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Nem Boneca, Nem Carrinho: como duas mães fundaram uma curadoria de experiências para crianças

Anna Haddad - 6 fev 2017 Anna e Andrea participando, com a Nem Boneca Nem Carrinho, de uma feira infantil.
Anna e Andrea participando, com a Nem Boneca Nem Carrinho, de uma feira infantil.
Anna Haddad - 6 fev 2017
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Anna Paula Durazzo, 35, formada em Publicidade e Propaganda na Universidade Metodista, e Andrea Tavares de Lima, 36, formada em Direito na PUC-SP, são amigas desde o colegial que fizeram juntas, em São Bernardo do Campo (SP). Mas só depois de muita história vivida, de filhos nascidos, e de decepções e impasses profissionais, que as duas resolveram se tornar sócias ao fundarem o Nem Boneca, Nem Carrinho. Como o nome faz supor, ali não há brinquedos tradicionais para os pequenos: trata-se de um site que faz a curadoria e vende presentes-experiências para crianças.

Há cerca de 20 presentes-experiências diferentes, que custam de 50 a 300 reais e incluem quase sempre passeios ao ar livre: oficinas, aulas, parkour, kart, experiências de aventura, teatro, cinema, entre outros. As experiências estão divididas em por idade (até 3 anos, de 4 a 6, maiores de 7), e também é possível selecioná-las por faixa de preço (50 a 70 reais, 70 a 100 reais, acima de 100 reais).

“A gente cuida da embalagem, do texto, e fazemos a entrega, inclusive de um dia para o outro. A família recebe duas cartas: uma para a criança, bem lúdica, e outra com instruções para o adulto, sobre como funciona, como agendar o passeio etc”, conta Anna.

Desde a embalagem até a experiência em si, a proposta da Nem Boneca Nem Carrinho é aproximas pais e filhos, de preferência ao ar livre.

Desde a embalagem até a experiência em si, a proposta da Nem Boneca Nem Carrinho é aproximar pais e filhos, de preferência ao ar livre.

O negócio foi concebido em 2015 e é resultado de obstáculos e transformações na vida mais amplas e profundas, para além do aspecto profissional, das duas sócias. Antes de chegarem à decisão de empreender juntas, Andrea e Anna passaram por muitas dificuldades em outras realidades profissionais e foram dando passos, pequenos porém decisivos, em direção ao que seria o negócio atual.

Andrea, por exemplo, trabalhou quatro anos em escritórios de advocacia, até ter a primeira crise existencial. Foi quando resolveu fazer um intercâmbio no Canadá e conheceu o marido, um francês da Ilha da Córsega. Na volta, em 2006, “desistiu do mundo do Direito” e abriu uma empresa de importação de vinhos e alimentos provenientes da Córsega junto com o companheiro. “Quando comecei a empreender uma empresa familiar que comecei a mudar minha visão de mundo”, conta ela.

Nessa jornada de empreender, Andrea teve seus dois filhos e tempo passou a ser uma questão ainda mais relevante. “O trabalho sempre foi uma parte importante da minha vida, mas não era a coisa mais essencial a ponto de eu não ter outras, e eu via essa dificuldade nos advogados, no mundo corporativo. Por isso, me identifiquei muito com o tipo de trabalho do empreendedor, de mais autonomia, tempo e criatividade”, diz. Em 2013, resolveu vender a importadora e passou por mais um momento de questionamento: “Fiquei desesperada. Estava com 33 anos, dois filhos pequenos e há muito tempo longe do mercado. Foi um ano difícil em casa”.

Em paralelo, Anna viveu uma experiência com algumas semelhanças. Publicitária, sempre trabalhou com comunicação digital. Começou a carreira no e-commerce das Lojas Americanas e, em 2010, aos 30 anos, teve seu filho e passou a integrar a área digital da construtora Cyrella. Como acontece com muitas mulheres, ela sofreu para equilibrar as necessidades e desejos: “As coisas não estavam se encaixando. No primeiro ano, sentia que não estava sendo nem boa mãe nem boa profissional. E só foi piorando”.

Sobre os desafios de sustentar uma carreira no mundo corporativo sendo mãe, Anna relata a dificuldade de as empresas entenderem a jornada apertada das mulheres com filhos pequenos:

“Muitas empresas têm um discurso forte de que aceitam e apoiam mães, mas no dia a dia não é bem assim. Há uma discriminação velada”

Anna ficou três anos na mesma posição na Cyrella e demorou para tomar a decisão de pedir demissão. “Saí em 2013, quando já estava no limite. Quando você está no mundo corporativo, querem que você tenha uma doação que você não tem nem com você mesma, com seu filho ou sua família”, diz.

Disposta a tentar um novo modelo de trabalho e de vida, ela passou a integrar o time de uma startup que estruturava empresas do universo de moda. Trabalhou por home office durante um ano, mas ainda não estava feliz.

