O plano B da jornalista Maria Tereza Gomes nasceu depois de um fracasso: em 2009, o Grupo Abril decidiu encerrar as atividades do canal por assinatura IdealTV, lançado somente dois anos antes. A crise econômica e dificuldades do mercado de televisão por assinatura determinaram seu fim. Como diretora de produção e programação, Tereza havia sido a responsável pela implantação do canal, desde a contratação da equipe até a definição da grade de programação. “Eu fui a primeira funcionária, contratei as pessoas, pensei na grade de programas. Era o projeto da minha vida e, quando terminou, sai muito triste. No entanto, foi lá que nasceu a minha paixão pelo poder do vídeo que deu origem à Jabuticaba Conteúdo” diz.
Com o fim do canal, Tereza deixou a Editora Abril depois de 18 anos, período em que trabalhou como repórter da revista Exame, diretora de redação da revista VOCÊ S/A e do Guia EXAME-VOCÊ S/A – As Melhores Empresas para Você Trabalha, além da IdealTV. A Jabuticaba nasceu em 2010 e junto com ela vieram o mestrado em administração de empresas, as aulas em cursos de MBAs e seu segundo livro (o primeiro O Guia dos MBAs é de 2000): O Chamado – Você é o herói do próprio destino (Atlas, 2016), no qual faz uma correlação inédita entre a teoria da Jornada do Herói, do americano Joseph Campbell, e as carreiras dos presidentes de empresas.
Hoje, mais do que uma produtora de vídeo, a Jabuticaba se tornou uma agência de comunicação e treinamento (assista ao Manifesto). Está estruturada para produzir desde livros, newsletters e relatórios até cursos presenciais e e-learning. Essa ampliação do portfólio ocorreu graças às aulas e reflexões ocorridas na FGV proporcionadas pelo Aceleração Itaú Mulher Empreendedora.
Aqui, ela conta sua história à frente de um negócio e a experiência de ser uma acelerada.
Como nasceu a Jabuticaba Conteúdo?
A Jabuticaba Conteúdo nasceu em 2010. Eu havia saído da Editora Abril no anterior, depois de 18 anos de uma carreira da qual me orgulho muito (comecei como repórter e, dos 18 anos, metade deles atuei como diretora). No entanto, saí muito triste porque o mais interessante, emocionante e desafiador projeto da minha vida tinha sido encerrado. Eu havia criado a Ideal TV do zero, fui a primeira funcionária, montei uma equipe incrível, uma grade de programação inédita. Com a crise global de 2008, o acionista desistiu do negócio. Eu sabia duas coisas: (1) queria continuar trabalhando com vídeo e (2) queria ser a responsável pelo próprio destino, não deixar ninguém decidir sobre meu sucesso ou fracasso. Comecei na minha casa, acionando o meu networking. Logo vendi o primeiro projeto e, para entregá-lo, fiz parcerias. Sempre me preocupei com a qualidade do conteúdo, mas também com a estética. Em resumo: vídeos lindos e com conteúdo. Além disso, prezamos o atendimento ao cliente, sempre próximo e ágil. Aqui na Jabuticaba nós acreditamos – e a equipe já é treinada para isso – que todos somos vendedores: desde quem atende o telefone até o editor do vídeo precisa saber que o que cada um faz se reflete na satisfação do cliente e nas vendas futuras. Acho que esses continuam sendo os nossos diferenciais até hoje.
Explique-nos como funciona a empresa?
Desde janeiro, deixamos de ser somente uma produtora de vídeo e nos tornamos uma agência de comunicação e treinamento. Para isso, nos estruturamos em três unidades de negócios:
– Jabuticaba Corp: Além de vídeos, já estamos produzindo livros, apresentações, newsletters e etc.
– Jabuticaba Training: criada para atender à demanda de nossos clientes por videoaulas, videocases, palestras e mídia training.
– JabLab: é o nosso laboratório de criação de e-learning com a marca da Jabuticaba.
Como objetivos para 2018, queremos crescer 30% em receita e obter lucratividade de 20%.
Como é a sua atuação na empresa?
