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Nestlé aposta em plataforma de inovação que pretende ajudar a resolver problemas da alimentação do futuro

Maisa Infante - 30 set 2022
Renate Giometti, Head de Inovação aberta e novos negócios da Nestlé.
Maisa Infante - 30 set 2022
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Inovação com colaboração. Esta foi a chave que a Nestlé encontrou para tentar resolver desafios cada vez mais urgentes, como a alimentação do mundo no futuro, por exemplo. Neste caso, a empresa tem metas ambiciosas: usar 30% das principais matérias-primas por meio de práticas regenerativas, reciclando todo o plástico colocado no mercado brasileiro, conservando 300 mil hectares na Amazônia, gerando renda, e promovendo educação para 4 mil pessoas até 2025.

Não é pouca coisa e para encontrar soluções são necessárias muitas cabeças pensantes. Assim a companhia lançou o Panela Nestlé, uma plataforma de inovação aberta que uniu os diversos programas que já estavam espalhados pela empresa sob um único propósito: co-criar o ecossistema alimentar regenerativo do futuro.

“Foi-se o tempo em que a gente conseguia desenhar o ecossistema alimentar regenerativo do futuro sozinho. O hub é um convite para que isso seja feito dentro de uma grande panela, com vários stakeholders pensando a cadeia de alimentos com essa ótica mais ampla”, diz Renate Giometti, Head de Inovação aberta e novos negócios da Nestlé. 

“A palavra regenerativa entra com muito peso porque estamos no setor de alimentos e temos o desafio de entregar produtos com a mesma qualidade, mas levando e acelerando a agenda da economia verde e da regeneração”.

Para realizar esta missão, o Panela reúne startups, fornecedores, colaboradores e também as universidades e a comunidade científica. Para instigar cada um deles, são criados desafios que buscam solucionar problemas que envolvem o negócio e estejam alinhados com a estratégia da companhia.

Em 2022, com o trabalho híbrido ganhando força, a empresa inaugurou o Panela House, o espaço físico desse hub de inovação, aberto para que startups, empreendedores e estudantes possam usufruir, trabalhar e, claro, criar conexões.

“Acreditamos muito nesse apoio ao ecossistema de ambas as partes. É óbvio que eles ganham podendo aproveitar este espaço, mas nós também ganhamos em tê-los aqui. No fundo é uma agenda ganha/ganha, onde a gente acaba trocando e recebendo. Não é só um lugar físico”.

No Brasil há mais de 100 anos, a Nestlé tem 30 mil colaboradores no país, 20 unidades industriais e um portfólio com marcas conhecidas pela maioria dos brasileiros, como Nescau, Neston, Nescafé, entre outras.

A VEZ DAS STARTUPS

O programa do Panela com startups é uma evolução do que já acontece na Nestlé desde 2016, quando a companhia começou a se aproximar deste universo mais ágil e tecnológico. 

Por ano, são lançados dois desafios. As startups se inscrevem e passam por um processo de seleção que escolhe aquelas que terão a oportunidade de desenvolver um piloto remunerado, com duração entre 4 e 6 meses. Depois, executivos da companhia são apresentados a esses projetos e seus resultados para decidir se haverá sequência ao negócio.

O primeiro Batch de 2022, lançado no primeiro semestre e ainda em andamento, propôs desafios como Atualização de dados pessoais inteligentes, Inteligência artificial para triagem de CV e Impressão digital para personalização de Kitkat Chocolatory. O segundo, que deve ser lançado em breve, será totalmente focado em ESG e deve levar em conta, principalmente, os desafios da cadeia do cacau, uma das mais importantes do negócio, junto com leite e café. 

“O Panela vem sendo uma grande ferramenta para a organização porque, quando o tema é ESG, precisamos ainda mais de co-criação com o ecossistema. Sabemos que são desafios extremamente complexos que não serão resolvidos apenas internamente. É preciso olhar para fora e buscar”.

Desde que o Panela foi consolidado, já se relacionou com mais de 1800 startups, desenvolveu pilotos com 150 delas e aprovou 50 projetos que puderam passar para uma fase de maior escala.

BIOGÁS E GÁS NATURAL

Um dos projetos aprovados, que está rodando de forma ainda pequena, porém além do piloto e em busca de escala, é uma parceria com a startup gaúcha Luming, que trabalha com produção de biogás e gás natural. O negócio foi um dos selecionados na onda de 2021, que tinha como um dos desafios a redução da emissão de gases de efeito estufa na cadeia de alimentos.  O projeto em teste produz bioenergia a partir de resíduos como lodo, borra de café e efluentes líquidos gerados no processo produtivo de 3 plantas da Nestlé.  

“Passamos por um piloto de 6 meses que comprovou uma série de métricas, como o quanto de resíduos conseguimos reaproveitar, quanta energia é possível produzir e o que é possível fazer com essa energia. Agora, precisamos construir um biodigestor para que, de fato, isso fique dentro da empresa. Então, estamos no momento de aprovação da construção desse biodigestor”, diz Renate. 

