Gislaine Gallette é uma mulher forte, determinada e atenta às questões da sustentabilidade. Para ela, não basta ter uma empresa, é preciso ir além e fazer do seu negócio uma ferramenta para a promoção de um mundo melhor. Engenheira Eletricista, ela trabalhou durante 15 anos no mercado financeiro até que em 2011 abriu sua empresa, a Gallette Chocolate.
Recentemente Gislaine foi diagnosticada com um câncer de mama e precisou rever alguns projetos. Selecionada para o Aceleração promovido pelo programa Itaú Mulher Empreendedora em parceria com a FGV, teve que abrir mão de sua participação para cuidar da saúde. Mas nem isso a fragilizou. Muito pelo contrário, ela ficou ainda mais forte para correr atrás de seus sonhos.
Acompanhe o bate-papo com esta empreendedora cheia de energia, que arregaça as mangas e faz acontecer.
Como surgiu a ideia de criar a Gallette?
Desde criança sou apaixonada por chocolate. Em 2001 fiz um MBA em Marketing na USP e, no projeto de conclusão de curso, tive a ideia de juntar esta paixão com a crença de que um negócio deveria ajudar na construção de um mundo melhor. Surgiu o projeto da fábrica de chocolates. Naquela época eu ainda trabalhava no mercado financeiro e resolvi aprofundar meu conhecimento com cursos e livros. Aquele projeto seria mais que um negócio, eu buscava uma verdade, um estilo de vida, um legado para meus filhos e um mundo melhor. Aos poucos o sonho foi se materializando, até que um dia resolvi sair do banco no qual trabalhava e empreender.
Como funciona a empresa?
A Gallette Chocolates é uma marca de chocolates finos que produz uma linha completa de produtos de forma sustentável, utilizando cacau e chocolate de procedência conhecida e dando preferência para embalagens com menor impacto ao meio ambiente. Criamos, desenvolvemos e fornecemos produtos que marcam momentos especiais, de uma simples degustação até presentes que surpreendem. Comercializamos os produtos em três segmentos: no varejo, contamos com a loja física e a virtual, participamos de feiras e bazares dentro das empresas; através de distribuidores, estamos presentes nos principias pontos de venda para o público A e B em São Paulo, como por exemplo no Eataly, Empório Santa Maria e Supermercado St Marche, e por fim no corporativo, produzindo brindes e presentes personalizados para empresas.
Quais as principais conquistas até aqui?
Em 2017 iniciamos a produção de chocolates denominados “bean to bar” (produzidos a partir do grão de cacau até a barra ou bombom de forma artesanal), o que permite total controle da cadeia produtiva sustentável e que veio totalmente de encontro com a crença da empresa e consequentemente, seu posicionamento de marca. Neste mesmo ano recebemos o prêmio BRONZE em Seattle no Northwest Chocolate Festival, um dos mais importantes eventos deste tipo de chocolate no setor com o “Pé de Moleque Supremo – Castanha do Pará”. Com esta conquista o mercado americano se interessou pelos nossos chocolates e iniciamos a exportação de barras. Em 2018 uma nova premiação. Desta vez foi BRONZE na “Academy of Chocolate” de Londres com os bombons recheados com ganache de jabuticaba. Há dois meses fomos novamente premiados! Nossa barra de chocolate ao leite 40% cacau é OURO no Prêmio Bean to Bar Brasil.
Qual seu papel na empresa?
Hoje sou responsável pela criação dos produtos, pelo marketing e pela produção. Tenho uma sócia que gerencia a parte administrativa, o RH e a logística. Mas nós duas cuidamos da gestão do negócio e todas as decisões são tomadas em conjunto.
Qual a missão da Gallette?
Nós acreditamos que comer um bom chocolate vai muito além da deliciosa experiência do paladar. Sonhamos com um mundo onde as pessoas se preocupam umas com as outras. Trabalhamos para influenciar a cadeia de produção e melhorar as vidas envolvidas. Temos orgulho do nosso trabalho! Para nós é impossível ir bem como negócio se imaginarmos que nossos produtos causam algum mal para qualquer indivíduo. Por isso, buscamos produzir nossos chocolates com matéria prima que não empregue o trabalho infantil ou mão de obra escrava e utilizar embalagens e produtos que respeitem o meio ambiente porque tudo o que fazemos é para um mundo mais gostoso e justo. Nossa missão é: “Fazer da experiência de saborear um bom chocolate, uma experiência extremamente prazerosa para o paladar, correta para as pessoas, responsável com o planeta e inspiradora”.
Você acredita que esta missão da Gallette a diferencia da concorrência?
