Na década de 1940, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu “saúde” como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade. Responda com sinceridade: se alguém te perguntar, em 2022, como anda a sua, quanto tempo vai levar até você falar do aspecto mental e emocional?
Para aumentar o número de pessoas que sabem lidar bem com as próprias emoções, o Instituto SulAmérica foi criado. A organização social sem fins lucrativos, lançada oficialmente em abril deste ano, possibilita, especialmente às pessoas em situação de vulnerabilidade social, o acesso a informações e serviços da Saúde Integral, entendida como o equilíbrio entre as saúdes emocional, física e financeira.
“Das três, a emocional é a mais negligenciada. A física apresenta sintomas muito notórios. A financeira também é mais palpável, por mais que a gente pense nela a curto prazo. Mas a emocional é a base de tudo e sempre deixada de lado”, explica Luiz Pires, diretor executivo do instituto. Ele emenda:
“O conceito amplo de saúde tem mais de 75 anos, mas agora está sendo mais observado porque o sofrimento mental está incapacitando a nossa sociedade. Durante muito tempo a saúde emocional foi vista como ‘mimimi’, algo de pessoas fracas ou mal preparadas. Quebrar esse estigma é um dos nossos maiores desafios”
A incapacitação que Luiz menciona tem sido cada vez mais frequente. De acordo com o último levantamento global da OMS, o Brasil é líder mundial em casos de ansiedade tanto em números absolutos quanto percentuais, sendo também o 5º no ranking geral da depressão.
“A geração dos meus pais vivia casamentos infelizes, empregos infelizes. Vivia vidas infelizes porque alguém disse que era para ser assim. Hoje, ainda bem, isso mudou e segue mudando”, opina o executivo. “O que a gente está propondo é apoiar as pessoas nestas mudanças, que pedem mentes saudáveis e equilibradas”.
Desde o início das operações, o Instituto SulAmérica já desenvolveu ações diretas de impacto social em Petrópolis, Angra dos Reis e Paraty, cidades do Rio de Janeiro, além de Recife (PE). Em parceria com a Docway, plataforma de telemedicina, passou a oferecer atendimentos médicos e psicológicos online e gratuitos à população dessas regiões, que foram assoladas por fortes chuvas e deslizamentos no início do ano.
A iniciativa também oferece o mesmo atendimento para mais de 700 mulheres que se inscreveram na campanha “Saúde da Mulher, onde ela estiver”, além de um apoio para a Casa Miga, espaço de acolhimento a pessoas LGBTI+ em Manaus (AM). Ao todo, o Instituto já viabilizou para quem mais precisa mais de 9 mil teleconsultas com médicos e psicólogos até setembro.
O cenário de sofrimento é ainda mais grave quando envolve vulnerabilidade social. A taxa de ansiedade entre os moradores de comunidades no país, por exemplo, é de 36% entre os adultos, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva e Gerando Falcões.
“A partir do momento em que a gente trabalha a saúde emocional, cria um grupo de pessoas com mais autonomia, que conseguem viver melhor com as suas emoções e sentimentos sem desconsiderarmos, obviamente, outros aspectos estruturais”, defende.
O instituto começou a ser concebido há cerca de dois anos, no contexto da pandemia de covid-19, quando a SulAmérica percebeu que era hora de alavancar suas iniciativas de impacto social e se posicionar como agente de transformação do país a partir do eixo da saúde integral, especialmente do bem-estar emocional.
A proposta do Instituto SulAmérica é tão ousada quanto poderosa: impactar 150 mil pessoas em vulnerabilidade social no período de 5 anos. São quatro os focos estratégicos da organização:
A última das frentes envolve o acompanhamento médico e psicológico de pessoas em situação de vulnerabilidade por meio de consultas virtuais totalmente gratuitas pelo período de seis meses.
“O acesso aos cuidados com a saúde emocional deve ser um direito de todas as pessoas, mas essa, infelizmente, não é a realidade”, pondera Luiz. Não apenas quem está mais vulnerável socialmente tem mais dificuldades para conseguir tratamento e acolhimento, como também esse grupo envolve pessoas que ouviram, a vida toda, que saúde mental não era para elas:
“Antes de colocar alguém sentado em uma consulta para iniciar um tratamento de saúde emocional, precisamos de uma bomba atômica para quebrar a carcaça que uma pessoa criou baseada em estigmas além do preconceito geral. Ela entende que esse cuidado não é para ela por vários motivos. A gente ouve falas como: ‘ Isso é coisa de rico e eu sou pobre. Isso é coisa de gente branca e eu sou preta’, por exemplo”
Para ele, isso se deve ao fato de que a questão da saúde emocional sempre foi muito associada a uma falta de capacidade individual de resolver os problemas, desconsiderando o que é estrutural.
Alguns grupos estão, desde sempre, expostos a mais fatores de adoecimento emocional, como as mulheres – principalmente por conta da sobrecarga e da violência de gênero – e pessoas negras – a OMS já constatou que jovens negros têm até 45% mais chances de desenvolver depressão, muito por conta do racismo, que adoece mentalmente desde a infância e constrói sentimentos de inadequação e baixa autoestima, por exemplo.
