No varejo, falar de resíduos sólidos é falar, também, de embalagem, item presente em todos os produtos e gerador de uma responsabilidade compartilhada entre quem produz – e precisa pensar na matéria-prima utilizada – e quem consome, que fica responsável pelo descarte.
É uma cadeia complexa porque o descarte correto só acontece quando a embalagem é reciclável. Essa reciclabilidade é um dos desafios que estão na mira do Grupo Boticário, dono de marcas como O Boticário, Eudora, Quem disse, Berenice?, Vult e Truss.
Numa lista de 15 compromissos socioambientais assumidos pela companhia para serem alcançados até 2030, o primeiro deles é mapear e solucionar 150% de todo resíduo sólido gerado pela cadeia (o percentual ultrapassa 100% porque é uma meta expandida, que engloba fornecedores).
Com esse foco, o Grupo Boticário busca desenvolver embalagens cada vez mais sustentáveis, dando preferência a materiais de origem reciclada ou com maior potencial de serem recicladas, além de aplicar conceitos de ecodesign, como embalagens reaproveitáveis, de fácil desmontagem ou refiláveis.
Olhar para tudo isso entra no escopo da área de P&D, que desde 2018 tem um “estúdio” interno como aliado para desenvolver respostas a esse tipo de demanda.
“O Studio In House foi planejado de forma estratégica para possibilitar a criação de soluções inovadoras a médio e longo prazo sobre o universo de embalagens do Grupo Boticário, sobretudo na frente ESG”, afirma Gustavo Dieamant, diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Boticário:
“O objetivo é sempre atender da melhor forma possível os consumidores, que possuem lugar central no modelo de negócio. Além disso, os mockups [modelos] desenvolvidos no Studio In House a curto prazo ajudam e facilitam o desenvolvimento de novos produtos a serem lançados”
Dirigido por Clarice Sasson, gerente sênior de Pesquisa, Inovação Aberta, DTV, ESG e Design de Produtos do Grupo Boticário, o estúdio desenvolve embalagens internamente – ou em cocriação com agências externas – e também funciona como uma área de prototipagem.
No espaço (instalado no Centro de P&D, num prédio anexo à fábrica, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba), sete impressoras 3D são usadas para criar protótipos em tamanho real, permitindo ao Grupo Boticário turbinar o desenvolvimento de novos produtos.
Em setembro, o Grupo Boticário recebeu oito troféus dos dez disponíveis no prêmio ABRE de Embalagem Brasileira, todos para embalagens que tiveram a participação do studio in house na criação.
Um exemplo é o refil em alumínio do perfume Arbo, de O Boticário, que traz para a perfumaria, onde o vidro costuma ser sempre o protagonista, um material que já tem uma cadeia de reciclagem estabelecida.
“Vidro é uma cadeia complexa no Brasil porque não é rentável para as recicladoras e não é fácil para os catadores pegarem por causa do risco de corte”, diz Gustavo.
Ele explica a opção pelo alumínio:
“Quando a gente vai para o alumínio, que é uma cadeia muito bem estruturada no Brasil, além de melhorar o preço, melhoro esse grau geral de sustentabilidade, além do componente social, que são os catadores”
Internamente, o estúdio ajuda o Grupo Boticário a reduzir 30% em tempo e 60% em custo na hora de desenvolver novos produtos.
“Quando passo o briefing para uma agência, geralmente o prazo é maior e ainda temos que considerar os retrabalhos. Dentro de casa, conseguimos desenvolver mais rápido, fazer essa entrega em um time to market menor e com um custo mais baixo”, diz Clarice. “Mas não internalizamos tudo, porque não temos capacidade [para esse volume], e porque é importante ter as agências e trazer um outro olhar.”
Hoje, dentro do Grupo Boticário, a premissa básica em desenvolvimento é que um novo produto seja sempre mais sustentável que a sua versão anterior, o que inclui tanto a formulação quanto a embalagem.
“A gente desenvolve 5 mil produtos no ano. Esses 5 mil produtos são obrigatoriamente mais sustentáveis do que os anteriores, senão não passam no gate para desenvolvimento”
Clarice explica que são avaliados 16 atributos entre formulação e embalagem em relação à sustentabilidade.
