Mecânico (ou mecânica) delivery que resolve os problemas do ciclista em casa? Tem na Bike123

Karina Sérgio Gomes - 2 maio 2018Rafael Taleisnik e Eduardo Matsuoka contam como a paixão por bikes motivou a criação de uma plataforma que conecta ciclistas a técnicos.
Rafael Taleisnik e Eduardo Matsuoka contam como a paixão por bikes motivou a criação de uma plataforma que conecta ciclistas a técnicos.
Karina Sérgio Gomes - 2 maio 2018
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Foi durante uma bicicletada, em 2008, que o profissional de relações internacionais Rafael Taleisnik, 32, e o psicólogo Eduardo Matsuoka, 30, se conheceram. O primeiro estava voltando a pedalar e achou interessante a bicicleta de roda fixa (que não tem marcha) de Eduardo. Pediu para dar uma volta. Depois desse encontro, tornaram-se amigos e acabaram empreendendo juntos em um negócio específico para quem gosta de pedalar: a Bike123 é uma plataforma que conecta técnicos de bicicleta com quem está precisando de um help com a magrela (desde um conserto simples, como pneu furado, até a montagem de um modelo comprado pela internet).

Quem vê os dois, hoje, felizes com o empreendimento, não imagina a trilha sinuosa que eles enfrentaram para chegar até aqui. Rafael já estava com um intercâmbio engatilhado quando surgiu a oportunidade de trabalhar como consultor de desenvolvimento de produtos e vendas da marca Shimano (marca japonesa que é um ícone entre ciclistas). Ele cancelou os planos de estudar fora e embarcou na paixão pela magrela.

Por sua vez, Eduardo fazia mestrado em Psicologia Experimental na PUC-SP e atendia na clínica da universidade mas gostava mesmo é de pesquisar sobre bicicletas ou, claro, estar em cima de uma. Chegou um momento em que estava tão envolvido com o veículo que decidiu trabalhar em uma bicicletaria. Dessa pedalada para largar de vez a psicologia foi uma distância curta. Bastou que Rafael o indicasse, em 2012, para uma vaga de consultor na mesma Shimano.

Os dois trabalhavam na empresa já pensando em angariar conhecimento sobre o mercado e montar o próprio negócio. A primeira ideia foi abrir uma loja virtual de produtos encalhados nas distribuidoras. Outra, criar uma marca de bicicletas urbanas, além de uma loja focada exclusivamente no público feminino. Mas o modelo de negócios da Bike123 começou a se desenhar praticamente sozinho, quando eles passaram a observar suas próprias necessidades. Eduardo fala a respeito:

“A gente sentia na pele o drama de quando a bicicleta quebrava ou precisava de manutenção. Era sempre difícil encontrar alguém de confiança”

Ele prossegue: “Comecei a mexer nas minhas bikes porque não confiava nos mecânicos que conhecia”. Além disso usava a sua expertise para, na base da tentativa e erro, descobrir e mapear quem eram e onde estavam os bons técnicos de bicicleta na cidade de São Paulo. Logo, passou a ser o “Google” das boas dicas para a turma que precisava de assistência.

COMO ENTENDER SE O MERCADO EXISTE? PESQUISA-SE

Atenta à essa cena e ciente de que muitos técnicos tinham interesse em ganhar uma grana extra, a dupla começou a pesquisar com mais profundidade as necessidades dessas duas pontas (mecânicos e ciclistas) que viriam a atender na plataforma. O primeiro passo foi disparar dois formulários: um para os mecânicos e outro para os ciclistas, com o intuito de entender os interesses de cada um. “A gente não sabia se as outras pessoas, fora do nosso ciclo, tinham os mesmos problemas”, diz Eduardo.

Com as respostas, perceberam que estavam no caminho certo. Descobriram que havia público para o negócio e que a maioria dos mecânicos estava insatisfeita com o que ganhava nas oficinas e disposta a atender mais gente para complementar a renda. Criaram, então, um site bem simples para começar a cadastrar os interessados e, assim, a Bike123 entrou no ar em 2016. A ideia do nome surgiu porque eles queriam algo curto que evocasse a palavra bike de uma forma simples e fácil de lembrar. “123 é uma sequência universal e que remete a ideia de ‘para já!’ ou de rapidez”, diz o ciclista empreendedor.

A Bike123 percebeu que ciclistas mulheres preferiam ser atendidas por mecânicas mulheres (que eram raras) — então, passou a formar essa força de trabalho.

Por meio de posts patrocinados no Facebook e Google AdWords, chegaram até os clientes.

“A gente sabia que as lojas físicas ficariam cada vez mais enfraquecidas com o aumento das bicicletas vendidas pela internet. O que poderia salvar esses estabelecimentos era o serviço de manutenção”, prossegue.

Quem compra uma bicicleta online recebe o produto numa caixa. A bicicleta vem desmontada e desregulada e, se a pessoa não tiver muita intimidade com as engrenagens, pode ter dificuldade em montá-la. Por isso, o serviço de delivery de mecânico que vá até a casa do cliente, pegue a caixa e devolva a bicicleta pronta pareceu uma boa saída. “Nosso primeiro objetivo era unir os mecânicos com quem queria comprar uma bike, mas não tinha tempo ou meios de levar até uma oficina para ser montada. Essa foi a principal demanda que tivemos no período de testes”, conta Eduardo.