QUANDO DUAS DESILUSÕES FAZEM NASCER UM SONHO

Foi quando as amigas se reaproximaram. Ambas estavam um pouco perdidas entre as identidades de mãe, profissional e mulher. “Quinta de manhã eu fazia coaching e quinta à tarde encontrava a Andrea para cafés. A gente tinha afinidades de questões, o processo dela me ajudou muito”, diz Anna. Foi nesses cafés que a semente do negócio surgiu, a partir da vivência das duas com os filhos e com o universo infantil.

“A proposta do Nem Boneca Nem Carrinho nasceu da vontade de resgatar uma infância mais livre, de mais brincadeira e menos consumo. Hoje a gente vê muito excesso. Percebia isso no discurso do meu filho: quero muito isso, preciso muito daquilo. Acho essa ansiedade em ter muito perigosa para a formação das crianças”, afima Andrea.

O presente começa quando chega a encomenda, com o convite para a experiência (uma carta para a criança, outra para o adulto).

O presente começa quando chega a encomenda, com o convite para a experiência (uma carta para a criança, outra para o adulto).

A ideia da plataforma estava relativamente bem estruturada em junho de 2015, mas o medo freou um pouco a realização. Talvez por insegurança, Anna ainda tentou ainda uma “última aventura” no mundo corporativo: aceitou uma vaga na Telefónica, em junho daquele ano. Entrou, praticamente, para sair. Lá, ela diz, teve a certeza de que não era o que queria de sua vida e que não daria para conciliar esse tipo de carreira com a maternidade.

Nesta fase, Andrea começou a tocar o projeto sozinha. Juntas, elas investiram 5 mil reais (de economias próprias). Passaram um ano estruturando o conceito, buscando informações e explorando possibilidades. Criaram o site e começaram a se conectar com parceiros. Nessa hora, se depararam com novas verdades, como ela conta:

“Vários dos tabus foram se quebrando à medida em que fomos fazendo o negócio acontecer. É muito importante sair do mundo das ideias e dos “e se” e ir para a ação”

Em janeiro de 2016, finalmente a plataforma estava no ar. Elas falam sobre a proposta conceitual do business: oferecer um novo olhar para o presente, tirar o foco da compra e resgatar outras formas de a criança se divertir, que não precisam estar relacionadas necessariamente com um brinquedo.

“Nossa preocupação em trazer passeios ao ar livre, por exemplo, vem da realidade das cidades, com muita televisão e videogame. Queremos incentivar o brincar mais livre e a importância da vivência, de compartilhar momentos com amigos e família”, conta Andrea.

O diferencial está, além do conceito, no cuidado em selecionar quais as experiências, oficinas e workshops estarão no cardápio do site. As sócias dizem que escolhem a partir de indicações e também de pesquisas. “Fazemos uma pré seleção, visitamos os lugares e os parceiros, contamos da nossa proposta. Também, negociamos um desconto com o parceiro para trabalhar uma margem e manter o valor acessível. Esse é nosso modelo de sustentação”, conta Anna.

Todos os programas acontecem, ainda, apenas na capital paulista e na Grande São Paulo. “Queremos começar a expandir para outros lugares no ano que vem”, diz Andrea.

DIFICULDADES DE COMUNICAÇÃO, DESAFIOS DE GESTÃO

As sócias contam que o maior desafio do primeiro ano foi entender o que as pessoas precisavam e queriam, além de quebrar mitos ligados a preço, relevância e importância do negócio. O começo foi sofrido, elas dizem, e as vitórias vieram somente aos poucos. “No Dia dos Pais de 2016 oferecemos uma oficina de marcenaria entre pais e filhos que foi um sucesso. Ali, finalmente, as pessoas entenderam a nossa proposta. Foi um alívio”, conta Andrea.

Andrea e Anna foram selecionadas, ainda em 2015, pelo programa do Google para mães e pais que empreendem, o Campus for Moms. De 201 inscritos, apenas 16 foram selecionados para receber as seis semanas de mentoria. “Foi muito rico para nós, tivemos muitos feedbacks importantes”, afirma Anna. Ainda assim, hoje em dia, na realidade cotidiana, cuidar dos vários recortes do negócio é o maior problema para as empreendedoras, como ela conta:

“A gente ainda faz tudo: corta as caixas, carimba, fala com os clientes. Precisamos delegar e automatizar algumas funções para ganhar tempo para outras”

Como mãe, mulheres ou empreendedoras, o desafio segue sendo entender como crescer e sustentar uma jornada de vida saudável usando melhor o próprio tempo. Quem sabe, fazer do aprendizado permanente e cotidiano de coordenar isso tudo, também, um presente-experiência. Para elas. E não só para Anna e Andrea, mas para qualquer pessoa.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Nem Boneca, Nem Carrinho
  • O que faz: Curadoria e venda online de "presentes-experiência" para crianças
  • Sócio(s): Andréa Tavares de Lima e Anna Paula Durazzo
  • Funcionários: 2 (as sócias)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: janeiro de 2016
  • Investimento inicial: R$ 5.000
  • Faturamento: R$ 20.000 (em 2016)
  • Contato: [email protected] e (11) 98318-9740
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