Além disso, as pessoas pobres enfrentam inimigos materiais da saúde emocional, como a falta de acesso a direitos básicos como moradia e educação, além da própria fome – 33 milhões de brasileiros estão nesta situação, segundo o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.
Para o Instituto SulAmérica, é óbvio que essas pessoas têm muitas necessidades urgentes, mas reconhecer o direito à saúde emocional não as invalida.
“É só pensar positivo que tudo muda”. “O segredo é nunca focar no problema”. Você provavelmente já ouviu essas frases ou derivações, e elas definitivamente não ajudam a encarar a saúde emocional da maneira séria que ela merece.
“O que a gente mais quer é fugir desses gurus da internet que apontam soluções simplistas para questões mentais reais. Obviamente a determinação e a força de vontade são importantíssimas, mas nós sabemos o quanto a mudança é difícil” diz Luiz.
Para ele, a resposta que o instituto dá ao tratamento leviano da saúde emocional é a ciência:
“Tudo o que entregamos para a sociedade tem uma base científica por trás. Temos especialistas técnicos dentro do time, inclusive em psicologia, e estamos nos conectando com parceiros de excelência para construção dos projetos. E também acreditamos muito em ouvir as pessoas que queremos alcançar, pois, para serem efetivas e consistentes, nossas ações precisam ser cocriadas com as comunidades”
Ele lembra, ainda, que setembro é o mês de prevenção do suicídio e muitas empresas criam ações para a época, ao mesmo tempo em que veículos de comunicação e redes sociais também tratam do tema. Mas a preocupação deve ser perene.
“A promoção da saúde mental e emocional é diferente da prevenção, que é diferente do tratamento”, pondera. Ele explica que tratar é agir sobre um quadro de sofrimento muitas vezes agravado, enquanto prevenir é agir quando os sintomas começam a surgir.
“Trabalhamos em todas as frentes, mas com muita ênfase na promoção. A partir do momento em que eu sei quem sou e trabalho o autoconhecimento, consigo entender melhor as minhas emoções e posso cuidar do meu bem-estar. É disso que o Instituto SulAmérica está falando”.
Ainda em 2022, o Instituto SulAmérica vai iniciar uma parceria com o Instituto Ame sua Mente, referência nacional no letramento mental dos educadores de escolas públicas.
O projeto em conjunto prevê a criação de uma metodologia que estenda o conhecimento para lideranças sociais – e que possa ser escalável para todas as comunidades vulneráveis brasileiras. “Parcerias assim ajudam a entender realidades que o instituto, sozinho, não conseguiria acessar. Criamos pontes”, comenta Luiz.
Andréa Regina, diretora executiva do Instituto Ame sua Mente, chama atenção para a facilidade com que as duas organizações alinharam seus propósitos:
“Temos uma causa comum, praticamente a mesma aspiração: o desejo de transformar a cultura de saúde mental no Brasil. Os estigmas fazem com que a busca por ajuda seja tardia, e isso tem um efeito significativo no agravamento dos transtornos ao longo do tempo. É o que queremos mudar”
Ela explica que os líderes comunitários podem ser grandes multiplicadores dos cuidados com a saúde mental quando são contemplados e têm suporte em suas próprias questões.
“Qualquer pessoa que está em papel de liderança faz esse ofício de cuidar”, defende a psicóloga Ana Carolina D´Agostini, consultora e coordenadora de formação em Saúde Mental do Ame sua Mente. “É o estar próximo, pensar em formas de desenvolvimento daquela comunidade, o desenvolvimento pessoal enxergando as especificidades, além de notar as dificuldades que muitas vezes aparecem de maneira implícita”, explica.
Ana Carolina relata que são os líderes comunitários que muitas vezes percebem até mesmo situações de abuso e violência dentro das comunidades e, quando amparados, têm mais facilidade para reconhecer o trauma derivado com o qual as vítimas lidam. “Não podemos dissociar corpo e mente, porque somos uma coisa só. Quando ampliamos a noção do que é saúde mental e olhamos para essa população, estamos fortalecendo essa rede de cuidado e acolhimento”, conclui.
Que tal conferir como anda a sua saúde emocional? Você pode realizar um teste simples e rápido, com base científica, no site da organização. São 20 questões elaboradas pela OMS e, a partir do resultado, o instituto oferece conteúdos e serviços de apoio, como o acesso sem custos à plataforma de consultas virtuais a quem está em situação de vulnerabilidade social e a um curso rápido para formação de socorristas em saúde emocional, numa parceria com o Instituto Vita Alere, referência em prevenção e posvenção ao suicídio.
A iniciativa é parte do movimento #BemAmarelo, lançado pelo Instituto SulAmérica como mobilização pelo cuidado da saúde emocional e prevenção ao suicídio não apenas em setembro, mas durante todo o ano. Faça o teste clicando aqui.
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