“Não era espiritual o vazio que sentia, era uma desconexão entre o que eu fazia e o que acreditava”

Gustavo Arns - 13 set 2019
III Congresso Internacional de Felicidade . Fotografia © 2018 Rubens Nemitz Jr
Gustavo Arns - 13 set 2019
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por Gustavo Arns

Venho de uma família do Paraná tradicionalmente católica, envolvida com o Direito e a Educação. Nunca tinha parado para fazer uma grande reflexão sobre o que gostaria de fazer na vida e acabei indo para a área jurídica. Talvez se tivesse pensado melhor na época…

Considerei cursar História, que me interessava bastante, mas as pessoas me perguntavam: “E vai fazer o que, dar aula?”. Aquilo ficou na minha cabeça.

Com apenas 17 anos, não fazia a menor ideia se queria ou não dar aulas, mas a forma como as pessoas me perguntavam não me agradava. Optei por fazer Direito e logo me desencantei com a prática

Estava constantemente brigando com as pessoas, fosse um juiz, um promotor ou um cliente que não entendia a demora da Justiça. Era uma vida muito belicosa. Larguei o estágio e fui dar aulas de inglês.

Surpreendentemente, me apaixonei por lecionar. E pensar que não fui fazer o que realmente gostaria porque, na minha cabeça, entendia que não era uma coisa boa. E assim foram os anos universitários. Trabalhei nas áreas pedagógica e administrativa de algumas escolas, comecei a empreender e abri minha própria escola de inglês atendendo alunos particulares.

Depois de formado, advoguei durante um tempo, o suficiente para confirmar que não era o que queria para minha vida. Apesar de apaixonado pelo inglês, também já havia compreendido que um profissional da educação está restrito a baixos salários e a condições não muito boas de trabalho.

O fato é que eu, graduado, estava confuso e desorientado. Esta talvez seja a melhor palavra, porque realmente não sabia o que exercer. Tinha perdido meu pai há poucos meses de me formar. Resolvi fazer um intercâmbio, trabalhar em outro país, conhecer outra cultura e refletir.

Trabalhei em rede de fast food, como vallet, e outros empregos do gênero. Quando voltei, optei por empreender mais na área do inglês, abrir uma sede física e organizar uma escola. Como a sede era grande e precisava pagar as contas, amigos se envolveram.

Em 2012 me envolvi na empresa familiar, de cursos preparatórios para concursos públicos, o Curso Luiz Carlos. Durante esse tempo no novo emprego, aprendi muito sobre financeiro, gestão, equipe e liderança

Cheguei em 2015 em um período estável, com boas possibilidades de crescimento. Estava motivado, casado, com uma filha, em um apartamento legal, mas comecei a sentir um desconforto. Faltava algo, sentia um vazio interno.

Minha família, os Arns, são muito católicos com freis e freiras e um arcebispo na família. A Igreja Católica foi o meu berço de fé e depois se transformou no que chamo de espiritualidade. Meu pai também era religioso, mas tinha um lado mais ecumênico e curioso, buscador de terapias integrativas e outras respostas. Ele também gostava de estudar outras religiões e isso estimulou a minha curiosidade.

Fui conhecer o espiritismo, o budismo, entre outros, e depois entendi que toda essa busca era, na verdade, uma curiosidade por mim mesmo

Demorei a perceber que estava buscando autoconhecimento. Não era espiritual o vazio que sentia, era uma desconexão entre o que eu fazia e o que eu acreditava. Isso foi crescendo em mim durante um tempo. Meu emprego me satisfazia profissional e financeiramente, mas estava desconectado com o que fazia sentido para mim.

Na época, meu dia a dia tinha planilhas, e-mails, vendas, equipes, gestão e problemas para resolver — coisas que também fazem parte da minha rotina atual, mas minha jornada agora também envolve conversas com pessoas ligadas à área de autoconhecimento, felicidade e Psicologia Positiva.

Fui cedendo espaço a esse desconforto para que ele se acomodasse de alguma forma. Um cara chamado Henri Bortof tem uma frase que gosto muito: “A vida é algo para o qual estamos sempre nos preparando, mas nunca estamos exatamente prontos”.

Até que em 2014, em um daqueles momentos em que estamos no lugar certo, na hora certa, assisti a uma palestra que me trouxe novas percepções. Durante a HSM Expo, ouvi Tal Ben Shahar abordando “A Ciência da Felicidade”.

Anos depois, ele estaria falando no evento que idealizei em Curitiba. Mas naquele momento, suas palavras abriram meu universo sobre a Ciência da Felicidade na linha da Psicologia Positiva, e a forma com que ele tocava no assunto era uma conjugação de tudo que estudei e estava procurando.

Saí da palestra e comprei um livro dele. Passei a noite lendo, dormi super pouco e acordei no dia seguinte me sentindo energizado. Curiosamente, uma das perguntas que Tal Ben havia colocado na noite anterior era: “O que você faz que, não importa por quanto tempo faça, você se sente energizado?”.