COMO ENVOLVER FORNECEDORES NAS SOLUÇÕES

Nenhum negócio se faz sozinho e um dos grandes desafios da indústria é envolver fornecedores e parceiros nas causas que são abraçadas. Para isso, a Nestlé criou o programa Innovation Challenge, que traz os parceiros para desenhar soluções em conjunto. 

“Como a maior empresa de alimentos do Brasil e do mundo, nos relacionamos com parceiros muito fortes nas mais diversas agendas. Por isso faz muito sentido nos sentarmos em uma mesa para co-criar soluções, já que muitas destas empresas estão com as mesmas dificuldades”.

A cada ano um desafio é escolhido para ser trabalhado. Em 2021, o tema foi a agenda de carbono neutro. Entre diversos fornecedores da cadeia, incluindo de ingredientes e de transporte, foram 11 parceiros como 3M, Cargill, Copersucar, Klabin e DHL, o que resultou em 5 projetos piloto. 

O PAPEL DOS COLABORADORES

Um elo importante na cadeia de inovação aberta da Nestlé é o intraempreendedorismo. 

“Os colaboradores que respiram a empresa estão vendo os problemas. Muitas vezes eles têm ideias e precisam ter um lugar para dar vazão a isso e colaborar”. 

No dia a dia, as áreas possuem uma pessoa responsável por mapear desafios que podem ser solucionados a partir da inovação, assim como levar conteúdos de inovação e capacitação para aquela área onde ele está. Esses líderes recebem treinamentos mais intensos e têm um contato mais próximo com a equipe do Panela, sempre com o intuito de descentralizar a inovação. 

“O Panela orquestra, mas estas pessoas trabalham com o cascateamento de metodologias e conhecimento no que tange a inovação aberta dentro da organização. E isso é extremamente importante e poderoso para que a inovação possa acontecer cada vez mais de forma independente e descentralizada. Quanto mais o colaborador puder beber desse mindset de inovação, vamos conseguir ter uma agenda mais e mais acelerada”, explica Renate. 

Um dos projetos que está rodando nas ruas e foi criado por um colaborador é o Nestlé Retorna, que vende Aveia, Nescau e Neston em embalagens retornáveis e com gramaturas variadas. A operação do projeto é feita pela startup Nutriens, que comercializa cestas de produtos orgânicos por meio da venda direta (como acontece com revendedores de cosméticos, por exemplo), sendo que esses vendedores são moradores das periferias. 

Os produtos da Nestlé entram nas cestas ou podem ser comprados separadamente. O consumidor faz o pedido, que é entregue pela startup em uma embalagem retornável de inox com vedação em silicone. Depois, o consumidor pode agendar a retirada da lata ou a reposição do produto.

O desafio de implementar o Nestlé Retorna é bem grande porque envolve um ponto crucial na indústria de alimentos: a segurança alimentar. Para transportar os produtos fora das embalagens tradicionais, que saem da fábrica, foram necessários diversos estudos. A lata usada atualmente é importada da China, mas a ideia é produzi-la localmente. 

“O Nestlé Retorna está atacando duas pautas de ESG: o meio ambiente, porque o grande objetivo, se escalável, é retirar o máximo de embalagens que são de uso único, e o S de social, porque a gente está acelerando junto com a Nutriens a questão dos revendedores”. 

NEGÓCIOS SOCIAIS

Também com o apoio do Panela, a Nestlé quer entrar no segmento de Negócios Sociais. A primeira iniciativa do tipo foi o lançamento de duas barrinhas de cereais em parceria com a ONG Gerando Falcões, primeiro produto social lançado pela Nestlé globalmente. Todo o lucro gerado com as vendas é revertido para o projeto Favela 3D – Digna, Digital e Desenvolvida, que busca reestruturar as favelas para promover uma transformação completa, focada na melhoria da qualidade de vida de seus moradores. 

Para o desafio de criação do produto social, Nestlé e Gerando Falcões convidaram colaboradores da companhia e líderes da favela para pensarem juntos. Foram mais de 60 pessoas envolvidas e mais de 40 ideias apresentadas, até chegar a 12 conceitos finais que resultaram na barrinha de cereais. A partir daí, o time de Nutrição da Nestlé, junto com equipes de Inovação e Transformação Digital, cuidou do desenvolvimento nutricional e da embalagem, cuja arte foi idealizada por 5 jovens talentos da Gerando Falcões. 

“Estamos aprendendo como é entrar nesse segmento. A ideia é criar, de fato, um business que ajude aquele parceiro, trazendo o consumidor para junto dessa agenda. E a Nestlé só entra com a sua expertise, que é produzir produto. 100% do lucro é destinado para aquela causa. Essa é uma avenida que, via Panela, acreditamos evoluir para os próximos anos”.

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