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Nina Silva, do Movimento Black Money: “Não basta incluir trainees negros na empresa, é preciso enegrecer a lista de fornecedores”

Marina Audi - 20 jul 2021
Nina Silva, cofundadora e CEO do Movimento Black Money.
Marina Audi - 20 jul 2021
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O autodidatismo, forte em sua família, inspirou Nina Silva a almejar e construir uma carreira em tecnologia e a superar o abismo imposto pelo racismo estrutural. Com força, personalidade e talento, ela pôde se insurgir e afirmar sua identidade como mulher negra bem-sucedida e uma voz que se faz ouvir em vários ambientes. 

Nina, 39, é cofundadora e CEO do Movimento Black Money (MBM), um hub de inovação para inserção e autonomia da comunidade negra na era digital, e da fintech D’Black Bank, que oferece serviços financeiros para consumidores e empreendedores negros.

Desde 2017, o MBM ajuda a transformar a realidade dos afroempreendedores brasileiros disseminando e criando ações e negócios sob o conceito de black money — capital que circula entre os descendentes africanos espalhados pelo mundo. A ideia-base de Nina e de Alan Soares, cofundador, é utilizar o poder de compra dos afrodescendentes para fomentar e investir na própria comunidade.

Os afrodescendentes são 56% da população brasileira, 53% dos micros e pequenos empreendedores, 75% dos 10% mais pobres e 67% dos desempregados. Apesar de terem o crédito três vezes mais negado nas instituições bancárias tradicionais, segundo levantamento da Small Business Administration, os negros no Brasil movimentam uma renda própria de cerca 1,9 trilhão de reais por ano.

Nina também põe sua expertise à disposição de empresas interessadas em dialogar sobre equidade racial e enegrecimento da cadeia de suprimentos, instituições de ensino e iniciativas como o Elas que Lucrem, da qual é presidente do conselho administrativo e que visa democratizar o mercado financeiro para mulheres.  

A seguir, Nina fala ao Draft sobre sua jornada pessoal e profissional.

 

Onde você nasceu e cresceu? E como é a sua família?
Sou filha de seu Antônio Carlos e dona Marize. Ele, soteropolitano, foi muito cedo com a mãe de Salvador para o Rio de Janeiro. Minha mãe é de São Francisco de Itabapoana, interior do estado do Rio, na divisa com o Espírito Santo, uma região reconhecida como território quilombola. 

O interessante de minha família é que, mesmo sendo extensa, pela quantidade de irmãos de meu pai e de minha mãe, quantidade de primas, nosso núcleo familiar é menor. Somos apenas eu e minha irmã – seis anos mais velha que eu e a primeira pessoa da família a entrar em uma faculdade, a quebrar o ciclo da geração da minha mãe de mulheres domésticas.

Nasci no Jardim Catarina [em São Gonçalo-RJ], na época a maior favela plana da América Latina. Meu ambiente escolar e todos os espaços fora do meu seio familiar eram espaços brancos, mesmo não sendo de pessoas com poder aquisitivo alto. Isso sempre foi muito marcado

O não-lugar sempre foi muito real. Não foi somente quando adentrei o mercado de trabalho e não vi pares negros. Foi desde a infância. As escolas em que estudei, como bolsista, não eram as melhores… Eu brinco que é a escola onde o branco pobre estuda, sabe? E era um lugar onde sempre houve a separação muito explícita, mesmo eu sendo uma criança com altos índices de desempenho em todas as disciplinas e em tudo que me dispusesse a fazer. 

Esse não-lugar não era uma discussão dentro de casa, porque na minha família todas as pessoas são pretas e a gente não tinha esse diálogo de questão racial. 

Mas havia as relações intrínsecas: não correr na rua, não poder estar à noite em determinados lugares, onde os coleguinhas podiam ir — por eu ser uma criança negra. Além, lógico, das manifestações sociais desde sempre presentes e verbalizadas. 

Acho meus pais muito fenomenais… Tenho exemplos na minha família que são de esforços sobre-humanos. Minha mãe tem até a quarta série do antigo ginásio [equivalente ao quinto ano do Ensino Fundamental] e colocou duas filhas na faculdade. Para mim isso é um ato heroico!

