Sou uma observadora do comportamento humano há pelo menos 20 anos, seja fazendo pesquisa de mercado e opinião, ministrando a disciplina de Comportamento do Consumidor em cursos universitários ou como psicanalista.
Porém, nos últimos seis anos, principalmente durante as sessões de terapia, percebi que o isolamento social era um forte fator para o adoecimento psíquico.
A pandemia de Covid-19 agravou a situação e mais pessoas se queixaram da falta de companhia.
Não era a falta do amigo que ouve, do amigo que pergunta se está tudo bem com você ou aquele que segura sua mão em um momento difícil.
Não, não era isso. Depois do fim da quarentena, as pessoas queriam companhia para um chope, uma praia, uma trilha.
Sentia que elas queriam se conectar de outra forma, sem namoricos, paqueras ou sexo casual. Elas desejavam uma companhia para sair, falar de alegrias, ouvir novidades, jogar conversa fora, rir, falar assuntos leves e amenidades
Também pensava na dificuldade que têm aqueles que mudam de cidade ou de estado para criar um novo círculo de amizades.
Mestre em Psicologia e apaixonada pela mente humana e por seus questionamentos – que, diga-se de passagem, são milhares –, senti o bichinho da inquietação dentro de mim.
O que eu, psicanalista, poderia fazer para além da minha prática clínica para ajudar um número maior de pessoas?
Foi então que comecei a pensar em formas de colaborar para que muita gente passasse a ter uma vida social mais ativa e, consequentemente, mais feliz.
Há tempos acompanho os anseios de alunos e pacientes e foi justamente esse olhar mais próximo da necessidade alheia que me inspirou.
Com a pandemia e o isolamento social, tive uma ideia fora do contexto que se apresentava: criar um aplicativo que incentivasse a “aglomeração”. Mas a real é que eu sabia que, em dado momento, as pessoas sairiam dos seus casulos famintas por interação
Percebo que essa necessidade se intensificou com a desconexão que o trabalho remoto e as aulas online proporcionaram.
Pensei em quem poderia se unir a mim nessa nova empreitada e convidei o publicitário Lucas Maia, que foi meu aluno e orientando na graduação em Comunicação, para tirarmos a ideia do papel e iniciarmos uma sociedade.
Queríamos desenvolver um aplicativo com o intuito de motivar as pessoas a sair do sofá, servindo de ferramenta e incentivo para se reunirem presencialmente, mesmo sem se conhecer, para dividir as alegrias e interesses comuns em espaços sociais, com diversão e convívio.
No começo, minha maior preocupação foi pensar nos diferenciais que o app precisaria ter para se descaracterizar das ferramentas de encontros casuais ou sexuais.
Por isso, era preciso que a maneira de apresentá-lo fosse muito assertiva, conclusiva. Ideia e sócio reunidos, agora, como tirar do papel?
O primeiro passo foi fazer uma pesquisa de mercado para que, com base estatística, pudéssemos avaliar se de fato havia uma demanda latente e elasticidade de preço
Uma vez constatado que minha intuição estava correta, partimos para as questões burocráticas: buscar fornecedores de serviço para constituir empresa, criar logo, registrar a marca etc.
Lembro, como se fosse hoje, do dia em que reunimos nosso capital e fomos investir no nosso objetivo.
A parte mais fácil foi a escolha do nome: Animaí. Era recorrente ouvir nos grupos de amigos de WhatsApp, alguém falar: “Quem anima ir em tal lugar, no sábado” ou “Bora, gente! Anima aí”.
Quando falei para o Lucas, de cara, ele achou o nome genial. Sem falar que atende os preceitos básicos do marketing: curto, fácil de lembrar, de pronunciar e que, por si só, já diz qual é o principal benefício do serviço.
Depois do batismo, os rascunhos de layouts e a determinação das funcionalidades levaram dias…
Isso porque o diferencial deveria ser exatamente a ideia de proporcionar encontros com um único intuito: ampliar o círculo de amizades, de modo a aumentar as possibilidades para que os participantes tivessem sempre companhia em seus momentos de lazer.
Em seguida, pensamos nos filtros para o “match”. Queríamos fazer algo inclusivo no sentido da diversidade de perfis, porém respeitando os interesses em comum.
Lá fomos nós pensar nos filtros com a mente voltada para a experiência do usuário e concluímos que precisaríamos saber: os dias da semana em que a pessoa se dispõe a sair, as atividades de lazer que curte — como tomar um chopinho, fazer uma caminhada no parque, ir a um karaokê — e, por meio de um sistema de geolocalização, poder selecionar os bairros de preferência
E, novamente, vinha a preocupação: como fazer para descaracterizar o modelo de paquera ou sexo casual? Pensamos nisso também!
O app não fornece fotos dos usuários, nem especifica a idade e só permite o encontro a partir de três pessoas.
A maior dificuldade que tivemos e nos gerou um enorme prejuízo logo nos primeiros passos foi com a empresa de TI que contratamos para desenvolver o aplicativo (e que foi indicada, hein!).
Além de atrasar a entrega, e, na ocasião do lançamento (em janeiro de 2022), publicar nas lojas Google e Apple um produto cheio de bugs, o negócio sumiu do mapa literalmente, mesmo com um suporte garantido em contrato por um ano
A empresa simplesmente pegou nosso dinheiro e trocou de endereço, CNPJ, telefone. Com isso, perdemos alguns meses administrando as contingências, migrando dados, analisando código fonte… Um transtorno sem precedentes.
Esse contratempo quase me derrubou, só que eu não sei desistir. Assim sendo, nesta primeira fase, o nosso aplicativo funcionou com uma espécie de MVP.
E lá fomos nós, mais uma vez, buscar forças e raspar as últimas economias para levar o projeto adiante.
Mesmo depois dessa pancada, seguíamos acreditando no potencial do aplicativo.
Trouxemos mais uma sócia para a Animaí, Beatriz Melo, minha sobrinha, que mora em Nova York, e contratamos uma outra empresa de TI para desenvolver uma versão nova, já com base no UX dos usuários.
O lançamento oficial de um app mais turbinado aconteceu há pouco tempo, no dia 28 de junho de 2023.
Aprendemos com nossos erros e, por isso mesmo, estamos buscando capacitação junto ao Sebrae para entender melhor esse universo das startups
Neste instante, estamos à procura de um investidor-anjo para que possamos focar em divulgação e tracionar nosso negócio.
Temos orgulho de criar um aplicativo que pode mudar a perspectiva de socialização das pessoas, sobretudo em “tempos líquidos”, como diria Zygmunt Bauman, em que prevalece a superficialidade dos contatos.
Hoje estamos com cerca de 3 mil pessoas cadastradas no Animaí (o app está disponível em todo Brasil, mas concentra mais usuários em RJ e SP). No começo de julho, conseguimos reunir 17 deles em um piquenique com temática esotérica no Rio de Janeiro. Veja aqui como foi esse encontro em alguns dos depoimentos coletados.
É muito gratificante saber que criamos uma ferramenta que pode contribuir positivamente para saúde mental de muita gente, aumentando as possibilidades de uma vida social mais ativa, alegre e animada.
E convidamos os usuários a embarcar nessa conosco. Animaí e vem!
Rita Martins é psicanalista, mestre em psicologia e fundadora do aplicativo de amizade Animaí.
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