A pedido do próprio imperador Pedro II, em 1855 desembarcou no país o professor francês Ernest Huet. Membro da nobreza, Ernest ficou surdo aos 12 anos, depois de contrair sarampo.
Mais tarde, muito inteligente, o nobre que falava também português e alemão estudou no prestigiado Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris e tornou-se professor.
Por isso tudo, foi escolhido a dedo pelo imperador, que queria fundar no país uma instituição que pudesse dar educação de qualidade a pessoas surdas ou com deficiência auditiva.
A Libras, ou Língua Brasileira de Sinais, nasceu dessa mistura da Língua Francesa de Sinais, trazida por Ernest, com os sinais que já eram usados pelos surdos brasileiros para se comunicar.
Alfabetizados em Libras, grande parte dos surdos brasileiros não compreende o português. Caso, por exemplo, de vários que trabalham na 3M. Por isso, a empresa acaba de formar, depois de um ano de estudo, sua primeira turma de voluntários na Língua Brasileira de Sinais.
A iniciativa partiu do Grupo de Afinidade de Pessoas com Deficiência, liderado pela especialista de Toxicologia Mariana Penteado Soares desde que foi criado, em janeiro de 2019.
“Entre os colaboradores que agora conseguem se comunicar por Libras estão líderes das áreas que empregam pessoas com deficiência auditiva e uma pessoa de Medicina Ocupacional Corporativa”, conta Mariana.
O curso de Libras é apenas um exemplo de várias das ações do Grupo de Afinidade, que anuncia agora uma novidade: a 3M acaba de ser signatária da Reis (Rede Empresarial de Inclusão Social).
O Grupo de Afinidade de Pessoas com Deficiência foi criado em 2019, mas as iniciativas da 3M voltadas a essa comunidade são muito mais antigas.
“O departamento de Assistência Social ao Empregado vem implementando ações para esse público desde os anos 1990”, conta Mariana. “Então, quando nós chegamos, já havia muita coisa feita.”
Colaboradores que são deficientes ou que têm filhos com deficiência, e precisam de terapias específicas, assim como os que precisam de próteses ou órteses, são beneficiados por uma política de reembolso, por exemplo.
“Além disso, já existe há muito tempo o transporte específico para pessoas com deficiência ou com dificuldade de locomoção, treinamentos para liderança e políticas de contratação que contemplam esses colaboradores”, diz Mariana.
“Esses benefícios trazem tranquilidade e nos fazem render mais, porque é uma preocupação a menos que temos”, explica ela.
Segundo Mariana, quando o grupo surgiu, começaram os debates sobre o que fazer além disso. “Quisemos dar voz para os colaboradores com deficiência e ouvir o que eles precisavam em vez de assumir o que achávamos.”
Foi então que ficou evidente para o Grupo de Afinidade que era preciso, por exemplo, melhorar a comunicação com os colaboradores surdos. “Há muitas pessoas surdas na manufatura. Como quem fala Libras não necessariamente entende português, a comunicação ficava prejudicada”, conta a líder.
O Grupo de Afinidade então conseguiu, entre outras coisas, com que o sistema de comunicação interno, que é feito por televisão, tenha todo seu conteúdo traduzido em Libras.
O curso de Língua Brasileira de Sinais veio na sequência. “É muito recompensador ver um operador de manufatura, que é onde está a maior parte da comunidade surda da 3M, dizer que agora consegue falar e ser entendido por seu coordenador.”
Agora em setembro teve início também a primeira turma de mentoring voltada para as pessoas com deficiência, que vão participar de um programa de dez meses de mentorias feitas com líderes da empresa.
“É um projeto-piloto, com o qual queremos entender como vai ser o envolvimento e o desenvolvimento desse grupo, até para podermos expandir o programa no futuro.”
Em 2012, durante o 26º Fórum de Empregabilidade Serasa Experian, evento do qual participavam mais de 60 empresas e representantes da Organização Mundial do Trabalho (OIT), foi lançada a ideia de uma rede nacional que conectasse empregadores de pessoas com deficiência.
Algumas das empresas que estavam no fórum se voluntariaram para criar de fato esse compromisso. Nascia aí a Rede Empresarial de Inclusão Social, cuja missão é reunir e mobilizar companhias no Brasil para promover a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Essa mobilização é feita por meio da identificação e do compartilhamento de conhecimentos de boas práticas, da articulação de contatos e de parcerias e projetos para o desenvolvimento de produtos e serviços conjuntos.
O objetivo da REIS é tanto a qualificação profissional quanto a facilitação da contratação e da retenção de pessoas com deficiência nessas empresas que compõem a rede.
“Nós já trocávamos experiências com outras empresas, mas a REIS conecta hoje mais de uma centena de companhias. Vai ser um ganho enorme”, comemora Mariana.
“Integrar a rede vai nos ajudar a entender melhor o que está acontecendo lá fora, nos permitir dividir as nossas boas práticas e incorporar outras, além de melhorar nossos processos.”
Ao ser signatária da rede, a 3M adere ao Pacto pela Inclusão da REIS, que contém cinco compromissos macro, desenvolvidos com base na Convenção dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas e chancelados pela OIT. Ele é o único no Brasil voltado à inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Quando assina o pacto, a empresa se compromete a seguir uma série de diretrizes na gestão da inclusão, com o objetivo de promover a empregabilidade efetiva das pessoas com deficiência.
Ela concorda ainda em incorporar a interseccionalidade em seu ambiente de trabalho, criando oportunidades para pessoas com deficiência entre mulheres, negros, LGBTQIA+ e de diferentes faixas etárias.
Mariana começou a estudar mais o tema da pessoa com deficiência quando, em 2018, a filha Cecília, que tinha então 10 anos, foi diagnosticada com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
“Quando nos deparamos com questões assim, passamos por vários momentos: de luto, de compreensão, de entendimento até chegar na aceitação. É difícil, mas bem importante”, diz.
“Pessoalmente, foi um período de bastante autoconhecimento, até para eu entender como lidava com a questão da deficiência, porque eu tinha vieses inconscientes – e, de repente, me vi no meio disso e precisava tratar as minhas questões.”
Depois desse processo todo, Mariana começou a se perguntar se não havia na 3M outros pais que estavam passando por momentos parecidos, com quem ela pudesse trocar experiências.
“E então eu fui convidada para liderar o Grupo de Afinidade que estava sendo criado. Fiquei muito feliz porque fazia todo sentido para mim”, conta.
Segundo ela, há na 3M muitos colaboradores com filhos no espectro autista, como Cecília. “Mas há várias outras pessoas com outros tipos de deficiência, e cada uma tem questões específicas”, afirma ela.
“Por isso, poder começar o grupo do zero foi muito importante. Conseguimos definir nossa missão e nossa visão de uma forma muito humanizada, olhando para o indivíduo. Nosso mote é o mesmo da ONU: ‘Nada sobre nós sem nós’.”
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