Meu pai viveu a vida toda de bico. Depois dos 50 anos, virou funcionário público e chegou a técnico legislativo da mesa diretora da Alerj [Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro]. Saiu quase de um estado de classe E para chegar numa classe A-B. Isso também é heroico. 

Você própria foi autodidata em tecnologia, certo? Pode falar sobre essa jornada?
Meu sonho era fazer direito [ela chegou a passar no vestibular] e abri mão para fazer administração, porque seria mais fácil arranjar um estágio e um emprego mais bem remunerado, trazer uma renda adicional para casa. 

Trabalhar de dia e estudar de noite: foi o que fiz desde o primeiro período da faculdade. Eu estava de olho no programa de trainees da Ernst & Young [em 2002], na época achava que ganharia mais como auditora. Eu já tinha passado, então disse: “Ou vocês me efetivam, ou vou embora”. 

Eles disseram que tinham uma oportunidade em uma implementação de sistema [na B.Braun]. Eu não tinha a mínima ideia do que era sistema. Procurei na faculdade a cadeira de administração de sistemas e puxei-a para poder ter os conceitos básicos. 

Fiquei como usuária-chave do sistema na área de compras e logística, porque já tinha feito o job rotation, tinha um pouco de conhecimento de cada área. Vi que era um lugar, principalmente com o SAP, em que os rendimentos eram fora do normal. 

Na época não tinha fórum, então peguei o Help da SAP, eram 400 páginas, imprimi e, depois do horário [de expediente], eu ficava fazendo a parte da configuração do sistema nos ambientes de testes. Ali, fui aprendendo

Quando chegou a época do treinamento, o consultor percebeu que eu já estava com conhecimento e disse que eu iria treinar os usuários. Daí, fui efetivada pela terceirizada [CTT Integration Group] como consultora. 

Fiquei nessa empresa por mais um ano e vi que o mercado poderia me absorver — e que eu teria outros celeiros de desenvolvimento mais rápidos. 

Você tem 20 anos de experiência atuando em grandes corporações com TI. Em outras oportunidades já comentou que precisou lutar contra o preconceito. Teve também bons aprendizados, mentores generosos?
Junto com as experiências desagradáveis você tem pessoas que compartilham dores. Pessoas que estão ali te alimentando com motivação, estímulo, energia. 

Tive um gestor suíço, a gente implementava projetos internacionais. Ele ia fazer a venda, os clientes abriam o sorriso para aquele homem branco, louro, de olhos cor de piscina; eu ficava no backstage fazendo o preparo. Ali, saí de gerente júnior até chegar a gerente sênior. E as pessoas falavam que era porque ele tinha “relações pessoais” comigo… E não tinha. 

Ele era uma pessoa que não fechava portas: via o meu talento e o resultado que eu trazia para a empresa e o trabalho dele. Teve outras mulheres, brancas, que passavam por questões de gênero, mas que em alguns momentos não entendiam que as minhas questões eram um pouco mais complexas.

Hoje, recebo muitos feedbacks de pessoas que trabalharam comigo nas duas últimas décadas… Pessoas pedindo desculpas por omissão. Nenhuma falando diretamente que fez ou falou tal coisa… A maioria dizendo que se sentia mal porque ouvia outras pessoas falando que meu cabelo fedia, criticando minhas roupas, conjecturando coisas nesse âmbito pessoal — e não se manifestavam 

Meu questionamento é se essas pessoas estão com esse sentimento simplesmente porque hoje fala-se mais sobre essas questões. Ou se tem a ver com eu estar em uma matéria [na mídia], nas redes sociais… Deixo sempre essa reflexão. 

O racismo institucional não me dói. O racismo estrutural me dói pela quantidade de corpos pretos que são mortos, por tudo que minha sobrinha passa na escola — isso me dói.

Me move saber que, hoje, podemos instrumentalizar as nossas crianças pretas, instrumentalizar os empreendimentos negros a não dependerem de um sistema em que todo mundo quer a morte desses corpos ou da nossa existência psíquica. 

Essas situações serviram para [eu] criar uma crosta. Tem gente que fala que eu chego a ser gélida em determinadas questões, mas eu não normalizo nem normatizo. Eu entendo que são estruturas de poder — e, quando tratamos de espaços de poder, o escrúpulo não é determinante 

É preciso realmente estômago, muita calma e o entendimento de que estratégias e novas estruturas precisam ser montadas para que a gente não fique constrangido de falar de situações em ambientes de trabalho, nas escolas, em redes sociais. 