“Para embalagem, especificamente, sempre estamos olhando ou para reciclar, ou para reduzir ou para reutilizar”, afirma a gerente sênior. “Isso de acordo com os compromissos e com as nossas metas.”
Existem dois olhares possíveis praticados dentro do estúdio: para o curto/médio e para o longo prazo. No curto prazo, a busca é por soluções mais imediatas. Por exemplo, o uso de menor quantidade de vidro para fazer uma embalagem.
Já no longo prazo, entra o desenvolvimento de novas embalagens e soluções para problemas complexos como, por exemplo, a reciclagem da embalagem de batom bala (aquele em que você gira o batom na hora de usá-lo – ou guardá-lo).
Pequenas e feitas com vários componentes, estas embalagens não estão no radar das cooperativas por causa da complexidade de separar todos os materiais para que seja possível seguir com a reciclagem.
Era preciso, então, pensar uma maneira de atacar esse desafio.
PARA CRIAR UM BATOM COM EMBALAGEM MONOMATERIAL, O GRUPO BOTICÁRIO INVESTIU TRÊS ANOS EM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
Para solucionar essa questão, o grupo desenvolveu, em parceria com a Silgan Dispensing (empresa de bens de consumo para o mercado da beleza baseada nos Estados Unidos), uma embalagem de batom monomaterial, fabricada com o uso de apenas resina de Polipropileno (PP).
Esse material é totalmente reaproveitável e bem estabelecido mundialmente na cadeia de reciclagem. Assim, quando chega na cooperativa é só jogar na máquina e seguir com o processo.
A embalagem foi lançada na linha Intense de O Boticário; a perspectiva é que gere uma redução de 4,4 toneladas de resíduo a partir de um ano de venda do produto, dado o volume da marca e a projeção de crescimento.
Para aprimorar essa solução, Gustavo conta que foi preciso superar alguns desafios:
“Quando lançamos o repacking da linha Intense, em 2021, o desejo era já ter o monomaterial, mas até a data do lançamento não havíamos conseguido chegar na tecnologia porque dava diferença de cor, a tampa não ficava igual a base… E não dá pra lançar ‘qualquer coisa’ em prol da sustentabilidade, tem atributos que são muito relevantes dentro da categoria.”
Foram mais de três anos de pesquisa e desenvolvimento até que se chegasse a uma solução comercialmente viável.
“Continuamos mobilizando a cadeia até que o fornecedor nos entregou a solução e, hoje, temos segurança de que conseguimos entregar não só com volume de Intense, mas também fazendo o rollout para outras marcas”
Esse rollout é o próximo desafio da equipe de desenvolvimento porque a embalagem monomaterial é mais sustentável, mas perde em sofisticação já que não tem o metal, o dourado ou a pintura metalizada.
“Intense é uma marca de entrada dentro de O Boticário, o que faz com que a gente tenha uma exigência menor do consumidor sobre atributos de sofisticação”, diz Gustavo. “Então, começamos por aí e vamos evoluindo para outras marcas. Esse é o desafio do time da Clarice: como trazer atributos de sofisticação mantendo sustentabilidade?”
A equipe do Studio in House do Grupo Boticário trabalha na pesquisa e no desenvolvimento de materiais que possam trazer mais sustentabilidade para o portfólio.
Clarice conta que estão em pesquisa uma embalagem pouch (muito utilizadas em refil) monomaterial e também uma mistura de polipropileno com óleo de cozinha para diminuir a quantidade de plástico em embalagens sem perder as características visuais e de entrega de um plástico normal.
Segundo Gustavo, o plástico desenvolvido com óleo de cozinha vai estar nas prateleiras em 2024 na tampa de algum produto do Grupo Boticário (por enquanto, ele não revela qual):
“Por conta de custo, volume e necessidades industriais vamos lançar em um SKU, uma edição limitada. Precisamos mobilizar a cadeia, o que é uma dificuldade e esbarra em custos”
O diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento do grupo crê que o plástico desenvolvido com óleo de cozinha é uma inovação que deve se espalhar para outras empresas:
“É menos sobre a marca e mais sobre o meio ambiente. O Grupo Boticário tem esse papel de puxar e quanto mais gente vier atrás, mais a gente mobiliza a cadeia.”
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