Projeto aprovado pelas duas pontas, chegou o momento de formar uma base de profissionais. Aos primeiros interessados foi mandado um link para que fizessem o cadastro, o que os sócios acharam que seria um procedimento tranquilo. Porém, a quantidade de dúvidas que recebiam dos mecânicos era enorme e o processo, lento. Eduardo resolveu, então, ir às oficinas acompanhar o cadastramento. Essa também foi uma forma de verificar o que não estava suficientemente claro no site e precisaria de ajustes para tornar tudo o mais simples e intuitivo possível.

Para encontrar mais profissionais, os empreendedores criaram um grupo no Facebook para técnicos de bicicletas – atualmente a comunidade conta com 1 200 inscritos. “Percebemos que há uma carência de informação sobre a área”, conta Eduardo. No grupo, começaram a postar conteúdos sobre a manutenção das bikes para oferecer conhecimento aos interessados que, ao se inscreverem na plataforma, devem enviar cópias dos certificados de cursos feitos, foto da carteira de habilitação e de cinco ferramentas que os sócios consideram fundamentais para oferecer o serviço. Além disso, a dupla checa os antecedentes criminais dos inscritos. Quem ajuda a calibrar o atendimento são os próprios usuários que avaliam a experiência. Segundo os sócios, até o momento, a maior parte dos feedbacks tem sido positiva.

AS CICLISTAS QUERIAM MECÂNICAS. ELES FORAM EM BUSCA DE FORMAR TÉCNICAS

Em uma das muitas pesquisas que fizeram, os fundadores constataram que 30% dos clientes eram mulheres, porém 100% dos técnicos são homens. Resolveram conversar com as ciclistas para saber o que elas pensavam dos serviços oferecidos de maneira geral e não apenas os da Bike123.

“A maioria das ciclistas achava o ambiente de uma bicicletaria ou loja hostil e que quase sempre eram atendidas por homens que as tratavam de um jeito infantilizado”

Elas também afirmaram ter dúvidas se o serviço que precisava ser feito na bicicleta seria mesmo executado. Diante dessa realidade, os sócios procuraram uma parceria com a Escola Park Tool para oferecer bolsas de estudos integrais para dez mulheres interessadas em fazer um curso profissionalizantes de mecânica de bicicleta e se tornarem futuras técnicas. A maioria das interessadas era de fora de São Paulo, porém todas saíram das aulas certificadas e, em breve, quatro delas vão estar cadastradas na Bike123 para oferecer serviços em suas cidades. Após essa iniciativa, a escola abriu um curso exclusivo para mulheres e os sócios já pensam em fazer uma nova edição da bolsa de estudos, porém, contam que precisam de patrocínio para isso.

As dez técnicas formadas no curso da Bike 123 em parceria com a Escola Park Tool para inserir mais mulheres nesse mercado.

Na foto, a primeira turma, com dez técnicas formadas no curso da Bike123 em parceria com a Escola Park Tool para inserir mais mulheres nesse mercado.

Atualmente o site conta com 12 mecânicos e são eles quem precificam seus serviços. De acordo com os sócios, os técnicos, por conta própria, acabaram tabelando os preços e seguindo uma média de valores, que variam de 50 a 200 reais, dependendo do tipo de atendimento (a revisão custa por volta de 150 reais, enquanto a revisão “premium” sai 200 reais). Do que cobram, a Bike123 fica com 20%.

O investimento inicial para fazer o negócio rodar foi de 25 mil reais e, hoje, embora a empresa ainda não dê lucro para manter os dois sócios, pelo menos, já se paga. Eduardo é quem fica 100% do tempo focado em resolver problemas e melhorar a experiência dos clientes. “No começo, a gente acreditava que era fundamental conseguir entrar para uma aceleradora. Mas ficar participando desses processos desviava nosso foco. Para crescer, a gente precisa rodar. Por isso, estamos focados na operação do nosso sistema no momento”, diz.

O excesso de foco na empresa, no entanto, fez com que Eduardo deixasse um pouco a vida pessoal de lado. “Aprendi que precisa ter um tempo de trabalho e também o meu tempo.” Agora, ele tira duas vezes na semana um período para pedalar e fazer exercícios. Antes, como ia e voltava do trabalho de bike, a atividade  física estava incorporada à sua rotina. Hoje, trabalhando de casa, precisou encontrar um momento para isso.

Detalhes revisados e alinhados, Eduardo e Rafael buscam expandir a área de atuação. Atualmente, o site registra um média de 30 atendimentos mensais em toda a capital mais a região do ABC. Desde de meados do ano passado, perceberam que havia uma demanda no interior paulista. Hoje procuram por mecânicos em Campinas, Jundiaí, Ribeirão Preto, São José dos Campos e Sorocaba. E seguem pedalando para que mais pessoas desfrutem com segurança do prazer de andar de bicicleta.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Bike123
  • O que faz: Manutenção de bicicleta para ciclista em formato delivery
  • Sócio(s): Rafael Taleisnik e Eduardo Matsuoka
  • Funcionários: 12 técnicos cadastrados
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2016
  • Investimento inicial: R$ 25.000
  • Faturamento: 30 atendimentos, em média, por mês
  • Contato: contato@bike123.com.br ou (11) 98935-1534
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