Em 2013, aos 31, você sofreu um Burnout. Você credita esse adoecimento ao volume de trabalho e ao estresse da dinâmica típica de projetos de TI? Ou a um sofrimento em relação à percepção de “não-lugar”?
Sim, havia um acúmulo do não se falar e não se tratar das questões [de racismo]. Havia também uma desconexão com o propósito do dia a dia do trabalho. 

À medida que subi de cargo, tinha mais gaps salariais em relação a meus pares. Quando vi que não conseguiria atingir remunerações que eram justas, virei pessoa jurídica. E é aquilo: a gente emite boleto – que é a melhor sensação do mundo (risos) –, mas quanto mais boletos você emite, mais trabalho você tem… 

Eu resumia minha vida ao profissional, porque não estava em um relacionamento afetivo. E tinha a pressão de não poder ficar doente, não poder reclamar… Porque era a época de melhor retorno financeiro da minha vida 

Eu tinha rendimentos melhores do que a renda de meus familiares somada. Parece que você não tem a possibilidade de dizer não àquela rotina. 

Após o Burnout, você foi para Nova York fazer uma imersão em literatura com uma professora da NYU. Você também já publicou um livro de poesia erótica (“InCorPoros – Nuances de Libido”, com Akins Kintê). Qual é o espaço da poesia e da literatura na sua vida?
Escrevo poesia e poesia erótica desde os 16, mas estava bem afastada disso. Quando fui para Nova York, me questionava por que havia escolhido tecnologia se essa nunca tinha sido minha opção de estudo ou de trabalho. Foi só o que era melhor, financeiramente. 

Sempre tive uma inclinação para literatura em um âmbito no qual nunca busquei remuneração. Sempre foi um lugar de acolhimento, de estudo, um processo de descoberta e de pertencimento. 

A minha escrita fala de corpos pretos serem da maneira que podem e devem ser… Da sua essência, individualidade. Para sair do lugar de objeto sexual a serviço da branquitude e se reconectar com o lugar do erotismo enquanto um corpo preto e seus saberes, sabores, sensações — sem a necessidade de estar ali objetificado, e, sim, sujeito das suas questões 

Quando fiz a imersão [na NYU], não trabalhei o erotismo; comecei um processo de estudar escritoras negras da América Latina, que seria a minha tese para o doutorado. Mas voltei a escrever poesia nessa época, também.

Voltar a escrever foi uma parte da cura do Burnout? 
Sim, sim! Pelo menos, era uma busca. Digo que não consigo lembrar do processo de cura, porque fiquei um mês chorando dentro do apartamento no Brooklin [em Nova York].

Eu brinco: “Nunca chore em dólar! Primeiro faça terapia, trate suas questões, depois vá viver uma experiência nova. Não leve o problema com você”. Mas eu levei, e tudo bem. Fiz coaching de carreira depois, abri um salão de beleza, quebrei…

Por que essa empreitada do salão de beleza negra não deu certo? E que lições você tirou disso?
Eu achava que, por ser formada em administração, poderia administrar qualquer coisa. Tinha gerenciado 60 homens brancos e não ia gerenciar um salão de beleza? Bullshit! O dia a dia do salão é uma outra realidade, não me fazia feliz.

Eu queria fazer procedimentos naturais em cabelos crespos e as pessoas chegavam lá querendo botar formol na cabeça. Eu queria fazer clube de literatura negra aos finais de semana, quando o salão enchia de homens querendo raspar careca… O salão “tinha” que oferecer tudo aquilo em que eu acreditava… Só que as pessoas não queriam. Simples assim! 

Eu não podia ser cliente de mim mesma. Seis meses depois, passei o ponto para a minha sócia e voltei para a área de tecnologia. Fiz um downgrade de carreira e busquei empresas onde pudesse dialogar sobre determinadas questões. 

Além da rotina [de trabalho] não ser a que eu conhecia, faltou planejamento. E havia a minha ideia de um “lugar de pertencimento”… Que eu estava procurando em espaços físicos, em vez de buscar uma plenitude interior. 

