Você conhece Tuiuiú Man, Capivara Boy e Ritinha Pintada? Eles formam a turminha Heróis da Natureza e são os principais personagens da coleção Aventuras na História, publicada pela Sênior Editora.
Fundada em plena pandemia por Samuel Vieira, 43, a editora publica quadrinhos educativos, com temas como saúde, meio ambiente e inclusão, e vende o produto para escolas públicas.
Com referência a animais da fauna brasileira (o tuiuiú, para quem não conhece, é a ave símbolo do Pantanal), os Heróis da Natureza são criação do designer e ilustrador Marco Antônio Raimundo, de Cuiabá.
Foi do encontro entre a paixão de Samuel por gibis desde a infância — quando gostava de ler as histórias do Pato Donald, Pateta e Chico Bento — com esses personagens brasileiros que nasceu a ideia da edtech. O fundador afirma:
“Em 2018, quando conheci o Marco Antônio e os personagens, percebi que não existia nenhum outro super herói brasileiro. Fiquei com aquilo na cabeça e, a partir de 2019, comecei a pensar em criar uma coleção voltada para crianças e vender para escolas, aproveitando o conhecimento que tenho de venda para o governo”
Criado em Itapetininga, interior de São Paulo, Samuel trabalhou por sete anos em empresas como Brink Mobil e Diana Paolucci, comercializando material escolar para o poder público.
(Nota: em 2021, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica — Cade — condenou a Diana Paolucci e outras empresas por cartel em licitações públicas de uniformes e kits de materiais escolares; Samuel preferiu não comentar a respeito.)
Durante as férias, ele ainda ajudava um vizinho que tinha uma distribuidora da Panini e vendia gibis para algumas prefeituras. “Isso sempre me inspirou e ficou na minha cabeça”, diz.
Quando conheceu Marco Antônio por meio de amigos em comum, enxergou a oportunidade de usar aqueles personagens inspirados na natureza brasileira para levar conhecimento a alunos de escolas públicas.
Assim, licenciou os Heróis da Natureza e publicou o primeiro gibi com o tema Educação Pela Paz.
“O gibi também faz parte da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) como incentivo à leitura. E é uma linguagem que conversa diretamente com a criança, o que facilita a aprendizagem”
O investimento inicial no negócio foi de 100 mil reais. Em 2022, segundo ano da operação, o faturamento chegou a 1,5 milhão de reais, segundo Samuel. Neste ano, a expectativa é ainda mais ambiciosa: um crescimento em torno de 600%.
O principal foco de venda da Sênior Editora é o poder público. Hoje, os clientes são quatro municípios do estado de São Paulo (Votuporanga, Cerquilho, Conchas e Rancharia) e a cidade de Baraúna, na Paraíba, totalizando 30 mil crianças com acesso aos gibis.
Ainda neste ano, Samuel começou uma nova investida, atingindo também pessoas físicas e escolas particulares por meio de uma loja virtual (a maioria dos gibis custa R$ 34,90) e da Biblioteca Digital, onde todo o portfólio da editora está disponível para ser acessado a partir de uma assinatura (R$ 19,90 por mês).
“Eu só vendia para o governo porque não trabalho com estoque. Agora, devido à demanda e também à demora na entrada da receita das prefeituras, estamos lançando a loja online e abrindo a nossa biblioteca digital para assinatura”
Lá, diz ele, é possível encontrar todo o conteúdo da editora, sempre atualizado, incluindo áudios, vídeos e livros animados.
Esse material online já existia há um ano, mas só havia sido disponibilizado para a prefeitura de Votuporanga, como brinde depois de uma grande compra.
O portfólio atual da Sênior Editora tem cinco coleções. Com 13 títulos, Aventuras do Conhecimento aborda temas diversos, como higiene bucal, trânsito, Síndrome de Down, autismo e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade); Infância Feliz tem por enquanto apenas dois títulos e trata de assuntos mais delicados: abuso infantil e vício em jogos e celulares.
Há ainda as coleções Brasil Biomas, que apresenta os biomas brasileiros em parceria com o biólogo Richard Rasmussen; a série Literários, com histórias de aventuras educativas; e a coleção Sonhos para Educação Financeira.
Uma preocupação de Samuel é sempre ter um responsável técnico para validar as informações. Muitas vezes essa pessoa é, inclusive, transformada em personagem do gibi.
Foi o que aconteceu com o médico veterinário Alex de Alcântara, que aparece em Pet não é brinquedo, após validar as informações da obra sobre cuidado com os animais.
“Ainda este ano deve sair um gibi sobre bullying em que uma advogada especialista vai me dar suporte para o roteiro”
Os desenhos e roteiros são feitos por um estúdio parceiro sob a supervisão da editora. Marco Antônio, da turminha Heróis da Natureza, segue criando personagens sob demanda (uma delas é uma criança dentro do espectro autista); outros desenhistas também colaboram com suas próprias criações.
Os gibis da Sênior Editora são voltados para crianças da Educação infantil, Ensino Fundamental 1 e dos dois primeiros anos do Ensino Fundamental 2 (6º e 7º ano).
Para 2024, Samuel pretende ampliar o portfólio para o Ensino Médio, com uma coleção sobre reis e rainhas africanos elaborada no “padrão Marvel”, em estilo almanaque e com capa dura.
“Acabo não acessando alunos a partir do 8º ano porque já é outro perfil de leitor. Eles não querem um desenho muito infantilizado, querem um mangá”
Outra frente de atuação que já está encaminhada é oferecer material de apoio para os professores.
Hoje, segundo Samuel, as escolas que fazem grandes compras têm acesso a palestras para os educadores e orientações sobre como trabalhar o material em sala, com sugestões de atividades.
A partir de 2024, ainda deve entrar no ar uma plataforma de cursos online em parceria com a família Brito Sales, que ganhou notoriedade pela forma franca como lida com o autismo do caçula Nicolas, hoje com 23 anos.
Segundo Samuel, os professores muitas vezes não estão preparados para ensinar alunos neurodivergentes. Ele diz que a ideia da Sênior Editora é ajudar a mudar esse cenário:
“Estamos criando um curso com a família Brito com esse intuito. Mais do que isso, queremos ter uma das maiores e melhores comunidades para autistas, TDAH e pessoas com Síndrome de Down do Brasil”
Com os gibis e os projetos paralelos que apoiam a educação, Samuel espera cumprir o lema que bolou lá atrás para editora: “Criança é o melhor caminho para se mudar o mundo”.
“Tudo que é ensinado para uma criança, hoje, vai ajudá-la a se tornar um adulto melhor, que aprendeu a preservar, a respeitar o próximo, a não desperdiçar água. Esse é o conceito da Sênior: ter uma criança bem orientada e, no futuro, um adulto melhor.”
Contra o negacionismo climático, é preciso ensinar as crianças desde cedo. Em um dos municípios menos populosos do Rio de Janeiro, a Recickla vem transformando hábitos (e trazendo dinheiro aos cofres públicos) por meio da educação ambiental.
O clube de assinatura com foco na pesca artesanal. A empresa que abre o mercado de trabalho para pessoas com autismo. Confira a retrospectiva com esses e outros negócios de empreendedores que insistem em tornar o mundo um lugar melhor.