Sempre tive o sonho de estudar em uma universidade federal. E mais que isso: esse sonho se tornou uma necessidade diante dos altos e baixos da vida financeira dos meus pais.
Durante a maior parte da vida, eles tiveram pequenas empresas, o que não é uma tarefa fácil no Brasil e não traz nenhuma estabilidade financeira.
Mesmo assim, eles fizeram de tudo para que eu e minha irmã pudéssemos estudar em boas escolas. Foram até bastante criticados por isso. Mas meu pai, Antônio, e minha mãe, Michaela, acreditavam que a educação era o que podiam dar de mais valioso para as suas filhas.
Quando chegou a hora de prestar vestibular não passei na minha primeira opção de universidade, mas passei na segunda, que era a Universidade Federal de Ouro Preto, o que envolvia sair de casa e ter que me mudar de cidade.
No início foi assustador sair da casa dos meus pais, dividir um novo espaço com oito mulheres que eu não conhecia e ainda ter que enfrentar as novas responsabilidades da vida universitária. Mal sabia eu que viveria os melhores anos da minha vida!
Desde o início da minha trajetória escolar, minhas matérias preferidas eram da área de exatas. No ensino médio, eu já tinha certeza de que queria cursar Engenharia, pois além de gostar muito das ciências exatas, eu sou muito prática, e gosto da aplicação delas.
Mas qual escolher, dentre tantas que são ofertadas pelas universidades? Ao pesquisar, minha vontade de fazer algo positivo pelo planeta falou mais alto, me fazendo escolher a Engenharia Ambiental, um curso muito interdisciplinar, que impacta não só o meio ambiente, mas toda a sociedade.
Estudar engenharia em uma universidade federal não foi fácil. Aos poucos, eu descobri que o mais difícil não era passar no vestibular, como imaginava. Pelo contrário, essa era a parte mais fácil!
Ao longo do curso, enfrentei algumas dificuldades, como o ritmo muito diferente do da escola, a falta de base e alguns professores muito exigentes.
Eu nunca fui um gênio e não era a melhor da turma, mas sempre fui muito esforçada e batalhei bastante para conseguir me nivelar ao grau de ensino oferecido pela UFOP e tirar boas notas.
Participei de monitorias, grupos de estudo, fazia muitas listas de exercícios e sempre que necessário tirava dúvidas nas salas dos professores.
Durante a graduação, também participei de diversos projetos de extensão, nos quais sempre gostei muito de me envolver, e fiz iniciação cientifica, o que me trouxe o primeiro contato com a pesquisa cientifica
Foi ali, aliás, que percebi que queria fazer um mestrado.
Depois da minha formatura, tentei um processo seletivo de mestrado, mas não passei. Fiquei muito chateada, achando que aquilo não era para mim e acabei indo trabalhar como Customer Success em uma empresa.
Fui promovida para o setor administrativo, mas não estava me encontrando por lá. Então sai e decidi ir para Nova York, com a minha rescisão e economias, para estudar inglês.
Conhecer Nova York era o meu sonho desde criança. Eu a idealizava como a cidade perfeita, ou seja, as chances de me frustrar ao chegar lá e descobrir que não era tudo isso eram grandes! Mas foi o contrário. Me encantei tanto que estendi minha estadia de um para cinco meses.
Nova York é tão surpreendente que me inspirou onde eu menos esperava: na preservação ambiental. Depois de ver muitas pessoas tomando água diretamente da torneira, fui pesquisar sobre a água de lá, e descobri que a cidade é a metrópole com a água mais pura do planeta!
O governo estava inclusive prestes a investir bilhões de dólares na construção de estações de tratamento de água, quando a poluição estava ameaçando chegar aos mananciais. Mas mudou a estratégia, investindo na conservação através de parcerias com fazendeiros e controle da poluição.
Isso economizou cerca de 8 bilhões de dólares para a cidade, além de proporcionar uma água de altíssima qualidade aos habitantes.
Ao retornar para o Brasil, fiquei instigada e comecei a fazer alguns cursos com temáticas ambientais e de engenharia, participei de workshops, palestras — tudo que pudesse melhorar o meu currículo nesta área. E decidi prestar outro processo seletivo de mestrado. Desta vez, eu passei!
Quando começou o meu mestrado em Engenharia de Materiais, conversei com um professor que eu já conhecia e admirava muito, o Rodrigo Bianchi, e para minha alegria, ele topou ser o meu orientador.
Como eu queria ter um foco ambiental, junto com a engenharia de materiais, surgiu a ideia, durante uma conversa com o professor Doutor em Imunologia André Talvani, de estudar sobre os efeitos da radiação na água
Eu queria fazer algo que realmente pudesse mudar a vida das pessoas. Sabendo sobre a situação de 35 milhões de brasileiros, que não têm acesso a água potável (Ranking de Saneamento do Trata Brasil) e das cerca de 1,5 milhão de pessoas que morrem por diarreia ao ano em todo mundo (Organização Mundial da Saúde), tive a ideia de desenvolver a AquaLux.
Trata-se de uma garrafa que usa um dos pilares estudados no meu mestrado — a radiação azul na água — para eliminar agentes patogênicos, além de contar com um filtro carregado a luz solar, que auxilia o processo, e mantém a água fresca e adequada para o consumo humano, sem alterar suas outras propriedades físico químicas.
Contei com a ajuda de alguns professores, como o Rodrigo Bianchi, André Talvani e Maria Célia, para idealizar e estudar o projeto e, durante a disciplina de Empreendedorismo e Inovação, fui estimulada pelo professor André Luís a participar do Red Bull Basement, com meu projeto.
Quando chegou o resultado, eu nem acreditei que tinha sido a finalista nacional, classificada entre as 43 melhores ideias das 4 041 participantes de diferentes países submetidas ao desafio
Fiquei extremamente feliz e honrada por ter sido a escolhida dentre tantas propostas sensacionais enviadas do Brasil. E agora, almejo trazer o prêmio mundial para o nosso país. A final acontece agora em março!
Tenho planos de começar a fabricação das garrafas o mais rápido possível, de forma acessível, para que cheguem até a população mais necessitada e possam ajudar a reduzir o alto índice mundial de mortes caudadas por doenças diarreicas e ajudar na democratização do acesso à água de qualidade.
Além disso, a ideia é comercializá-las para facilitar e melhorar a vida de outras pessoas, como os campistas e esportistas.
Hoje, o projeto está com muita visibilidade, mas infelizmente a ciência no Brasil não é tão valorizada.
Faltam recursos, equipamentos e reconhecimento aos cientistas. Apesar de não ser fácil, existem muitas pessoas dispostas a fazer acontecer.
Espero que minha história possa incentivar outras meninas e mulheres que desejam se tornar cientistas a seguirem seus sonhos!
Pois mesmo com todas as dificuldades, não há nada mais gratificante do que ver os resultados de uma pesquisa dando certo, ou ver nossas ideias saindo do papel.
Lembrando que você não precisa ser a pessoa mais inteligente do mundo para fazer coisas grandiosas. Você precisa acreditar em si mesma e se esforçar até alcançar o que deseja!
Bárbara Gosziniak, 28, é engenheira ambiental, formada pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atualmente é estudante de mestrado em Engenharia de Materiais da REDMAT.
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