Em 2017, você e Alan Soares começaram o Movimento Black Money (MBM). Por quê?
O MBM veio para ocupar esse lugar que eu continuava a buscar. Nesses espaços [as empresas], os resultados sempre eram exorbitantes e a experiência que eu acumulava não ia transformar nem o lugar e nem as pessoas. Eles só transformavam e traziam acúmulo de riqueza para onde já existia. 

Então, o MBM vem a partir dessa dor – minha e do Alan, que também tinha uma dor muito próxima no mercado financeiro. E eu queria muito trabalhar com educação para levar mais pessoas para a área de tecnologia e trazer instrumentos tecnológicos, ferramentas digitais para negócios pretos 

Até hoje, somos os únicos investidores e isso é proposital. A gente não queria, e não quer, fatiar a empresa, principalmente, no âmbito de pensar negócios a partir do ecossistema de tecnologia. Sabemos que precisamos primeiro agregar valor e crescer para depois abrir capital. 

A gente deu um match desse meu olhar corporativo, de governança, de processos, de entender e melhorar a partir de ferramentas, com o olhar estratégico do Alan, de pensar comunicação, marketing e posicionamento de marca.

Como nasceu e quais são os pilares de atuação do MBM?
O MBM nasceu com o ensejo e desejo de ser um think tank, de trazer o letramento da identidade de união enquanto povo, o conceito de black money bem explicitado, de gerar conhecimento para a comunidade negra com conteúdos de marketing, vendas, finanças e tecnologia, nos quais o protagonismo é de pessoas negras. Então, comunicação é nosso primeiro pilar. 

O segundo é o pilar de serviços financeiros, fintech. Esse é o que batia mais forte e por onde queríamos começar. Só que não dava por “n questões”, principalmente funding. E foi melhor assim.

Quando a gente falava de Black Money, ninguém sabia o que era. Ficamos quatro anos explicando exaustivamente, até que hoje todo mundo fala e usa de maneira fluida. Esse entendimento é uma felicidade 

Começamos com o site do MBM e a formação da rede que impactam, hoje, 100 mil pessoas por semana. Em 2018, veio o Afreektech [braço de educação voltado à transformação digital], quando vimos oportunidades a partir de empresas de educação que se conectavam com a gente: “Nina, vem falar no meu evento, no meu curso…?”, “Ah, eu vou se você disponibilizar tantas vagas para a rede do MBM…”

Fomos fazendo essa inserção nos lugares onde eu continuava a estar, em especial ambientes de tecnologia. Aí sentimos a necessidade de também estar no palco, na lousa, ensinando e trazendo nossos próprios conteúdos educacionais — questões fundamentais para o afroempreendedor e afroempreendedora.

E como foi essa construção do pilar de serviços financeiros?
Em 2019, lançamos o D’Black Bank, esse banco de pretos para pretos. É o pensar serviços e produtos financeiros para população negra a partir da nossa vivência e autonomia no mercado. Começamos com a maquininha de cartão POS, a Pretinha, para entender a experiência e volumetria de transações de pessoas pretas em diferentes mercados. 

A gente ia expandir, só que antes lançamos o protótipo do Mercado Black Money [marketplace que conecta negócios negros e consumidores antirracistas]. Era uma experiência com 30 lojas, para levar a maquininha também para o digital, como gateway e meio de pagamento. 

Era março de 2020, nós ainda estávamos pensando em como fazer a jornada do afroempreendedor no mundo digital… E aí vem a pandemia. A gente disse: “Lascou! Temos 5 mil pessoas na nossa rede e estamos falando de 30 usuários apenas? Não! Abre a porteira e deixa todo mundo entrar.” 

Foi assim que nasceu o Mercado Black Money, como uma urgência e um território de respiro para parte da nossa rede que começou a vender online, no momento do isolamento físico quando a única porta aberta era o digital 

Hoje, temos mais de mil lojas na plataforma. Elas recebem todo o auxílio de onboarding, têm contato com todos os nossos cursos e pesquisas como a “Afroempreendedorismo Brasil” [lançada por MBM, Inventivos e RD Station]. 

A ideia é que, cada vez mais, o marketplace se una às outras iniciativas de finanças, como o cartão Credicard On MBM [para apoio ao antirracismo e inclusão racial, além de anuidade zero e benefícios da rede VISA], que acabamos de lançar, para que as pessoas possam comprar mais e tenham intencionalidade de compra no marketplace e retorno sobre essa compra com cashback.

