Inovadora e premiada, a Samba Tech está expandindo e vai atuar nos Estados Unidos

Simone Tinti - 1 fev 2016Gustavo Caetano, da Samba Tech, gosta de "arriscar e ver no que dá". Ele conseguiu o primeiro investimento ao pedir ajuda para o pai: "Me apresenta um cara rico?".
Gustavo Caetano, da Samba Tech, gosta de "arriscar e ver no que dá". Ele conseguiu o primeiro investimento ao pedir ajuda para o pai: "Me apresenta um cara rico?".
Simone Tinti - 1 fev 2016
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Gustavo Caetano, 33, é CEO da Samba Tech, empresa pioneira na distribuição de vídeos online na América Latina. Natural de Araguari, cidade do Triângulo Mineiro, ele escrevia uma coluna semanal sobre games no jornal da cidade quando era mais novo. De lá para cá, muita coisa aconteceu — e, de Araguari, Gustavo foi parar no telão da Nasdaq, quando foi dar uma palestra para fundadores de empresas do setor de tecnologia — e o jovem empreendedor está cheio de novidades e planos.

Gustavo conversou com o Draft quando esteve em São Paulo e anunciou a primeira novidade: a Samba Tech está indo para os Estados Unidos. Ainda este trimestre, deve abrir um escritório em Seattle, com equipe recrutada lá. “Temos enfrentado concorrentes internacionais e alcançamos um grau de maturidade que falamos ‘por que não ir para os Estados Unidos também?”, diz. A empreitada tem tudo a ver com a maneira com que o empreendedor gosta de trabalhar — arriscando e experimentando.

Formado em Marketing na ESPM, Gustavo escolheu o Rio de Janeiro para viver. “Podia ter sido São Paulo, mas pensei ‘o cara sai de Araguari, tem que pelo menos ir para a praia’”, conta. Como bom empreendedor moderno, no ano passado ele fez cursos sobre inovação e criatividade na Singularity University e no Disney Institute. Além disso, firmou uma parceria com o MIT para fazer laboratórios de trocas de experiências com alunos da instituição. Em breve, essa parceria vai se estender a Harvard.

Gustavo Caetano contar em seu perfil no LinkedIn sobre encontros com empreendedores, como com Flavio Augusto (criador do Orlando City).

Gustavo Caetano gosta de contar em seu perfil no LinkedIn sobre encontros com empresários de sucesso, como com Flávio Augusto (dono do Orlando City).

O CEO conta que empreender não era sua primeira opção, e sim, seguir carreira em grandes empresas. Mas, ainda durante a faculdade, ele teve a ideia que o levou a criar a Samba Tech. A história de como tudo começou é conhecida. Gustavo tinha um celular de tela colorida (na época em que os mais comuns eram em preto e branco) e, ao tentar baixar joguinhos, não encontrou nada.

“Fui atrás de quem fazia isso, procurando no Google mesmo. Mandei uns 50 emails até que uma empresa grande de Londres me respondeu”, conta. “Montei um plano de negócios que mostrava três coisas: que o país era grandão, que todo mundo estava migrando para o celular de tela colorida e que não tinha nenhum concorrente no mercado. Eles se convenceram de que era uma janela de oportunidade e voltei com um contrato assinado para representar os caras na América Latina. Aí, como eu não tinha dinheiro, cheguei para o meu pai (que é médico e hoje diretor da Fundação Unimed) e falei: ‘me apresenta para um cara rico?’ Ele me levou a um cara do Sul que colocou 100 mil dólares para começar. Ainda não existia o termo investidor-anjo, mas foi o que ele fez na época.”

ELE COMEÇOU COM GAMES, MAS MUDOU RÁPIDO PARA VÍDEOS

A Samba Tech começou então, em 2007, a distribuir games para as operadoras de telefonia na América Latina, mas este modelo de divisão de receitas começou a esmagar a empresa, como conta Gustavo. “Ou a gente saía desse negócio ou ia morrer”. Foi aí que ele viu outra janela de oportunidade — a dos vídeos.

