Há quem ainda acredite que as mulheres não se interessam por tecnologia ou, pior, que elas não têm a habilidade necessária. Mas a verdade é que as elas não só vêm ocupando mais espaços nas áreas tecnológicas, como estão se destacando no setor.
Raquel Molina é uma prova concreta dessa mudança. Graduada em TI com ênfase em Gestão de Negócios e pós-graduada em governança de TI, ela trabalhou durante muitos anos em grandes bancos, mas sempre teve o sonho de ser empreendedora. “Desde pequena fui incentivada pelo meu pai, que havia trabalhado boa parte da vida como empregado de metalúrgica e depois se tornou empresário. Apesar de ele ter falecido muito cedo e com pouco tempo de experiência como empreendedor, acredito que foi por influência dele que desejei empreender”, conta.
E assim, atenta às tendências e com muita persistência, estudo e análise de mercado, Raquel criou a Futuriste, empresa que presta serviços e treinamentos usando veículos aéreos não tripulados (VANTs), ou drones, como são mais conhecidos. Quer saber mais? Confira a entrevista:
Como você identificou o nicho e investiu em Drones?
Como sempre tive essa veia empreendedora enraizada, acabei motivando meu então namorado e hoje meu sócio nessa essa nova perspectiva. Ambos trabalhávamos em um banco e nos finais de semana discutíamos sobre possíveis ideias de negócio para iniciar nossa jornada empreendedora. Foi quando em uma revista, em 2013, vimos uma reportagem sobre Drones e como eles estavam revolucionando o mercado fora do país. Aquilo saltou aos nossos olhos, era uma oportunidade de atuar com algo diferente, inovador e dentro do nossa expertise de tecnologia, embora fosse algo novo para ambos.
Como foi a experiência de investir em algo tão novo no país?
Após identificar a oportunidade de implementar uma tecnologia que já estava amadurecendo fora do país e com grandes chances de crescimento aqui no Brasil, iniciamos as análises de mercado. E quanto mais pesquisávamos, mais impressionados com os Drones nós ficávamos: sua versatilidade, seus benefícios de implementação e o mundo de oportunidades que poderia ser desbravado.
Começamos a estudar muito, lembro-me que na época quase todos os materiais eram em inglês, nos dedicamos, compramos diversos equipamentos e nas tentativas e erros fomos aprendendo. Identificamos com tudo isso uma demanda no mercado: falta de capacitação de qualidade no segmento. Como estávamos iniciando, resolvemos contratar um profissional capacitado (um dos raros na época) e iniciamos um curso de Drones e assim, em 2015, nasceu a Futuriste. Nos planejamentos iniciais a empresa iria atuar nos serviços, porém identificamos a oportunidade de oferecer cursos de qualidade que faltavam no mercado. A demanda foi crescendo e hoje somos um dos maiores centro de treinamento de Drones do Brasil, além de outros produtos e serviços que passamos a desenvolver ao longo do tempo.
Quais estratégias de gestão se mostraram assertivas na história da Futuriste?
Nossa estratégia de gestão sempre foi muito realista, o aumento nos investimentos na empresa foi acontecendo de acordo com o crescimento. Validamos frequentemente nossos produtos antes de partir para o próximo passo, e procuramos ser muito prudentes e planejar para tomar decisões. Constantemente buscamos ferramentas de apoio ao planejamento para dar suporte, como CANVAS e SWOT, além de muito estudo e análise.
Como funciona a Futuriste?
A Futuriste desenvolve o mercado brasileiro de Drones com treinamentos, vendas, assistência técnica, serviços de inspeções, mapeamento 3D aéreo e nossa área de Pesquisa e Desenvolvimento, que permite customização de equipamentos e a criação de soluções diferenciadas com Drones. Nosso know-how técnico e nossa parceria com um grande centro de pesquisa nos traz potencial para inovar, criar soluções de Drones em diversos segmentos de mercado e utilizar diversos tipos de tecnologia para atender às necessidades dos clientes.
Como é a sua atuação?
Hoje sou a Diretora Executiva da Futuriste, responsável pelo planejamento estratégico, gestão de qualidade, orçamentos, identificação de novas oportunidades de aplicação, identificação de parcerias, elaboração de documentos de negócios, gestão de pessoas e prospecção de clientes. Também faço palestras sobre Drones e inovação e em algumas oportunidades sou convidada pelo Sebrae para fazer mentorias para novos empreendedores, algo que eu gosto muito de fazer.
Como foi o início as sua trajetória empreendedora?