Revertemos 0,1% do que é transacionado no cartão para melhorias na plataforma do marketplace e desenvolvimento de conteúdo online para afroempreendedores da rede. A ferramenta ainda vai crescer muito e ter novas funcionalidades. O Mercado Black Money é a iniciativa que possui mais esforço de nosso time, no momento.

Você mencionou a pesquisa “Afroempreendedorismo Brasil”, divulgada neste mês e que mapeou a situação de empreendedoras e empreendedores negros. Algum resultado desse levantamento surpreendeu você?
Nada! A gente teve um auxílio emergencial no ano passado, no início da pandemia – o Impactando Vidas Pretas, pelo qual captamos 750 mil reais (250 mil por crowdfunding e 500 mil da B3 via matchfunding) e auxiliamos 400 famílias negras. 

Rodamos [na época] um formulário de inscrição, e perguntamos: qual era a receita antes da pandemia e qual era a receita agora, quantos filhos tem, em qual área atua…. O espelho da pesquisa hoje é quase uma continuidade do que a gente já viu lá atrás. No primeiro mês da pandemia, 85% da nossa base tinha conseguido vender apenas 1 000 reais. Ficamos desesperados. 

A questão [apontada na pesquisa] do afroempreendedorismo ser, em sua maioria, feminino: 70% da nossa base é feminina. São as mulheres negras que realmente estão empreendendo. E essa solidão não é sobre afetividade, é sobre genocídio da polulação [negra]. Porque o homem negro está em trabalhos operacionais, ou encontra-se alcoolizado, encarcerado, morto… 

A questão de que só 15% [dos afroempreendedores] têm uma renda familiar somada acima de seis salários mínimos… Sendo que, com certeza, são mais de quatro pessoas dentro de casa! Em outros casos, a renda é [ainda] menor, dois ou três salários mínimos. E se não existisse Bolsa Família, nem isso seria.

A importância desse estudo é corroborar com outras pesquisas e atualizar a realidade de negócios pretos no momento pandêmico para busca de alternativas emergenciais e de longo prazo para suporte à rede.

Nos ajuda na captação para continuidade do programa de renda básica emergencial Impactando Vidas Pretas, que não recebeu doações em 2021 — mas que continua aberto para apoio à sustentabilidade desses negócios. 

Segundo a pesquisa, quase 90% dos negócios negros só operam no B2C. Isso chama atenção, uma vez que a maioria das startups busca o B2B porque dá mais dinheiro. Como fomentar mais negócios negros no B2B?
O incremento tecnológico e a possibilidade da instrumentalização são fundamentais para que eles possam começar a pensar na possibilidade de negócios no B2B. Trabalhamos isso também. 

Não basta só falar de inclusão de trainee negro, liderança negra, porque CEO em uma empresa é um só! E, no final do dia, muitas vezes vai ser um herdeiro que vai ocupar [a posição]. A gente tem que parar de se enganar: CFO é um, CMO é um. Se eu for falar de cargos de diretoria, são pouquíssimos para uma empresa gigante. 

Não é só com a inclusão no quadro colaborativo que vamos criar um impacto estrutural para mudar a realidade da população negra. Precisa ser feito? Sim, é um trabalho paralelo. Mas posso trabalhar no B2B para que tenham compromisso de enegrecer seu supply chain, que é onde vai o dinheiro grosso e onde estamos falando de meios de produção e sistemas de poder

Temos programas com empresas que fazem parte do Black Vagas [vitrine profissional da comunidade e empreendedores negros, lançada em 2020], para trabalhar o enegrecimento da cadeia de suprimentos. 

Trabalhamos com formação para que empreendedores [negros] possam entrar em rodadas de negócios com a P&G. Damos mentoria para clientes da Makro – donos de restaurantes, padarias – para se conectarem com outras empresas. Pegamos voluntários da Tiffany para trazer conhecimento do mercado de luxo para esses afroempreendedores chegarem numa população que tem outro poder aquisitivo. 

Estamos mirando, sim, nos lugares onde falamos de capital, de dinheiro e de poder — para que a gente possa falar de humanidade, liberdade e autonomia, que movem a nossa sociedade. Se eu não falar com quem tem a bola [o poder], nunca vou fazer com que meu povo seja, um dia, o “dono da bola”.

 

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