“Na época, pensei: o mundo vai encaminhar para vídeos, mas ninguém distribui. Percebi que isso acontecia porque o consumidor não tinha banda para assistir e porque as empresas de mídia não estavam preparadas tecnologicamente para distribuir vídeo em outras plataformas. Para o nosso primeiro público, que eram as emissoras de TV, a questão era oferecer uma plataforma própria, que se integrasse ao site do cliente. Montamos um protótipo como o Youtube”, conta Gustavo.

O primeiro grande contrato da Samba Tech foi com a Band e, para iniciar esse primeiro contato, Gustavo se valeu mais uma vez da tentativa e erro: “Eu estava lendo uma revista e me deparei com o nome da Silvia Saad, uma diretora da Band, e falei ‘vou mandar email para essa moça, se o João Saad é o dono da Band, ela deve ser parente dele’. Aí mandei email para s.saad, silviasaad, silvia.saad, até que o email caiu nela, que me respondeu”.

Com grandes clientes e um igualmente grande potencial de crescimento, a startup recebeu 5 milhões de reais de investimento de um fundo. Desde então, vem crescendo em portfolio e volume. No ano passado, por exemplo, a Samba Tech distribuiu mais de 500 milhões de vídeos para cerca de 300 clientes — como Grupo Abril, TV Globo, SBT, O Boticário, Azul Linhas Aéreas, Fundação Dom Cabral, Hospital Albert Einstein, entre outros.

Equipe Samba Tech na sede de Belo Horizonte. Ao todo, a holding tem cerca de 110 funcionários.

Equipe Samba Tech na sede de Belo Horizonte. Ao todo, a holding tem cerca de 110 funcionários.

A empresa tem duas categorias de serviços, o Samba Vídeos e o Samba Class. O primeiro é uma plataforma de streaming que, além de hospedagem, oferece proteção aos vídeos e tem recursos como relatórios de audiência, informações sobre taxa de rejeição, número de visualizações e de requisições de play e consumo por tipo de aparelho. Já a Samba Class é uma sala de aula ou de palestra online, que permite conectar pessoas na web e promover interação entre professor/palestrante e aluno/funcionário. Nos dois casos, os planos custam a partir de 1.199 reais e variam de acordo com a necessidade do cliente.

Em 2013, a empresa se transformaria em uma holding, com o objetivo de reforçar a especialidade de cada marca, uma delas a Adstream Samba, plataforma que permite o envio de campanhas publicitárias pelas agências às emissoras de TV, e a outra, a Samba Ads, especializada em vídeos publicitários para internet. A empresa não divulga valores, mas em 2015 o faturamento cresceu cerca de 50% em relação a 2014.

NO BRASIL E NOS EUA, UMA NOVA DIVISÃO

Para este ano, Gustavo anuncia que haverá mais uma divisão da empresa no Brasil (o nome ainda não pode ser divulgado), com foco em conteúdo corporativo — por sinal, esta será também a área de atuação da Samba Tech nos Estados Unidos. “Vamos oferecer um serviço mais rápido, dinâmico e espontâneo de vídeos corporativos. Queremos facilitar o processo e misturar conteúdo com tecnologia, sempre no estilo ‘youtube like’”, afirma.

A nova divisão soma-se às duas outras que compõem a holding (Adstream Samba e Samba Ads) e, entre os serviços oferecidos, estará toda a estrutura por trás de vídeos no estilo “Palavra do presidente” e modelos de “how to” (como preencher notas fiscais, entre outras demandas práticas), entre outros.

Mesmo com a expansão do negócio, Gustavo gosta de dizer que o clima e a estrutura de startup ainda são mantidos na Samba. Ele conta que se guia por valores como transparência, acesso à informação e comunicação entre as pessoas. Também diz que prefere formar equipes pequenas dentro da companhia, de até cinco pessoas, o que no seu entender facilita o gerenciamento.