Assim como acontece na maioria dos negócios, o começo foi desafiador. Tivemos um agravante de iniciar em uma área totalmente nova, sem dados oficiais de comportamento dos clientes, com equipamentos ainda em fase de amadurecimento. Antes de fazer o cliente entender a necessidade do produto, precisamos mostrar que ele existia. Nessa época eu tinha meu emprego estável em uma excelente empresa, e não é fácil decidir jogar tudo para o alto e começar algo do zero. Durante a fase de planejamento do negócio recebi outras propostas, mas eu estava decidida e acredito que esse foco na realização do meu sonho foi fundamental para chegar onde chegamos. Sem dúvida tive medo de falhar e perder tudo o que tinha investido, mas é interessante pensar que ao invés de me paralisar, esse medo me estimulou a ser cuidadosa, a me planejar e ser prudente nos investimentos.
Como é atuar em um setor majoritariamente masculino?
O setor de Drones é de fato predominantemente masculino! Atualmente contamos com apenas 5% de mulheres na nossa base de alunos. Por conta disso procurei me capacitar bastante, inclusive em relação às questões técnicas de um Drone. Mas valeu a pena. Lembro-me de uma situação em uma feira de negócios onde um senhor queria informações sobre um Drone Gigante que tínhamos no nosso estande. Pediu para que eu chamasse um dos rapazes do estande para explicações. Eu respondi: “O que o senhor gostaria de saber? Eu posso ajudar!”. Acredito que ele pensou que eu era a recepcionista e perguntou de novo se não podia falar com meu colega de estande. Insisti dizendo que eu conhecia do equipamento e que poderia me perguntar. No fim, contei que eu era sócia-fundadora da empresa. São situações pontuais, acontecem cada dia menos, mas levo numa boa e sempre resolvo mostrando total conhecimento do meu negócio. Já ouvi mais de uma vez: “Puxa, você entende mesmo, heim?”. Na verdade fico muito contente quando vejo mais mulheres na área de tecnologia, que servem de exemplo e mostram que nós podemos ter sucesso, inclusive em áreas diferentes, onde muitas vezes somos desacreditadas. Gostaria de ver mais estímulo às meninas e mulheres para que gostem de tecnologia. Nossas alunas, mesmo sendo poucas, se saíram muito bem na pilotagem dos Drones, realizam os movimentos de forma bem refinada e são muito cuidadosas.
Qual foi a sua maior conquista até aqui?
Nesses meus poucos anos como head da empresa conseguimos conquistar alguns feitos, como tornar a Futuriste a empresa brasileira com maior número de indicações na lista TOP 3 Mercado de Drones brasileiro da DroneShow, a maior feira de Drones da América Latina. Nessa premiação fui reconhecida com voto popular no Top 3 Profissional de Drones de 2017 pela maior feira de Drones da América Latina, sendo a única mulher do Brasil a compor esta lista. De 2016 a 2017 nosso faturamento cresceu 800%. Também tenho muito orgulho de ter iniciado recentemente um projeto social chamado Drone Sem Barreiras, uma iniciativa única no mundo de capacitar pessoas com deficiência física a operar Drones, podendo trazer novas perspectivas e oportunidades para essas pessoas.
Qual é o seu sonho? O que ainda falta realizar?
Meu sonho profissional é me tornar empreendedora serial, atuar em diversos segmentos de inovação tecnológica. Além disso, quero me tornar investidora-anjo e poder ajudar a realizar o sonho de outras pessoas.
Se pudesse voltar no tempo e refazer uma decisão, o que seria?
Teria iniciado a minha vida empreendedora muito antes, pois acredito que adiei mais que o necessário o meu sonho. Claro que minha experiência em grandes corporações contribuiu na minha trajetória, porém sinto que poderia ter iniciado antes.
Para saber mais:
Futuriste: http://www.futuriste.com.br/
O que faz: Desenvolve o mercado brasileiro de Drones com treinamentos, vendas, assistência técnica, serviços de inspeções, mapeamento 3D aéreo e nossa área de P&D que permite customização de equipamentos e o desenvolvimento de soluções diferenciadas com Drones.
Sócios: Raquel Molina e Leonardo Minucio
Funcionários: 7 funcionários internos e 4 instrutores/pilotos de voo
Sede: Ipiranga – São Paulo
Início das atividades: 2015
Contato: [email protected]
Esta matéria pode ser encontrada no Itaú Mulher Empreendedora, uma plataforma feita para mulheres que acreditam nos seus sonhos. Não deixe de conferir (e se inspirar)!
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