Fungos e bactérias estão por toda parte e têm uma relação próxima com o homem e a natureza. Microorganismos atuam dentro de cada um de nós, garantindo o bom funcionamento da digestão e do sistema imunológico, por exemplo. Atuam também na fermentação, um processo natural que o ser humano aprendeu a dominar muito antes do advento da ciência – produzindo alguns de nossos alimentos e bebidas mais antigos, como pão, queijo, vinho e cerveja. Mas a importância dessas formas de vida microscópicas para a alimentação começa em uma etapa anterior à colheita. Muitos microorganismos associam-se às plantas, ajudando a promover o crescimento delas e protegendo-as de pragas, doenças e plantas daninhas, que competem por nutrientes e recursos naturais.
“Há mais de 100 anos, o homem percebeu que era possível usar alguns microorganismos de forma benéfica”, afirma o agrônomo Jerri Zilli, pesquisador da área de Microbiologia do Solo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Hoje, além de proteger e facilitar a absorção de nutrientes das plantas, o uso de microorganismos é uma forma de reduzir o uso de agrotóxicos, aumentar a produtividade das colheitas e promover bons negócios no campo”.
Entre os exemplos desta utilização, Zilli cita as bactérias fixadoras de nitrogênio, um dos nutrientes mais importantes para o crescimento das plantas. “O uso de inoculantes (bactérias fixadoras de nitrogênio) nas plantações de soja representam uma economia de 12 bilhões de dólares por ano ao Brasil, uma vez que a aplicação de nitrogênio na forma química teria um custo muito alto”, diz Zilli. Esse é um dos casos de uso eficiente de agentes microbianos nas plantações.
Controle biológico
Predominantes nos ecossistemas tropicais, os fungos micorrízicos formam uma associação simbiótica com as raízes das plantas e as ajudam a absorver nutrientes menos solúveis, como fósforo, zinco e cobre, tornando-as mais fortes e resistentes a condições ambientais adversas, como a seca. “Cerca de 90% das espécies de clima tropical se estabelecem com algum tipo de fungo micorrízico. Eles funcionam como uma extensão das raízes”, afirma Zilli.
Outro caso de sucesso é o grupo de fungos conhecido como trichoderma, capaz de combater alguns fungos fitopatogênicos, que prejudicam o crescimento das plantas. Uma espécie do grupo, a harzianum, faz o controle biológico do fungo responsável pelo surgimento da vassoura-de-bruxa (doença que atinge plantações de cacau no Brasil), atuando como um parasita, atacando e competindo com o patógeno por fontes de energia. Outra espécie do grupo, o Trichoderma asperellum é responsável pelo controle e manejo do mofo branco, doença que atinge milhões de hectares de soja e feijão.
Por sua vez, a bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) funciona como arma no controle de insetos como a lagarta, que ameaçam o plantio. Presente nas folhas das plantas, a bactéria tem cristais que, quando atingem o sistema digestivo da lagarta, liberam uma toxina mortal para o inseto – nunca para seres humanos ou animais.
Soluções microbianas
Às vezes, o tema ganha repercussão na internet. O micologista (especialista em fungos) americano Paul Stamets estuda aplicações de fungos no combate a pragas e a doenças humanas; uma linha de pesquisa sugere que fungos entomopatogênicos (que matam insetos) poderiam servir de base para uma alternativa aos pesticidas tradicionais.
A Monsanto valoriza todo tipo de pesquisa – e acredita no potencial de fungos e bactérias como mais uma ferramenta a favor dos produtores rurais. Em 2014, a empresa firmou uma parceria com a dinamarquesa Novozymes para a pesquisa e o desenvolvimento de soluções microbianas. Chamada BioAg Alliance, a iniciativa une as operações comerciais, testes de campo e know how da Monsanto e a habilidade da Novozymes nas áreas de descoberta, desenvolvimento e produção microbiana à biologia avançada.
O intuito da parceria é expandir a pesquisa e a comercialização de uma nova geração de microorganismos, ajudando produtores de culturas como milho, soja e frutas a fazer mais com menos – um desafio urgente para quem tem a missão de alimentar uma população que deve pular de 7 bilhões para 9 bilhões até 2050.