O garimpo ilegal em terras indígenas e suas consequências devastadoras para o meio ambiente e para os povos ianomâmi constituem uma verdadeira tragédia nacional. É inevitável que consumidores passem a questionar cada vez mais a origem do ouro e das pedras preciosas que estão comprando – afinal ninguém aceita ter, literalmente, sangue nas mãos.
A reportagem de NetZero conversou com a Vivara, a maior joalheria do país e uma das mais tradicionais do mercado. A empresa já está de olhos bem abertos para este assunto muito antes do escândalo vir à tona. Conta com uma agenda ESG bem estruturada, investe em economia circular, e garante: nenhuma matéria-prima entra na produção sem que todos os fornecedores tenham sido rastreados e rigorosamente auditados de acordo com um protocolo específico.
“Nós não vamos fugir de temas delicados para o setor. A Vivara tem 60 anos completados no ano passado. Construímos nossa história com proximidade aos nossos fornecedores, que aceitaram ser auditados, e são verificados em todas as áreas. E também investimos em cadeias curtas, que são mais fáceis de serem rastreadas”, explica Fernanda Ormonde, head de sustentabilidade da companhia.
A Vivara usa cerca de 100 quilos de ouro por mês para realizar sua produção de jóias. Este ouro vem de um único lugar: da mineradora AngloGold Ashanti, que faz a extração em Minas Gerais e Goiás. “Este ouro não vem de garimpo e sim de mineração. Ele contém todas as certificações incluindo a do Ouro Responsável, que verifica se a extração está sendo feita dentro de regulamentações ambientais, sem o uso de mercúrio, de que forma isso é feito, qual a relação com as pessoas, a rastreabilidade, o refino, o tratamento final, os rejeitos, como os trabalhadores são tratados. Depois de tudo isso, ainda auditamos este ouro”, detalhou Fernanda.
Segundo a executiva, um dos métodos usados pela Vivara para garantir a confiabilidade da matéria-prima é encurtar a cadeia de fornecedores. Quanto mais curta a cadeia, mais rápido é possível chegar na fonte. A empresa investe no momento em pesquisa de tecnologia blockchain para conseguir fazer este mapeamento dos produtos de ponta a ponta com ainda mais precisão.
Nem só de ouro vivem as extrações ilegais e socialmente predadoras. Os diamantes também guardam muitos casos de exploração, especialmente em países do continente africano. De acordo com a empresa, suas pedras provêm de minas conhecidas e de países que estão fora das zonas de conflito. Os fornecedores também são rastreados e adquirem as matérias-primas brutas por meio do processo Kimberley), que hoje representa 82 países.
Este procedimento contribui para eliminação dos “diamantes de conflito” que eram vendidos por movimentos rebeldes para financiamento de guerras contra os governos. Os fornecedores também devem realizar a lapidação das pedras em suas fábricas de forma íntegra com contribuição das comunidades locais.
Fernanda Ormonde lembra que, em 2022, a Vivara se tornou a primeira joalheria brasileira a conseguir o certificado com o protocolo mais robusto para a venda de diamantes em todo o mundo.
“Somos a primeira joalheria brasileira a ser membro do Conselho de Joalheria Responsável, organização que promove práticas ambientais, sociais e éticas com responsabilidade, respeitando os direitos humanos em toda a cadeia de suprimento da indústria de jóias de ouro e de diamantes, das minas até o varejo. E somos a única joalheria latino-americana a fazer parte da Iniciativa para Garantia de Mineração Responsável, que avalia a atuação das minas em aspectos como saúde e segurança dos trabalhadores, controle da poluição, direitos dos povos indígenas etc”.
Desde 2020, a agenda ESG faz parte da sustentação dos negócios da Vivara. Por exemplo: as metas estão diretamente ligadas aos bônus dos executivos da empresa.
Outro exemplo: um quarto do ouro utilizado em toda a produção de jóias da companhia provém de economia circular. O cliente pode deixar uma jóia usada, que ele não quer mais, em qualquer loja e assim receber um crédito de 25% em uma futura compra. Esta jóia é encaminhada para a produção de outras peças. O resultado é uma redução de 98% de emissão de carbono se comparado a uma extração primária – além de reduzir o garimpo ilegal.
Segundo Fernanda, com todas estas iniciativas, o objetivo da empresa é abrir caminho para uma mudança em todo o setor.
“Existem muitas formas de ser responsável nesta cadeia e obter materiais de origem totalmente legalizada. Infelizmente estamos impactados por todos estes acontecimentos, mas sabemos que estamos abrindo caminho e fazemos a diferença. Queremos olhar para o mercado, temos o compromisso de atuar de forma setorial. Estamos abertos para conversar e divulgar as melhores práticas”.
O bagaço de malte e a borra do café são mais valiosos do que você imagina. A cientista de alimentos Natasha Pádua fundou com o marido a Upcycling Solutions, consultoria dedicada a descobrir como transformar resíduos em novos produtos.
O descarte incorreto de redes de pesca ameaça a vida marinha. Cofundada pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, a Marulho mobiliza redeiras e costureiras caiçaras para converter esse resíduo de nylon em sacolas, fruteiras e outros produtos.
Aos 16, Fernanda Stefani ficou impactada por uma reportagem sobre biopirataria. Hoje, ela lidera a 100% Amazonia, que transforma ativos produzidos por comunidades tradicionais em matéria-prima para as indústrias alimentícia e de cosméticos.