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Mostra 3M de Arte chega à 8ª edição para provar que somos, sim, ávidos por cultura

Giovanna Riato - 14 set 2018
Exposição começa no dia 15 de setembro no Largo da Batata. A meta é aproximar pessoas, exercitar a tolerância e discutir diferentes olhares.
Giovanna Riato - 14 set 2018
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A meta de democratizar o acesso à arte é um clichê tão batido que chega a ser usado em exposições que não carregam nada desta filosofia. Para transformar a conversa em realização a Mostra 3M de Arte foi para a rua. O evento acontece entre 15 de setembro e 14 de outubro no Largo da Batata, em São Paulo: do lado do metrô, colado a uma das avenidas mais movimentadas da cidade, em uma praça que é palco para bloco de carnaval, manifestações políticas e por onde circulam 150 mil pessoas diariamente. Já que é para democratizar, que seja para valer. É “walk the talk”, como diz Luiz Eduardo Serafim, 47, head de marketing da 3M e um dos incentivadores do projeto.

Será a oitava edição e a segunda vez em que a exposição acontece ali, com a proposta de trazer reflexão sobre o uso do espaço público e o exercício da tolerância, da convivência entre diferentes. “Vamos apresentar seis trabalhos inéditos pensados para a exibição, todos voltados a provocar diferentes sentidos e reflexões”, conta Fernanda Del Guerra, 43, sócia-diretora da Elo3, a produtora cultural responsável pela realização da mostra. Segundo ela, a experiência de tirar a arte do museu desmonta barreiras e preconceitos.

“As pessoas são ávidas. Não existe essa história de que o brasileiro não gosta ou não entende de arte. Vimos o público curioso, interessado em interagir, viajar com as obras e interpretar com o próprio repertório. Ali nunca ouvi a pergunta se o que apresentamos é arte ou não. As pessoas sentem”

Fernanda diz que a expectativa para este ano é repetir o feito de reunir gente, independentemente da bagagem que carrega: a mulher da periferia que sai do metrô para ir ao trabalho e é surpreendida com as obras vai topar com o hipster morador de Pinheiros, que foi até ali já interessado em ver a exposição. “Propomos inovação, criatividade e novos paradigmas. O projeto nasceu justamente para que todo mundo pudesse apreciar”, conta.

O QUE A 3M QUER COM UMA MOSTRA DE ARTE?

As discussões sobre realizar uma exposição começaram em 2008 na companhia, quando a 3M entendeu que deveria desenhar uma estratégia para usar leis de incentivo à cultura. Em parceria com a Elo3, a companhia foi atrás de projetos que fizessem sentido, que se conectassem com a filosofia da marca. “Não queríamos pensar só em retorno de visibilidade. Nossa intenção era fazer algo que tivesse conexão profunda com a marca”, conta Luiz. Eles estudaram um monte e, em 2010, realizaram a primeira Mostra 3M de Arte Digital, um evento apoiado na tecnologia que aconteceu no Centro Histórico Mackenzie justamente para ficar mais perto do público jovem.

“Era uma exibição para tratar a arte de forma mais simples e atraente, próxima do público”, diz Fernanda. Segundo ela, desde o começo a busca era por oferecer a tal democratização e apresentar artistas novos, dar palco a quem ainda não estava nos holofotes. “No começo existia uma discussão acerca do reconhecimento do digital como arte. Levamos isso para a mostra, com muitas obras em novas plataformas”, conta. Enquanto a academia e os especialistas se perdiam na velha discussão sobre o que é arte, ela garante que o público já tinha se resolvido: era arte sim.

Com o tempo, o digital ficou tão presente na vida dos artistas e dos visitantes que a palavra foi retirada do nome do projeto. Agora é só Mostra 3M de Arte. A iniciativa saiu do Centro Histórico Mackenzie no segundo ano para acontecer no Memorial da América Latina. Depois foi para o Instituto Tomie Ohtake, para a Fundição Progresso no Rio de Janeiro e, em 2017, aconteceu pela primeira vez no Largo da Batata. “A mostra foi realizada em lugares maravilhosos com resultados muito relevantes, mas sempre sentimos que faltava algo, que a presença do público poderia ser diferente. Conseguimos isso ao ir para a rua”, diz Fernanda. Luiz complementa:

“O projeto sempre teve essa inquietude e vontade de ser coerente com a questão da inovação. Quando começamos o contexto era outro. Se as coisas mudaram temos que nos transformar também, refundar a proposta mantendo a essência”

 

UM ESPAÇO PARA NOVOS ARTISTAS

Segundo o executivo, o exercício é de constante de atualização, mas mantém princípios como o de oferecer uma exposição interativa, sem audiência passiva. Outra busca é por estimular a parte educativa ao receber muitas escolas para visitas guiadas. Como pano de fundo, o projeto mantém firme a missão de descobrir e reconhecer novos talentos da arte, diz.

Fernanda aponta que, a cada edição, há uma seleção de novos trabalhos e concurso com jovens artistas. No ano passado, a organização escolheu entre profissionais que enviaram vídeos de seus trabalhos. “Recebemos 72 candidatos e o nosso corpo de jurados escolheu os mais adequados para o projeto. Neste ano fizemos um edital e, além de eleger o artista, bancamos o trabalho”, conta Fernanda.

A vencedora entre 62 candidatos foi Regina Parra, com a obra “É Preciso Continuar”, um grande letreiro luminoso que questiona o que as pessoas querem da sociedade. Ao lado da estreante, há outros cinco trabalhos inéditos.  Com a instalação sonora “Falante”, Raquel Kogan questiona o alcance da voz de cada um, d que é propagado, conta Fernanda. Já em “Miração”, Marcos Muzi e Rafael Cotait convidam o público a repensar o olhar sobre o que é coletivo, o que é individual e o compartilhado. “É um jogo de espelhos, algo que só funciona com a interação do público”, diz a especialista. Estela Sokol apresenta o “Contraforte”, um enorme muro que convida as pessoas a interagir. A ideia é que a construção termine a mostra bem diferente do que começou, com uma série de intervenções da audiência.

Fernanda destaca ainda a obra “Parque”, de Eduardo Coimbra. “É um espaço de lazer, com grama para que as pessoas aproveitem, usem para tomar sol, fazer piquenique ou como quiserem”, diz. O coletivo Grupo Inteiro completa a mostra com o projeto “Metro Cúbico”, uma fonte de água potável com fluxo condicionado ao valor das ações da Sabesp na bolsa de valores. “É um questionamento sobre a privatização e comoditização da água, um bem público”, resume Fernanda. Para ela, sair das galerias e colocar tantas reflexões no espaço público foi uma iniciativa bem recompensada pela audiência na edição passada – algo que ela espera que aconteça novamente neste ano.

“O Largo da Batata é um espaço muito democrático ilhado em uma das áreas mais elitizadas de São Paulo. Ao chegar lá, propusemos um diálogo com as pessoas e conseguimos uma troca muito boa. Vimos muita gente ficar maravilhada e criar novas formas de interação com as obras”

Luiz acrescenta que um dos ensinamentos mais importantes que o projeto trouxe está relacionado com o potencial da arte de se adaptar a vários formatos e espaços, impactando pessoas de maneiras diferentes. “Não existe um padrão de sucesso. Experimentamos muitas propostas, curadores e lugares. Em todas as vezes conseguimos encantar as pessoas”, resume. Assim, a 3M mostra um contrapeso importante à dificuldade que os museus enfrentam no país: o público. O brasileiro quer comida, diversão e arte – e está disposto a ir até ela na rua ou onde for.

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