RADAR PARA OPORTUNIDADES, HUMILDADE PARA BUSCAR MENTORIA

Gustavo sempre ficou atento às janelas que encontrou. Hoje, a Samba é apresentada não como uma empresa de tecnologia, mas de comunicação, com soluções de educação a distância, comunicação corporativa, transmissão ao vivo e TV na internet, em serviços que vão desde o momento que o vídeo sai da câmera até ser distribuído para qualquer aparelho conectado à internet:

“Sempre segui a filosofia do ‘vamos ver no que dá’. De repente, as coisas começam a aparecer, surgem oportunidades, e a gente faz”

Nos últimos anos, a Samba acumulou prêmios e reconhecimentos: em 2014, foi reconhecida pela Fast Company uma das empresas mais inovadoras da América Latina e, no mesmo ano, eleita entre as 50 mais promissoras nos setores de mídia, internet, publicidade e comércio eletrônico pelo Always On.Também em 2014, Gustavo foi eleito um dos brasileiros mais inovadores com menos de 35 anos pelo MIT Tecnhology Review e, em 2015, foi chamado pelo site Business Insider de “Zuckerberg brasileiro”.

Além de comandar a holding, Gustavo também desenvolveu uma carreira de palestrante motivacional, algo que ele encara como uma maneira de estimular mudanças sociais. “Gosto de falar em público e vejo que as pessoas se identificam comigo: um cara que nasceu em uma cidade do interior, fala cheio de sotaque e conseguiu construir uma coisa importante. Quero mostrar que as pessoas são capazes e, nas minhas palestras, vou contando minhas histórias e as pessoas veem que não foi tudo herdado, tudo ganhado. Tem que ir atrás, tem que perseguir”, conta.

Gustavo Caetano também é palestrante motivacional. Ele gosta de falar, com sotaque, sobre como conseguiu construir um negócio relevante.

Gustavo Caetano também é palestrante motivacional. Ele gosta de falar, com sotaque, sobre como conseguiu construir um negócio impactante.

Sua família vive em Belo Horizonte, onde está uma das sedes da empresa, e quando ele está em São Paulo a trabalho, fica hospedado na casa do irmão, que é cirurgião plástico, para aproveitar e passar um tempo também perto do sobrinho. Em casa, Gustavo tem o costume de desligar o celular, para “desaquecer o cérebro”, e recentemente conseguiu tirar 15 de férias. “Tenho tentado levar a vida mais light. Meu lema é me divertir mais e não ganhar dinheiro a todo custo. Eu ainda me divirto com o trabalho na Samba”.

Em seu perfil no LinkedIn, Gustavo publica relatos sobre o que aprendeu em encontros com empresários destacados como Jorge Paulo Lemann, Edson Bueno e Flavio Augusto. Essa proximidade com outros empreendedores, gente experiente, foi algo a que ele chegou após um processo de amadurecimento, de perceber a importância de estar perto dessas pessoas:

“Depois de quase quebrar a empresa muitas vezes, percebi que tinha que ser diferente e comecei a buscar outros profissionais, principalmente os que não são da minha área”

Não à tôa, hoje a Samba Tech conta com um board de profissionais experientes, que tiveram sucesso em diversas áreas. Gente como Henrique Mascarenhas, antigo VP de Inovação do Grupo Totvs, Marcos Rosset, antigo CEO da Walt Disney Brasil e José Augusto Schincariol, ex-membro do Conselho de Administração da Cervejaria Schincariol, entre outros. O objetivo de ter um conselho formado por profissionais tão variados, conta Gustavo, é trocar experiências e buscar soluções com pessoas que não vivem o dia a dia do negócio da Samba, mas que têm o que contribuir com o negócio. “No Board não tem ninguém de molecada. Por que a gente já tem moleque demais na empresa, sabe?”, diz.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Samba Tech
  • O que faz: Oferece soluções para gerenciar, distribuir e monetizar vídeos online
  • Sócio(s): Gustavo Caetano
  • Funcionários: 110
  • Sede: Belo Horizonte
  • Início das atividades: 2007 (como Samba Tech) e 2013 (como holding Samba Group)
  • Investimento inicial: R$ 5 milhões de fundo de investimento
  • Faturamento: NI
  • Contato: (31) 3498-6019
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