 startups de construção e mercado imobiliário. Dessas, 71% nasceram nos últimos cinco anos e 55%, nos últimos três. Ou seja, a tendência de crescimento replica-se em território nacional.

Entre as iniciativas cocriadas pelo Construtech Ventures, Bruno cita duas. A Vendo Meu Terreno – primeiro marketplace de terrenos para empreendimentos do Brasil e segunda startup desenvolvida no modelo venture building, com sede em Florianópolis e em expansão para o norte de Santa Catarina. Ela se focou em entender a jornada de compra e venda de grandes áreas e percebeu que o mercado, de forma geral, trata com a mesma ineficácia a venda de um imóvel de 100 mil reais e de um terreno de 10 milhões de reais. Sua proposta é organizar o processo com tecnologia e fazer a aproximação entre compradores e vendedores de forma mais profissional.

Já a Urbank – fintech especializada na gestão de crédito imobiliário e quarta startup trabalhada no modelo venture building – tem sede em Curitiba. Ela acompanha os clientes das construtoras desde o momento em que a compra se efetiva até a entrega de chaves, quando o repasse do financiamento é feito às construtoras (e quando costuma haver problemas com a aprovação de crédito para os clientes). A startup está finalizando um piloto dentro do Grupo Thá, uma das maiores construtoras do Paraná, e prepara-se para entrar no ciclo de expansão para outras empresas e mercados.

O Head de Operações do Construtech Ventures fala ainda do resultado intangível da iniciativa: “O nosso primeiro objetivo era geração de aprendizado. Hoje, temos várias oportunidades e ameaças identificadas que não estariam no radar se não fosse o trabalho com as startups. É a visão desses gaps que pode transformar uma empresa de milhões em uma de bilhões.”

Hoje, o Construtech Ventures ainda é uma unidade da Softplan, mas Bruno conta que estão no meio de um processo para se tornarem uma spin-off. Para 2019, o objetivo é ser uma empresa independente, que gere resultados por si só. “Esse é nosso caminho. A nossa visão para aumentar a atuação e investir em mais startups é trazer outros players e investidores, profissionalizar o processo e, com isso, até buscar atuar em outros países, possivelmente, olhando a América do Sul”. O deadline de Bruno é dezembro próximo. E assim vão se construindo pontes, conexões e negócios.

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