Mesmo que fosse um cara supersticioso, Marcos Ferreira, 33, fundador da MobContent, não precisaria se preocupar muito com simpatias e mandingas para ter sorte nos negócios. É que ele já começa o ano sabendo que 2015 será muito produtivo. Somente neste mês de janeiro, Marcos lança 10 projetos da sua empresa, uma produtora transmídia especialista em impactar pessoas usando novas tecnologias, como realidade aumentada, captura de movimentos e robótica, desenvolvendo projetos culturais e sociais para as mais diversas plataformas.
No ano passado a MobContent teve um faturamento de 800 mil reais e a estimativa é que este ano o valor chegue a pelo menos 2 milhões. Ainda no primeiro semestre, o empreendedor quer trazer a público o seu mais ambicioso projeto: contar, por meio de uma narrativa transmídia, a trajetória de seu pai, que saiu de Catolé do Rocha, no sertão paraibano, na década de 60 para tentar uma vida melhor no Rio de Janeiro. Com a ajuda da esposa, mineira, cabeleireira e com alma empreendedora, ele conseguiu se erguer: passou anos trabalhando como concursado e conseguiu oferecer um padrão confortável de vida à família.
Marcos nasceu no Rio de Janeiro e sempre procurou se destacar no mercado de trabalho. Apaixonado por contar histórias, desde a faculdade ele se enfiou em todos os projetos de conteúdo que conseguiu. Formado em Rádio e TV pela UFRJ, criou, em 2001, uma das principais WebTVs universitárias do país, a TVUFRJ, que até hoje está em atividade e que é referência em audiovisual no Rio.
“Era um projeto inovador para a época e tinha um aspecto bem comercial também. Eu e um grupo de alunos da faculdade produzíamos boletins jornalísticos sobre a UFRJ na internet. Era uma espécie de estúdio em que mais de 50 pessoas, alunos de Jornalismo e Rádio e TV, produziam vídeo, roteiro etc. Até então, o máximo que existia era uma TV universitária, com conteúdo menos frenético, mais frio”, conta ele.
Marcos também foi responsável por fazer o primeiro streaming da rádio UFRJ. Como naquela época a rádio não tinha concessão para ser transmitida para toda a cidade, a frequência podia ser captada apenas no perímetro da universidade. Com a ajuda de um grupo de amigos interessados em trocar conhecimento sobre tecnologia e inovação, Marcos conseguiu colocar a rádio na internet, ampliando monstruosamente o acesso ao conteúdo produzido.
“Tudo o que fiz como empreendedor desde a faculdade é basicamente isso: procurar novas formas de contar uma história focando na inovação e abordando aspectos culturais e sociais”
Marcos trabalhou até 2010 em uma WebTV na qual tinha como missão introduzir um modelo de distribuição de conteúdo em diferentes plataformas. Quando o projeto acabou, ele resolveu seguir o mesmo modelo com o qual já estava acostumado em uma empresa própria e criou, com os 2 mil reais que recebeu de rescisão, a MobContent. Até 2011, a empresa era composta apenas por ele.
UMA EMPRESA QUE CRIA NARRATIVAS PARA A CIDADE
No ano seguinte, Marcos começou a diversificar o modelo de negócios. Em vez de só distribuir conteúdo, ele também produzia, principalmente vídeos. “De lá para cá, produzimos projetos culturais próprios, não só para a TV, mas para todas as plataformas digitais. Assumimos essa vertente de contar a história das pessoas de alguma relevância cultural. E essa vertente se acelerou nos últimos anos”, conta.
Hoje formada por 11 pessoas altamente criativas e com formação multidisciplinar, a MobContent oferece uma espécie de revolução audiovisual. Com seus projetos culturais e sociais, a empresa cria formas de contar histórias de maneiras diferentes e acessíveis em meios diversos como TV, celular e computador.
Com criações como o Polissonorum, um projeto mobile patrocinado pela Lei do Incentivo e que reúne histórias georreferenciadas da cidade, contadas pelos próprios moradores dela, e o “Grafite na Gamboa”, que mostra a história de revitalização do bairro pelos grafiteiros, Marcos quer explorar o que as pessoas têm a ensinar sobre o Rio. Em 2015, também usará um canal de TV aberto (que ainda não pode ser revelado) para exibir duas webséries com 2 minutos de duração por episódio.
Outro projeto que mostra como a MobContent trabalha conteúdo de forma inovadora é o “Achado em Meu Quintal”, sobre os achados arqueológicos nas cidades, resultado de quando o chão vai sendo escavado e objetos vão aparecendo a partir daí. Há ainda o “Garagem Maker”, que retrata parte do movimento global maker, que tem ganhado muita expressão aqui no Brasil. “No Garagem Maker exploramos essa coisa de que você tem que criar as soluções para o dia a dia da cidade por você mesmo, criando as suas próprias tecnologias, com seus próprios equipamentos”, conta Marcos.
Com tanto projeto para sair do forno, a MobContent tem duas salas de trabalho no Rio: uma usada para as pessoas escreverem os roteiros e coordenarem a operação propriamente, e outra chamada LabContent, que é um lugar onde o profissional experimenta uma série de novas tecnologias que vão inspirá-lo a desenvolver projetos culturais inovadores que as utilizem.
“A gente tem aqui um óculos de realidade virtual, por exemplo. Com ele, a gente está recriando partes da cidade do Rio que já não existem, que foram derrubadas de alguma forma. E o que fazemos nesse projeto é jogar tudo dentro dessa realidade virtual. Você tem a experiência de andar pela cidade em trechos que não existem mais através do equipamento”, conta Marcos.
A MobContent também dispõe de tecnologias como a realidade aumentada, a captura de movimentos e a robótica, além de holografia e a geolocalização. Todos os equipamentos e softwares foram trazidos ao Brasil por Marcos, que sempre faz viagens internacionais para conhecer novas culturas criativas e as ferramentas que elas utilizam.
A MobContent nunca recebeu nenhum investimento externo, mas passou por um processo de incubação no Rio Criativo, no qual Marcos teve ajuda para se familiarizar com conhecimentos específicos sobre administração de empresas.
“Além da incubação, o que possibilitou que trouxéssemos uma galera criativa para trabalhar com a gente, assim como os vários equipamentos tecnológicos que temos hoje em dia, foi termos um modelo de negócios diversificado, que foi se consolidando ao longo do tempo”, diz o empreendedor.
Soterrado em projetos e também em prêmios de inovação no cenário audiovisual, Marcos gosta de destacar o mais legal deles, o de Young Creative Entrepreneur, do British Council, que premiou o empreendedor mais criativo do mundo. Com o avanço da MobContent, é de se esperar que mais desses apareçam ao longo deste ano.
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