Sim. A Gallette não é a única empresa que oferece chocolate artesanal, mas a qualidade de nossos produtos nos dão uma enorme vantagem neste mercado e o que realmente nos diferencia são nossos sonhos e a forma como fazemos negócio.
Há alguns meses você foi diagnosticada com um câncer de mama. Como enfrentou este momento?
Receber uma notícia destas é algo difícil, você pensa nos filhos, na família, em tudo o que ainda não realizou. É uma mistura de sentimentos. Mas ao mesmo tempo fortalece. Não sei explicar direito, parece que nasceu uma leoa, determinada a enfrentar o câncer e vencê-lo.
Encarei tudo como uma etapa da minha vida que teria começo, meio e fim e fiz de tudo para que todos ao meu redor pudessem passar por aquilo comigo da forma mais tranquila possível. Uma das decisões mais importantes foi retirar toda a mama e colocar prótese. Assim não tive que passar por sessões de radioterapia e resolvi a situação do modo mais definitivo possível.
Estamos justamente no Outubro Rosa. Depois de ter vivido essa experiência, qual sua mensagem para as outras mulheres?
O diagnóstico precoce é fundamental, e no meu caso, foi decisivo. Como o nódulo foi diagnosticado no começo, ainda estava muito pequeno e isso facilitou demais o tratamento. Acho que meu anjo da guarda é sempre muito presente! O nódulo encontrado era de um tipo sensível a hormônios, e por isso não precisarei fazer quimioterapia. Então, reforço aqui como é importante cada uma fazer os exames ginecológicos de rotina. Se eu não tivesse o descoberto a doença logo no início, provavelmente não teria uma passagem tão tranquila por este período que é tão complexo. Devemos ter consciência de que para amar a família e os amigos, é preciso amar a nós mesmas e ter saúde.
Como você conciliou os cuidados com a saúde com o negócio?
Tive que adiar alguns planos e mudar prioridades. Mas o mais importante neste período foi poder contar com minha sócia, meu marido e toda a equipe da Gallette que fizeram com que a nave continuasse em pleno voo no período que fiquei afastada.
Confiança no time e o apoio recíproco foram fundamentais. Relações bem construídas ao longo dos anos de trabalho juntos. Foram 15 dias afastada. Ao final estava trabalhando um pouco de casa, no computador e telefone. Voltei a dirigir 30 dias depois da cirurgia e hoje aos poucos estou voltando com a minha rotina maluca de empresária.
Qual foi a sua maior conquista até aqui?
Tive muitos momentos de plenitude, mas a minha maior conquista é ver a Gallette prosperando a cada dia. Não há nada em específico, é um conjunto de situações que nos faz acreditar que estamos no caminho certo da evolução e crescimento da empresa, gerando empregos e contribuindo para a prosperidade da economia no país.
Qual é o seu sonho? O que você ainda deseja realizar?
Meu sonho e disseminar nossas crenças e sentir que nosso trabalho é admirado. Para isso precisamos trabalhar duro, nos fazer mais conhecidos, por meio da abertura de outras lojas, franquias e entrar em novos mercados nacionais e internacionais.
Se pudesse voltar no tempo e refazer uma decisão, corrigir algum momento de sua trajetória, o que seria?
Acho que começaria a Gallette já com um ponto físico em um lugar mais estratégico para a marca. Estudar o ponto comercial é algo fundamental para um negócio como o nosso. Patinamos um pouco no início, pois não tínhamos loja física. Acreditamos 100% no modelo virtual e desprezamos a entrada de um produto novo que requeria experimentação e degustação.
Se pudesse dar apenas uma dica para quem está querendo empreender, qual seria?
Para os mais jovens, perseverar é algo muito importante. Não desanimar frente às dificuldades e trabalhar muito para alcançar os objetivos sempre de forma honesta e respeitosa com todos.
Já para quem resolve empreender como eu, com mais de 40 anos, ter um bom caixa é fundamental. Um negócio não se faz da noite para o dia. A maioria das empresas leva alguns anos para se consolidar e o empresário deve ter condições financeiras para seu sustento e da família. Isso traz tranquilidade para seguir frente a todos os desafios que este caminho do empreendedorismo nos coloca.
Quais seus planos para o futuro?
Uma marca de chocolates robusta, que inspira as pessoas com suas boas práticas e contribui para um mundo mais feliz, e continuar curtindo muito minha família e meus amigos.
Para saber mais:
Sócios: 2
Funcionários: 7 com os sócios
Sede: Rua Augusto Tolle, 245 – São Paulo – SP
Início das atividades: 2011
Investimento inicial: R$200 mil
Contato: [email protected]
Esta matéria pode ser encontrada no Itaú Mulher Empreendedora, uma plataforma feita para mulheres que acreditam nos seus sonhos. Não deixe de conferir (e se inspirar)!
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