Eu poderia reproduzir aqui resultados e informações das mais variadas pesquisas sobre como o mundo e a economia perdem com a desigualdade de gênero. Ou trazer dados de empresas e países que atuam com bons números de igualdade de gênero — e como isso gera impactos positivos sociais e econômicos.
Só que já estamos cansados de saber de tudo isso. E mesmo assim, nada muda — ou, no máximo, muda muito pouco. Por quê?
Este é o ponto que quero tratar com você.
A sociedade vive sob um sistema de regras de comportamento e valores. Pode parecer natural, pois estamos acostumados a ele, mas esse conjunto de condutas é construído e reforçado ao longo do tempo pelas instituições sociais — Estado, religião, mídia, família, empresas, entre outros.
O sistema vigente há aproximadamente cinco mil anos é o chamado patriarcado.
Antes de prosseguirmos: por favor, cara leitora ou caro leitor, não julgue apressadamente o meu texto com base em preconceitos em torno da palavra “patriarcado”. Não vou pregar a falsa “ideologia de gênero”.
Pelo contrário, quero falar com você de negócios. Negócios que precisam de uma mudança drástica e urgente.
Voltando ao tema: a maior expressão do patriarcado é o machismo. E, assim como o racismo, o machismo não é apenas cultural. É também estrutural e institucional (sobre isso, vai aqui uma dica de vídeo).
E, assim como o racismo, o machismo que tem na violência — física, emocional e simbólica — a sua maior expressão.
VIOLÊNCIA? MAS O QUE A VIOLÊNCIA TEM A VER COM NEGÓCIOS?
Você sabia que a violência é uma tecnologia? Um conjunto de técnicas e sistemas que usamos para solucionar uma demanda.
Na nossa sociedade, usamos essa tecnologia como ferramenta para “resolver” problemas, sejam eles sociais, econômicos ou o que for.
Violência não é só o tapa ou o grito. É também o abuso de poder, a interrupção da fala numa reunião, o descrédito de um trabalho atrelado ao gênero de quem o realizou. Violência é a piadinha sem graça, a promoção descabida, a falta de trato e acolhimento de questões importantes. É o privilégio da impunidade
Violência é a desigualdade social, racial e de gênero que vivemos, em uma sociedade doente — física, mental e emocionalmente. Violência é o preconceito dentro de nós, que corroi comunidades, economias e nações inteiras.
O que os economistas não veem é que, nessa desigualdade, perdemos não apenas vidas e saúde. Perdemos também negócios e dinheiro.
A conta social e financeira não fecha.
COMO INCLUIR MAIS MULHERES EM DIRETORIAS E CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO
A desigualdade de gênero é um dos pilares da crise atual.
Vivemos num planeta onde metade da população mundial é de mulheres — e a outra metade é formada por seus filhos, netos, afilhados etc.
E o que nós, homens, estamos fazendo sobre o machismo? Muito pouco!
Mas calma: este texto não é uma declaração de guerra aos homens — mesmo porque, óbvio, eu também sou um. Antes, é um chamamento aos homens. Um chamado para assumirmos a nossa responsabilidade neste tema.
Numa sociedade em que os homens fazem parte do problema, eles fazem parte da solução. O que estou propondo não é combater o homem, e sim que enfrentemos o machismo — inclusive no ambiente corporativo
Por isso digo e repito: qualquer programa de equidade de gênero dentro de uma empresa que só dialogar com mulheres estará fadado ao fracasso. Pois os homens são peças-chave nesta questão.
Vejo empresas com planos ambiciosos de até 2030 terem a metade do quadro de diretores, conselheiros e sócios formada por mulheres.
Mas aí eu pergunto: a que custo?! Espremendo as mulheres a trabalharem 50 horas semanalmente — e ainda terem que lidar com os cuidados diários com a casa e os filhos?
As mulheres só ocuparão os Conselhos de Administração de forma digna e saudável se nós, homens, ocuparmos as nossas responsabilidades dentro de casa também.
E você, CEO, diretor executivo, líder empresarial: você está disposto a isto?
MUDAR A MENTALIDADE NÃO BASTA. É PRECISO TRANSFORMAR A ESTRUTURA
Nada disso vai acontecer da noite para o dia.
Muito menos com ataques, acusações, perseguições… A mudança só virá com educação. Com ações de formação, desde a base até os líderes empresariais.
Precisamos de ações que trabalhem com temas como vieses inconscientes, acolhimento no ambiente de trabalho, oficinas e workshops sobre inteligência emocional e comunicação não-violenta, licenças-paternidades estendidas, licenças parentais, reformulação de guias de conduta ética…
Nos últimos quatro anos, tenho trabalhado pela 4daddy fortemente dentro de algumas empresas que buscam mudar não apenas seus “mindsets”, mas a própria estrutura machista em que essa companhias foram moldadas.
E isso exige três coisas básicas: pesquisa (sem entender o problema, qualquer remédio é ineficiente e caro) + budget (sem dinheiro não se faz nada, né?) + um plano de ação (para sairmos da forma “recreativa” com que trabalhamos esse tema e avançarmos para a ação prática, com resultados e indicadores).
Planos de carreira, cartas compromissos, programa de contratação exclusiva por gênero e raça… Tudo isso são apenas um primeiro passo. Precisamos de outros mais.
Precisamos de programas de formação de líderes, de reformulações de normas de condutas internas, treinamentos de RHs, treinamentos para promoções, oficinas sobre gênero… Precisamos de conhecimento e educação.
Esse é um tema que não tem mais volta. O mercado, os clientes, os consumidores estão exigindo isso, e aí eu te pergunto: A sua empresa está preparada?
Leandro Ziotto é pai afetivo do Vini, empreendedor social e fundador da 4daddy, uma plataforma de produção de conteúdo e conhecimento sobre Parentalidades, Masculinidades e Economia do Cuidado.
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