Eu sou uma profissional de conteúdo, é o que eu amo fazer, o que me dá prazer, é o que fiz na maior parte da minha vida profissional. E, até recentemente, eu me envolvia em tudo, desde o roteiro até a aprovação do vídeo antes de mandar para o cliente. Aprendi nos últimos tempos, porém, que essa minha atitude bloqueia o crescimento da Jabuticaba. No momento em que expandi nosso portfólio de produtos, ficou inviável. Os projetos começaram a encalhar, não saíam do meu computador. Por isso, passei a estruturar a empresa para que a produção de conteúdo fique independente de mim. Cada vez mais, quero me dedicar à função na qual eu realmente faço diferença para a empresa: o comercial. Não é fácil, mas estou me desapegando aos poucos.
Como foi no início?
Eu sempre tive medo de não ser boa o bastante, de não estar preparada o bastante, de as pessoas perceberem que eu era uma fraude. Já li sobre a síndrome do impostor e acho que sofri um pouco com isso. Creio que foi resultado do choque de vir de uma empresa grande, com equipes de apoio muito bem estruturadas (marketing, jurídico, financeiro etc) para me tornar o organograma inteiro: do estagiário ao diretor comercial, do assistente ao CEO. Isso dá um certo desespero.
Acho que o momento mais crítico aconteceu em 2012, quando um cliente atrasou um pagamento e a Jabuticaba não tinha caixa para pagar os salários. No meu primeiro emprego em jornal, logo depois da faculdade, muitas vezes eu não recebia o salário na data ou, se recebia, era com cheque sem fundos. Sei como é não ter dinheiro para pagar as contas e não quero nunca que as pessoas que trabalham comigo passem por isso. Na época, fui ao banco e peguei um empréstimo, mas cumpri com o prazo.
Por que você resolveu se inscrever para participar do Aceleração?
Acredito que foi uma série de sinais que fui recebendo. O primeiro deles veio da professora Maria José Tonelli. Acho que foi em junho de 2017. Eu mediei um debate sobre empreendedorismo feminino do qual ela foi uma das entrevistadas. Dentre tantas coisas interessantes, uma informação dela ficou na minha cabeça: os homens, quando empreendem, querem crescer, conquistar o mundo; as mulheres, por sua vez, se contentam em ter um negócio que sustente a família. Em resumo: eles sonham grande, nós sonhamos pequeno.
Eu comecei a refletir sobre isso: “Será que eu não estou limitando o crescimento da Jabuticaba por crenças equivocadas?”. Entrei no Aceleração com o desafio de encontrar a resposta para este meu incômodo – e descobri.
Quais foram seus principais aprendizados ao participar do Aceleração?
As provocações e reflexões geradas durante as aulas na FGV me ajudaram a aceitar que eu havia adotado duas crenças limitantes ao crescimento da Jabuticaba: a primeira era a minha necessidade pessoal de participar da produção de conteúdo, que já mencionei antes. A segunda vinha desde 2010: eu me orgulhava de dizer que só produzíamos vídeo; que eu havia sido uma importante jornalista “de papel”, mas que havia me apaixonado pelas imagens em movimento – e só queria fazer isso. Ora, isso era jogar no lixo mais de 20 anos de experiência como jornalista e editora de textos, revistas, internet e livros. Afinal, era o que eu mais sabia fazer. Ao romper com essas crenças, liberei a empresa para assumir sua missão como agência de comunicação (em suas diversas plataformas) e treinamento (que já fazíamos, mas não dizíamos ao mercado).
Qual foi a sua maior conquista até aqui?
Ter construído uma empresa que, apesar dos longos anos de crise, é financeiramente saudável e é reconhecida pelos seus clientes pela qualidade no que faz e pela agilidade no atendimento.
Qual é o seu sonho?
O meu sonho é que a Jabuticaba cresça o bastante para ficar independente de mim; que gere emprego e renda para profissionais talentosos, muito melhores que eu, que serão capazes de realizar coisas incríveis.
Para saber mais
Empresa: www.jabuticabaconteudo.com.br
O que faz: Comunicação corporativa e treinamento
Sócio: Maria Tereza Gomes
Funcionários: 15
Sede: São Paulo
Início das atividades: 2010
Investimento inicial: 10 mil reais
Esta matéria pode ser encontrada no Itaú Mulher Empreendedora, uma plataforma feita para mulheres que acreditam nos seus sonhos. Não deixe de conferir (e se inspirar)!
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