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“Liderar não é sobre ter todas as respostas, mas sobre estar disposto a fazer as perguntas certas”

Eduardo Moura - 28 mar 2025
Eduardo Moura, diretor executivo da Pulse Mais.
Eduardo Moura - 28 mar 2025
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Escrever sobre liderança é escrever sobre aprender, refletir, ser resiliente e se questionar. 

Parece clichê, mas quando penso na minha trajetória no terceiro setor, esses verbos são indissociáveis do desafio que é liderar uma ONG focada em transformar vidas. 

Mas antes, deixa eu me apresentar: sou o Eduardo Moura, diretor executivo da Pulse Mais. O nome do cargo pode parecer glamouroso (e, confesso, tem um pouquinho de ego envolvido), mas, na realidade, liderar uma organização de impacto é estar sempre em movimento

Sou um pouco de tudo: zelador, bombeiro, professor, líder. Meu dia tem inúmeros desafios: apagar incêndios, construir do zero e, acima de tudo, cuidar de gente. E, ao longo desse processo, aprendi que todo empoderamento passa, antes de tudo, por acreditar em si mesmo

Trabalhar com impacto positivo tem sido uma jornada transformadora e, ao mesmo tempo, desafiadora. Meu jeito acelerado e otimista muitas vezes se choca com os obstáculos e resistências que surgem ao tentar promover mudanças. Mas, apesar disso, escolhi esse caminho muito cedo. 

Lembro quando fiquei na dúvida sobre aceitar um estágio no Instituto de Cidadania Empresarial, em 2020. Meus colegas seguiam roteiros mais tradicionais, e eu me perguntava: “Será que estou fazendo a escolha certa?”

Foi mergulhando no ativismo, no terceiro setor e nos negócios de impacto socioambiental que encontrei um espaço onde tudo fazia sentido. Mais do que isso, conheci pessoas incríveis que me mostraram que é possível construir um mundo mais justo, inclusivo e regenerativo 

Contudo, ao longo desse tempo, mesmo obtendo conquistas palpáveis, ainda me pergunto o que exatamente me trouxe até aqui… Sorte? Reconhecimento dos meus privilégios? Propósito? Inquietação? Ideologia? Culpa? 

Provavelmente um pouco de tudo, e talvez algumas razões que ainda nem percebi. 

RENUNCIEI À SEGURANÇA DE UM EMPREGO PARA ASSUMIR O DESAFIO DE CONECTAR JOVENS TALENTOS AO MERCADO DE TECNOLOGIA

Em 2023, recebi um convite inesperado: participar de um processo seletivo para liderar a Pulse Mais. Na época, a organização tinha apenas um ano de vida, era gerida por voluntários e ainda precisava se estruturar melhor. 

O propósito da Pulse é conectar jovens talentos ao mercado de tecnologia, oferecendo capacitação, mentoria e oportunidades para que consigam seu primeiro emprego no setor. Estamos falando de jovens que possuem talento, mas não possuem dinheiro, acesso, estrutura. E, em muitos casos, não acreditam que podem. 

Eu já buscava algo que fizesse mais sentido para mim. Sempre tive esse ímpeto de construir do zero, de rabiscar páginas em branco, de enfrentar o desconhecido. E esse convite ativou tudo isso dentro de mim. Mas aceitar significava renunciar à segurança de um emprego com potencial de crescimento. 

Mais do que isso, era um desafio pessoal. Apesar dos meus privilégios de ser um homem branco, cisgênero e de classe média, minha identidade como homem gay sempre me fez questionar minha capacidade de liderar e me expor. Era como se eu mesmo colocasse uma barreira invisível no meu caminho 

A decisão não foi fácil. Houve momentos em que pensei em desistir. Mas, no fundo, tudo o que eu já tinha feito antes parecia me levar até ali. Trabalhar com negócios de impacto social, juventude, educação e empregabilidade sempre me mobilizou de uma forma diferente. Não dava para ignorar. Eu sabia que precisava estar onde pudesse fazer diferença. 

Então, aceitei; e se você acha que desde então, foi tudo lindo, não se engane. Quando assumi a liderança da Pulse Mais, percebi que havia subestimado os desafios. Achei que as maiores dificuldades seriam estruturar a operação, captar recursos e construir uma cultura diversa. Mas, no fim, o maior desafio era invisível: conquistar confiança. 

A TRANSFORMAÇÃO É DE MÃO DUPLA: ASSIM COM OS JOVENS, OS MENTORES EVOLUEM COMO LÍDERES E EXPANDEM SUA PERSPECTIVA

Aprendi a navegar por cenários complexos, resolver problemas institucionais e dar forma a um projeto que ainda buscava seus primeiros marcos de impacto. E, para falar a verdade, ainda estamos nesse processo – desenhando o futuro enquanto caminhamos. 

Mas a Pulse Mais nunca foi uma jornada solitária. As pessoas que vieram antes de mim e as que chegaram depois são parte essencial desse caminho. E os verdadeiros protagonistas dessa história são os jovens que conseguimos empoderar e preparar para o mercado de trabalho. 

Nosso modelo combina qualificação profissional, gamificação e mentoria para aumentar a empregabilidade de jovens na tecnologia. 

Até agora, são mais de 650 jovens impactados, 110 mentorias finalizadas, 3 600 horas de mentorias realizadas, uma rede com mais de 250 mentores, 400 doadores e uma taxa de empregabilidade de 50% para jovens formados no Programa Pulse Mais 

Mas, além de ensinar técnicas, a Pulse Mais oferece autoconhecimento, confiança e acesso a redes profissionais. O mais surpreendente é que essa transformação não acontece apenas com os jovens. Os mentores que embarcam nessa jornada também evoluem como líderes e criam conexões que expandem suas perspectivas. 

Essa troca intergeracional muda a forma como enxergamos o potencial das juventudes e a importância de criar espaços mais acessíveis e inclusivos para quem enfrenta barreiras estruturais no caminho, além de corresponsabilizar gerações anteriores sobre os desafios que também as afetam. 

APRENDI QUE LIDERAR NÃO É SOBRE TER TODAS AS RESPOSTAS, MAS SIM SOBRE ESTAR DISPOSTO(A) A FAZER AS PERGUNTAS CERTAS

Agora, nosso grande desafio é expandir esse impacto sem perder a profundidade. Estamos testando formatos, validando modelos e buscando maneiras de escalar a Pulse Mais sem deixar de lado o que realmente transforma a vida das pessoas. 

A mentoria tem se mostrado a chave para isso. Mas crescer não é só sobre números. É sobre garantir que cada jovem que passa por aqui tenha uma experiência que realmente mude sua trajetória. 

Trabalhar com impacto significa viver entre a urgência do agora e a construção do futuro. Não existem garantias, nem respostas prontas 

Liderar não é sobre ter todas as respostas, mas sobre estar disposto a fazer as perguntas certas para que tenhamos movimento. E é nesse movimento que encontramos sentido: nas perguntas que ainda não têm resposta, nas incertezas que nos fazem evoluir e, principalmente, nas histórias que deixam de ser exceção.  

Ao aceitar liderar esse projeto, mesmo duvidando de mim, compreendi que nossa missão é, mais do que tudo, fazer nossos alunos e mentorados saberem que podem e são capazes. Ao assumir a missão de ajudar jovens de uma realidade tão distante da minha a confiarem em si, desenvolverem seu potencial e a mudarem de vida, eu não imaginava que eu mesmo teria minha vida transformada por esse desafio, e para muito melhor.  

 

Eduardo Moura é cofundador da Pulse Mais.

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