John Kao, o “Sr. Criatividade”, fala sobre inovar em startups, em multinacionais e até mesmo em nações

Adriano Silva - 30 out 2014John Kao, 64, tocou com Frank Zappa, foi curador de inovação para o Fórum Econômico Mundial e agora se dedica a sua nova missão: estimular crianças a pensar diferente
John Kao, 64, tocou com Frank Zappa, foi curador de inovação para o Fórum Econômico Mundial e agora se dedica a sua nova missão: estimular crianças a pensar diferente
Adriano Silva - 30 out 2014
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John Kao, conhecido como “Mr. Creativity” e chamado de “serial innovator”, é consultor nas áreas de inovação e tendências, e tem como clientes startups, grandes empresas e até países. Já trabalhou com Nike, American Express e Basf, e com os governos da Finlândia e de Cingapura.

John lidera a EdgeMakers, uma startup de educação dedicada a estimular a inovação entre jovens do mundo todo, por meio do estímulo ao empreendedorismo, à fluência digital, ética, sustentabilidade e design thinking. John também está à frente do Institute for Large Scale Innovation, uma associação de ‘chief innovation officers’ de mais de 30 países. Ele também conduziu o Conselho de Inovação Global do Fórum Econômico Mundial, e foi um dos conselheiros da Clinton Global Initiative.

No Brasil, a EdgeMakers já realizou projetos com mais de 500 alunos nos colégios particulares Pueri Domus, COC e Dom Bosco, em São Paulo. Os alunos participaram de programas colaborativos para desenvolver “a mochila ideal” e de repensar a sustentabilidade no próprio ambiente escolar. “As crianças são o recurso mais subutilizado pelas nações. Gastamos bilhões de dólares no desenvolvimento de tecnologias de ponta, mas mantemos modelos de ensino que formam pessoas para o passado”, disse John numa entrevista à Veja em agosto deste ano.

John se considera um “ativista da inovação” e também um “venture catalyst” (algo como “catalisador de risco”, em trocadilho, no inglês, com capitalista de risco), se envolveu com uma série de startups de tecnologia, além de ter atuado como produtor de peças de teatro e de filmes, como sexo, mentiras e videotape, de Steven Soderbergh, 1989. (É um filme de culto e parte da sua aura cult é grafia sem maiúsculas, coisa que nem a Wikipedia nem o IMDB respeitaram…)

John é psiquiatra e filósofo, e lecionou inovação e empreendedorismo na Harvard Business School entre 1982 e 1996. Também é autor dos livros Jamming: The Art and Discipline of Business Creativity, de 2009 (inédito no Brasil), e Nação Inovadora, de 2007. Não menos importante, John tocou teclado na banda de Frank Zappa, aos 19 anos, embora hoje dedique seu tempo livre a tocar jazz no piano.

O DRAFT entrevistou John em sua mais recente passagem pelo país. Ele participou do VI Seminário de Inovação da Amcham, a Câmara Americana de Comércio. John falou em Recife no dia 28, em Porto Alegre ontem e fala agora pela manhã em São Paulo.

John Kao se diz um "ativista da inovação" e já trabalhou com mais de 500 crianças no Brasil mostrando que há sempre um jeito melhor e mais divertido de fazer as coisas

John Kao se diz um “ativista da inovação” e já trabalhou com mais de 500 crianças no Brasil mostrando que há sempre um jeito melhor e mais divertido de fazer as coisas

DRAFT – O que é ‘inovação em larga escala’? (Existe, em oposição, ‘inovação em pequena escala’?)

John – Inovação em larga é um termo que cunhei para descrever a inovação na escala da sociedade. Grande parte do que conhecemos como inovação vem de estudos e pesquisas dentro das empresas. Compreender como as sociedades inovam é a grande questão atual, que não pode ser limitada aos conceitos convencionais de macroeconomia e ciência política.

DRAFT – Como funciona a inovação no nível da sociedade (global, nacional, regional, municipal)?

John – Se você se refere a quem vai organizar e conduzir este processo, no momento não há ninguém. A gestão da inovação em larga escala está órfã. A ONU não faz isso, o Banco Mundial não faz isso. Então, nós temos a necessidade de encontrar uma nova maneira de prover a colaboração global e a gestão da inovação.

DRAFT – Qual é o papel do governo na inovação?

John – Os governos não deveriam estar na função de escolher vencedores em inovação. Mas eles determinam o ambiente regulatório que irá favorecer ou dificultar o caminho da inovação, criam a demanda para novos produtos ou serviços, educam as pessoas que serão os inovadores e estabelecem políticas fiscais que encorajam a inovação orientada ao investimento, entre outros fatores.

DRAFT – Como a inovação pode ajudar a endereçar e resolver problemas globais complexos?

John – Por definição, problemas globais complexos precisam de inovação — na forma de facilitação, de tecnologias colaborativas, de ferramentas de processamento e muito mais — para que sejam resolvidos. A inovação que é participativa e inclusiva pode reunir e conciliar muitas perspectivas diferentes.

DRAFT – Qual é a diferença entre os desafios de inovar numa startup e numa corporação multinacional?

John – Os dois não são incompatíveis. Lean startup é uma metodologia. Grandes corporações são um ambiente desafiador no qual a inovação quer sobreviver, se não prosperar. É possível existir um processo “enxuto” numa grande companhia, ainda que isso seja mais raro de se ver.

DRAFT – Você reconhece algum “edge maker” no Brasil?

John – Todos os jovens brasileiros são “edge makers”. É preciso dizer isso: eles têm o potencial criativo para fazer a diferença na sociedade. O que é preciso é alguém para mostrar a eles como fazer.

DRAFT – Qual é o caso recente de inovação que você mais admira?

John – Tenho acompanhado modelos de negócio de economia compartilhada, como AirBnB e Uber. Adoro como eles passaram a valer bilhões de dólares apenas concebendo e colocando sites no ar.

DRAFT – Qual é o seu conselho para quem está interessado em se tornar um inovador? Por onde começar?

John – É preciso ter uma definição clara de onde inovar, saber exatamente o propósito, a finalidade, do que se está querendo fazer, ter uma estratégia de inovação que selecione as capacidades que você vai precisar desenvolver, e ter senso de responsabilidade, ou seja, saber quem vai ser responsável por isso.

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