Fui mergulhando cada vez mais nesses estudos sobre Psicologia Positiva, espiritualidade, autoconhecimento, conhecimentos dos povos originários, sociologia, antropologia, filosofia…

Eram temas que eu já gostava naturalmente e que, de repente, se interligavam na multidisciplinar Ciência da Felicidade. Isso ficou em mim até 2015, quando surgiu a ideia de trazer para Curitiba um evento para falar sobre autoconhecimento e que atraísse pessoas que não se identificam com essas ideias. Para fugir um pouco da lógica de “pregar para convertidos”, a proposta era trazer conteúdo para um público que não é adepto da meditação, do yoga, da espiritualidade e, com o autoconhecimento, justamente desmistificar essas questões.

Comecei a organizar o primeiro Congresso Internacional de Felicidade nesse ano. A proposta era abordar o tema a partir de quatro diferentes aspectos: filosófico, científico, espiritual e artístico. E foi assim que tudo começou, com algumas pessoas que se aglutinaram em torno do projeto e se tornaram cofundadores do que na época chamamos de Congresso Internacional de Física Quântica. Inicialmente, o plano era fazer uma única edição. Se alguém me contasse que eu estaria anos depois realmente vivendo disso, jamais acreditaria!

O objetivo era levar para mais pessoas aquilo que fez tão bem para mim e me ajudou tanto na minha jornada pessoal e profissional. Organizava reuniões aos sábados, porque trabalhava regularmente no Curso Luiz Carlos e no meu tempo livre trabalhava pelo evento.

O nome Congresso Internacional de Felicidade veio ao longo de 2016 como uma forma de agregar esse sentimento de forma mais ampla, tanto na esfera pessoal quanto na coletivo: como posso ser mais feliz e deixar meu entorno mais feliz para poder viver num estado mais duradouro de felicidade

O que rolou com a primeira edição foi incrível. As pessoas vivenciaram algo especial e em alguns casos até tomaram decisões impactantes em suas vidas, começando projetos sociais, mudando de trabalho. Vieram histórias de transformações fantásticas. E isso impulsionou um II Congresso.

Mas na organização do terceiro evento, percebi que não estava vivendo o que eu pregava. Trabalhava bastante no Curso Luiz Carlos, na escola de idiomas, que tinha aberto há anos, no Congresso. Com isso, minha saúde estava se deteriorada, bem como minhas relações familiares e de amizade. Estava me alimentando e dormindo mal e me vi num dilema.

Foram noites de sono com a dúvida sobre o que fazer. Questões financeiras, medos e inseguranças. O apoio da minha esposa foi essencial nesse momento.  Foi muito difícil tomar uma decisão, mas optei por seguir aquilo que acreditava e que fazia sentido para mim. Pedi demissão do Curso Luiz Carlos e passei a me dedicar apenas ao Congresso.

Às vezes, temos a ideia idílica de que se mudarmos de emprego e formos fazer o que acreditamos, estaremos felizes, seguros e tranquilos. A verdade é muito mais complexa

Aquele vazio hoje já não existe mais. Existem outras dores, que fazem parte da caminhada. Me sinto satisfeito com a jornada e com as escolhas que fiz.  Faria tudo novamente, mas minhas opções não foram simplesmente tomadas por um impulso. Houve muita análise, números, acordos, planos e conversas com a minha esposa.

Acredito que quando saímos da zona de conforto, passamos primeiro por uma camada muito grossa, um lugar que chamo de zona do medo. A maioria dos projetos acaba antes do seu nascimento, fica na cabeça das pessoas. Cerca de 90% morrem nessa densa zona do medo. Nos sentimos inseguros, somos fortemente abalados pelas críticas e definitivamente não estamos confortáveis.

Mas quando essa barreira é atravessada, conseguimos chegar a uma nova área, a zona de aprendizado. Nela começamos a manejar novas habilidades aprendidas com tentativa e erro e estamos mais confiantes até que chegamos à zona da realização, onde aquele projeto que um dia foi apenas uma ideia torna-se realidade.

Acho que ter a noção dessa passagem toda traz um pouco de consciência e é essencial para seguirmos em frente e ganharmos coragem para a realização dos nossos sonhos. Foi assim comigo e o que permitiu que o Congresso Internacional da Felicidade chegasse a sua IV edição. Será entre os dias 2 e 3 de novembro, em Curitiba. Estão todos convidados!

 

 

Gustavo Arns é idealizador do Congresso Internacional da Felicidade, fundador da Escola Brasileira de Ciências Holísticas e do Festival de Felicidade (evento gratuito de arte, cultura e gastronomia voltado a promover uma reflexão sobre bem estar e felicidade e do Centro de Estudos da Felicidade com sedes em Curitiba, Rio de Janeiro e Recife). Leciona na Universidade Positivo e na Pós-Graduação em Psicologia Positiva da PUC-RS, além de ser professor convidado do Wholebeing Institute. 

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